A decisão unânime do Comitê de Política Monetária (Copom) de interromper na última quarta-feira (19/6) o ciclo de cortes na taxa Selic foi recebida com otimismo pelo mercado. Economistas de algumas das principais assets do país consideraram que a medida era necessária. “A decisão da manutenção da Selic nos mesmos patamares era amplamente esperada pelo mercado. Era aguardado, também, que a projeção da inflação aumentasse bastante”, analisou à Investidor Institucional a economista-chefe da Galapagos no Brasil, Tatiana Pinheiro.
Ao manter a taxa básica de juros da economia em 10,5%, o Copom interrompeu uma sequência de sete reduções sequenciais, iniciada em agosto de 2023. Desde então, a Selic teve seis cortes de 0,5 ponto percentual e um corte de 0,25 pp em maio último.
Tão significativa quanto a decisão de manter a Selic no nível atual foi a votação que obteve no Copom, aprovada por unanimidade. Além do presidente do Banco Central, Roberto de Oliveira Campos Neto, votaram a favor da manutenção da taxa os oito diretores da instituição, cenário bem diferente da reunião realizada em maio, quando uma maioria de 5 a 4 definiu o corte de 0,25 p.p. na ocasião.
“O fato de a votação ter sido unânime é positivo, trouxe tranquilidade ao mercado. É importante que o mercado esteja unido em relação ao diagnóstico”, avaliou Tatiana Pinheiro.
“A medida veio em linha com a expectativa da SulAmérica Investimentos e do amplo consenso de mercado. Destacamos que o comitê elevou suas projeções de inflação no cenário de referência, conforme o esperado, e apresentou um cenário alternativo, em que a Selic é mantida constante ao longo do horizonte relevante”, considerou o analista da SulAmérica Investimentos, Luiz Felipe Bianconi.
Para o economista-chefe do departamento de pesquisa econômica do Banco Daycoval, Rafael Cardoso, “a grande discussão é em torno da unanimidade, o que a gente considera um fator que reduz o risco para o futuro no que tange a condição da política monetária. O último comitê havia trazido divisão dos diretores, e isso abriu a discussão sobre se, eventualmente, uma nova composição de diretoria poderia ser mais leniente com o processo inflacionário”.
Interrupção do ciclo - Os especialistas também concordaram ao apontar que o comunicado divulgado na quarta-feira pelo Copom explicita uma tendência de interrupção prolongada no ciclo de corte da Selic, e não uma breve pausa. Há, inclusive, expectativa de que as taxas possam voltar a subir em um futuro próximo.
“São vários indícios que mostram que o Banco Central quis tomar as rédeas da situação. Ele não comunica pausa para observar, pensar, e depois retomar o corte. O que fez, e comunicou de forma específica, foi interromper o ciclo, o que dá uma ideia de ‘ponto final’. A gente entende que o BC abre possibilidade de ter que subir juros, porque o compromisso é firme com a meta”, projetou Cardoso.
A decisão d Copom desagradou o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), que considerou “sem critério” a interrupção dos cortes. Lula foi além e afirmou que os bancos privados preferem “ganhar dinheiro com a taxa de juros”, em vez de oferecerem créditos.
“A decisão da manutenção da taxa foi puramente técnica, tanto pela depreciação do câmbio entre a última reunião e essa, quanto pela escalada da expectativa de inflação do mercado”, considerou Tatiana Pinheiro. “Acreditamos que no ano que vem, o mais provável, se a inflação continuar comportada, é termos novo ciclo de afrouxamento monetário. Mas, para isso, as questões fiscais precisam ser bem endereçadas.”