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Digital é o nome do jogo
Instituições que operam no mercado de custódia investem na adequação de seus processos para o mundo digital e da inteligência artificial

Edição 377

freitas luis claudio bradesco 24maiA inovação tecnológica dá as cartas na disputa por participação no mercado de serviços financeiros. Na liderança do mercado de custódia desde 2007, o Bradesco manteve essa posição no ranking Anbima de abril de 2025 e tem avançado desde 2024 de maneira alinhada ao programa Change, de transformação digital do banco, assim como pela modernização da área, que tem adotado processos mais ágeis e mais fluidos, diz Luís Cláudio de Freitas Coelho Pereira, diretor de custódia e serviços financeiros.
“Fizemos grandes mudanças digitais, procurando sair da telefonia e do e-mail para que o acesso aconteça 100% pelo portal. Os processos de interface automática ponta a ponta, seja no front, middle ou back office, que tínhamos de modo parcial, foram completados”, explica.
A instituição aposta também no investimento em equipes de profissionais, segregadas em núcleos específicos para atender determinados grupos de clientes – um deles só para as entidades fechadas de previdência complementar, que respondem por R$ 420 bilhões do total de R$ 2,4 trilhões sob custódia. Essa distribuição permite atender as particularidades de cada segmento.
Há núcleos específicos para as assets, para os family offices, para bancos e seguradoras, este último com R$ 1,7 trilhão, além da representação internacional, que soma R$ 273 bilhões em ADR (American Depositary Receipts) emitidos.
“Conseguimos conectar os clientes em plataformas locais e globais, como a Euroclear, Allfunds e os principais brokers globais, o que viabiliza uma grande diversidade de operações”, diz o diretor.
O uso da Inteligência Artificial tem sido um dos aspectos inovadores mais importantes na modernização dos processos, lembra Pereira. “Usamos a IA inclusive para adequar à Resolução CVM 175 os mais de 4,800 fundos de investimentos e mais de 240 gestores envolvidos”, diz. O corpo jurídico próprio ajudou a aumentar a agilidade nessa adequação. “A busca pela maior eficiência operacional está presente em toda a indústria hoje e aqui temos conseguido conectar as operações diretamente, com maior agilidade para fazer toda a zeragem automática do caixa para os gestores”, afirma.
Há mais de 700 funcionários envolvidos nas operações de custódia, automações e modernização do banco, o que torna os serviços mais escaláveis. Com isso, o atendimento fica mais personalizado e se torna na prática um atendimento consultivo para o cliente.

Transformação global - A transformação do sistema financeiro global também está no radar do banco, que prepara para o segundo semestre deste ano novos serviços, voltados à custódia de ativos digitais, explica Pereira. “Queremos oferecer custódia para ativos tokenizados, que será o próximo passo do mercado, para o câmbio de Dcoin e criptoativos. Estamos estruturando a plataforma de custódia para viabilizar esses serviços”, afirma.
Entre as tendências globais que o banco procura antecipar para conquistar novos mercados está a dos serviços cada vez mais integrados, afirma Fábio da Cruz Tomo, superintendente comercial e de relacionamento da área de custódia e serviços financeiros do Bradesco. “A integração ponta a ponta é um diferencial importante para dar maior eficiência e agilidade, com a maior personalização dos serviços e do atendimento aos clientes”, observa.
No mercado de ADRs, lembra Tomo, a casa também está atenta às mudanças em andamento, com as empresas deixando essa opção em troca dos BDRs (Brazilian Depositary Receipts). “Há também o caminho da dupla listagem, em ADR e BDR, aqui e lá fora”, diz.

pimentel alvaro Itaunibanco 25junTecnologia e produtos - Em meio ao ambiente turbulento para os gestores de investimentos e investidores em 2024, a área de investment services do Itaú Unibanco conseguiu manter sua participação de mercado, explica Álvaro Pimentel, diretor para investidores institucionais & investment services. “O cenário ainda foi desafiador para a indústria de investimentos ao longo de 2024, principalmente para gestores de multimercados e ações, pois também foi um ano no qual vimos um crescimento dos fundos listados e de renda fixa, especialmente produtos isentos. Nesse ambiente temos conquistado novos gestores e fundos, num movimento muito positivo”, diz Pimentel.
Ele lembra que a casa respondeu ao movimento de mudanças no mercado com o desenvolvimento e a oferta de uma série de inovações nesse negócio, como, por exemplo, uma nova plataforma de gestão do passivo dos fundos, incluindo um portal digital com uma série de facilidades. “Essas novidades abrem uma perspectiva comercial para que possamos melhorar ainda mais a experiência dos nossos clientes e, consequentemente, ampliar nossa capacidade para atender novos fundos”, afirma.
No segmento de investidores não residentes, apesar do menor fluxo de recursos para Brasil em 2024, o banco conseguiu atrair novos clientes e registrou aumento de mais de 60% em sua participação de mercado. “Crescemos em 2024 quase o dobro do mercado nesse segmento, o que levou o banco a figurar como vice-líder neste mercado dominado por custodiantes globais. Isto é reflexo de uma atuação comercial muito mais ativa e presente junto a estes clientes estrangeiros”, ressalta Pimentel.
O objetivo é garantir uma evolução importante na plataforma de custódia para não residentes também este ano. “Estamos aumentando ainda mais a nossa presença e a intensidade comercial junto a estes clientes estrangeiros. A expectativa é de não só seguir com o crescimento do produto de custódia, mas especialmente ampliar a oferta de toda a plataforma de produtos e serviços locais para esse institucional estrangeiro operar aqui no Brasil”, afirma. Com isso, o banco pretende consolidar uma posição de relevância nesse mercado.
Atualmente, a estrutura conta com mais de 700 profissionais e é responsável por R$ 2,1 trilhões sob custódia e pela liquidação de R$ 15 trilhões por mês. “Os institucionais representam 72% da custódia do Itaú e hoje 85% do patrimônio líquido da indústria de fundos é composto pelos nossos clientes institucionais”, afirma.
A casa presta serviços de custódia centralizada para cerca de 100 fundações, que representam 45% do universo total de fundações ativas no mercado. Esse grupo responde por cerca de R$ 590 bilhões sob custódia, sendo R$ 280 bilhões dos fundos de pensão e R$ 310 bilhões de entidades abertas de previdência complementar. “No caso dos fundos de pensão, quase a metade dos clientes também conta com nossos serviços de administração fiduciária”, diz Pimentel.
Ele observa que, mesmo com a incorporação das fundações, que decrescem na ordem de 3% ao ano, o banco segue na liderança consolidada do mercado, inclusive expandindo sua base de clientes.
Na área de investment services, estão incluídos os produtos e serviços de administração fiduciária e custódia de fundos, escrituração de ativos, gestão de garantias, custódia e representação de investidores não residentes. São estruturas especializadas, que estão organizadas no modelo de comunidades integradas, incluindo os times de produtos, atendimento, operações, tecnologia e legal. “Esta forma de atuação tem sido determinante para a evolução que temos tido”, avalia.
A Intrag, por sua vez, é a empresa do grupo especializada na administração fiduciária de fundos de terceiros e na custódia para investidores não residentes. Ela atua igualmente de forma integrada aos demais produtos e serviços oferecidos pela área de investment services.
No Itaú, o processo de enquadramento utiliza 20 serviços disponíveis via soluções como APIs, serviços integrados de clearing e custódia e autosserviço para acompanhamento do status da cota, dentre outros. “Olhando para frente, estamos investindo em organizar, modernizar e democratizar dados, um pilar fundamental para o processo de transformação que já está acontecendo em investment services com o uso intensivo de dados e de Gen AI”, afirma.
Em fase final de adequação dos fundos à Resolução CVM 175, a casa deve estar com 100% dos fundos adaptados até 30 de junho. “O ritmo de adequação foi intenso, com participação ativa dos vários stakeholders, uma vez que temos cerca de sete mil fundos sob custódia. O Itaú Unibanco já está plenamente preparado para operar com estruturas de classes e subclasses, processando fundos nesse formato de maneira eficiente”, diz Pimentel.
A expectativa, diz o diretor, é de que os gestores gradativamente migrem para as novas possibilidades instaladas com esta norma, conforme vejam os benefícios que as estruturas de classes e subclasses podem trazer em termos de eficiência operacional e transparência.
Do ponto de vista dos serviços de custódia, o impacto será significativo, especialmente no que diz respeito à complexidade do processamento das carteiras. “As novas estruturas exigem maior capacidade tecnológica e operacional para lidar com a segregação de passivos de uma mesma carteira de ativos, cálculo de cotas e gestão de fluxos financeiros entre classes e subclasses”.

cortese roberto apex 25junCrescimento latino–americano - Depois da aquisição da MAF, em 2020, seguida pela compra da BRL Trust, em maio de 2021, a Apex Group, empresa global de administração de fundos e de serviços financeiros, segue aumentando sua participação no mercado latino-americano e, em outubro de 2024, adquiriu a Finix Group, empresa chilena que tinha, à época, US$ 11 bilhões em ativos administrados. A região já representa 5% do seu total de ativos no mundo e o crescimento tem acontecido principalmente por meio de aquisições, explica Roberto Cortese, chefe da operação na América Latina e diretor regional executivo.
No Brasil, possui R$ 550 bilhões em ativos sob administração e custódia, mas a perspectiva é de chegar a R$ 1,5 trilhão ao longo dos próximos três anos, isso sem contar eventuais novas aquisições. “A lentidão do processo regulatório das aquisições brasileiras, com a demora nas aprovações das operações, atrasou um pouco o nosso cronograma de integração no País, tanto no caso da MAF como no da BRL”, diz. No caso da BRL, a compra efetuada em maio de 2021 só recebeu aprovação final em fevereiro de 2023.
Do lado positivo, a implementação da nova regulação dos fundos de investimento, a partir deste ano, abre novas oportunidades para os prestadores de serviços nesse mercado, que passa a ter maior complexidade, acredita Cortese. “É verdade que poderíamos ter feito a integração das companhias brasileiras mais rapidamente, mas por outro lado, a Resolução CVM 175, que mudou a regulação dos fundos e deu uma “chacoalhada” na questão das responsabilidades dos gestores, abre este ano um novo cenário de oportunidades para os nossos produtos e serviços”, afirma.
A casa, que considera custódia e administração de fundos de modo integrado, quer crescer também em outros países da região e abriu escritório no México. “Temos um projeto para o México mas ficamos com receio de enfrentar um processo regulatório muito demorado caso seguíssemos a via das aquisições, então abrimos um escritório como entidade não regulada”, diz Cortese.
Além das aquisições de empresas de serviços financeiros, o grupo atua na compra e na parceria com companhias da área de tecnologia, em busca de ferramentas globais que possam ser acopladas aos seus processos. “Uma dessas ferramentas, a Apex Invest, aproxima gestores de alocadores/investidores institucionais no cenário global e ajuda o gestor brasileiro a olhar de forma mais diversa para esses players”, afirma.
Em fevereiro passado, a casa anunciou uma parceria com a Jive Mauá, gestora de investimentos alternativos, para lançar a Indie Asset Pro, uma plataforma focada na gestão e no monitoramento de ativos alternativos, conta Cortese. ”Essa parceria alavanca e aumenta o escopo da plataforma para venda a outros gestores, com informações completas sobre os ativos e não apenas os estressados, porque queremos oferecer um cockpit gerencial aos clientes”, explica.
“Oferecer essas ferramentas é um diferencial importante para abrir oportunidades de expansão no Brasil e também para prestar serviços fora do País”, diz Cortese. Dos 210 clientes, 140 são gestores independentes, principalmente no segmento de fundos estruturados. Ele ressalta a importância da administração e custódia para os estruturados – FIP, FIDC e FII – em que a empresa já tem 30% de market share, mas lembra que o mercado de fundos líquidos representa hoje uma oportunidade estratégica de crescimento para o grupo no País.

As 20 maiores instituições custodiantes do mercado em abril/25