Edição 377
A evolução da área de serviços de custódia tem refletido uma continuação do que acontece nessa indústria ao longo dos últimos três anos, diz Joaquim Alfaro, CEO da S3 Caceis Brasil, coligada ao grupo Santander. “Houve uma transformação na indústria de gestão de recursos, por conta dos juros elevados e da forte competição dos produtos de crédito, assim como da adequação dos fundos à Resolução CVM 175 e da pressão feita pelas plataformas digitais”, avalia. Esses fatores ajudam a reconfigurar as características dos serviços, de acordo com as novas demandas dos gestores.
Nessa conjuntura, observa Alfaro, tem havido forte pressão sobre a oferta de gestores na indústria e maior demanda pela integração de dados, assim como uma contínua revisão de estratégias em decorrência da competição feita pelas plataformas digitais. “Como decorrência dessa transformação, os gestores estão hoje muito focados em performance porque houve muitos resgates na indústria e um fluxo maior de recursos para a renda fixa. Diante disso, os serviços de custódia precisam ser muito ágeis”, avalia.
Ao mesmo tempo, por terem sua atenção mais voltada aos resultados, os gestores têm feito menor movimentação entre os custodiantes. “Estão concentrados em sua performance porque ficou mais difícil para eles seguir crescendo nesse cenário de mercado e há muitas consolidações e fusões de casas gestoras, principalmente na classe de fundos multimercados”, analisa.
Para os custodiantes, nesse ambiente é ainda mais relevante prestar serviços sem que haja incidências. “Uma das nossas entregas mais importantes no último ano foi o sistema de pagamentos em tempo real, que consolida todos os pagamentos do fundo e faz sua liquidação de forma mais rápida porque há maior volume de resgates no passivo e nos ativos e é preciso liquidar maiores volumes nos dois lados, sem atrasos”, explica Alfaro.
Na Caceis, os pilares da atuação permanecem centrados no investimento em tecnologia e nos times de profissionais. “Temos crescido ao longo de doze meses, conquistando posição de mercado em custódia e administração. Ganhamos 24 novos mandatos no ano passado, dos quais sete são de institucionais – seguradoras independentes, grandes conglomercados e fundos de pensão”, afirma.
Em 2025, até junho já havia mais quatro novos mandatos. Mais de 50% dos novos clientes são institucionais e a capacidade de fazer novas entregas, assim como o investimento contínuo em tecnologia, são fundamentais para assegurar a posição da casa no mercado.
“Na lista das entregas feitas, hoje 100% dos nossos clientes já utilizam o novo portal; investimos também nos relatórios online e no sistema de liquidação com recursos avançados, que está conectado às principais plataformas digitais”, diz Alfaro. Além disso, o investimento em pessoas continua a ter destaque. “Os resultados estão visíveis no crescimento do número de clientes sob custódia e também nas pesquisas de satisfação”, afirma.
Com 96% dos seus mais de dois mil fundos - entre os do Santander e os de clientes terceiros - já adequados à nova regulação da CVM em meados de junho, a casa tem trabalhado com os gestores para garantir a continuidade desse processo daqui para a frente. “Os clientes estiveram mais focados em regulamentos e na criação da documentação necessária. Agora estamos trabalhando para padronizar as migrações, já com alguns pilotos da estrutura de classes e subclasses, mas essa demanda por migração vai crescer muito mais nos próximos meses”, diz.
Crescimento em RPPS - Os serviços de administração e custódia para o segmento de previdência complementar compõem uma linha de atuação cada vez mais relevante para o BTG Pactual, que tem acelerado o crescimento junto a esse público, diz Gustavo Piersanti, diretor de serviços fiduciários. O banco tem hoje R$ 90 bilhões em ativos de fundos de pensão públicos e privados e de RPPS (Regimes Próprios de Previdência Social) sob administração/custódia, o que representa perto de 10% de sua base total de ativos administrados.
“Aceleramos o ritmo nesse segmento e temos um time dedicado a serviços exclusivos, que têm ficado cada vez mais produtivos. Ganhamos mandatos desses institucionais do mercado de previdência de alguns anos para cá, um setor que queremos ter mais próximo dos nossos investimentos como um todo e que cresceu na nossa carteira de serviços”, explica.
As entidades fechadas de previdência complementar já fazem parte do público atendido pela instituição há tempos, mas os RPPS começaram a chegar há aproximadamente cinco anos. “À medida que eles diversificam mais seus investimentos, cresce também o seu apetite por pacotes completos de serviços”, observa Piersanti.
A área fiduciária inclui todos os serviços que envolvem veículos de investimento aqui e no exterior, até para ficar em linha com a estrutura do negócio do banco. No Brasil, a administração e a custódia de fundos compõem o seu principal negócio fiduciário, estreitamente ligado à controladoria, mas há flexibilidade para oferecer pacotes completos ou serviços segregados. “O que não se vê muito no mercado hoje é a custódia oferecida de modo separado. A controladoria, por sua vez, é em geral colocada no pacote de administração, mas há casos e casos”, detalha. Em alguns deles, a prestação de serviços feita pelo banco não está presente em todas as opções fiduciárias e o modelo é flexível para se adequar às necessidades dos clientes.
“Acabamos fazendo pacotes completos para as EFPC e os RPPS, sendo que nas fundações há a possibilidade de ter fundos exclusivos geridos pela própria entidade ou por gestores contratados. Há também o suporte em controles de limites e enquadramentos. Já nos RPPS, o pacote é mais para a carteira, porque não podem ter exclusivos”, diz. Nesse caso há dois modelos: a custódia de títulos públicos, que representa a maior parte, ou a controladoria completa da carteira em renda fixa e cotas de fundos de investimento.
Com uma atuação forte na prestação de serviços tanto para fundos líquidos como para os estruturados (próprios e de gestores independentes), a casa tem visto crescimento dessa atuação em diversas classes de veículos. “Somos os maiores em volumes administrados para fundos de ações e multimercados, mas também crescemos em FII, FIP e FIDC, sendo que estes últimos têm avançado em ritmo mais acelerado do que a média da indústria de fundos”, lembra Piersanti.
A instituição passou a focar nos FIDC a partir de 2020 e tem hoje mais de R$ 50 bilhões nesses veículos, “Já estamos hoje entre os maiores administradores de FIDC e o nosso objetivo é chegar ao primeiro lugar nessa classe, com uma oferta robusta de controle e gestão de risco”, afirma.
A partir do mês de julho, avalia Piersanti, o mercado começará a sentir de maneira mais concreta os efeitos da transformação da indústria de fundos trazida pela Resolução CVM 175. “O mercado vai começar a usufruir dos benefícios da nova legislação, porque até agora o processo de adaptação às regras não mudou muito a estrutura dos fundos”, afirma.
Ele lembra que durante os dois últimos anos, os administradores e custodiantes têm trabalhado para cumprir a obrigação regulatória, esclarecer e aprofundar o conhecimento das novas diretrizes e poder avançar em mudanças de sistemas e fluxos operacionais.”Ainda existem temas a esclarecer, mas a CVM tem sido muito receptiva, tendo a Anbima como interlocutora”, diz.
De julho em diante, os gestores, distribuidores e administradores irão trabalhar as novidades, como a estrutura de classes e subclasses, regras para o exterior e outras. “Nos últimos dois meses já temos tido demanda de gestores solicitando a migração das estruturas para classes e subclasses, que deve ser a primeira mudança a ser adotada”.
No BTG Pactual, 90% dos três mil fundos já estavam adaptados no início de junho e a perspectiva era de atingir o objetivo de 100% no final do mês, resultado de um trabalho que foi bastante complexo. “Isso porque só foi possível acelerar o ritmo mesmo este ano, à medida que foram esclarecidas questões técnicas e pudemos fazer o tombamento dos fundos. Pouquíssimos players quiseram mudar antes de ter toda a regra esclarecida, o que adicionou turbulência ao processo”, diz.
Esforço regulatório - A dedicação da indústria de custódia e administração à nova regulação dos fundos de investimentos, a CVM 175, foi muito forte em 2024 e no primeiro semestre de 2025, diante da transformação radical que essa legislação traz para o mercado brasileiro, observa Peterson Paz, head de operações do BNY Mellon no Brasil. “Foi preciso adequar sistemas e processos, com um time dedicado exclusivamente a isso. Também participamos do trabalho junto à Anbima para esclarecer alguns pontos da regulação que só são percebidos na hora da operacionalização, então foi um processo trabalhoso”, afirma Paz.
A partir de agora, contudo, ele acredita que a adoção das novas regras na prática terá um efeito benéfico para o mercado de investimentos no País, já que a lei estabelece uma série de dispositivos que modernizam a indústria e trazem o gestor para o mesmo nível de responsabilidade do administrador do fundo. “De acordo com a norma antiga, era como se o administrador estivesse em outro nível de responsabilidade, mas agora ele está junto com o gestor”, diz.
Outra mudança fundamental foi a criação da estrutura de classes e subclasses, que vai trazer ganhos operacionais importantes. “Montamos o nosso sistema de acordo com essa mudança. A grande novidade está no conceito das subclasses, estruturas ligadas a uma classe de ativos, o que antes exigia a criação de fundos feeders mas agora pode ser substituída por uma estrutura que recebe ativos e estratégias sem precisar ter feeders”, observa. A tendência, afirma Paz, é de que esses veículos sejam substituídos daqui para a frente.
No início de junho, a casa já havia adaptado 86% de seus fundos à 175, patamar superior ao da média da indústria, que era de 65%. “Criamos uma força-tarefa para isso e já estamos perto da linha de chegada, que será no dia 30 de junho”, informa.
No caso dos clientes fundos de pensão, há também a necessidade de estar em compliance com a Resolução CMN 5202. “Já adaptamos 95% dos fundos exclusivos de fundações que nos contratam para fazer administração de fundos e carteiras às resoluções CMN 5202 e CVM 175 “, diz.
Em outra frente de trabalho desenvolvida desde o início de 2024, o BNY Mellon obteve recursos do orçamento do banco em Nova York para lançar um projeto importante para o seu negócio no Brasil, explica Paz. “Mesmo em meio ao esforço de adequação regulatória, conseguimos tempo para construir uma infraestrutura de profissionais e processos para fazer a administração,controladoria e escrituração de cotas e custódia de fundos listados na B3”, informa.
O primeiro fundo constituído nesse projeto foi com a gestora Sparta, em maio deste ano, o DIVS11. “Com a infraestrutura pronta, estamos agora aptos a crescer nesse mercado de fundos listados. É um segmento importante e que cresceu 14% entre 2022 e 2024”, diz. O interesse por esses veículos está ligado diretamente ao crescimento dos fundos estruturados, como os FIDCs, FII e FIP.
Em 2024, os ativos sob administração no BNY Mellon cresceram 9%. “Mesmo em ano desafiador, conseguimos crescer graças à nossa diversificação de produtos. Os fundos multimercados e de ações representam hoje cerca de 60% a 65% do nosso volume, mas o crédito privado já cresceu e hoje representa um terço do total”, diz.
Na frente de administração, controladoria e custódia, a casa presta serviços de modo agregado e, no caso de controladoria e custódia, oferece também serviços para administradores terceiros.
Para os clientes EFPC, há o serviço de custódia pura e os pacotes de serviços agregados são utilizados quando a entidade contrata gestores externos. “Nesse caso, a fundação nos avisa sobre o gestor e constituímos um fundo exclusivo com ele”, explica Paz.
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