A Vivest divulgou hoje (20/01) nota com posicionamento oficial sobre sua exposição aos ativos da Americanas S.A. no dia 11 de janeiro, quando foram divulgadas as “inconsistências contábeis” no balanço da empresa. A fundação mantinha, naquela data, pouco menos de R$ 1,8 milhão ou 0,062% de sua carteira de renda variável no Brasil e 0,005% de seu patrimônio total de R$ 35 bilhões investidos em ações da empresa, posições que foram vendidas no dia seguinte ao Fato Relevante. “Conseguimos vender essas ações no dia 12 de janeiro por R$ 2,80, acima portanto do valor de R$ 2,72 para o qual os papéis da empresa chegaram a despencar naquela data. Nos dias seguintes, essas ações caíram mais 65%”, observa Jorge Simino, diretor de Investimentos da Vivest. A entidade não mantinha aplicações em debêntures da companhia.
Segundo ele, os ajustes e negociações na companhia levarão pelo menos um ou dois anos para serem feitos. Os acionistas deverão pedir para converter um pedaço da dívida em ações mas o mercado está ressabiado e as negociações devem demorar. A carteira da Vivest que alocava em Americanas buscava seguir o Ibovespa, no qual a ação da Americanas tinha uma participação de apenas 0,30%. “No nosso caso, a carteira que aplicava em papéis da Americanas ficava até um pouco abaixo disso, estava em 0,20%, porque já estávamos ressabiados com o setor do varejo. Na nossa maior carteira de investimentos, porém, não alocávamos nada nessa companhia, então estava tudo adequado ao perfil de risco dos nossos produtos”, explica Simino.
Para Simino, levará algum tempo até que as dívidas da companhia sejam negociadas e será preciso, em primeiro lugar, montar um comitê de credores para “alinhar os astros e achar um denominador comum. Enquanto isso, a empresa ficará sob pressão incrível”, destaca.
Três fatores chocantes - Ele frisa que esse tipo de sinistro/défault de crédito sempre costuma provocar muita bílis e pouco racionalidade durante os primeiros quinze dias subsequentes à sua divulgação, ainda mais no caso de papéis triple A. No entanto, embora as estatísticas das agências de rating dos EUA mostram que default de triple A ocorram com menor frequência do que nos papéis de classificação B simples, eles costumam surgir em horizontes de três a cinco anos. “Isso acontece, mas no caso da Americanas há três fatores que tornam o seu efeito mais chocante para o mercado. Em primeiro lugar, porque tudo indica que aqui houve uma fraude. Além disso há a magnitude do problema em si e o fato de que os acionistas de referência, como estão sendo chamados agora, ficaram oito dias em silêncio”, avalia. Para os auditores responsáveis, resta a questão chocante: como é que não viram, durante tantos anos, um rombo contábil desse tamanho, questiona Simino.
No mercado de crédito, os prêmios aumentam por algum tempo porque o mercado descobriu que papéis triple A também podem quebrar. “Não foi o primeiro caso desses, nem será o último. No momento, os gestores já fizeram um ajuste nos ativos de crédito e cortaram 50% de seu valor”, afirma. Para essa classe de ativos, ele ressalta uma antiga lição do mercado de crédito: o importante é sempre controlar as estatísticas de défault, ou seja, as carteiras de investimentos não podem ultrapassar determinados limites por ano.