A proposta que defende a portabilidade dos recursos de todos os fundos de pensão estatais para qualquer entidade do mercado, sugerida pela Iniciativa do Mercado de Capitais (IMK), é uma possibilidade que não preocupa por enquanto a Fapes, fundo de pensão dos funcionários do BNDES. “Não gastamos muita energia discutindo isso aqui, até porque o nosso plano é um BD, com características muito específicas, e é difícil pensar em portabilidade no caso de planos BD porque não é tão simples de fazer isso”, avalia o diretor de investimentos da entidade, André Loureiro.
Para a proposta ter condições de seguir adiante, ele acredita que precisaria ser customizada de modo a levar em conta as peculiaridades de cada plano, saber como tratar os planos BD e submeter isso à Previc. “No caso dos BD maduros, equacionados, seria buscar uma solução quando o problema já está resolvido”, diz.
No caso da Fapes, fundação com patrimônio de R$ 14,5 bilhões, há outro motivo para afastar a idéia. “A perspectiva toda dessa proposta é dar ao participante a opção de ter uma administração diferente. Aqui, porém, tudo o que poderia ser terceirizado já foi”, afirma. A parcela de renda fixa, que representa 50% a 55% do patrimônio, é gerida internamente e nem haveria ganho em terceirizar alocação de títulos públicos, em boa parte marcados na curva. Há uma parcela menor em ativos ilíquidos, como empréstimos aos participantes e participações imobiliárias e shoppings, que também não faria sentido terceirizar.
Na renda variável, metade da gestão ativa é terceirizada, assim como todo o investimento no exterior. “Hoje cerca de um terço dos recursos fora da renda fixa e dos ilíquidos já são terceirizados, com 20 gestores de primeira linha cuidando desses investimentos”, diz. Além disso, o que é recolhido de custeio é inferior ao que seria gasto com administração em planos abertos. “Se o objetivo é oferecer gestão diferenciada e especializada, já temos.
Em 2021, ano de disparada da inflação e perdas na bolsa, o retorno positivo dos investimentos foi de 4,1% contra uma meta atuarial de 15%, mas o efeito foi mitigado por um viés específico, que é o passivo de muito longo prazo. No cálculo para revisão da meta, feito anualmente pelo Conselho Deliberativo, esse viés ajudou a reduzir o valor do passivo e a melhorar o índice de solvência da entidade, explica Loureiro. “O efeito dominante do passivo fez com que aumentasse a taxa de desconto e caísse o valor presente, o que levou o nosso índice de solvência a 0,95% no ano, praticamente no nível de equilíbrio desejado, que seria de 1%”, diz.
A política de investimentos não precisou passar por ajustes expressivos este ano, uma vez que já havia sido feito um movimento de redução do risco de renda variável na passagem de 2020 para 2021, quando essa parcela caiu de 35% a 37% para ficar entre 26% e 27% dos ativos totais. “Os investimentos no exterior seguem com 10% dos ativos e por enquanto não pretendemos reduzir”, informa Loureiro.
Este ano será o terceiro de alocação internacional para a entidade e no ano passado essa parcela foi a mais rentável, com 34% de valorização. “Este ano, por ora, a apreciação do real muda a perspectiva de ganhos cambiais, além do conflito entre Rússia e Ucrânia e do ambiente eleitoral aqui no Brasil, o que tende a aumentar a volatilidade dos mercados”, diz. Mas a alocação será mantida no mesmo patamar, por meio de três estratégias complementares: uma com “pegada” de renda fixa, outra de renda variável e uma terceira, mais macro.