A valorização do dólar de 28,98% frente ao real no primeiro trimestre de 2020, a terceira maior desde o lançamento do plano Real em 1994, tem ajudado fundações com parte do capital investido em fundos no exterior sem hedge cambial a amortecer um pouco a forte queda dos mercados e até favorecido a expansão dessas operações. É o caso da Fundação Promon, uma das primeiras Entidades Fechadas de Previdência Complementar (EFPC) a estruturar um fundo exclusivo voltado para ativos globais em meados de 2019, sob os cuidados da asset M Square. “De forma bastante gradual o gestor tem começado a aproveitar algumas oportunidades nas bolsas internacionais, em prazos curtos da renda fixa e em fundos de ações long short”, diz André Natali, diretor AETQ da Fundação Promon.
São duas as principais razões que levaram a entidade adotar a estratégia de expandir o posicionamento internacional da carteira. “Como os mercados desenvolvidos do hemisfério norte foram os primeiros a sentir de forma mais intensa a pandemia, a tendência é que eles também sejam os primeiros a sair dela”, afirma o dirigente. Além disso, esses países têm condições fiscais mais robustas para desembolsar valores significativamente maiores que os pares emergentes para adotar as medidas necessárias ao enfrentamento da doença, complementa Natali. “Fora isso, espero que não, mas se a crise se intensificar a posição em dólar serve como uma boa diversificação para o restante do portfpilio”. Por outro lado, considerando também que o dólar já teve uma valorização expressiva ante o Real, a EFPC tem feito proteções via derivativos para proteger a carteira em caso de recuperação do Real.
A Fundação Promon já está com cerca de 9% da carteira em investimentos no exterior, se aproximando do limite imposto pela legislação. “Estavam ocorrendo conversas sobre uma reforma na Resolução 4.661, que possivelmente incluiria um aumento da exposição a ativos globais, mas não sei como está o estágio dessa discussão diante de toda a crise”, diz Natali.
A Fundação Promon também está aproveitando a abertura de taxas das NTN-Bs, que subiram além dos 4,5% nos prazos mais dilatados como reflexo do aumento da aversão ao risco. “Temos feito as compras desses títulos aos poucos, já que há uma probabilidade dos prêmios subirem ainda mais”, afirma o diretor AETQ da Fundação Promon. A inclinação da curva de juros tem relação direta com a composição das contas públicas, e como as medidas de combate ao coronavírus implicarão em um desarranjo fiscal, a chance de novas aberturas das taxas não pode ser desprezada, explica Natali.