Edição 374
O ano de 2024 foi de forte captação para fundos de renda fixa, com boa parte dos recursos indo na direção do crédito privado, informa o CEO da SulAmérica Vida, Previdência e Investimentos, Marcelo Mello. Na gestora, o ano começou com R$ 64 bilhões em ativos e fechou com R$ 81 bilhões, com destaque para o crédito. “Tivemos R$ 10 bilhões de captação líquida, um fluxo que foi majoritariamente para fundos de crédito. Registramos um fluxo importante de recursos dos institucionais para o crédito high grade e para o nosso fundo de crédito ESG (que segue princípios de responsabilidade ambiental, social e de governança)”, explica Mello. É um fundo que investe em ativos corporativos e financeiros.
Na prática, todos os fundos da casa passam por um filtro ESG, mas a família específica de crédito ESG passa por dois deles, um interno e outro feito por uma consultoria externa. Depois da análise econômica, são aplicados os filtros e há um escore ESG também para o setor, o que permite comparar a empresa com as demais.
Esses escores, explica Mello, permitem também que os gestores do fundo façam o necessário engajamento com as empresas e até mesmo levem a um reposicionamento nos ativos. “Entre os dois fundos abertos dessa família e os fundos exclusivos, o volume mais do que dobrou no ano para os nossos produtos ESG”, informa.
Em 2025, o fluxo continua em alta e ainda é positivo nos fundos da casa, embora já tenha caído no restante da indústria. No mercado de crédito, o gestor identifica um ano que tende a repetir 2024 porém com menor intensidade de captação tanto para os fundos que investem em ativos corporativos como nos financeiros.
“A velocidade de captação será menor porque este ano será desafiador diante de uma taxa de juros que, segundo as nossas projeções, chegará perto de 15%”, diz Mello. “Nesse ambiente, as fundações preferem comprar NTN-B para vencimento em 2035 que pagam quase 8% de juro real e estão mais voltadas para isso do que para estratégias mais diversificadas”, afirma.
Frente a esse cenário, os investidores institucionais buscam gestores mais ativos para capturar determinados prêmios em relação ao CDI, seja nos créditos corporativos ou nos financeiros. “Mas em tempos de juro mais apertado, como o atual, costumamos ficar mais no risco financeiro. Também aumentamos o caixa dos produtos de crédito e reduzimos o duration das estratégias corporativas, passando por exemplo de três para dois anos”, informa.
O fundo exclusivo excelente da casa investe apenas em títulos públicos, somente em operações compromissadas com diferentes vencimentos de LFT (Letras Financeiras do Tesouro) a depender do leilão. “Nesse caso,a gestão ativa pode gerar alguns pontos-base adicionais”, diz Mello.
Liquidez e atenção ao risco - A parcimônia na alocação de risco é uma característica não só da gestão de renda fixa mas de todos os fundos da Galápagos Capital, explica Fábio Guarda, sócio e gestor da casa. Em 2024, frente a um cenário em que o caixa remunerou a 100,6% do CDI, ficaria pouco atrativo alongar prazos e o fundo Pinzon, um renda fixa soberano adequado também para os institucionais, seguiu a mesma regra. “Se não houver incentivo, recolhemos os flaps e deixamos os recursos no caixa, tomando cuidado para não perder as vantagens tributárias. Hoje o caixa do fundo está 50% em operações compromissadas e 50% em LFT. Em 2025, com a LFT a 100,27% do CDI, seguimos assim, esse é um fundo bem conservador”, diz.
O veículo foi projetado para absorver o caixa das aplicações mas, dada a sua performance, a asset resolveu oferecê-lo também para o público em geral em 2024. “A carteira até poderia ter crédito mas, como sentíamos a falta de um produto soberano em nossa prateleira, decidimos que esse fundo seria apenas de títulos públicos”, afirma Guarda.
No fundo Dragon, o produtos mais longevo da casa e um dos primeiros fundos de crédito high yield, a busca é por liquidez e mais retorno. “Sua carteira tem pelo menos 20% de caixa para fazer frente a eventuais resgates, apesar de ser um zelo de nossa parte porque o fundo tem 90 dias para resgate”, conta o gestor. Os créditos líquidos ocupam 30% do PL e os estruturados podem representar entre 30% e 70% do PL.
“Atualmente, os estruturados somam 57% do patrimônio porque o cenário é de juro muito elevado, inflação em alta e as empresas estão com maior dificuldade de performance, com maior custo de capital, o que torna possível um aumento da inadimplência no futuro e preferimos encurtar prazos”, afirma Guarda.
A decisão foi por diminuir a parcela de liquidez e ir para o caixa. Por outro lado, lembra o gestor, há mais oportunidades em FIDCs com liquidez, são boas operações. “Mantemos um comitê de crédito semanal em que eu e o head de risco temos o poder de veto e de ajuste do tamanho das alocações”,explica.
Com uma gestão mais ativa, por ser high yield o Dragon é sujeito à marcação a mercado e a eventos de crédito, então chacoalha mais do que o Pinzon. “Em dezembro passado ele sofreu com a remarcação de títulos no mercado. Hoje segue com liquidez e pronto para fazer alocações mais agressivas, porém mais defensivas, e sua alocação de caixa está perto do limite de 40%”, diz Guarda. Há também maior pulverização em FIDCs com cotização menor do que a do fundo, para garantir a liquidez quando for preciso.
Seletividade para blindar carteiras - Abertamente pró-renda fixa e pró-crédito privado no período entre 2023 e 2024, a indústria de fundos de investimento cometeu um erro de leitura do juro no primeiro semestre do ano passado mas no segundo semestre já migrou rapidamente para essas classes. “Esse movimento maior de demanda foi estimulado também pelos aspectos legais e regulatórios aprovados no final de 2023 e pelo desmonte dos fundos exclusivos em 2024, que beneficiou a renda fixa”, analisa Tiago Lima, head de distribuição da BTG Pactual Asset Management. “A restrição na oferta dos produtos isentos ajudou o crédito privado a crescer ainda mais”, afirma.
Na grade de renda fixa da asset, a preocupação é com a entrega de produtos que tenham tracking error menor do que os da indústria e com o trading de compra e venda dos ativos. Dos R$ 450 bilhões em ativos totais sob gestão, R$ 100 bilhões estão em crédito privado.
Entre os destaques, o fundo de crédito privado ANS, para operadoras de saúde, que precisa ter uma estratégia conservadora justamente por lidar com as reservas dessas operadoras, explica Lima. No fundo de crédito corporativo, por sua vez, só entram ativos com grau de investimento. “Mas aí lidamos com um verdadeiro “campo minado” porque é preciso ter cuidado com a concentração, além da qualidade das empresas e dos créditos envolvidos”, observa Lima.
Outro ponto de atenção é o efeito do juro sobre o custo das dívidas das empresas. “Entre os meses de novembro e dezembro de 2024 houve uma remarcação dos ativos, abaixo do CDI, mas em 2025 já começou um processo de recuperação”, afirma.
Ele vê um período de “calmaria” na indústria de crédito desde o início do ano, com o investidor buscando mais títulos públicos, em especial os institucionais que querem títulos para fazer marcação na curva. Uma opção de carrego para bater metas e blindar carteiras. “É uma janela de oportunidade muito boa, com juros elevados e a possibilidade de marcar na curva uma grande parte da carteira. Ela não deve durar muito, mas está sendo bem aproveitada”, observa.
Se por um lado o mercado de crédito está mais maduro no Brasil, com um mercado secundário mais desenvolvido, o ambiente é de alerta diante do juro alto e maior pressão sobre o custo do capital para as empresas, embora elas tenham se preparado bem nos últimos anos. “Cabe ao gestor avaliar os ativos a partir do conhecimento das empresas para nos blindar. No ano passado, diante do excesso de demanda e da escassez de oferta, aumentamos um pouco o caixa, restringimos a captação e fechamos alguns fundos,principalmente os de infraestrutura”, conta Lima.
O fundo ANS permanece aberto mas aumentou sua eficiência na gestão de caixa para ser mais seletivo, enquanto o fundo corporativo também aumentou essa seletividade”, diz. Ao mesmo tempo, a instituição abriu novos fundos de infraestrutura, com prazos de resgate mais longos para os gestores poderem administrar melhor os prazos.
Em 2025, as estratégias de crédito incluem uma clara abertura da indústria para os FIDC (Fundos de Investimento em Direitos Creditórios), que são mais estruturados e livres do come-cotas. “Aqui temos olhado para isso e fizemos em janeiro a oferta de R$ 500 milhões de um FIDC Fiagro fechado, que conseguiu capturar todo esse valor. É um fundo que oferece prazo determinado e pagamentos mensais de juros”, detalha Lima.
Gestão ativa para RPPS - Com R$ 19,9 bilhões sob gestão, dos quais apenas 10% estão em risco de crédito privado, a Banrisul Corretora de Valores tem o carro-chefe de sua grade de renda fixa no fundo Absoluto, de gestão ativa e voltado exclusivamente para títulos públicos. “É o maior fundo, com histórico de dez anos e muito forte em captação, tanto que bateu R$ 6 bilhões em janeiro deste ano frente a R$ 5,3 bilhões em dezembro de 2024”, informa Marcus Staffen, diretor-presidente.
O fundo aloca apenas em títulos públicos federais,sem qualquer risco de crédito, tem volatilidade muito baixa e é de fácil compreensão pelos clientes institucionais. O duration é pouco superior a três anos e tende a ter uma parcela representativa dos ativos indexados ao CDI. Hoje ele está 100% em Selic, diz Staffen.
“Foi um crescimento de 47% do patrimônio em 2025e os RPPS (Regimes Próprios de Previdência Social) são os principais clientes, embora também haja entes públicos”, informa. A casa continua a considerar o veículo como seu “fundo porta de entrada” embora o ticket mínimo seja de R$ 500 mil, porque é o fundo pelo qual os clientes começam a investir. O fundo Foco é de gestão passiva e o Soberano é para pessoas físicas, explica. “Vemos o crédito com bons olhos, tanto que temos 10% da renda fixa nessa classe, mas pelo perfil dos clientes, a demanda é maior por títulos públicos”, diz.
A corretora registrou crescimento de 16,9% no total de ativos sob gestão para RPPS no ano passado, somando hoje R$ 7,2 bilhões nesse segmento. É a quarta maior gestora de recursos de RPPS no Brasil e a terceira no estado do Rio Grande do Sul, com expansão para os estados de Santa Catarina e Paraná. Nesses dois estados, já temos mais de 50 RPPS conosco”, informa Staffen.
A corretora, que completa 55 anos em dezembro, estuda lançar nos próximos meses um fundo para investimento no exterior adequado ao perfil dos RPPS, via alocação em BDRs. “Será de gestão própria ou em parceria com outra casa, estamos avaliando esse aspecto, mas não poderá ser um produto de cotização muito alongada para não machucar muito o cliente se ele precisar de liquidez”, explica.
A boa performance do exterior em 2024 é um ponto favorável e pode ser complementar às carteiras locais de renda variável dos investidores. “A Selic tem sido um porto seguro para que os institucionais batam suas metas no longo prazo mas em algum momento isso vai acabar”, observa.
Melhores gestores em Renda Fixa (arquivo em pdf)