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Sob o efeito de Trump
As decisões de Donald Trump na presidência dos EUA está levando gestores de multimercados a rever posições de ativos em várias geografias

Edição 374

SantAnna,Tiago(Absolute) 25marEm mais um ano de dificuldades para a indústria de fundos multimercados, o principal fator de êxito dos fundos da Absolute Investimentos em 2024 veio da bolsa americana e dos ganhos com posições em inflação implícita no Brasil, avalia Tiago Sant’Anna, CEO e diretor executivo. “Em 2024 migramos o risco mais para os EUA porque lá há maior grau de racionalidade nos fundamentos, então ficamos o ano inteiro com exposição muito baixa no mercado brasileiro. Por outro lado, perdemos um pouco com as posições aplicadas em juros nos EUA”, diz.
Em 2025, as carteiras continuam com exposição aos mercados lá fora mas as posições mudaram em relação às de 2024, explica Sant’Anna. “Estamos em processo de reavaliar bastante o cenário internacional porque o governo Trump tem sido muito vocal em relação a reduzir o déficit fiscal e isso poderá ter impacto na redução da atividade econômica”, diz.
O objetivo é fazer uma reavaliação frente a um período de correção de preços, com juros para baixo e dólar mais fraco, isso com base nos fundamentos e nos preços. “Em relação às tarifas impostas pelos EUA, ainda não dá para entender muito bem como elas serão utilizadas pelo governo mas, seja via tarifas ou via negociação, Trump vai tentar fazer com que outros países ajustem o lado fiscal também”, analisa.
Dado o nível dos preços, ele não acredita que essas perspectivas cheguem a abalar a “excepcionalidade americana”- expressão que define a capacidade da economia do país seguir resiliente mesmo em cenário macroeconômico desfavorável e com potencial pressão inflacionária.
“Não vejo espaço para impactar essa excepcionalidade, mas a nossa posição hoje está mais vendida em bolsa americana porque numa janela mais curta, o posicionamento técnico do mercado já está muito comprado em bolsa dos EUA e em renda fixa”, diz Sant’Anna. Combinado a um possível aperto fiscal, esse cenário faz com que a margem de segurança para ficar comprado lá seja ruim, dando preferência às posições vendidas.
No momento, os fundos da gestora se mantêm um pouco vendidos em bolsa dos EUA e aplicados em juros naquele mercado e na Europa, além de estarem vendidos em dólar contra algumas moedas. “No Brasil, estamos comprados em inflação. Há um pouco de posições compradas em bolsa local e estamos começando a comprar também bolsas de outros emergentes”, diz.
O cenário externo é favorável aos emergentes de modo geral e ao Brasil também. “Os fundamentos locais não parecem os mais favoráveis no médio prazo e o quadro fiscal aqui está na contramão da política monetária, mas sob o ponto de vista do fluxo de recursos o potencial é melhor porque o mercado acionário brasileiro está muito desalocado, seja pelos multimercados aqui, seja pelos estrangeiros”, afirma Sant’Anna.
Com os preços locais muito atrativos, seja nas alocações em juro real ou em bolsa, falta apenas um trigger, que pode vir do exterior pelo enfraquecimento do dólar e pelo fato dos EUA não mais atraírem grandes investimentos. “Seria um trigger de curto prazo porque os EUA cresceriam menos, mas como todo mundo está muito investido nos EUA, qualquer mudança nos portfólios poderá afetar esse fluxo para a bolsa aqui”, aponta.
A asset tem R$ 52 bilhões em ativos sob gestão, dos quais R$ 32 bilhões estão em estratégias multimercados macro, sendo que o principal produto é o Vertex, fundo com volatilidade histórica de 6% ao ano. “O Vertex tem o dobro do risco do fundo Hedge mas ambos seguem as mesmas estratégias, operando moeda, juro e bolsa em diversas geografias para buscar retorno acima do CDI em diferentes mercados”, diz.
Na avaliação do gestor, é verdade que a performance média da classe de fundos multimercados não tem sido satisfatória nos últimos anos, mas ele lembra que a indústria é cíclica. “As boas casas vão voltar rapidamente a entregar resultados e a captar recursos. Assim que o juro retomar uma trajetória de queda, a indústria voltará a refletir maior apetite a risco dos investidores”, acredita.

Noel,Rodrigo(Genoa) 25marIncertezas com Trump - Em 2024, quando completou quatro anos de vida, a Genoa Capital, focada em multimercados, registrou mais um ano de resultados positivos e até cresceu marginalmente nessa classe, um desempenho diferenciado em relação à performance da indústria, diz Rodrigo Noel, diretor de operações e sócio-fundador.
Com R$ 16 bilhões sob gestão, a casa soma R$ 5,5 bilhões na estratégia dos seis fundos Radar, que tem vários veículos (feeders exclusivos) para a mesma carteira. Além disso, há fundos master para os diversos bancos parceiros de distribuição, mas a carteira é a mesma.“O Radar é muito dinâmico e tem perfil tático, então suas posições mudam muito ao longo do ano, mas a estrutura robusta da gestão, em particular a pesquisa macro (que ocupa 15 dos 74 profissionais da casa) é o principal diferencial”, aponta Noel.
A sistematização do processo de análise macro,que gera indicações para os gestores e pode colocar posições de maneira automática (sistemática) é outro ponto de destaque. “Estamos investindo nessa questão da capacidade computacional há dois anos e ela está ganhando cada vez mais terreno, a IA lê e organiza informações, o que garante um instrumento poderoso para acompanhar os resultados das empresas no mundo inteiro”, informa.
Um dos fatores que mais contribuíram para os resultados foi a leitura da atividade econômica ainda muito resiliente no Brasil, mostrando que a expectativa de inflação iria parar de melhorar e o BC teria que limitar a queda da Selic para voltar a elevar a taxa. “Nesse momento ficamos mais tomados, apostando mais na alta do que na queda do juro”, observa Noel.
Nos EUA, a percepção foi de que o país continuaria a manter sua posição de liderança no crescimento global, limitando a capacidade do Federal Reserve cortar juros de maneira mais forte. “Ao mesmo tempo havia economias de outros países indo na direção oposta, então o diferencial entre EUA e outros mercados também foi importante, assim como o diferencial do juro, o que criou um ambiente de boa performance para o dólar”, conta o gestor.
A estratégia foi muito bem nas posições compradas em dólar contra o euro, contra o dólar canadense, contra o yuan chinês (CNY) e o peso colombiano. “Em juros, ficamos aplicados no Canadá e no México, e tomados em juros no Japão e no Chile”, afirma.
Este ano, porém, os fundos estão com posições mais leves e mais táticas diante do aumento da volatilidade e da incerteza. “Os preços dos ativos estão muito dependentes de decisões do governo. Temos uma vantagem competitiva por sermos uma gestora ultra especializada em pesquisa macro, mas quando os preços dependem menos disso e mais do governo, é melhor manter posições menores e mais protegidas”, explica Noel. Atualmente a carteira não tem qualquer posição muito relevante lá fora, nem mesmo em dólar contra o CNY, além de estar sem posição em bolsa aqui ou nos EUA.
“Se o governo dos EUA for de fato na direção das ameaças que tem feito quanto à imposição de tarifas à China, Canadá e México, a economia do país vai desacelerar e poderá desorganizar todas as cadeias produtivas”, diz Noel.

Mendez,Thiago(BahiaAsset) 25fevPreservação de capital - Assegurar rentabilidade acima do CDI e preservar capital foi o principal trunfo da Bahia Asset na gestão de seus fundos multimercados em 2024, avalia Thiago Mendez, sócio e gestor de multimercados e renda fixa. “A preservação de capital foi o objetivo mais importante diante do cenário volátil, que começou o ano mais otimista em relação aos mercados brasileiros mas mudou e acabou trazendo muita incerteza”, diz.
A casa mudou rapidamente as posições de suas carteiras quando percebeu, ainda no primeiro trimestre de 2024, essa incerteza em relação aos ciclos econômicos no Brasil e nos EUA. “Identificamos que o juro não cairia tanto quanto se esperava nos EUA e que a inflação seria mais alta no Brasil e fizemos a troca de posições”, diz. Desse modo, foi possível garantir proteção e uma rentabilidade um pouco acima do CDI.
Com R$ 4 bilhões em ativos sob gestão, a asset é especialista em Brasil mas também opera os mercados globais e monta seus cenários macroeconômicos com base em muita pesquisa, explica Mendez. “Assim como em 2024, neste ano também há muitas nuvens na frente do cenário, o que nos levou a ter posições mais curtas e menos sensíveis a preços”, explica.
No ano passado, as posições maiores em bolsa americana e aquelas compradas em ouro também ajudaram a rentabilidade. Em 2025, porém, as posições em bolsa dos EUA foram encerradas porque a perspectiva do mercado americano piorou.
No Brasil, ele observa que a queda da popularidade do governo federal tem produzido uma antecipação do calendário eleitoral, quadro influenciado ainda pela insistência do governo em sua política fiscal. “Sob o ponto de vista da gestão dos fundos multimercados, há mais oportunidade hoje no Brasil do que no exterior, porque aqui a volatilidade é maior”, observa.
No mercado local de juros, o Tesouro mudou sua atuação do ano passado para cá, diz o gestor, o que tem gerado oportunidades e levou a uma mudança na alocação dos fundos da asset. Em 2024, suas posições no mercado de juros foram táticas (de “inclinação”) mas este ano passaram a apostar no juro real.
“Em 2024 houve poucas emissões de títulos longos, o que encurtou o perfil da dívida, mas em 2025 o Tesouro tem aproveitado uma certa “calmaria” de início de ano para emitir uma quantidade importante de títulos e de títulos mais longos”, conta Mendez.
Com as taxas a termo garantindo juros reais próximos a 8%, o momento é favorável para investir. “Temos comprado juro real e nos protegemos contra a inflação com a compra de NTN-B. As emissões melhoram o perfil da dívida e ao mesmo tempo geram oportunidade de investimento, então temos feito posições bem dinâmicas”, diz.
Já nos EUA, é preciso analisar as implicações econômicas da eleição de Trump, que mantém seu foco principal no eleitor americano. “A imposição de tarifas às importações de países como China, Canadá e México, por exemplo, é uma proposta com grande potencial para mexer com todos os ativos financeiros e a incerteza é grande porque tudo depende da cabeça de uma única pessoa”, diz Mendez.
“Estamos posicionados levando em conta as tarifas, mas acompanhamos o assunto de perto, no dia a dia, e continuamos a navegar com o farol de neblina ligado no que diz respeito aos mercados nos EUA”, afirma.

Freire,Marco(Kinea) 25marIA reina - Em meio ao quadro geral da indústria de multimercados, que tem sofrido com uma rentabilidade aquém dos objetivos e dos benchmarks (CDI), assim como fortes movimentos de resgate, os fundos da Kinea Investimentos conseguiram mostrar resiliência ao utilizar diferentes tipos de estratégias em 2024, explica Marco Freire, sócio e gestor dos fundos líquidos da instituição.
“A maioria dos nossos fundos multimercados é macro e faz posições direcionais grandes, mas ao mesmo tempo adotamos uma abordagem que analisa também as tendências micro e desenvolve alocações setoriais no Brasil e no exterior”, diz.
Na bolsa americana, as ações de empresas voltadas ao mercado de Inteligência Artificial foram as estrelas ao longo do ano. “E na bolsa brasileira, os papéis foram selecionados para as posições relativas de compra e venda, então é uma abordagem bem completa”, diz Freire. “Os acertos vieram principalmente da IA na bolsa americana, enquanto os erros aconteceram nas posições em juro brasileiro, que subiram mais do que esperávamos”, afirma.
Em IA, as carteiras apostam nos ativos ligados a todo o complexo de produção envolvido, desde companhias fornecedoras de energia elétrica e infraestrutura de gás até aquelas ligadas à própria construção dos data centers, aplicativos/software e as empresas fabricantes de semicondutores, entre outras.
Freire observa que essa corrida acontecerá ao longo dos próximos dois a cinco anos. “Será uma batalha, a grande evolução dos próximos anos, porque os modelos de IA são de raciocínio e envolvem cem vezes mais computação do que os modelos anteriores, como o ChatGPT, voltados apenas à linguagem”, avalia.
Todos os multimercados da Kinea têm hoje a IA como principal tema da parcela alocada em bolsa, como acontece no fundo Chronos, que comprou ações ligadas a esse complexo na bolsa americana em 2024 e continua a faze-lo em 2025. A carteira de ações tem mais de vinte ações ligadas ao tema.
O segundo tema a pautar as posições da asset no mercado global é a relação entre o governo Trump e a China. “Não acredito que os EUA cheguem a fazer acordos com todos os países. Na China, que é seu forte competidor, a tendência é que sejam impostas tarifas relevantes e o dólar subirá, então estamos vendidos na moeda chinesa e comprados em dólar em todas as nossas estratégias”, diz.
Em relação ao Brasil, a posição continua cautelosa, até porque é muito cedo para tentar antecipar a eleição presidencial e seu impacto na política fiscal. “O mercado não consegue antecipar, até porque não se tira o presidente Lula do páreo tão fácil”, afirma.

Albuquerque,Leticia(Tivio) 24set 01 2Risco espalhado - Um mês e meio de governo Trump já foi o suficiente para mudar o consenso dos mercados sobre o cenário nos EUA que havia no final do ano passado, com maior volatilidade e mais incertezas, observa Letícia Albuquerque, head da área de Investment Solutions da Tivio Capital. “Por conta dessa mudança, os gestores estão espalhando o risco pelo mundo todo e o Brasil é um dos países que pode se beneficiar disso”, afirma. Nas carteiras de multimercados, a preferência tem sido por NTN-B mais curtas; posições táticas em bolsa e posições um pouco mais negativas no mercado externo.
Os dois fundos de fundos (FoFs) multimercados da casa que tiveram destaque em 2024 são de gestão ativa, tanto o Top Crédito Privado quanto o Top Manager Global, conta Gabriel Marquezino, responsável pela mesa de gestão ativa em fundos de fundos. “As posições em crédito high grade no Brasil e na bolsa americana foram os principais fatores do bom desempenho em 2024. No caso do high grade local, houve alguns fatores que contribuíram para o resultado tanto nos nossos fundos como na indústria”, diz o gestor.
Entre esses fatores, ele destaca a resiliência da economia brasileira, que demonstrou um desempenho robusto, com crescimento significativo do PIB, especialmente nos setores de serviços e indústria. “Além disso, as gestoras de fundos mantiveram carteiras de crédito resilientes, selecionando emissores de alta qualidade por meio de análises fundamentalistas rigorosas, o que resultou em performances acima do CDI”, diz Marquezino.
Na carteira de FoF Top Crédito Privado, ele ressalta os fundos JGP Select Premium; Icatu Credit Plus; Sparta Max; SPX Seahawk e Tivio Banks, trocado pelo novo produto da asset chamado Tivio D30. “A carteira inclui ainda posições no Itaú Sinfonia e no Bradesco Ultra e passamos a buscar, desde o final do ano passado, gestores complementares à carteira e com a capacidade de olhar os balanços dos emissores de crédito em detalhes. Nessas novas alocações estão o Root HG e o Bocom BBM Corporate Credit”, informa Marquezino.
Já na carteira do FoF global os ganhos vieram de posições na bolsa, notadamente no setor de avanços tecnológicos e Inteligência Artificial. “O entusiasmo dos investidores com inovações em inteligência artificial impulsionou significativamente ações de grandes empresas de tecnologia, como Nvidia e Meta, que registraram aumentos expressivos em seus valores de mercado”, diz Marquezino. A redução dos juros pelo Federal Reserve, que baixou as taxas em quase 100 pontos-base ao longo de 2024, estimulou o mercado acionário.
Os destaques na carteira do FoF global foram Janus Henderson Global Tech; Franklin Technology; AQR Delphi e Schroders Sustentabilidade. “Temos também uma posição no MFS Contrarian Value e JP Morgan Global Select Novas Alocações, buscando gestores com características mais defensivas: Egerton e Countour”, informa.

Melhores gestores em Multimercados (arquivo em pdf)