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Risco afastou os investidores
Uma combinação de juros altos com baixa austeridade fiscal mantiveram os investidores longe dos produtos de risco no ano passado

Edição 374

Missagia,LuizFernando(Icatu) 25mar 02O Brasil hoje precisa de uma mudança positiva na questão fiscal e política para estimular o mercado acionário, avalia Luiz Fernando Missagia, portfólio manager de renda variável da Icatu Vanguarda. “Houve um vendaval de saída de recursos na indústria, inclusive com destruições na classe de multimercados.
Missagia atribui a fuga do risco aos juros altos e à baixa austeridade fiscal entre os fatores internos, assim como a resiliência da economia dos EUA, que mantêm o investidor “gringo” por lá. “Mas o Brasil tem uma grande reserva agropecuária, minérios e excelentes empresas em situação muito boa, pouco endividadas. A Petrobras tem caixa líquido e os bancos estão totalmente capitalizados”, diz.
Em seu carro-chefe Igaraté, um fundo de ações long biased passivo, que usa a renda variável para obter ganhos acima do IMA-B5, a Icatu Vanguarda aplica um modelo de gestão que usa muitos derivativos para a proteção da carteira, combinando inúmeras estratégias diferentes para cada ação e para cada momento do mercado, explica Missagia, que é responsável pela gestão do fundo há três anos. “Aplicamos diversas estruturas de opções e várias combinações delas na mesma ação, o que suaviza a cota e melhora a relação risco/retorno, uma vez que a nossa grande preocupação é com o risco”, afirma.
Desse modo, o fundo busca uma proteção elevada contra as quedas da bolsa, sem fazer day-trade nem fazer a cota chacoalhar muito, já que é um renda variável enquadrado. “Ele não tem alavancagem e não pode fazer vendas a descoberto, está sujeito a várias limitações em derivativos e, embora faça exterior, só pode ir até 20% da carteira nessa parcela de alocação”, explica Paula Salamonde, responsável pela área de RI.
Este ano o fundo está abaixo do teto de 20%, com apenas 7% a 8% de alocação no exterior porque a perspectiva é apostar mais em Brasil desde que os mercados lá ficaram mais assimétricos, com a piora do cenário.
A avaliação é de que as proteções utilizadas na gestão funcionaram bem em 2024 para enfrentar os momentos de quedas fortes do mercado, com um resultado que caiu significativamente menos do que o Ibovespa. Nas altas da bolsa, a proteção com derivativos e a carteira balanceada ajudaram graças aos bons ativos aqui e offshore.
“O fundo dá acesso ao mercado de ações sem tanta volatilidade, é uma experiência mais suave na renda variável e tem mostrado retorno consistente ano a ano”, observa Missagia.
Ainda há espaço para uma visão otimista com a bolsa nos EUA, principalmente no setor de novas tecnologias, diz o gestor. A carteira do fundo carregou por muito tempo ações da Meta e da Amazon, mas agora está reduzindo essa exposição porque os preços subiram muito. “No Brasil enxergamos uma mudança de ventos até 2026, com a perspectiva de maior austeridade fiscal e o mercado precifica essas coisas antes. Não será um movimento em linha reta, terá altos e baixos ao longo dos próximos dois anos”, avalia.
Na família de fundos Igaraté- o FIA e o fundo previdenciário -, já há quase R$ 1 bilhão sob gestão, com um número crescente de fundos de pensão. “Mas as fundações, que investiam cerca de 15% a 20% de seus recursos em renda variável há três anos, hoje estão no patamar de 5% ou, em alguns casos, zero alocação”, diz.

Gabriel,Danilo(XP) 25marGestores globais - Trazer os principais gestores globais, como Morgan Stanley e Neuberger, e reuni-los num pacote para o Brasil, por meio de parcerias, é o modelo encontrado pela XP Asset para incorporar feeders globais a sua plataforma, tanto para o público de varejo como para os institucionais, diz Danilo Gabriel, responsável pelos fundos indexados e internacionais da asset. A área responde por R$ 50 bilhões em ativos sob gestão dentro do AuM total de R$ 190 bilhões da casa.
“Fizemos questão, na franquia de fundos internacionais, de ter produtos adequados ao público institucional brasileiro, incluindo fundos de pensão e RPPS”, destaca.
Os fundos de renda variável da asset que foram classificados como excelentes no ranking da Investidor Institucional representam na verdade duas estratégias porque um deles é feeder de outro, conta Gabriel. “Hoje temos aproximadamente 20 gestores internacionais, incluindo essa estratégia Global Opportunity da Morgan Stanley, casa que tem mais de US$ 1,7 trilhão sob gestão globalmente, sendo US$ 300 bilhões em renda variável”, diz.
O investimento é feito de maneira agnóstica em relação ao benchmark e sem compromisso com geografias. “O ano passado foi muito bom para esse fundo no Brasil, temos esse produto desde 2019 e já é uma estratégia consolidada, um dos nossos maiores em patrimônio, um master feeder com R$ 1 bilhão sob gestão no Brasil”, detalha.
“Diante do cenário de aversão ao risco, ficamos felizes com a performance do Global Opportunity, mas o cenário macro é complicado e as incertezas no Brasil contaminam o fundo. Aqui ele é dolarizado e vimos recentemente uma performance negativa do dólar”, observa Gabriel. Apesar disso, a visão da casa é positiva em relação à bolsa nos EUA. “A perspectiva é otimista porque esse fundo consegue navegar em qualquer cenário. Ele tem a carteira concentrada em papéis de empresas dos EUA, como a Meta, Uber, Spotfy e Shopify”, afirma.
A gestão está baseada em cinco pilares usados pelo time lá fora, explica o gestor. O primeiro deles é o das mudanças disruptivas, com a seleção de papéis de empresas que representam mudanças relevantes como o exemplo do Uber. O segundo pilar é o das vantagens competitivas em empresas líderes como a Meta.
Há ainda a busca por empresas sólidas financeiramente e de crescimento mas também com uma análise fundamentalista. Outro pilar é o dos papéis de empresas focadas em growth e, finalmente, as empresa que adotam temáticas ESG (responsabilidade ambiental, social e de governança).
Enquanto o fundo da Morgan Stanley tem um viés de growth, Gabriel lembra que o fundo Neuberger não tem qualquer viés, sua alocação é voltada exclusivamente para os EUA e olha de maneira ampla para os diversos setores. “Esse fundo também é dolarizado e trabalha os pilares de situações especiais , o de assimetrias de valor e o pilar fundamentalista”, explica.

Wang,Welliam(AZQuest) 25marAlta capitalização - “Começamos o ano passado com uma cabeça otimista no mercado de renda variável, com a perspectiva de juros em queda, mas à medida que vimos um cenário ruim para o lado fiscal, passamos a proteger as carteiras porque quando o mercado está volátil, preferimos as empresas de maior capitalização”, diz Welliam Wang, head de renda variável da AZQuest. As principais posições em 2024 foram as da Embraer e da Santos Brasil, empresas que foram vistas como muito bem posicionadas, explica o gestor. Outro destaque foram as ações da Cielo, que representa uma visão moderna de banco, e os papéis da Weg.
2025 será um ano de muita volatilidade e desafios do lado fiscal, uma vez que o governo não deverá manter o arcabouço fiscal dado que será um ano pré-eleitoral, avalia Wang. Para que o esperado fluxo de recursos estrangeiros seja concretizado de maneira consistente para a bolsa, será preciso endereçar antes a questão fiscal. Enquanto não tiver essa visibilidade de que ela será discutida e eventualmente resolvida, dificilmente o estrangeiro virá com veemência, com viés de longo prazo. “Por enquanto a nossa carteira continua com as mesmas empresas, por volta de 15 nomes, e tem conseguido captar clientes de longo prazo”, diz.
A asset tem quatro fundos de ações ao todo, incluindo dois fundos de small e mid caps, que terão que navegar mais um ano de forte volatilidade. “Do lado positivo, o potencial de valorização nos ativos dessas empresas é elevado, principalmente se houver um cenário mais positivo do lado eleitoral e também porque o valuation dos papéis está muito descontado”, afirma.

Lion,Andre(Ibiuna) 24setNova visão para o capital - A partir do quarto trimestre de 2024, quando houve uma comunicação do ministro Fernando Haddad sobre o plano de redução de despesas, vimos que a dinâmica econômica mudou e passamos a buscar empresas com intenção de alocação de capital muito bem definida”, afirma André Lion, gestor e CIO da Ibiuna Investimentos. São empresas sem endividamento e com margem para reduzir custos ou repassar preços.
Para Lion, embora o ano de 2026 ainda esteja longe, o processo eleitoral no Brasil já vai se fazer presente no mercado e é uma variável que precisa ser levada em conta. Mas ele descarta comparações com a situação das empresas em 2015. “Em 2015 a situação era diferente porque as empresas estavam estupidamente alavancadas e com investimentos errados. Hoje elas têm uma visão mais racional de seus planos de investimentos e projetos que trazem ganhos para os acionistas”, ressalta Lion.
Em relação aos fatores externos, o gestor questiona a “visão canônica” de que se os EUA vão mal, o mundo vai mal. “Há uma outra visão, a de que os últimos anos da bolsa americana foram extraordinariamente bons e o país acabou virando um aspirador de dinheiro, então hoje vemos uma possível desconcentração do capital do mundo em busca de alternativas fora dos EUA”, afirma. Esse efeito já começou a ser percebido nos mercados em 2025, acredita Lion.
Em sua carteira de ações, cujo mandato é essencialmente de Brasil, a asset prefere setores como o de shoppings, mais resiliente e de baixa alavancagem, e alterna posições entre as três maiores empresas do setor. Outra preferência é pelo setor elétrico, com destaque para Copel e Eletrobras, que têm equipes bem estruturadas e focadas. No saneamento, a Sabesp é a estrela e está se encaminhando bem, lembra o gestor.
“Gostamos também da Cyrella, no setor de construção civil, mas ficamos em dúvida por conta da taxa de juros, então essa é uma interrogação”, diz. Outro destaque é a Direcional, do setor de incorporações, que tem tocado bem sua operação”, avalia.
Na Petrobras, os resultados do quarto trimestre mostram investimentos um pouco acima do esperado mas no geral a empresa está bem e gerando caixa, além de parecer razoavelmente bem estruturada em sua governança, então continuamos gostando”, diz Lion.
O fundo excelente da Ibiuna é um long only, com cerca de 20 posições, que vão de 5% a 10% de participação cada uma. Além desse fundo, a gestora tem dois fundos, um long and short que é 100% ligado ao CDI e um long biased que fica no meio do caminho entre os outros dois veículos. No long and short e no long biased fazemos algumas operações no mercado internacional, mas sempre como hedge porque o risco é Brasil, afirma o gestor.

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