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Ao gosto do cliente
Gestoras criam áreas para customizar soluções, com o objetivo de atender necessidade de grandes investidores em operações mais complexas

Edição 376

Lovisotto,Fernando(VinciPartners) 22abrEm tempos de juros reais mais do que compensatórios para as metas atuariais dos fundos de pensão, e diante da recente autorização para que os títulos públicos federais sejam marcados na curva também nos planos de contribuição definida, a busca pela diversificação de investimentos enfrenta novos desafios nos portfólios das fundações. Nesse cenário, as áreas de investment solutions (soluções de investimento) das assets tem ajustado seus modelos de customização para atender a demanda desses investidores em operações mais complexas e estratégias diversificadas, seja em exterior ou em alocação local.
Criada há doze anos, o modelo de soluções de investimento da Vinci Compass evoluiu de seu objetivo original, que era o atendimento a alguns clientes pessoas físicas, para a estrutura atual, que atende institucionais e responde pela maior parte dos recursos na asset, somando cerca de R$ 60 bilhões sob gestão. “A área nasceu para atender pessoas físicas mas seu desenho evoluiu e hoje estamos preparados 100% para as demandas dos fundos de pensão”, diz Fernando Lovisotto, head de Soluções e Produtos de Investimento para o Brasil e o Chile.
A atuação no segmento de institucionais é dividida em três etapas definidas. A primeira delas engloba a oferta de produtos condominiais, enquadrados na legislação das entidades fechadas de previdência complementar e que ajudam a medir o track record da asset.
Na segunda etapa, explica Lovisotto, “o objetivo é compreender os objetivos e problemas da fundação, definir seu asset allocation e escolher a melhor maneira de implantar as diversas “caixinhas” de investimentos”. E finalmente, na terceira etapa, entra a montagem das proteções/hedges. “Isso é fundamental porque a volatilidade está aí, o S&P chegou a cair 25% este ano”, lembra.
A estrutura está desenhada para ajudar nas três etapas ou, dependendo das necessidades da fundação, fazer isso de forma segregada, em sub-estratégias. Dessa forma, pode ser contratado um pacote maior, para a gestão de um plano inteiro, ou atender a demandas específicas apenas para estratégias de exterior, para a parte ativa da carteira de NTN-B ou para a bolsa, o que é feito em sub-mandatos. “Mas sempre gostamos de fazer uma parte desse trabalho a seis mãos: nós, o consultor de investimentos e a própria fundação, via AETQ e diretoria executiva”, diz Lovisotto.
“Ao longo desses doze anos, a demanda por soluções de investimentos cresceu no mercado, os competidores foram se organizando e acabamos virando uma referência”, avalia. No início, o cliente não entendia bem o funcionamento da área, mas aprendeu muito de lá para cá. Entre as mudanças trazidas por essa compreensão, ele aponta a questão dos custos. “Havia um mito de que a área de soluções era mais cara, mas é justamente o contrário, o custo fica mais barato porque a comissão do rebate é revertida para o cliente. Além disso, o processo de investimentos fica mais robusto porque tem mais gente avalizando o trabalho”, afirma.
Apesar dos avanços, ele admite que ainda há muito chão para andar porque são poucas as fundações que já utilizam soluções de investimento. “Naquelas de maior porte, o que mais acontece é que elas façam isso apenas para suas estratégias no exterior e, em geral, terceirizam para gestores estrangeiros, mas essa é uma escolha sub-ótima porque essas casas em geral só alocam em fundos próprios”, critica Lovisotto. Para ele, a escolha é feita porque dá maior conforto a algumas EFPC, que prefeririam o gestor estrangeiro apesar do risco de conflito de interesses devido aos fundos próprios.
Na Vinci Compass, há hoje cinco mandatos para investimento no exterior, uma classe em que é possível ampliar bastante a customização. Há muitas possibilidades de hedge que permitem customizar de modo amplo, seja por meio de hedge cambial, com hedge de S&P ou sem”, diz.
A área de soluções como um todo acaba sendo mais utilizada por entidades de porte médio, com patrimônios entre R$ 2 bilhões e R$ 3 bilhões, para equacionar seus problemas de mão-de-obra interna, segundo avalia Lovisotto. “O mercado de investimentos cresceu muito e ficou mais difícil para a fundação escolher sua alocação, então ela terceiriza”, afirma.
A casa tem hoje sete mandatos para planos inteiros e outros em que cuida apenas de uma parte das estratégias. “Há fundos de fundos (FoF) mas também compramos muitos ativos diretamente porque acreditamos que seja mais eficiente do que comprar fundos”, diz. Atualmente, apenas 30% dos ativos sob gestão estão em fundos e o restante utiliza as compras diretas. Olhar para os custos é fundamental, observa Lovisotto, até para poder entregar o mandato com a melhor relação risco/retorno possível.

Albuquerque,Leticia(Tivio) 25maiTransparência fundamental - Na Tivio Capital, a área de soluções de investimento responde por R$ 14 bilhões dos R$ 28 bilhões em ativos totais sob gestão. “Metade do volume da área pertence a investidores institucionais, sendo que desses há aproximadamente R$ 4,5 bilhões vindos de entidades fechadas de previdência complementar”, informa Letícia Albuquerque, head de Investment Solutions. Os demais são basicamente fundos exclusivos de clientes do segmento private.
As estratégias incluem renda fixa ativa ou indexada, renda variável e alocação de terceiros, via FoF. “Alocar por meio de FoFs em lugar de faze-lo diretamente é um modelo mais eficiente. Outra vantagem está nos serviços customizados que incluem relatórios, reports e a gestão”, diz Albuquerque.
Atualmente, o total sob gestão em FoF chega a R$ 7 bilhões dos R$ 14 bilhões da área, sendo que a outra metade fica em renda fixa. São R$ 4 bilhões alocados em gestores terceiros e R$ 3 bilhões alocados por meio de gestão interna ou ativos diretos.
Entre os investidores, há fundações que delegam a carteira toda e para isso a casa utiliza fundos multiestratégia que podem seguir várias combinações entre as diversas classes. “Mas tudo o que envolve multimercados estruturados e crédito privado é feito via FoFs, assim como a parte de investimento no exterior”, explica Gabriel Marquezino, responsável pela mesa de gestão ativa em FoF.
Ele observa que a demanda por esse tipo de veículo cresceu, estimulada pela vantagem da segregação entre os planos de benefícios, que agora têm CNPJs próprios. “Com o FoF fica mais fácil fazer isso operacionalmente, e também por conta do rebate das taxas,que vai direto para o fundo”, lembra. Além de garantir maior transparência, flexibilidade e possibilidades de customização da carteira.
No que diz respeito ao número de gestores, houve uma concentração de 2020 para cá. “Tínhamos 75 gestores locais aprovados e dez internacionais. Nos últimos anos acabamos concentrando mais esse número e atualmente são 36 locais aprovados e 18 internacionais”.
O motivo, diz Marquezino, está na própria redução do número de fundos da indústria, assim como na orientação interna da casa. “Fizemos isso porque a quantidade de gestores que batem o CDI fica cada vez menor, o que nos levou a concentrar mais”, afirma. O objetivo agora é melhorar a cobertura internacional para que ela fique mais parecida com a local. “Fazemos calls trimestrais com eles e o uso de distribuidores locais também ajuda nessa seleção off-shore, além de fazermos contato com gestores sem distribuição no Brasil”, observa.
A demanda dos institucionais à área de investment solutions passa pelo desenho e pela estruturação dos produtos, pela calibragem dos portfólios e pelos reports, além de calls adicionais com os gestores e pela análise de cenários. “Mas a gestão de risco é outro ponto sensível, assim como os controles de enquadramento e desenquadramento”, afirma Letícia Albuquerque.
Ela enfatiza a importância de combinar o expertise do time local de renda fixa com o conhecimento na alocação de terceiros. “O nosso processo de seleção de gestores baseado em rating interno é fundamental para justificar investimentos e também os resgates, assim como é essencial a transparência dos nossos reports para as fundações”, explica Albuquerque.
O rating interno avalia gestores e estratégias e dá o intervalo de alocação. “Isso deixa as estratégias mais claras para o investidor e mostra os motivos para termos escolhido um determinado percentual e como chegamos a ele. Fica mais transparente e há menos viés, o que também é importante para evitar qualquer conflito”, diz Gabriel Marquezino.

Popovich,Daniel(FranklinTempleton) 25maiExclusivos e condominiais - Com o suporte de uma área global que atende institucionais ao redor do mundo, o modelo de soluções de investimento da Franklin Templeton implementado no Brasil somava R$ 1,5 bilhão sob gestão em maio e pretende chegar até R$ 1,8 bilhão no final de junho, explica Daniel Popovich, CFA, portfolio manager da casa no País. “Trabalhamos essa área há cinco anos e hoje conseguimos fazer tudo internamente no Brasil, sempre voltados para a gestão de portfólios internacionais no exterior. A estrutura mundial da asset, por sua vez, conta com um comitê global de investimentos e um suporte importante para gestores em todo o mundo”, diz.
Atualmente, a casa trabalha em dois novos fundos exclusivos que estão em fase de estruturação para fundações, informa Popovich. “Essas serão duas grandes ofertas voltadas para o investimento no exterior, mas em maio de 2024 lançamos a família de soluções building blocks para os institucionais”, lembra. Nessa família estão fundos condominiais que podem ser customizados por meio de diversas classes de ativos e de gestores numa única solução, com veículos que alocam tanto em renda variável global como em renda fixa global e alternativos líquidos (hedge funds).
O building blocks, com aproximadamente R$ 100 milhões sob gestão, é baseado numa curadoria de fundos mútuos e de ETF (fundos de índices), além de gestores terceirizados.
O apetite pelo investimento no exterior tem crescido, segundo Popovich, apesar dos desafios impostos pelo cenário externo este ano. “O investidor institucional brasileiro caminha para ampliar sua diversificação internacional, embora a autorização para as fundações fazerem marcação na curva de títulos federais em seus planos de contribuição definida seja um contra-incentivo ao risco e à diversificação hoje”, admite.
A noção de olhar o exterior como caminho importante para diversificar o risco, entretanto, está cada vez mais difundida no Brasil, acredita o gestor. Nesse sentido, os mercados internacionais são uma ótima oportunidade para a área de investment solutions, mas o assunto ainda vai levar tempo para crescer junto aos fundos de pensão brasileiros e exige que as equipes das assets também façam um trabalho paralelo de educação. “Temos trabalhado para isso e também para atuar como uma extensão das equipes internas das fundações e nos especializamos em exterior, que é onde a maioria delas precisa de algum apoio”, afirma.
A gestora trabalha atualmente com mais de 60 gestores aprovados e cerca de 25% em seus diferentes portfólios, o que se traduz uma interação global em vários formatos. “Temos um comitê semanal de investimentos em que são discutidas as teses mas também há uma interação com os gestores em vários mercados para discutir ideias e portfólios de diferentes regiões”, observa. Como o investidor off-shore brasileiro aloca muito nos fundos da jurisdição europeia, é importante manter um diálogo global forte.
O cenário este ano tem sofrido com o movimento político dos EUA e a asset reduziu para neutra sua posição no mercado americano, aumentando um pouco Europa e Japão. “Mas estamos neutros em tudo, também nos emergentes, tanto em renda fixa como na renda variável, porque de janeiro até o final de abril muitos investidores tentaram tirar o risco de seus portfólios e nós preferimos neutralizar as posições em relação aos benchmarks”, detalha Popovich.