Edição 376
O conceito de soluções de investimento vem de uma evolução na gestão, analisa Luiz Sorge, sócio e head de estruturas da XP Asset. “O modelo antigo era focado na venda de produtos, mas com a sofisticação e a maior complexidade dos mercados foi-se percebendo que esse modelo não servia mais para o grande investidor, fosse o institucional ou a pessoa física de alta renda”, diz.
A partir daí, o mercado descobriu que seria preciso entender o passivo para prover uma solução. No caso das entidades fechadas de previdência complementar, a área, portanto, precisa entender o segmento de atuação da fundação e o perfil dos seus participantes. “Também é preciso compreender os seus planos de benefícios e o tamanho do estoque de patrimônio, para discutir de maneira técnica o que é factível na busca de soluções de investimento”, avisa Sorge.
Um terceiro ponto é o entendimento do momento vivido pela fundação, se é mais tranquilo ou se é de “dores” seja do lado da rentabilidade ou de eventuais fusões e cisões dos patrocinadores, etc. “Além disso, é importante ter a capacidade de sentar ao lado dos diretores e conselheiros das EFPC porque eles falam em nome de uma massa de participantes e são cobrados por eles, então é essencial olhar para suas políticas de investimento; Em seguida, estabelecer controles de risco e compliance e, depois de implementado o mandato, fornecer relatórios também customizados.
Essas etapas são complementadas por um trabalho de educação financeira dos participantes.”Esse é um aspecto que está em nosso DNA e a XP coloca foco nisso, oferece uma possível assessoria/consultoria de planejamento financeiro aos participantes das entidades olhando para todo o mundo financeiro deles, uma iniciativa que se liga ao início do ciclo, ou seja, entender a fundação e o seu passivo”, diz Sorge.
Nem tudo, porém, segue essa sequência, até porque a asset não pode impor o seu menu aos clientes. “Quando há demanda, oferecemos todos esse cardápio às fundações”, afirma.
Com R$ 125 bilhões sob gestão na área frente aos R$ 190 bilhões de AuM total, a casa tem R$ 10 bilhões em FoF de fundações, com acesso a uma variedade de gestores e estratégias. Nesse caso, 90% das alocações são feitas por meio de 30 gestores locais e dez internacionais. Dos R$ 125 bilhões, R$ 40 bilhões estão alocados em crédito privado e apenas R$ 1,5 bilhão em exterior.
Área ligada ao presidente - Criada em 2008, a área de soluções de investimento da SulAmérica Investimentos ganhou impulso e mais do que dobrou de tamanho nos últimos quatro anos, chegando este ano a R$ 7 bilhões sob gestão frente ao AuM total de R$ 84 bilhões da casa gestora. “O passivo é majoritariamente composto por entidades fechadas de previdência complementar, que representam 70% do total, normalmente por meio de fundos exclusivos, mas também há fundos abertos”, diz Marcel Andrade, head de investment solutions.
Há um ano e meio, por exemplo, entrou nessa lista um fundo aberto (FoF) de retorno absoluto que dá acesso ao exterior e busca a variação do dólar mais 5% ao ano, flutuando entre diversas classes e subestratégias, além de alocar em estratégias de arbitragem, quantitativos e fundos temáticos, por exemplo. Há FoFs de renda variável local, de multimercados locais, de crédito privado e de asset allocation. “Os fundos de asset allocation são os que mais crescem e que apresentam a maior demanda das fundações atualmente. Elas nos passam suas metas de retorno e nós fazemos a alocação entre as classes, assim como a seleção de ativos”, conta Andrade.
Para não haver conflitos, a área é diretamente ligada ao presidente da asset. “Os clientes da gestora podem ou não aplicar em nossas soluções de investimentos, mas não há subordinação ao CIO (Chief Investment Officer) da gestora. “Ao mesmo tempo, as soluções de investimento bebem de várias fontes da asset, como a de quantitativos e outros estudos”, diz.
“O crescimento muito forte dos mandatos de asset allocation mostra que as EFPC têm delegado cada vez mais sua macro e microalocação, em busca de ganhos de agilidade”, analisa Andrade. O aumento da aversão ao risco ao longo dos últimos dois anos trouxe a expansão da renda fixa para esses mandatos.
A agilidade dos mandatos é mantida graças à proximidade com os clientes. “Almoçamos e jantamos com eles todos os dias, para mergulhar de fato nas carteiras. Os times são dedicados também a outras atividades além da gestão, como acompanhar as questões regulatórias”, afirma.
Este ano a casa está começando a mostrar suas soluções também ao segmento de RPPS (Regimes Próprios de Previdência Social).
As mudanças regulatórias trazidas pela Resolução CVM 175 e mais recentemente pela Resolução CMN 5.202, que trata dos investimentos dos fundos de pensão, não devem ter impacto direto nas carteiras, mas podem contribuir para dar acesso a classes de investimento com um custo mais baixo, avalia Andrade.
Com as mudanças, ele acredita que o mercado caminha para ter gestores oferecendo aos institucionais taxas mais ajustadas, como acontece lá fora. “Aqui sempre fomos muito transparentes, sempre fizemos a reversão das taxas para dentro do próprio fundo, mas agora o mercado caminha para que os gestores, de modo geral, ofereçam classes mais baratas”,diz.
Transformação - As soluções de investimento refletem a transformação sofrida pela indústria de fundos ao longo dos últimos três anos, principalmente mudanças regulatórias e outras, cíclicas, que passaram a aparecer nos mandatos”, diz Adilson Ferrarezi, head de Investment Solutions da Bradesco Asset.
“À medida que os fundos exclusivos perderam o benefício fiscal com o come-cotas, e que muitos fundos do mercado perderam eficiência e performance, principalmente no caso dos multimercados e dos fundos de ações, houve uma mudança no mix de produtos e serviços”, aponta o gestor. Ele observa que ao longo dos últimos três anos, 80% a 90% da indústria de fundos não conseguiu superar o CDI.
Tudo isso mudou o comportamento do investidor, que passou a buscar produtos mais eficientes do ponto de vista tributário e estruturas dedicadas, com mais serviços e não apenas produtos. “`Para as fundações, o outsourcing CIO, ou o CIO terceirizado, na sigla em inglês, passou a ser relevante para cuidar de todo o portfólio disponível nas gestoras de forma customizada”, explica.
O business de FoF deu origem ao de investment solutions, “um novo mix que reúne o melhor dos FoF com benefícios fiscais sempre que houver essa possibilidade”, avalia Ferrarezi. Além dos avanços regulatórios, ele aponta a maior grau de exigência do investidor e de sua demanda por acesso ao exterior como fatores para incrementar soluções customizadas.
Na asset, a área funciona como uma plataforma de seleção de fundos de terceiros, com a devida curadoria para customizar ou internacionalizar a alocação e selecionar produtos e gestores. No pilar básico dessa estrutura, entra toda a oferta do grande “supermercado” de fundos disponível no mercado porém devidamente traduzida para um “empório” com elevada governança. “Estão aí os fundos líquidos, alternativos e internacionais, de modo a construir o melhor modelo”, explica.
O objetivo é dar acesso a fundos de gestores que geram alpha, num universo composto por cerca de 200 gestores aprovados e investidos, dos quais cerca de 50 são globais e mais de 50 têm fundos de ativos alternativos.”A nossa área hoje faz parte da asset, mas o seu reporte independente é feito diretamente ao CEO da gestora”, diz Ferrarezi.
Há 200 mandatos geridos, dos quais 40 são mandatos exclusivos de EFPC. Esse número sobe para 60 quando somadas também as seguradoras e o corporate, atingindo R$ 18 bilhões dos R$ 72 bilhões sob gestão na área como um todo. Considerando a parte private (pessoas físicas), são 440 mandatos exclusivos personalizados.
Entre outras soluções oferecidas, há um programa de investimento estruturado em produtos alternativos cujo acesso é feito por meio de fundos multigestão ou fundos específicos de private equity, venture capital ou special situations. Criado em 2021, quando começou a fazer apenas acessos pontuais a esse mercado, o programa tem hoje R$ 2 bilhões sob gestão. “O objetivo é ter personalização com produtos mais sofisticados”, afirma o gestor.
Ele destaca o lançamento de um primeiro fundo multigestor para acesso a hedge funds internacionais, com a Goldman Sachs, o Bradesco Explorer Frontier. Lançado com o Goldman Sachs, o fundo levantou R$ 240 milhões. Além disso, o programa de alternativos também dá acesso a gestores do mercado secundário de private equity (PE) lá fora, lembra Ferrarezi.
Mandatos com mix - As alternativas personalizadas de soluções de investimentos contam com uma estrutura dedicada que soma R$ 150 bilhões em ativos sob gestão frente a um total de R$ 450 bilhões de AuM na BTG Pactual Asset Management, diz Tiago Lima, head de distribuição.
As soluções englobam produtos estruturados, internacionais, renda fixa, renda variável e multimercados, usando a distribuição comercial como porta de entrada. As entidades fechadas de previdência complementar, observa Lima, são as que apresentam a maior demanda por esse tipo de produtos exclusivos, enquanto os RPPS costumam ser mais direcionados aos fundos abertos.
A montagem dos fundos exclusivos passa em primeiro lugar pela compreensão do escopo do mandato, essencial para personalizar as soluções. “Avaliados o escopo e a precificação, será analisada a estrutura mais passiva ou ativa da carteira para conseguir superar o benchmark”, afirma.
Para cada tipo de mandato há um time dedicado que tentará baratear custos e obter o melhor resultado. Os FoFs deixaram de representar a maior parte das soluções, uma vez que cresceu a demanda por mandatos que fazem um “mix”, ou seja, aqueles que combinam uma parte da alocação via seleção de gestores e outra que aloca em renda fixa. “Daqui por diante, a tendência que vemos por parte do investidor é a de terceirizar para fazer a gestão personalizada por meio da seleção de gestores externos, mas por enquanto ainda há muito mandato com mix”, afirma.
Na classe de investimentos internacionais, o grande desafio da indústria é aumentar os percentuais alocados porque as carteiras ainda estão muito concentradas em estruturados, renda fixa e asset allocation local. “Exterior é a menor parte do que fazemos atualmente. Há pouca migração das carteiras e temos estruturado melhor nossa grade de produtos com parceiros internacionais para estimular esse movimento”, conta. Até porque a elevação do juro de 2% para o patamar de 15% não é sustentável por muito tempo e os investidores precisam estar preparados para isso, pondera Lima.
O desafio é facilitar o acesso das fundações a esses fundos. “Elas ainda se prendem muito ao juro e à marcação de títulos públicos na curva, o que trava essa migração porque elas agora estão na zona de conforto e sua principal preocupação de curto prazo é a rolagem das NTN-B”, diz.
Para tentar estimular o investimento global, o caminho é ir buscar lá fora os melhores parceiros. Na asset, são 15 parcerias com casas globais, inclusive para a oferta de serviços que poderão complementar ou agregar valor às soluções de investimento. “Queremos ter uma curadoria de grandes e bons parceiros”, afirma.
O segundo caminho é oferecer mandatos cada vez mais personalizados. “Nesse caso, o produto pode ser ou não de um gestor que representamos e, se não for, terceirizamos o mandato”, explica Lima.
A área de soluções aumentou sua grade de mesas independentes , por meio da aquisição ou da incorporação de outras mesas, de maneira a poder montar estratégias distintas. A renda variável, por exemplo, que tinha uma única mesa no ano passado, agora tem duas. A classe de multimercados ganhou duas novas mesas, enquanto o crédito privado tem aumentado, com FIDCs e risco de crédito estruturado.
No caso específico do exterior, a área agregou dois gestores em 2024 e pretende complementar parcerias este ano. Outra possibilidade está no aumento dos ETFs, classe em que já há 14 parcerias mas pretende ampliar ainda mais, informa Lima.