Edição 376
A percepção sobre a área de soluções de investimentos no Brasil é de que é uma área separada da gestora. Na BNP Paribas Asset Management, entretanto, prevalece uma outra visão, que é majoritária no resto do mundo. “Para nós, essa área é parte integrante da gestora. E é um “pecado” prometer demais e entregar de menos, ou seja, prometer resolver todos os problemas de uma fundação, por exemplo, num único lugar”, afirma Aquiles Mosca, CEO da casa no Brasil.
A raiz do problema está em não se respeitar a origem e o papel dos players envolvidos: a própria fundação, que conhece o seu passivo melhor do que ninguém, o seu consultor de investimentos, que deve ser independente, e a área de soluções da asset, que entra com expertise de gestão.
Essa área, explica Mosca, deve estar inserida dentro dos times de investimento da gestora. “Aqui trabalhamos em conjunto com o consultor de investimentos porque acreditamos que o gestor de recursos não pode ser o consultor. Algumas áreas de solutions se propõem a substituí-lo, mas aí vemos um conflito. Cada um deve ficar no seu quadrado”, acredita.
A área de soluções da BNP Paribas Asset faz parte das equipes de fundos e de FoFs. “Todos os gestores têm habilidade para fazer isso. Hoje a maior parte dos recursos aqui está em FoF e o estímulo a esses veículos vem principalmente dos consultores”, diz Mosca. Há 50 casas gestoras aprovadas para esses veículos, mas a alocação atual gira em torno de 20 a 25 casas. A maioria dos mandatos dos clientes têm restrições ao percentual de fundos da própria asset colocados nos mandatos, decisão que cabe aos clientes, “mas em geral só uma minoria veda”, afirma.
Embutidas na área de FoFs, as soluções de investimento representam metade do patrimônio desses fundos, de R$ 6 bilhões. Esse modelo dá uma massa crítica para que os fundos suportem a área de soluções. “Ao mesmo tempo, os FoFs multimercados têm crescido aqui, apesar dessa classe não ter crescido no mercado em geral. Nós tivemos performance boa e o fato de termos recebido alguns FoF de multimercados de outros gestores também ajudou nesse crescimento”, afirma.
De um ano para cá, ele observa que aumentou tanto a demanda por esses veículos na classe de renda fixa como na de juros e crédito. Em alocação no exterior, porém, os fundos de fundos diminuíram bastante, informa Mosca.
Demanda crescente por soluções - Com R$ 22 bilhões sob gestão em soluções de investimento, a Santander Asset Management tem a Zurich Santander como responsável por metade desse volume. “Há um fundo exclusivo deles e tratamos como um cliente institucional nosso”, explica Renato Santaniello, head de alocação e investimentos offshore. Para desenhar as soluções mais adequadas tanto em exposição como em nível de risco, o ponto de partida pode ser a apresentação de uma proposta da asset ou uma definição encontrada em conjunto com o cliente, de acordo com as suas características.
Embora a área não seja restrita aos produtos de investimento no exterior, há uma demanda crescente por esse mercado, diz Santaniello. Há FoFs para alocar em terceiros, alguns fundos enquadrados, com a principal demanda voltada aos fundos de global equities, que têm gestão ativa para os mercados dos EUA e Europa, em busca de papéis de empresas de maior valor ou maior crescimento. “São produtos balanceados e temos visto maior interesse pela diversificação offshore principalmente por parte dos institucionais, ainda que a demanda não seja tão forte como no ano passado”, explica.
Dos R$ 22 bilhões sob gestão, aproximadamente R$ 3 bilhões são da parcela offshore, em alocações feitas para todos os segmentos de público”, conta. Há FoFs de terceiros mas também estratégias globais com gestão da equipe local. As soluções buscam não apenas a bolsa, mas outros ativos e muitos mandatos já vêm com a definição dos benchmarks.
Os FoFs globais com gestão em Madri incluem um veículo de gestão ativa e outro de BDR, com estratégias diferenciadas. “Além das pessoas físicas, há RPPS e outros clientes que acessam esses fundos, são produtos de prateleira em MSCI World, adequados para a pessoa física mas também para os institucionais, que representam 40% entre EFPC e RPPS”, informa.
No fundo local que acessa o mercado global de equities, há 30% de recursos de institucionais. “Esses investidores enxergam o offshore como uma oportunidade de diversificação, apesar da performance pior neste ano, porque têm uma visão estrutural e tendem a segurar mais essa alocação. A perspectiva é de que podem voltar a aumentar esse investimento quando o mercado se acalmar”, diz Santaniello.
A alocação em soluções é feita em camadas diferentes de acordo com o horizonte de tempo. Na alocação estrutural, que olha para um período de aproximadamente dois anos, é preciso entender como o portfólio se comporta ao longo do tempo em risco e retorno em momentos de estresse, saber qual é sua resiliência. “É fundamental olhar para a composição do retorno porque o efeito do retorno composto é muito importante e é preciso ter um balanceamento de risco, fazer a composição de ativos locais e internacionais que preza muito pelas variáveis de risco”, explica. Na camada de alocação tática, com horizonte de seis meses a um ano, pode haver algum desvio estrutural. “Há diversos comitês na asset e o respaldo da equipe global”.
Já na terceira camada, com um tático mais dinâmico que olha para o horizonte de poucas semanas até três meses, é preciso considerar eventos como o recente “liberation day” de Donald Trump e enxergar discrepâncias de preços, o que pode abrir espaço na carteira para aumentar bolsa de maneira oportuna. “Tivemos espaço para fazer isso e aumentamos posições em bolsa mesmo com o aumento das tarifas nos EUA. O impacto foi muito agressivo, mas conseguimos atravessar aquele momento graças à compra de proteções, foi possível adicionar risco no momento de maior risco do mercado”, conta Santaniello.
As proteções são feitas no mercado de opções, mas no caso do FoF de global equities, que não pode ter opções, essa proteção é feita por meio de estratégias mais defensivas. “Já havíamos ajustado as carteiras para o mês de abril, quando veio o anúncio e teve impacto de maior magnitude do que se esperava”, afirma. Mesmo com tarifas menores é prudente manter essa estratégia mais defensiva porque agora começarão a surgir os efeitos práticos das tarifas sobre importações, sobre o fluxo de comércio internacional e os indicadores de confiança.
A saída do investidor que preferiu fugir do risco ao longo dos últimos três anos, fez o volume sob gestão recuar de R$ 36 bilhões para os atuais R$ 22 bilhões, informa Santaniello. “Estamos nos aproximando agora do final do ciclo de alta do juro e o investidor estrangeiro espera por isso. Se o estrangeiro virar a chave para o Brasil, por pouco que seja, com um ajuste de posição, poderemos ter um ciclo benigno para o País e estamos preparados para isso”, acredita.
Discussão cambial - Na Schroders, o termo investment solutions foi cunhado quando a casa começou a oferecer às fundações brasileiras produtos e serviços voltados para o investimento no exterior. “Até então, até por uma questão de legislação, era bem difícil fazer solutions para as EFPCs, mas quando a norma permitiu, foi possível começar a customizar por meio de uma estrutura robusta”, diz Luiz Fernando Pedrinha.
Atualmente, a área é o carro-chefe da casa, com onze mandatos de solutions para fundações e foco exclusivamente em investimentos no exterior. “O primeiro desses mandatos foi conquistado há cerca de cinco anos e cabe ao nosso time internacional, baseado em Londres, fazer a customização dos portfólios e trazer novas ideias de investimento”, explica. A equipe de research global cobre estratégias do mundo inteiro e serve como fonte para o time de solutions em Londres. “Com isso, o leque de possibilidades é maior porque temos acesso privilegiado à capacidade de determinados gestores”, diz.
Há também vantagens em custos de alocação em alguns casos, com um número maior de estratégias e gestores terceiros. Em determinados mandatos, a asset lança mão ainda dos ETFs, o que pode trazer um grau elevado de customização a depender de como o mandato será desenhado pelo time de Londres.
O objetivo da área é manter os pés no chão (boots on the ground) para implementar esses investimentos da forma mais suave possível, atendendo às exigências da Resolução CMN 5.202 e a todas as demais demandas regulatórias”, afirma. Para isso, ele lembra que o time lá fora inclui também profissionais que falam português, em busca de um entendimento bem próximo ao cliente brasileiro.
O time local, por sua vez, faz as cotizações do fundo, cuida do caixa do fundo e do câmbio, o que significa também prover estratégias dinâmicas de hedge da moeda, tarefa essencial diante da “discussão sem fim no Brasil sobre o efeito das altas e baixas do dólar”, diz.
Para endereçar o temor cambial, que por vezes acaba travando a demanda por alocação no exterior, a asset oferece aos investidores, como um serviço, a discussão sobre a importância de fazer ou não o hedge dinâmico de moedas. “Quando discutimos os feeders, cabe ao time local implementar a estratégia cambial escolhida para o mandato; vemos isso como um serviço adicional prestado aos investidores”, explica Pedrinha.
Atualmente a casa oferece os serviços da área para clientes internacionais no Brasil e uma gama ampla de alternativas para os fundos de pensão. “Para nós foi fácil atender a necessidade do investidor institucional brasileiro plugando essa demanda a uma estrutura diversificada”, afirma. Esse arcabouço inclui, entre outros, feeder funds; a plataforma Gaia (que distribui estratégias exclusivas de grandes gestoras globais) e ETFs, que permitem fazer um desenho junto com o cliente e modelar soluções únicas. “Conseguimos atender diferentes benchmarks e diferentes demandas de retorno, com atenção às necessidades distintas dos planos de contribuição definida (CD), benefício definido (BD) e dos planos com perfis de investimento”, diz.
Sob o ponto de vista de soluções de investimento, um dos principais desafios é a questão dos planos com perfis, em especial no caso do investimento no exterior. “Aqui conseguimos ter uma estrutura de soluções para atender os perfis, mas esse é um tópico que precisa ser mais difundido junto aos gestores das fundações: como implementar nos perfis as soluções adequadas para investir no exterior?”. Em alguns casos, por exemplo, o mesmo portfólio pode atender tanto ao perfil moderado como ao arrojado, mas pode haver situações em que será necessário acrescentar uma classe ou um fundo adicional.
A questão é relevante porque o investimento no exterior ainda é visto como um risco pelas fundações quando, na verdade, é o contrário, ele funciona para reduzir o risco”, lembra Pedrinha. Se alocar no exterior começa a fazer mais sentido hoje para os fundos de pensão brasileiros, fazer isso por meio de soluções de investimento tem mais sentido ainda porque eles podem ter inúmeros mandatos, a depender da necessidade de cada perfil”, afirma.