Edição 374
A BRZ, gestora fundada em 2005 e com cerca de R$ 3 bilhões em ativos sob gestão (AUM), está otimista em relação ao crescimento do mercado de crédito privado, principalmente dos Fundos de Investimentos em Direitos Creditórios (Fidcs). “Há uma demanda forte por parte dos investidores em relação à produtos estruturados de crédito”, explica o CEO da casa, Ricardo Propheta.
Dos R$ 3 bilhões que a BRZ mantém sob gestão, cerca de R$ 1,6 bilhão está em produtos dessa classe, sendo metade em Fidcs e a outra metade em fundos mistos (que incorporam tanto títulos de dívida quanto cotas de Fidcs). O R$ 1,4 bilhão restante está, principalmente, em fundos de private equity.
De acordo com Propheta, os fundos de crédito vivem um momento menos favorável devido à baixa rentabilidade apresentada nos últimos meses. Mas esses baixos retornos, que refletem a marcação à mercado dos títulos investidos após as aberturas das taxas, guardam um “carrego” (rentabilidade projetada) ainda bastante elevado. “Acho que para quem está nesse jogo é hora de esperar com calma ou, eventualmente, até de aumentar a exposição”, recomenda.
Já os investidores que não estão expostos ao crédito, segundo ele, deveriam considerar a possibilidade de entrar agora. “Para quem está dentro é hora de manter a calma, e para quem está fora é o momento oportuno para criar suas carteiras, investir em ativos ou em fundos de crédito privado, porque a rentabilidade dos papéis está muito boa”, diz. “Temos visto o movimento de vários institucionais interessados em montar portfólios, em criar mandatos de crédito privado, pois agora é um momento espetacular para fazer isso”.
Essa entrada em fundos de crédito, entretanto, deve vir acompanhada de uma análise minuciosa dos portfólios, para checar se os títulos nos quais a gestora aloca não incluem papéis de empresas que, eventualmente, possam vir a ter dificuldades financeiras por conta dos juros altos. “A gente está num momento aquecido de captação em fundos de crédito privado, mas com um olhar de muita cautela para os ativos que a gente vai investir”.
Desenho da estrutura - Já a área de Fidcs vive um momento de demanda aquecida, ao combinarem os conceitos de segurança e de rentabilidade. O segredo dos estruturados, segundo Propheta, é o desenho da estrutura, que pode ser bem feita ou mal feita. “Os produtos bem estruturados, que estão com estruturas adequadas para o cenário atual, estão sendo muito rentáveis para qualquer tipo de investidor, inclusive para os institucionais”, explica.
Ele sugere que o investidor, ao analisar produtos estruturados, preste atenção num conjunto de itens que incluem desde as garantias oferecidas, os parceiros para quem o fundo empresta dinheiro, o gerenciamento de risco adotado e a pulverização do portfólio. “Não adianta emprestar para pouca gente, porque no momento de estresse como o que a gente está vivendo agora você vai ter, eventualmente, algum problema no seu portfólio, e é preciso que esse problema seja minimizado através da pulverização”, diz.
Cenário desafiador - Se os produtos de crédito estão numa situação mais favorável, os fundos de private equity vivem um cenário mais desafiador. “Falando super francamente, eu acho que o equity está num momento um pouco mais delicado. É um momento que, obviamente, tem oportunidades, mas são oportunidades muito pontuais e os investidores que não estão acostumados com esse mercado estão bastante cautelosos”.
A casa aloca em fundos de private equity, tanto multisetoriais quanto de infraestrutura, desde seu nascimento, há vinte anos. Atualmente, sua grade de produtos roda três Fundos de Participações (FIP), sendo um na área de logística, um do setor portuário e um último, multisetorial, que investiu em vários subsetores da economia brasileira.
Além desses, a gestora também roda um FIP de infraestrutura, voltado originalmente à investidores institucionais (seguradoras e fundos de pensão) mas que passou a ser listado na B3 para poder receber alocações de pessoas físicas, um público que se abriu para essa classe de produtos devido aos incentivos fiscais que o favorecem. Propheta diz que não está no pipeline da gestora, no momento, o lançamento de novos FIPs.
Desatar o nó da infraestrutura - Segundo Propheta, a área de infraestrutura é o calcanhar de Aquiles do País, com demandas pendentes em praticamente todas as áreas, seja de energia (geração, transmissão e distribuição), de portos, de estradas, de ferrovia. “Pode escolher a área de infraestrutura que você quiser, tem demanda não atendidas”. Segundo ele, “é preciso desatar o nó da infraestrutura”.
Um dos pontos positivos destacados por ele na nova legislação de investimentos em infraestrutura é o que transfere os incentivos fiscais dos investidores para os emissores das debêntures. Isso permite que as empresas que pretendem buscar recursos no mercado de capitais para investir em infraestrutura escolham a maneira mais barata de emitir dívidas. “Falando como brasileiro, é mais uma maneira que a gente tem de destravar o nó que a gente tem aqui no Brasil na área de infraestrutura, porque a infraestrutura no Brasil é muito defasada”.
Ele também avalia que as recentes decisões envolvendo os julgamentos dos FIPs relacionados na Operação Greenfield, que absolveram dezenas de ex-dirigentes de fundos de pensão, pode marcar uma nova etapa de participação das Entidades Fechadas de Previdência Complementar (EFPC) em processos de investimento através desses veículos. “Demonizar o veículo FIP, como alguns fundos de pensão fizeram, não é uma decisão razoável”, diz. “O FIP é um investimento de risco, e o retorno depende de muitos fatores, inclusive da situação macroeconômica, da situação política, do ciclo onde você está etc.”