O discurso de posse do 47º presidente dos Estados Unidos da América, Donald Trump, nesta segunda-feira (20/1), não trouxe grandes surpresas para o mercado de investimentos. Em grande medida, as medidas anunciadas por Trump já eram esperadas. “Me parece que foi algo em linha com o discurso da véspera e também em relação às matérias que saíram na imprensa nos últimos dias”, avalia o Marcelo Cirne de Toledo, economista-chefe da Bradesco Asset Management (Bram). “O discurso teve grande foco na questão da imigração e na desregulamentação, em especial no setor de petróleo.
De acordo com o economista da Bram, “o tema das tarifas deve seguir um foco e ser aprofundado nas próximas semanas. Para o Brasil, os riscos seguem sendo baixos, com efeitos principalmente indiretos, uma vez que os EUA representam cerca de 12% das exportações brasileiras, tendo ficado estável nos últimos anos”. Mas segundo o economista da Bram, “as discussões entre EUA e China podem respingar no comércio de soja e milho, como ocorreu em 2018”.
Questões domésticas predominam - Na opinião do economista da XP Asset, Thales Maion, que cobre EUA, "o discurso de Donald Trump trouxe certo alívio aos mercados por focar mais em questões domésticas, como a imigração e a política energética do país, do que na política comercial. O grande temor dos mercados era um anúncio amplo e agressivo de tarifas de importação já no seu primeiro dia de governo, o que não ocorreu”, diz.
Ainda segundo Maion “surpreendentemente, Trump foi bastante superficial no tema (das tarifas), sem ataques adicionais à China, Canadá ou União Europeia, sugerindo ainda haver debates internos na Casa Branca em como proceder daqui em diante, e que a ala mais moderada, capitaneada por Scott Bessent, estaria sendo ouvida”.
Outra observação do economista da XP Asset é que “não houve ataques a blocos como os Brics, cuja intenção de promover o uso de moedas alternativas ao dólar já foi alvo de Trump, via ameaça de tarifas de 100% a todos os membros, incluindo o Brasil".
Alívio para o real - Na opinião da sócia e diretora de investimentos da TAG, Francisca Brasileiro, “o fato da tarifação não ter vindo logo no primeiro momento foi uma surpresa que pode ter impactos positivos para a moeda. No primeiro momento vimos, de cara, uma queda no índice DXY que reflete a relação entre o dólar e uma cesta de moedas e o real acompanhou, também se valorizando versus o dólar. Como o mercado americano está fechado, os movimentos foram amenos, mas se de fato esse quadro se concretizar, teremos provavelmente um alivio, ainda que temporário, para o real”, avalia.
De acordo com Brasileiro, “sob a ótica geo-politica, o discurso foi duro contra os imigrantes, classificando os cartéis mexicanos como terroristas. Também abordou o canal do panamá e outras questões, como mudar o nome do Golfe do México para Golfo da América, que indicam uma postura mais dura para países emergentes, colocando o Brasil como um elo frágil dessa cadeia”.
A se ressaltar, segundo ela, a “ausência de ataques a China, assim como a presença massiva de membros das big-techs à cerimônia de posse, o que traz um alivio para a pressão que o S&P500 vinha sofrendo com a perspectiva de uma relação mais tensa com esse setor”.