Edição 376
Mais de R$ 1 bilhão aplicados em fundos de investimentos em participações e infraestrutura. Essa é a projeção do regime próprio (RPPS) do Mato Grosso para o ano de 2032. Atualmente o fundo capitalizado acumula patrimônio de R$ 1,7 bilhão, mas daqui a sete anos, as reservas do MT Prev devem superar a marca de R$ 7 bilhões.
“Nosso fundo é novo, mas tem um forte potencial de crescimento. Começamos a capitalizar recursos em agosto de 2022 e, em menos de três anos, já alcançamos R$ 1,7 bilhão em reservas”, diz Elliton Oliveira de Souza, diretor-presidente do MT Prev. A maturidade do fundo capitalizado deve ocorrer apenas em 2039 quando as despesas irão superar as receitas.
Mensalmente, o RPPS recebe aportes da ordem de R$ 40 milhões a R$ 50 milhões. Como os compromissos com pagamento de benefícios são mínimos, o fundo capitalizado cresce a passos largos, com ampla capacidade de mirar no longo prazo. A segregação de massas foi realizada em 2021 e o plano capitalizado está voltado apenas para os servidores ingressantes a partir de 2014.
Nos primeiros dois anos de acumulação de reservas, a direção do MT Prev optou em realizar a imunização da carteira, com o direcionamento dos recursos para aplicações em títulos públicos federais marcados na curva. Foi a área propriamente de investimento. “O nosso fundo de investimento é um fundo novo, nós começamos a operar lá no finalzinho de 2022 e pegamos uma janela muito oportuna com os títulos públicos”, diz Elliton.
O regime próprio decidiu imunizar 100% da carteira com as NTN-Bs levadas ao vencimento. Além dos prêmios acima da meta atuarial, outro fator que pesou foi a falta de expertise da equipe de investimentos. “Percebemos que não tínhamos expertise para iniciar um processo de diversificação naquele momento. Então, decidimos imunizar a totalidade de nossos investimentos, enquanto avançávamos na capacitação da equipe”, comenta o diretor-presidente.
A decisão se mostrou acertada na medida que os investimentos do fundo capitalizado bateram a meta atuarial em todos os três primeiros anos de existência, de 2022 a 2024. A média dos prêmios das NTN-Bs adquiridas gira em torno de 6,5% a 7% mais IPCA ao ano. Enquanto isso, o MT Prev se postulou para o programa Pró-Gestão, obtendo o nível 4 (máximo) no ano passado.
O instituto também buscou a melhoria do Índice de Sustentabilidade Previdenciária (ISP), partindo da nota D em 2019, passando pelo C em 2021, chegando ao B em 2023. Também no ano passado, alcançou a nota máxima A do ISP, demonstrando que os dirigentes e colaboradores do RPPS estavam avançando adequadamente na governança. Apenas três estados brasileiros possuem nota A do ISP. Além do Mato Grosso, Paraná e Amazonas alcançaram a certificação máxima, que é o equivalente para os RPPS do Capag (Capacidade de Pagamento) para os estados.
Início da diversificação - Foi com a obtenção do nível 4 do Pró-Gestão, que os dirigentes do MT Prev perceberam que estavam prontos para iniciar o processo de diversificação das aplicações. O nível máximo do programa eleva o RPPS à categoria de investidor profissional qualificado o que confere alguns limites especiais para a diversificação das carteiras.
“É preciso transformar essa área de investimentos e qualificar a equipe Imagine uma equipe de servidores que, de repente, começa a fazer a gestão de recursos em volumes muito altos. Nós tivemos que primeiro trocar esse chip do público para uma mentalidade privada, de mercado, que é muito dinâmico e volátil”, explica Elliton.
O processo de diversificação começou justamente pelos FIPs com preferência pela área de infraestrutura. O regime próprio contou com o apoio do próprio governo do estado. Mato Grosso é um estado que investe fortemente em infraestrutura, cerca de 20% da receita corrente líquida - muito acima da média nacional. O instituto começou a conversar e realizar o credenciamento dos gestores.
As primeiras aplicações começaram no ano passado. Atualmente, o instituto já tem R$ 390 milhões subscritos em nove fundos de participações. Desse montante total, foram efetivados apenas R$ 80 milhões. O alvo é continuar elevando as aplicações em FIPs até chegar próximo do limite de 15% permitidos pela regulamentação do setor (considerando o atual nível 4 do Pró-Gestão). Se continuar nessa toada, o limite de fundo de participações em 2032 deve ultrapassar a casa de R$ 1 bilhão.“Começamos a pisar de forma muito cautelosa nesse movimento de diversificação. E nesse processo, a gente já tinha essa convicção. Talvez por ser de um estado muito produtor e pouco consumidor, de ir para a economia real”, diz Epaminondas Antônio de Castro, diretor de investimentos do MT Prev. Ele explica que o RPPS tem demonstrado preferência pelos investimentos na economia real e infraestrutura.
Os dirigentes do MT Prev começaram a visitar os gestores e os projetos para conhecer os times e as entregas. “Optamos pelos FIPs porque queríamos fugir um pouco da volatilidade, em um momento em que a Bolsa está muito volátil, está muito sensível a todas essas mudanças. Para nós isso é muito ruim, porque anualmente temos de entregar a meta atuarial e precisamos prestar conta aos tribunais de contas estaduais”, justifica Epaminondas. Atualmente o instituto mantém apenas 5% dos recursos aplicados na renda variável.
O diretor de investimentos explica que os FIPs são formados por projetos com uma maturação mais longa e que trazem um retorno tão bom ou melhor do que os fundos de ações. “Então, também foi por essa questão de criar essa estabilidade, com a possibilidade de retornos muito bons, trazer um alfa para a nossa carteira, sem as complicações do dia a dia da Bolsa”, comenta.
O próximo passo da diversificação do regime próprio do Mato Grosso será a aplicação de recursos no exterior. Neste caso, eles ainda estão analisando os cenários para entender a direção que tomará os mercados após a questão da guerra tarifária do governo Trump.
Cases regionais - Dos FIPs investidos pelo MT Prev, pelo menos um deles, do Pátria, possui um projeto na região matogrossense. O fundo investe em uma empresa de sementes que atua no Mato Grosso. “Eles chamam de semente de terceira geração, que é uma semente que não utiliza agrotóxico. E tem uma outra parte que investe na parte de energia solar, que é aqui no município de Rondonópolis e Alto Araguaia”, comenta o diretor de investimentos.
Outro fato interessante é que a aproximação com o BTG Pactual, através da aplicação em FIPs, acabou levando um grande evento da instituição para o Mato Grosso. É o segundo ano consecutivo que o banco realiza o AgroForum BTG no estado. “Nós do RPPS fizemos essa intermediação que acabou tirando o evento do eixo Rio-São Paulo. O gestor do BTG Pactual conversou com o governador e fizeram o evento aqui em Cuiabá no ano passado. E gostaram tanto, que estão repetindo a dose em 2025”, diz Epaminondas.
“O sucesso foi tão grande que o André Esteves anunciou durante o próprio evento que teria a segunda edição, que vai ser este ano, no final de maio, também em Cuiabá”, lembra. Os dirigentes do RPPS ajudaram também na intermediação dos organizadores do evento com as secretarias de estado.
Empréstimo consignado - A próxima etapa da diversificação deve incluir a abertura de uma carteira de empréstimos para os servidores. A pauta está em análise pela diretoria e conselho do instituto e deve ser viabilizada até o final deste ano ou início de 2026.
“Estamos estudando e confiamos muito nele. Pena que não tem grandes players no mercado ainda para trabalhar com o empréstimo consignado. Mas a gente vai entrar e está muito confiante nisso. É um produto muito bom e muito seguro”, explica Elliton. Ele diz que há um consenso entre o regime próprio, sindicatos, conselho de previdência e o governo. Só falta viabilizar a parte operacional e de gestão.