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Menos bolsa e mais imunização
RPPS enfrentaram as dificuldades de 2024 com a ampliação das carteiras de títulos públicos marcados na curva e redução radical da renda variável

Edição 374

Luz,AlvaroDeziderio da(SMIEducacao) 24julEm um ano difícil para ativos de renda variável e índices da família IMA, os regimes próprios procuraram evitar perdas adotando estratégias de imunização das carteiras com títulos públicos e Letras Financeiras de bancos S1 marcados na curva. Quem ampliou estas posições com a consequente redução da renda variável, em alguns casos, até zerar as posições na Bolsa doméstica, conseguiu empatar ou até superar a meta atuarial em 2024. Para aqueles que mantiveram posições significativas em renda variável e outros ativos de risco, não conseguiram atingir as metas no fechamento do ano passado.
“Foi um ano muito difícil. No primeiro semestre, havia expectativa que o governo repetisse alguma medida semelhante ao arcabouço fiscal de 2023. Com isso, teríamos a previsibilidade necessária para evitar a alta da Selic. Como o governo andou na direção contrária e colaborou para aumentar risco, vimos a expectativa de subida da Selic, e logo em seguida, veio a nova escalada da taxa básica que literalmente destruiu as classes de ativos marcadas a mercado”, explica Álvaro Dezidério da Luz, consultor e sócio da SMI Educação. O Ibovespa recuou 10,36% em 2024, com o pior resultado desde 2021, quando havia registrado 11,93% negativos.
Os índices da família IMA também foram mal, especialmente aqueles com duration mais longa. Verificou-se também uma forte volatilidade dos fundos multimercados, com tendência de queda na maioria dos veículos. “Quem seguiu as recomendações de montar posições desde 2023 em títulos públicos marcados na curva se deu bem. Além de eliminar a volatilidade, garantiu a proteção contra a inflação. Até aqueles que ampliaram as posições durante o ano de 2024, também foram bem. Alguns até zeraram a Bolsa ou chegaram a posições muito reduzidas. Quem resistiu a diminuir a renda variável, não conseguiu atingir a meta”, comenta o consultor. Apesar dos resultados acima da meta para vários regimes próprios, a estimativa é que a grande maioria ficou abaixo dos alvos.
Pietraroia,Devair(SJCampos) 25mar 01Com um patrimônio de R$ 1,92 bilhão em dezembro de 2024, o RPPS de São José dos Campos (SP) alcançou rentabilidade global de 11,20% no fechamento do ano passado. O resultado permitiu superar a meta de 10,69% com um certo aperto. O resultado de 2023 tinha sido mais tranquilo, com retorno de 12,84% ante uma meta de 10,31%. “Promovemos uma forte redução da renda variável. Encerramos o ano passado com apenas 5,15% do patrimônio em Bolsa. Antes da pandemia, chegamos a manter até 30% das posições nessa classe de ativos mais arriscada”, diz Devair Pietraroia, superintendente do IPSM de São José dos Campos.
Se não ocorresse a saída de Bolsa, o regime próprio não teria alcançado a meta. Os recursos migraram para títulos públicos marcados na curva, a maior parte de NTN-Bs com vencimentos mais curtos - 2028 e 2029. Os investimentos no exterior também tiveram bom desempenho em 2024, tendo a carteira fechado próximo do limite permitido de 10% do patrimônio do instituto. Já o investimento em um fundo de participações, ainda em fase de captação, não foi bem, justamente porque está na fase chamada de curva jota, mas também não apresentou perdas.
A estratégia utilizada pelo RPPS de São José dos Campos no final do ano passado continua valendo para o início de 2025. “Trabalhamos com a manutenção da estratégia do ano passado, com a ampliação das posições dos títulos públicos. Fizemos aquisição no final de fevereiro de NTN-Bs com vencimento em 2032 com taxa de IPCA mais 7,65% ao ano”, revela Devair.

RPPS de Concórdia - O Iprecon de Concórdia (SC) é outro regime próprio que superou a meta sem muita folga. O retorno bateu 106% da meta em 2024, em um resultado comemorado pelo instituto. “Não foi um ano fácil. Tivemos de literalmente zerar as posições na Bolsa no mês de novembro do ano passado. Se não tivéssemos tomado essa atitude, não teríamos batido a meta”, revela Diane dos Santos, diretora-presidente do Iprecon de Concórdia-SC, que tem patrimônio atual da ordem de R$ 360 milhões.
O regime próprio chegou a atingir 27% do patrimônio em renda variável antes da pandemia. “Agora nos tornamos ‘conservador raiz’. Tivemos muitas dificuldades no passado e agora estamos surfando nos títulos públicos e letras financeiras”, comenta a diretora-presidente. O instituto fechou o ano com 60% do patrimônio em títulos públicos federais e 20% em LFs de bancos S1. Outros 4% estavam alocados em ativos no exterior e o restante, ficou em fundos DI.
A maior parte dos títulos adquiridos no ano passado tinham vencimento mais curtos, de 2027 e 2028, mas algumas compras também incorporaram ativos com vencimentos mais longos - 2045, 2055 e 2060 - de acordo com indicações de estudo de ALM - asset liability management (casamento de ativo com passivo). As posições em fundos IMA-B, B5 e B5+ também foram zeradas com a migração para títulos públicos.
E a estratégia continua a mesma em 2025. Com o aumento dos prêmios das NTN-Bs, em torno de 7,60% além do IPCA, o Iprecon segue na mesma linha conservadora com aquisições de títulos públicos de longo prazo e direcionamento do caixa em fundos DI. “Não pretendemos voltar para a Bolsa neste momento. É preciso muita cautela, pois o cenário não é favorável”, diz Diane dos Santos.

Silva,EdlerAntonio da(GuarujaPrev) 24agoEmpate com a meta - O GuarujaPrev fechou o resultado do ano passado com “empate técnico” com sua meta, ambos na marca de 10,36%. Com patrimônio de R$ 1,44 bilhão, a carteira de títulos públicos ficou com 54% de concentração. Outros 25% ficaram em ativos de renda fixa. A renda variável ficou em apenas 4,7%; exterior, 9,3%; estruturados, 6%.
“Foi o segundo ano com bons resultados”, comemora Edler Antonio da Silva, diretor-presidente do GuarujaPrev. Ele destaca as dificuldades superadas no final do ano, com o cenário de Bolsa prejudicado pelo cenário internacional, após a posse de Donald Trump, na presidência da Casa Branca.
Se os casos relatados acima mostraram bons resultados, são inúmeros os regimes próprios que amargaram desempenho abaixo da meta. Só para citar dois exemplos, temos o PBPrev (Paraíba) e o RPPS de Teófilo Otoni (MG).
A Paraíba Previdência (PBPrev) registrou uma rentabilidade acumulada de 7,44% em 2024, abaixo de sua meta atuarial de 10,26% para o período. Ao final do exercício passado, o RPPS fechou com patrimônio de R$ 1,59 bilhão. A carteira de investimentos foi predominantemente composta por renda fixa, representando 87,08% do total. A renda variável correspondeu a 8,17%, enquanto investimentos no exterior atingiram 2,70% e estruturados, 2,05%.
Já a carteira do Instituto de Previdência de Teófilo Otoni registrou um retorno de 7,75%, ficando abaixo da meta atuarial de 10% - marcando 77% da meta estabelecida para o ano. O valor total da carteira alcançou R$ 92,3 milhões. Em dezembro do ano passado, a carteira fechou com 57% de títulos públicos e 33,8% em fundos de renda fixa. Já os fundos de renda variável representaram 3,13% da alocação, enquanto os fundos multimercados, 2,23%.

Superação com folga - Enquanto a maioria dos regimes próprios ficaram abaixo da meta ou superaram com dificuldade, um caso fora da curva foi o do Instituto de Previdência de Itajaí (SC), o IPI. Com retorno de 12,50% no fechamento de 2024, o regime próprio superou a meta em 2,31 pontos - que foi de 10,19%. A carteira total fechou em R$ 1,81 bilhão, com 54% de títulos públicos marcados na curva e 19% de LFs de bancos S1.
Polidoro,Jean(Itajai) 24ago“Cerca de 75% de nossa carteira ficou com ativos de renda fixa marcados na curva, com uma taxa média de 6,30% acima do IPCA. A posição nos deu tranquilidade para bater a meta e aumentar o risco em uma posição minoritária da carteira”, explica Jean Polidoro, diretor de investimentos do IPI. O dirigente revela que cerca de 10% do patrimônio foi alocado em ativos de maior risco em 2024.
O regime próprio de Itajaí selecionou e começou a aplicar em quatro fundos de investimentos em participações. “Devido ao colchão protetor da carteira de renda fixa marcada na curva, pudemos alocar em ativos de maior risco como os FIPs e fundos small caps e IMA-B5+”, diz. Os FIPs selecionados foram dos seguintes gestores: XP, BTG Pactual, Vinci e Pátria.
O instituto de Itajaí também promoveu a redução da renda variável de 10% no início de 2024 para 7,3% no final do ano. “E vamos continuar reduzindo em 2025. Pretendemos cortar mais 2 ou 3 pontos percentuais da renda variável durante o ano”, revela Jean Polidoro. Ele também comenta que está promovendo a redução dos ativos no exterior, mais especificamente dos BDRs, após o evento Deepseek que prejudicou ativos de tecnologia globais. “Estamos mais céticos com o cenário da economia atual. Vamos continuar mais conservadores com a maior parte de nossa carteira”, diz.
Mas os resultados do regime próprio nem sempre foram acima da meta. Os anos de 2021 e 2022 foram muito difíceis com retornos bem abaixo do alvo. “Tivemos de repensar a política de investimentos e o risco dos ativos do instituto. Definimos que não buscaríamos um retorno alto, mas sim, um retorno adequado com menor risco. A partir dessa redefinição, fizemos uma correção de rota e começamos a alocar em títulos públicos com marcação na curva”, comenta. Ele explica que atualmente a prioridade é a tomada de risco compatível para a preservação do capital do instituto.