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Menos apetite por risco
Alta dos juros reduziu o apetite por risco dos fundos de pensão, afetando principalmente as estratégias oferecidas por investment solutions

Edição 376

Lakoski,JoseCarlos(Copel) 24fevO crescimento das soluções de investimento oferecidas pelas assets mostra que a indústria está preocupada em atender demandas dos investidores, mas a contratação de produtos e serviços depende muito do porte de cada EFPC, lembra José Carlos Lakoski, diretor financeiro da Fundação Copel. “Aqui já conhecemos essas alternativas há um bom tempo, até perdemos alguns analistas da nossa equipe para a SPX há alguns anos, mas não contratamos nenhum desses mandatos porque acreditamos ter porte suficiente para fazer o jogo internamente”, diz. A entidade montou veículos próprios e fez uma reestruturação de sua equipe, deixando a terceirização apenas para a administração dos fundos.
Por oferecerem mandatos que normalmente são mais sofisticados, as áreas de investment solutions enfrentaram dificuldades nos últimos dois anos, avalia Lakoski. “O apetite ao risco diminuiu e a questão é que o diferencial desses produtos está geralmente no maior nível de risco oferecido, o que não é favorecido pelo momento”, explica.
A fundação mantém uma estrutura com veículos específicos de renda variável, fundos de IMA e FIPs, que são consolidadores. “Montamos toda a estrutura e fazemos a gestão. Ficamos também um pouco mais pagadores porque 80% dos recursos da entidade hoje vão para o pagamento de benefícios e a gestão de investimentos é mais voltada para a imunização do fluxo de caixa”, detalha Lakoski.
O investimento no exterior, contudo, mantém um grau de investment solutions porque utilizou o auxílio de gestores externos e ficou “com jeitão” de solutions. “Apenas nessa classe usamos o solutions para fazer a estruturação e para customizar a gestão; conseguimos assim entender melhor a utilização dessa carteira”, conta.
Hoje há três casas que fazem a seleção de estratégias e de gestores para alocar no exterior. “Trouxemos muito o conhecimento deles e usamos até hoje no acompanhamento e na manutenção da carteira, que envolve apenas as parcelas de Contribuição Definida (CD) dos planos e o plano família”, diz.
O volume de alocação internacional não passa atualmente de R$ 200 milhões, um percentual pequeno do patrimônio total de R$ 15 bilhões da fundação. “Na parcela de Benefício Definido (BD) ainda não temos exterior mas estamos estudando essa possibilidade e aí o investment solutions nos ajudará com as alternativas para ver se há produtos aderentes ao plano, mas ainda não há previsão para isso no curto prazo”, informa Lakoski.

Natali,Andr(FundPromon) 24julLinha do tempo - Para a Fundação Promon, a adoção dos produtos de investimento exclusivos e soluções mais elaboradas passou gradualmente por mudanças que seguem uma linha do tempo ao longo dos últimos dez anos, explica André Natali, diretor de Investimentos e AETQ. “As mudanças ocorreram de forma parcial e incremental desde 2015, em função da estrutura dos planos e com o lançamento dos nossos perfis de investimento em 2022, com a alocação em carteiras mais passivas. Os perfis com risco mais baixo tendem a ter instrumentos menos complexos e isso vale para nós e para outras fundações, porque tornou as carteiras mais simples”, diz.
A despeito dos perfis, há também uma questão ligada ao contexto do mercado, e que vai na mesma linha. “À medida que o mercado ficou mais desafiador pelas complexidades macroeconômicas e pela correlação dos produtos, houve uma má performance do risco em geral, sobretudo em ações e em multimercados, ocorrendo uma migração parcial para produtos de “beta”, carteiras mais baratas e com menor custo”, detalha Natali.
A fundação deixou de ter já há alguns anos os fundos exclusivos de ativos como principais veículos de sua carteira, e passou a dar preferência a fundos de fundos, que são tipicamente soluções construídas pelas áreas de investment solutions das assets, uma realidade já consolidada há muitos anos”, diz.
Mais recentemente, contudo, o número de fundos exclusivos ou de FoFs caiu pela metade, saindo de doze veículos em 2020 para apenas seis hoje. “Antes da pandemia trabalhávamos com mandatos concorrentes – procurando ter pelo menos dois fundos concorrentes em cada segmento, fossem exclusivos ou FoFs, mas acabamos ficando com apenas um ou nenhum, dependendo do segmento”, informa Natali. Essa mudança, que é gradual e parcial, tem a ver com a criação dos perfis mas também com a estratégia de buscar produtos mais simples e mais baratos.
Com os desdobramentos e dificuldades impostas pelo mercado financeiro, ele observa que houve, em alguma medida, migração de produtos mais sofisticados e caros, para investimentos mais baratos e simples, sejam os ETF (fundos de índices) ou outros produtos de “beta”, que passaram a ocupar um espaço maior na carteira. “Assim, vejo que a nossa demanda por soluções de investimentos mais elaboradas caiu”, afirma.
Além disso, Natali enfatiza que é preciso considerar o papel das consultorias. “As consultorias especializadas em investimentos e riscos, que já estão consolidadas no segmento institucional, continuam desempenhando um papel importante, seja no monitoramento dos riscos das carteiras, seja no apoio da construção do asset allocation, ou outros projetos de maior valor agregado”, diz.

Queiroz,Patricia(RealGrandeza) 24dez 01Diligência e monitoramento - Na Real Grandeza, o interesse pelas soluções de investimento terceirizadas é parcial porque essa área foi estruturada dentro da própria fundação, explica Patrícia Queiroz, diretora de Investimentos. “Mas há segmentos, como no caso da gestão ativa de exterior, em que é preciso usar as assets para fazer a due diligence e monitorar os gestores lá fora, o que estamos nos preparando para fazer agora”, conta.
Ela lembra que a área de soluções cresceu muito no País e atualmente abraça todos os segmentos, atuando inclusive em macroalocação. “Conforme o tamanho da entidade, esse é um trabalho que pode agregar muito valor e há quem faça inclusive sua macroalocação por meio desses serviços, assim como a seleção de gestores. Aqui somos mais focados porque não faria sentido terceirizar a macroalocação. Mesmo na gestão, só queremos usar em nichos específicos”, diz Queiroz.
No caso de exterior, esse trabalho será importante em termos de custos, graças à montagem de um FoF que fará a seleção de fundos de gestão ativa. “Estamos finalizando o processo de seleção para esse FoF porque a carteira precisará ter gestores descorrelacionados e não conseguimos fazer o processo de diligência aqui. Além de selecionar, será preciso monitorá-los, então o nosso papel é avaliar se o responsável tem um processo robusto para fazer isso”, afirma Arthur Michilini, assistente da diretoria de investimentos e head de FoF.
A fundação estreou no segmento de exterior em 2023, ao fazer um investimento básico em S&P 500 e em ETFs. “Tudo era passivo inicialmente. Depois passamos para a segunda etapa, com alguma alocação em treasuries. Diminuímos a parcela passiva e aumentamos um pouco a ativa, que é mais sofisticada e se provou importante em 2024 porque agregou o efeito do dólar e da diversificação”, detalha.
Atualmente a carteira de exterior representa 2,4% do total de ativos da entidade, percentual distribuído entre ETF, S&P e um fundo de treasuries. No momento em que a fundação discute a composição dessa carteira, a perspectiva é de que o percentual não mude de forma expressiva. A parcela de gestão ativa, por sua vez, será acessada por meio de gestores de investment solutions.

Wanderley,Mauricio(Vale) 23julContatos sem mandatos - Ainda que não tenha mandatos de investment solutions atualmente, até como decorrência do porte de sua estrutura interna de gestão e de seu processo decisório, a Valia tem aproveitado os contatos com esses gestores. “Eles conversam com as nossas equipes para oferecer produtos, são contatos mais de prospecção mas que acabam tendo uma função complementar mesmo sem mandato”, analisa Maurício Wanderley, diretor de Investimentos.
Com uma oferta feita por várias casas gestoras, o investment solutions pode agregar valor principalmente à gestão de entidades de porte pequeno e médio, para as quais pode haver um ganho relevante de eficiência nessa interação, avalia Wanderley. “Esses contatos são importantes também para as entidades olharem mercados que ainda não estejam cobrindo direto, pontos que não estejam observando. Mais do que vender produtos, eles podem funcionar como uma consultoria importante em operações mais complexas e novos mercados”, diz.