Edição 373
O fundo de pensão Casse de Depot et Placement du Quebec (CDPQ), sediado em Montreal, formou uma parceria estratégica com uma organização indígena canadense, denominada Mohawk Council of Kahnawàke (MCK), para investir conjuntamente em projetos de infraestrutura de energia renovável. Esta colaboração é uma resposta significativa a um longo histórico de interação entre projetos de energia e as comunidades indígenas que vivem na região, num contexto que o Ohénton Írate ne Ratitsénhaienhs (Grande Chefe) dos MCK, Cody Diabo, reconhece como fundamental para fazer avançar a atual transição energética.
Comunicado conjunto assinado entre o CPQD e a MCK, publicado no início de fevereiro, enfatiza que a parceria busca “facilitar o acesso ao financiamento para o MCK e outras comunidades indígenas interessadas em participar da implementação desses projetos” em Québec.
Historicamente, o desenvolvimento de grandes projetos de infraestrutura de energia, como hidrelétricas, parques eólicos e oleodutos, frequentemente ocorreu sem a consulta ou o consentimento adequado das comunidades indígenas, resultando em impactos adversos nas suas terras, cultura e modos de vida. Por exemplo, a construção da Barragem de Manicouagan, na década de 1960, inundou vastas áreas de terras indígenas, afetando comunidades locais e seus habitats tradicionais. Além disso, a exploração de recursos naturais, como petróleo e gás, tem causado contenciosos relacionados à degradação ambiental e ao deslocamento forçado de comunidades tradicionais.
Ao longo do último século, embora as comunidades indígenas tenham enfrentado numerosos reveses na disputa com empresas da área energética, incluindo a perda de terras e erosão da identidade cultural, também têm aprendido a se organizar e reivindicar seus direitos de maneira crescente. De acordo com pesquisas recentes, as nações indígenas do Quebec, que representam apenas 1% da população da região, têm se mobilizado para garantir que sua voz e interesses sejam respeitados nos processos de tomada de decisão que afetam suas vidas.
“Acreditamos que é o momento certo para nossas comunidades participarem da transição energética, possuindo e se beneficiando da infraestrutura de energia em nossas terras ancestrais. Desenvolvemos esta parceria para fornecer a oportunidade econômica para as nações e comunidades indígenas maximizarem sua participação em infraestrutura de energia em larga escala em suas terras e se beneficiarem das receitas geradas”, disse Cody Diabo.
Já o vice-presidente executivo e chefe de infraestrutura da CDPQ, Emmanuel Jaclot, disse no comunicado que “numerosos projetos de energia renovável cruzarão territórios indígenas tradicionais, o que representa uma oportunidade de promover a participação financeira das comunidades envolvidas e garantir que as prioridades dos parceiros estejam bem alinhadas.”
A parceria entre o MCK e a CDPQ representa uma mudança de paradigma, onde as comunidades indígenas estão sendo posicionadas como co-desenvolvedores e co-investidores. O acesso ao financiamento e a capacidade técnica são elementos cruciais dessa relação.