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Mercados e verdades absolutas _ Marcel Andrade

Edição 374

Andrade,Marcel(SulAmerica) 24mar 01Todos os anos, investidores institucionais buscam encontrar a melhor classe de ativo para alocar recursos dos participantes, visando obter retornos superiores para a sua carteira de investimentos. De forma geral, essa alocação se baseia em expectativas de retornos que se utilizam de premissas de investimentos, que, por sua vez, em grande parte, consideram performances históricas e verdades absolutas de mercado para o ano seguinte. 2024 foi um bom exemplo disso – o ano começou com a crença majoritária que o Brasil entraria em um ciclo mais benigno para os ativos locais, impulsionado pelo possível ciclo externo e interno de redução nas taxas de juros, e que, portanto, os ativos de risco seriam os mais beneficiados. O CDI terminou o ano em torno de 350 bps acima da média das expectativas, o Ibovespa apresentou rentabilidade de -10,4%, e os principais índices de renda fixa performaram abaixo das expectativas. E quem não se lembra do início de 2023, após 2022 ter sido um dos piores da história financeira recente para as principais classes de ativos ao redor do mundo, com o início da guerra na Ucrânia e a subida das taxas de juros nos Estados Unidos? As empresas de tecnologia, que por anos anteriores “surfaram o mundo de juros baixosâ€, estariam “mortas†naquele novo ambiente. O Nasdaq em 2023 apresentou um retorno de 53,8%. E, no Brasil, com o início de um novo governo, a expectativa de um aumento de gastos públicos e a eterna preocupação com o fiscal certamente corroeriam a confiança dos investidores. Naquele ano, o Ibovespa rendeu 22,3% e o IMA-B, 16,1%, enquanto o CDI foi de 13%. Os exemplos são inúmeros e não se remetem apenas a períodos mais recentes.
Hoje, alguns outros mantras permeiam a indústria de alocação de recursos. Os fundos multimercados têm sido alvo de algumas dessas verdade absolutas. É notório que a rentabilidade de boa parte dos gestores tem sido aquém do esperado em janelas dos últimos dois ou três anos. Mas será que o período de análise é o ideal para esse tipo de estratégia? Se fizermos uma análise simples de retorno em janelas mais longas apenas do desempenho do IHFA (Ãndice de Hedge Funds da Anbima), o índice supera o seu referencial, que é o CDI. E, nesse caso, estamos apenas utilizando o índice como objeto de análise, que, por natureza, é muito abrangente. Já se o estudo for realizado analisando uma cesta de fundos de mercado, identificamos que uma parte significativa de gestores supera o CDI com consistência em diferentes janelas, sejam elas curtas ou mais longas. No entanto, esse processo de seleção e diligência requer acuracidade não apenas quantitativa de analisar o passado. Entretanto, pode ser mais fácil se apegar a verdades às vezes institucionalizadas de mercado, a se desenvolver processos de investimento que buscam não apenas resultados imediatos, mas, sim, criar um portfólio que busca entregar retornos consistentes em diferentes ciclos de mercado.
A gestão ativa em renda variável no Brasil também vem sendo questionada devido à dificuldade de gestores de fundos de ações superarem o Ibovespa nesses últimos três anos. Não é objetivo aqui debater as causas e/ou ambiente de mercado que podem ter gerado esse acontecimento. A discussão sobre gestão ativa e passiva não é nova, e encontra reverberação, em especial, em mercados mais eficientes. Embora existam diversos estudos que defendem cada uma das estratégias, prefiro ficar com aqueles que abordam a utilização de uma combinação de ambas, como é apresentado no livro de J. Clay Singleton: Core-Satellite Portfolio Management: A Modern Appoach for Professionally Managed Funds. Por anos, gestores de ações locais superam o índice com folga, aproveitando-se de idiossincrasias do mercado local. Mas pode ser mais cômodo apenas perseguir determinado índice, e deixar de lado retornos importantes em diferentes ciclos de mercado.
O objetivo aqui não é só chamar a atenção para os benefícios de longo para prazo da diversificação de portfólio, mas, sim gerar uma reflexão sobre as verdades absolutas de mercado que nos guiam para o senso comum. Estas verdades, de forma geral, levam investidores a negligenciarem oportunidades. Como escreveu Daniel Kahneman, ganhador do prêmio Nobel de economia, “quando as pessoas julgam que uma conclusão é verdadeira, ficam muito propensas a acreditar nos argumentos que parecem sustentá-la, mesmo que eles não sejam confiáveis.â€
E para você, quais são as verdades absolutas em 2025? O ano da Renda Fixa? Falta de oportunidade no mercado de Crédito Privado? Renda Variável nem pensar? Escolha a sua.

Marcel Andrade é head de Investment Solutions da SulAmérica Investimentos