Recuperação em 2009 | Fundos levantam do tombo do ano passado e j...

Edição 208

Todo marinheiro sabe que é mais fácil navegar com o vento soprando a favor do barco. O mesmo acontece com o mundo da gestão de recursos.Depois de um segundo semestre de 2008 bastante complicado, os mercados vêm mostrando uma recuperação até surpreendente do início de 2009 para cá, e a boa maré se reflete no retorno entregue pelos fundos aos investidores institucionais. Guardada a particularidade dos segmentos, é possível dizer que boa parte dos fundos de renda fixa, de renda variável e mesmo os multimercados (que sofreram mais que os outros durante o ano passado) reverteu o prejuízo em lucro.Para Lucas Mattiazzo, consultor sênior da LUZ Engenharia Financeira (que elaborou esse ranking em parceria com Investidor Institucional), o período de doze meses encerrado em 31 de agosto último pode ser separado em duas fases bem claras: uma até o fechamento de 2008 e outra a partir de janeiro de 2009. “Em setembro e outubro do ano passado, quando houve o auge da crise, todos os fundos de renda fixa, renda variável e multimercados sofreram. Poucos conseguiram fugir. Já em 2009, esse resultado se inverte. Todo mundo acertou, porque não tinha muito como errar. Essa é a grande verdade”, comenta. Ele acrescenta que, neste ano até agora, a Bolsa foi muito bem, assim como a renda fixa, em que “praticamente todos os ativos tiveram desempenho superior ao CDI e as estratégias foram vencedoras, principalmente aquelas atreladas a inflação”.O consultor acrescenta que essa divisão em dois momentos antagônicos pode ser conferida quando são comparadas a rentabilidade e a volatilidade dos fundos nos períodos de doze e de oito meses encerrados em 31 de agosto de 2009. “A rentabilidade é mais forte e a volatilidade cai quando nós pegamos somente o ano de 2009. Isso é uma constante em todas as classes”, indica Lucas.
Renda fixa – No que se refere a renda fixa, os fundos ainda sofriam muito com os efeitos da crise ao final do ano passado, sem superar o CDI. “Aquele finalzinho do ano passado ainda foi muito prejudicial”, aponta Lucas. Como a recuperação em 2009 foi bastante intensa, a maior parte dos fundos já está superando o CDI este ano. Ele observa, ainda, que quem se destacou foram os produtos que seguem os índices da Associação Nacional das Instituições do Mercado Financeiro (Andima). “Esses fundos trazem uma volatilidade bem maior para as carteiras, mas apresentaram um retorno muito superior, uma rentabilidade maior”, analisa.O consultor comenta que, dado o cenário da renda fixa em 2009, a única estratégia que poderia ter dado errado no segmento era ter comprado dólar. “Foi um cenário muito positivo. Não tinha muito como errar.” Para Lucas, olhando a indústria brasileira de fundos, é possível afirmar que é muito mais fácil para os gestores fazer com que seus produtos superem os benchmarks em um cenário de alta. Ele acrescenta que não só em renda fixa, mas em geral, o que se pode dizer é que os gestores preferem acompanhar o mercado na alta e diminuir a volatilidade dos fundos na baixa.
Renda variável e multimercados – Lucas completa que não se observou muitos gestores tomando posições agressivas durante o período mais turbulento do mercado. Mas quem tava “vendido” no final do ano passado, hoje tem uma rentabilidade de bastante destaque. “Quem conseguiu aproveitar esse movimento e se posicionar no final do ano passado não perdeu tanto e capturou ganhos nesse ano de 2009.” Ele ressalva, no entanto, que nem sempre o fato de operar vendido em fundos de renda variável significa que houve uma decisão do gestor por essa tática. “Na classe de renda variável temos que tomar cuidado na análise, pois esses fundos têm estratégias especificas. Às vezes, o gestor está usando uma estratégia que pode ser considerada anti-cíclica, mas na verdade é porque o fundo foi criado com aquela intenção. Não se trata necessariamente de uma decisão.” De acordo com o consultor, o que fica bem claro no que se refere aos fundos de renda variável é que, nos casos de fundos indexados ao IBrX, quando o benchmark foi melhor os fundos também tiveram um desempenho mais positivo. “Podemos dizer que houve uma gestão de certa forma passiva durante esse período na maior parte dos fundos”, afirma ele. Tirando essa parcela indexada ao IBrX, a maioria dos fundos também já está com rentabilidade positiva, pelo menos zerando as perdas sofridas no auge da crise.A boa performance do mercado acionário em 2009 também deu um empurrãozinho na retomada dos fundos multimercado. “No final do ano passado, nós ainda encontrávamos muitos multimercados com rentabilidade negativa. Isso já não existe mais, salvo raras exceções. O ano de 2009 serviu para recompensar essa crise”, opina Lucas. O cenário global mais positivo e principalmente o desempenho da Bolsa brasileira, que subiu mais do que as outras no exterior, contribuíram bastante para essa retomada. “Em renda variável houve um ganho muito grande. Dentro da classe de multimercados, o que podemos dizer é que o que definiu quem ganha mais e quem ganha menos é o tamanho da alocação em renda variável.” Se nos fundos de renda fixa o desempenho é mais ou menos parecido e nos de renda variável há sempre uma volatilidade, é possível perceber uma discrepância maior entre os resultados apresentados por multimercados, principalmente nos conhecidos como “não- institucionais”. “Há fundos dando 300% do CDI e outros dando -200% do CDI em doze meses”, exemplifica Lucas. Segundo ele, ainda é possível ver fundos com rentabilidade negativa nessa categoria porque o risco assumido é maior. “O custo de errar, nesse caso, é muito grande. Tudo depende do direcionamento da estratégia e do tanto de patrimônio que foi alocado na direção certa ou errada. Isso é que traz um ganho ou um prejuízo muito grande.”
Perspectivas – Segundo Mario Felisberto, diretor de investimentos da HSBC Global Asset Management, apesar de as oportunidades já não serem as mesmas do início de 2009, ainda há prêmios razoáveis em papéis de crédito privado como debêntures e alguns CDBs, “principalmente de bancos de segunda linha”. “Já na parte de risco de mercado, o que nós observamos é que daqui para a frente a estratégia tende a ser um pouco mais cautelosa, basicamente porque o Banco Central não mais vai cortar juros – o próximo movimento vai ser na linha de subir. Isso, por si só, já reduz um pouco o potencial de ganho nas posições de renda fixa”, opina o executivo.Ele ressalva, porém, que na comparação com as estimativas da gestora do HSBC, o mercado está precificando o aumento dos juros como um movimento mais forte e supondo que essa alta vá acontecer antes. “Por isso nós achamos que, de maneira tática, há um prêmio para ser capturado na curva de juros. Mas exatamente por ser algo tático, que só acontece porque o mercado deu uma exagerada, nós estamos com posições mais leves e mais moderadas do que aquelas com as quais trabalhamos ao longo do primeiro semestre e durante a crise.” Já na renda variável, as companhias com negócios mais voltados ao mercado interno, como as dos setores de varejo e construção civil, continuarão não decepcionando quem optar por investir em suas ações.Essa é, pelo menos, a aposta da Bradesco Asset Management (Bram). “O mercado de trabalho está começando a se recuperar, e as taxas de juros estão baixas. A expectativa é de que a economia cresça de 4% a 5% no ano que vem. Se isso ocorrer, essas empresas terão condições de alavancar as vendas, os resultados virão e as ações vão se beneficiar”, diz Herculano Aníbal Alves, superintendente executivo de renda variável da Bram. Ele endossa, no entanto, que agora o trabalho do analista é mais importante, mesmo porque algumas ações já estão em um preço razoavelmente justo. “Mas ainda há oportunidades.”
Para entender o Ranking – O ranking elaborado pela Luz Engenharia Financeira tem como data base 31 de agosto de 2009.
– A partir da amostra de fundos da Revista Investidor Institucional foram selecionados apenas os fundos com histórico completo de cotação num período de 12 meses.– Para os tipos renda fixa e renda variável foram excluídos os fundos com possibilidade de alavancagem de acordo com o cadastro da ANBID. Para os fundos multimercados foi criado um subgrupo dos fundos multimercado 3% permitidos pela Resolução CMN Nº 3456.– A classe renda variável foi dividida em três subgrupos: os que utilizam como referência o Ibovespa, os que utilizam como referência o IBX e um terceiro subgrupo (Ações Outros) que engloba todas outras estratégias (setorial, small caps, etc…).– A classe multimercado também foi dividida em três subgrupos: multimercados sem alavancagem, multimercado com alavancagem e Long & Short.– A classe renda fixa teve sua divisão de subgrupos a partir dos respectivos benchmarks e o nível de risco (Volatilidade) utilizado. Ainda foi criado um grupo específico para fundos de Crédito Privado.– As tabelas apresentam a rentabilidade, comparativo com o benchmark e risco (volatilidade, apresentado com uma taxa a.a.) dos fundos para 12 meses, 3 meses, 8 meses e 36 meses com data base de 31/08/2009. O comparativo com os indicadores de desempenho é medido em percentuais do benchmark com exceção dos fundos de renda variável onde ele é feito em pontos sobre o benchmark.– A partir dos grupos formados foi feita uma análise de quadrantes. Os fundos com rentabilidade superior a mediana dos retornos do grupo e risco a abaixo da mediana dos riscos receberam sinal verde. Os fundos com rentabilidade abaixo da mediana dos retornos ou risco acima da mediana dos riscos tiveram sinal amarelo. Já os fundos com rentabilidade abaixo da mediana e risco acima da mediana apresentam sinal vermelho.Assim, a análise é comparativa, pois o desempenho de um fundo é medido em relação ao comportamento do grupo, reduzindo a influência das condições de mercado no resultado final.– O Histórico de cotações foi retirado da Base de dados da ANBID.