Regius começou a mudar há dois anos | Decisão de modernizar o sis...

Edição 82

Enquanto a maioria dos fundos se esforça para acompanhar a primeira fase de adaptação à Resolução n° 2.720/CMN, uma fundação de médio porte de Brasília tem servido como modelo para as demais. A Regius, fundação do Banco de Brasília, já está praticamente adaptada às novas regras dos investimentos e agora prepara-se para o novo desafio de integrar a gestão dos ativos com as suas necessidades do passivo. Em função desse adiantamento, cerca de 30 fundos de pensão já visitaram a Regius nos últimos 18 meses, para assimilar sua experiência.
As mudanças começaram no final de 1998, quando a Secretaria de Previdência Complementar (SPC) apresentou a primeira versão pública do Modelo de Gestão de Investimentos (MGI). O fundo de pensão previu que a regulamentação dos investimentos traria profundas mudanças ao sistema, devido à necessidade de estabelecer critérios que permitissem a portabilidade, ou seja, a transferência de planos entre entidades.
A iniciativa de reestruturar a administração da Regius partiu da gerência de controladoria e planejamento do fundo, comandada por Francisco Petrus. Ele apresentou à direção da fundação um projeto para substituir os sistemas de informação e implantar novas áreas, o qual foi aprovado e então passou a ser implementado. O primeiro passo foi desenhar um novo sistema de administração dos ativos, por cotas. “Sabíamos que a portabilidade viria, mais cedo ou mais tarde, e resolvemos implantar um sistema de controle dos ativos por cotas”, explica Francisco Petrus.
Para conseguir isso, a Regius buscou no mercado um sistema de informática com essas possibilidades. Mas, como nenhuma das empresas de software que trabalhavam com os fundos de pensão tinha esse sistema disponível, a saída foi buscar uma empresa que mesmo sem atuar neste segmento tivesse experiência com os gestores de recursos, os quais já faziam o controle dos seus fundos de investimento por cotas. Daí nasceu a parceria com a YMF (ver pág. 14), em outubro de 1998, para a adaptação do sistema que já era utilizado por empresas
de asset.
Após um período de testes, o sistema começou a rodar em dezembro de 1998. Durante os meses seguintes, Regius e YMF foram agregando alguns módulos para aperfeiçoar o sistema. Primeiro, o sistema incorporou um módulo para a produção do relatório de investimentos, enviado trimestralmente para a SPC. Depois, foi criado o módulo de cálculo segregado da rentabilidade para cada tipo de operação financeira. Posteriormente, o fundo de pensão mudou o regulamento para se tornar multipatrocinado e, por isso, agregou um novo módulo para sistematizar as informações dos planos de cada patrocinadora separadamente.
Na mesma época, a Regius também procurou um outro parceiro para desenvolver um sistema contábil e financeiro que pudesse ser integrado à administração dos ativos por cotas. O fundo selecionou a Cummerlato e Schuster, uma empresa gaúcha de sistemas de informática, para realizar a tarefa.
As mudanças não pararam por aí. A Regius também criou uma área de risco, subordinada à gerência de controladoria e planejamento, no início do ano passado. Em seguida, contratou a consultoria Prandini e Rabbat para assessorar o trabalho da área de controle de risco. Junto com a consultoria, ajudou a desenvolver um novo módulo de alocação de carteiras, que mais tarde seria utilizado por outras fundações dentro de um pacote de controle de risco. No início deste ano, a Regius também contratou o sistema Risk Office, oferecido pela Fipecafi-USP em convênio com a Abrapp, para complementar o conjunto de módulos que realizam a tarefa de mensuração dos riscos dos investimentos.
Todas essas contratações da Regius foram concretizadas na forma de parcerias com a intenção de desenvolver ou aperfeiçoar sistemas que ainda não existiam. Por um lado, isso exigiu um trabalho extra da fundação, que teve que ajudar a encontrar soluções inovadoras para as necessidades da entidade. Em contrapartida, a Regius teve a oportunidade de conseguir melhores condições de negociação de taxas com estes parceiros. “Ajudamos a desenvolver vários produtos com nossos parceiros e, por isso, pudemos contratá-los em condições mais favoráveis de preços”, revela Petrus.
Para completar o rol de parceiros do fundo de pensão na área de gestão de ativos, a Regius contratou no último mês de maio o serviço de custódia centralizada do Itaú. O banco passou a ser responsável pela custódia de R$ 170 milhões em ativos da fundação que estão terceirizados na forma de fundos exclusivos. A Regius pretende centralizar a custódia de toda a sua carteira de investimentos, avaliada em R$ 370 milhões, nos próximos meses. “A custódia centralizada permite que o fundo consiga olhar todas as carteiras com uma única lente”, ilustra Juvêncio Braga, diretor financeiro da Regius.
Ele explica que a série de transformações por que passou a Regius desde o final de 1998 permitiu um salto de qualidade na gestão dos ativos da fundação. “Hoje em dia, temos o fechamento diário das cotas dos investimentos e podemos tomar decisões com maior agilidade e transparência”, afirma.
O diretor financeiro acredita que a fundação não deve enfrentar nenhuma dificuldade mais séria para se adaptar às exigências da Resolução n° 2.720 devido ao adiantamento do processo de modernização de sua administração. Uma prova que a Regius é uma referência no sistema atualmente é a sua escolha para compor o grupo de sete fundações que participam da simulação do novo sistema de informação da SPC, baseado na resolução do CMN.

Marcação do passivo – Com a primeira parte da “lição de casa” quase concluída, referente à administração de seus ativos, a Regius deu início a uma nova etapa. A fundação começou um novo trabalho, denominado de marcação do passivo, com o objetivo de delimitar quais são suas necessidades atuariais. “Dentro de pouco tempo, a definição de nossas estratégias de investimentos serão determinadas por nossas obrigações atuariais”, diz o diretor financeiro do fundo.
Para isso, a Regius contratou a empresa de consultoria Consultorys. Sob o comando do consultor Dionísio Jorge da Silva, o trabalho de marcação do passivo da Regius começou a ser realizado no final de maio passado (ler seção Explicando o Mercado na edição n° 81). “A Regius é a primeira fundação que se propôs a aprofundar a tarefa de marcação de suas necessidades atuariais”, revela o consultor. Quando o estudo estiver concluído, no final de agosto, será possível iniciar a etapa final de casamento da gestão dos ativos com o passivo, cuja denominação em inglês é Asset Liability Management (ALM).
Essa prática permitirá a determinação de um regime orçamentário adaptado às necessidades de caixa da fundação. “Com a ALM teremos a capacidade de disponibilizar apenas o necessário para cumprir nossas obrigações atuariais, obtendo um nível de liquidez próximo do ideal para nossos investimentos”, explica Francisco Petrus. Além disso, o fundo de pensão terá mais elementos para definir o nível de risco e o retorno esperado para suas aplicações. Desta forma, a Regius fecharia o ciclo de modernização da administração do fundo com a integração completa entre suas áreas contábil, financeira e atuarial.