Modelo exige investimentos em sistemas | Fundos de pensão terão q...

Edição 82

Após modernizarem seus sistemas e equipamentos de informática para enfrentar o bug do milênio na última virada de ano, agora os fundos de pensão estão tendo que superar um novo desafio tecnológico: a necessidade de adequar seus sistemas de informações às exigências da Resolução n° 2.720/CMN. Essa resolução, que determina as normas de investimentos das entidades fechadas, está obrigando as fundações a substituir ou fazer uma adaptação radical nos seus sistemas de administração dos ativos.
Quem ainda mantém sistemas de controle mais simples, que não calculam os ativos por cotas ou que rodam com a introdução manual dos dados, vai ser obrigado a adotar novos softwares para ter as informações sobre sua carteira de ativos que a 2.720 exige.
Até agora as fundações tinham que se preocupar apenas em enviar um relatório trimestral para a Secretaria de Previdência Complementar (SPC), com informações sobre os ativos divididos em 4 carteiras. A partir de maio de 2001, os fundos deverão enviar relatórios mensais, com informações referentes ao fechamento diário das cotas de 6 macrossegmentos e 20 carteiras. “O novo modelo de investimentos provoca aumento significativo dos controles e exige o monitoramento dos ativos totais da fundação por cotas diárias”, explica Álvaro Diovani Giacomini, gerente de informática da Forluz, fundo de pensão da Companhia de Eletricidade de Minas Gerais (Cemig).
Por conta disso, a Forluz está realizando uma pesquisa de mercado para adquirir um novo sistema de administração de ativos. “Devido às novas exigências, não temos condições de continuar trabalhando apenas com nosso sistema atual e, por isso, estamos pesquisando as opções oferecidas pelo mercado”, conta o gerente da Forluz. Ele revela que já selecionou previamente um sistema, da empresa YMF, que está em fase final de testes.
A Desban é outro fundo de pensão que já decidiu modernizar seu sistema de informática referente à gestão dos recursos. “Já estávamos pensando em mudar e agora, a Resolução n° 2720 acelerou nossa decisão”, revela Ivo Andres Fonseca, diretor financeiro da Desban, fundação do Banco de Desenvolvimento de Minas Gerais. Ele explica que a direção do fundo está percebendo que o mercado está oferecendo opções mais modernas, tanto em termos de softwares como de serviços. “Estamos sentindo falta de uma assistência mais ágil para nos ajudar na adaptação às novas regras dos investimentos”, afirma o diretor do fundo.
Não é apenas do lado dos fundos de pensão que os sistemas deverão sofrer modificações. Também os gestores de recursos terão necessidade de adaptar os seus sistemas de transmissão de informações para cumprir as determinações da nova resolução do CMN. A maior dificuldade consiste em disponibilizar informações diárias referentes às cotas das fundações nos fundos abertos de mercado.
Ainda há dúvidas se os gestores terão ou não resistências em mostrar a composição de seus fundos abertos, com receio de que suas estratégias sejam conhecidas por terceiros. Além disso, os dados deverão ser enviados em um sistema com parâmetros compatíveis com o do fundo de pensão. “Estamos adaptando nossos sistemas às novas regras dos investimentos dos fundos de pensão e acredito que não haverá problemas em transmitir todas as informações necessárias”, diz Flávio Pires, diretor de institucionais do BankBoston.

Soluções – As principais empresas de sistemas que atuam no mercado de fundos de pensão estão se preparando para atender as novas necessidades impostas pela Resolução n° 2.720. No aspecto referente à transmissão das informações do gestor para a fundação, as empresas de informática devem indicar qual o “lay out” compatível para inclusão dos dados sem necessidade de introdução manual. “Estamos entrando em contato com os gestores para definir padrões em comum para a passagem das informações”, diz Sérgio Zoccoli, diretor comercial da SFR Previtec.
Ele ressalta, porém, que o fundo de pensão deve exigir do gestor contratado a passagem de dados, porque o problema neste ponto não é apenas tecnológico. “Nós fornecemos os meios para a transmissão das informações, mas a efetivação disso depende de negociação entre a fundação e a asset”, explica Zoccoli.
Atualmente líder no mercado de fundações, com 81 clientes, a Previtec elaborou uma nova ferramenta integrada de controle da 2.720. Para quem já é cliente da empresa, a ferramenta será adaptada ao sistema atual para fornecer o fechamento diário das cotas de acordo com as novas regras de enquadramento. Para os novos clientes, será fornecido um novo produto já adaptado ao novo modelo de investimentos.
Além disso, a Previtec pretende avançar na prestação de serviços adicionais aos fundos de pensão, tais como a elaboração de relatórios gerenciais com a posição dos ativos. “Como as exigências da Secretaria estão cada vez mais complexas, acredito que aumentará a procura das fundações pela terceirização do processamento tanto do ativo como do passivo”, diz o diretor comercial da Previtec. Segundo ele, sua empresa já é contratada por 15 fundos de pensão para realizar a administração parcial ou integral dos ativos e passivos, sendo que 3 contratos foram fechados no primeiro semestre deste ano.
Atualmente, a Previtec está direcionando seu foco comercial, que sempre foi exclusivo em previdência, para os fundos dos estados e municípios. “O nicho que mais deve crescer nos próximos anos é o de fundos estaduais e municipais”, afirma Zoccoli. A Previtec participa ainda do consórcio que está elaborando o projeto SPC 2000 de informatização da Secretaria de Previdência Complementar.

Demanda – Outra empresa que procura aumentar o seu espaço no mercado de fundações é a YMF. A empresa existe há sete anos, mas há apenas um ano e meio fornece sistemas para fundos de pensão. Seu primeiro cliente foi a Regius (ver pág. 18), mas atualmente presta serviços também para a Sistel, Capof e Previndus. “Com a aprovação da nova resolução, sentimos que aumentou a procura por nossos produtos e serviços por parte dos fundos de pensão”, diz Yuri Ferber, sócio-diretor da YMF. Ele acredita que a aprovação das novas regras representa um “divisor de águas”, que deve ampliar o tamanho desse mercado.
“A maioria das fundações ainda possui sistemas muito defasados e acredito que cerca de uma centena delas está saindo a mercado para atualizá-los”, prevê o sócio-diretor da YMF. A empresa aposta em seu produto principal, o YMF SAC (Sistema de Administração de Carteiras), para atrair a atenção dos fundos de pensão. O sistema é o mesmo utilizado pelos mais de 30 gestores de recursos que são clientes da YMF, com algumas adaptações. “Acredito que nosso sistema é o ideal para atender as exigências da 2.720, porque é o mais utilizado entre as empresas de asset”, comenta Yuri Ferber.
Ele justifica que as exigências de prestação de informações para as fundações ficaram similares às impostas aos gestores. Outra vantagem é a compatibilidade automática para a transmissão de dados entre o gestor e o fundo que utilizam os sistema da YMF.

Aguardando – A terceira principal concorrente do mercado de sistemas de administração de ativos para fundos de pensão é a Policentro. Atualmente com 35 clientes do tipo fundações, a empresa aguarda ainda as definições finais da SPC e do CMN para realizar mudanças em seu sistema. “Estamos esperando o resultado da simulação que a SPC está realizando com um grupo de fundos para saber exatamente quais adaptações serão necessárias”, declara Augusto Flávio Mendes, gerente de sistemas da Policentro.
Segundo ele, ainda há muitas dúvidas quanto aos relatórios exigidos pela Secretaria e, para piorar, os testes de envio de informações de acordo com a 2.720 estão atrasados.

Fundos não enviam relatórios
Os fundos de pensão escolhidos pela Secretaria de Previdência Complementar para testar o novo sistema de informações baseado na Resolução n° 2720 não conseguiram cumprir o prazo inicial estabelecido. As entidades deveriam enviar o primeiro relatório de investimentos com o novo formato no final do mês de junho passado, mas até o final de julho nenhum dos sete fundos de pensão pertencentes ao grupo tinha enviado as informações.
Uma reunião dos técnicos da SPC com o grupo de fundações, composto pela Previ do Banco do Brasil, Telos, Sistel, Previma, Regius, Fundação Cesp e Funcef, deve avaliar as principais dificuldades enfrentadas. Uma delas é a dificuldade para obter informações dos gestores de recursos com quem terceirizam a administração de seus recursos. O encontro dos profissionais das entidades com a Secretaria servirá para debater propostas para o aperfeiçoamento do sistema de transmissão de informações.