Os mais admirados do mercado

Edicão 381

Após dois meses de um processo de votação em dois turnos, envolvendo centenas de instituições do ecossistema previdenciário e de gestão de recursos, foram escolhidos os 22 profissionais que receberão o Troféu Benchmark 2025, uma das mais tradicionais distinções do mercado de investimentos brasileiro. Este ano, 521 instituições participaram da votação em segundo turno – um avanço expressivo em relação às 437 votantes que votaram no ano passado, representando uma alta de 19,5% nos número de participantes desse processo. Entre as instituições votantes deste segundo turno tivemos 153 EFPCs, 239 RPPS, 92 gestoras de recursos e 37 consultorias atuariais, de investimentos e jurídicas.

A premiação, criada em 2000, só foi interrompida entre 2019 e 2023 devido à pandemia. Retomada em 2024, volta a ganhar escala em 2025, mantendo seu princípio central: votação direta, na qual cada instituição só pode votar em categorias fora do seu próprio segmento, evitando conflitos de interesse. Assim como no ano passado, os três mais votados no primeiro turno em cada uma das 22 categorias avançaram à disputa final e foram escolhidos pelo mercado, na votação em 2º turno, como os campeões.

Entre os ganhadores deste ano estão 5 nomes laureados no ano passado, 3 nomes que já ganharam em outros anos anteriores e 14 que ganham pela primeira vez. Além disso, embora não tenham empalmado o troféu deste ano, publicamos a relação daqueles que compuseram a lista triplice por terem sido os mais votados no primeiro turno e merecem da revista Investidor Institucional os diplomas de Menção Honrosa.

No perfil que traçamos nas próximas páginas de cada um desses ganhadores, fica claro que o tema central em suas análises sobre o mercado é a trajetória da taxa de juros. Mais especificamente, a longa duração do ciclo atual e as expectativas em relação ao time do Banco Central para começar a reduzi-la. Para Giancarlo Germany, da Mirador, vencedor do Benchmark como Melhor Consultor Atuarial para EFPC, o ciclo longo de juros altos trouxe alívio temporário às patrocinadoras, mas isso reforça a necessidade de prudência na próxima fase, de mudança do patamar de juros no ano que vem.

Na opinião de André Natali Schonert, diretor executivo da Fundação Promon e eleito como Melhor Profissional de Investimentos de EFPC, “o ciclo de aperto mais agressivo dos juros nos EUA desde os anos 1980 e a escalada da Selic no Brasil mostram bem a complexidade dos nossos tempos.” Ele recomenda disciplina, governança e comunicação transparente para manter a solidez da gestão previdenciária.

Já Silas Devai Júnior, diretor-presidente da Viva Previdência e eleito Melhor Dirigente de EFPC, afirma que a combinação de juros altos e inflação resistente exige “equilíbrio entre prudência e ousadia”, além de investimentos que dialoguem com públicos mais jovens. “Vivemos um cenário que recompensa a liquidez e a renda fixa de curto prazo, mas impõe o desafio de manter retornos reais sustentáveis no longo prazo”, observa.

Padrões conservadores – Entre as consultorias de investimentos que atendem EFPCs, a discussão volta-se sobretudo à alocação de risco. Guilherme Benitez, da Aditus, ganhador do Benchmark como Melhor Consultor de Investimentos para EFPC, resume o fenômeno. Segundo ele, o ambiente prolongado de juros elevados consolidou um novo padrão de comportamento entre as fundações de previdência complementar, que vêm mantendo portfólios mais conservadores e menor exposição ao risco. “A parcela de risco das carteiras é hoje menos da metade do que era há quatro anos”, diz.

Na indústria de gestão de recursos, o pano de fundo é semelhante. A renda fixa se beneficia diretamente dos juros elevados, mas impõe desafios. Para Ana Rodela, CIO da Bram e vencedora do Benchmark como Melhor Gestora de Renda Fixa, o ambiente favorece crédito privado e estratégias pós-fixadas, “mas exige cautela e análise aprofundada”.

Na renda variável, Luis Guedes, da Vinci Compass, eleito Melhor Gestor de Renda Variável, vê um cenário “muito favorável aos ativos de risco”, sustentado pelo início do ciclo de cortes nos EUA e pelo fluxo de capital estrangeiro entrando no Brasil, que levou o Ibovespa a superar a marca histórica de 155 mil pontos na primeira quinzena de novembro.

Outros temas – Apesar de o debate econômico seguir concentrado em tentar decifrar o momento exato em que a taxa de juros deve finalmente iniciar um ciclo de queda, gestores e investidores institucionais apontam que há outros fatores relevantes no horizonte. A persistente incerteza global continua no radar, adicionando volatilidade às decisões de alocação, enquanto a recente queda do patamar do câmbio ajuda a conter a inflação mas, ao mesmo tempo, pressiona o caixa de empresas exportadoras. Além disso, a combinação entre nível de emprego ainda robusto e pressões inflacionárias recorrentes compõe um cenário que exige atenção redobrada dos analistas, pois dessa combinação depende a trajetória dos juros.

Para Álvaro Frasson, estrategista do BTG Pactual e eleito Melhor Estrategista de Câmbio, as análises econômicas para o próximo ano costumam olhar com pouca atenção a trajetória do nível de emprego. “O maior desafio hoje é estimar com precisão o timing de desaceleração do mercado de trabalho”, afirma. “Esse indicador é chave para entender a extensão do iminente ciclo de corte de juros no Brasil”.

Já Daniel Celano, da Schroders, vencedor do Benchmark como Melhor Gestor de Investimentos Internacionais, afirma que uma combinação de dólar baixo e juros altos levaram os investidores institucionais a reduzir ao mínimo a exposição global, adotando uma política de baixa diversificação e concentração em risco local.

Alternativos – Embora a busca de títulos públicos seja o mantra entre os institucionais, por combinarem retornos elevados com baixo risco, alguns ativos alternativos já vêm uma luz no fim do túnel. É o caso dos Fundos em Direitos Creditórios (FIDCs) e dos Fundos Imobiliários (FII).

Para Delano Macedo, da Solis, ganhador do Benchmark como Melhor Gestor de FIDCs, embora o Banco Central tenda a manter a Selic ainda elevada por algum tempo, por conta do risco de desancoragem das expectativas, já há sinais de alívio marginal de spreads bancários. “O ambiente tende a ser mais favorável para novas estruturas e emissões”, diz.

No caso dos FIIs, as oportunidades surgem nos descontos das cotas dos fundos em relação ao valor patrimonial dos mesmos. De acordo com Ilan Nigri, da Vinci Compass, eleito Melhor Gestor de Ativos Imobiliários, os descontos podem superar os 20%, em alguns casos. Tais descontos podem representar uma oportunidade de reposicionamento para os investidores, afirma.

Para os Fundos de Participações, porém, as nuvens negras do mercado ainda não se dissiparam. Por essa razão Ricardo Fernandez, da BTG Asset, ganhador do Bentchmark como Melhor Gestor de FIPs, prefere manter a estratégia de focar principalmente no mercado secundário. “Seguiremos priorizando investimentos no mercado secundário, especialmente quando a pressão de venda está no ofertante e não no desempenho do ativo”, explica.

Regimes próprios – Uma categoria de investidores que tem avançado bastante no processo de aprimoramento da gestão das carteiras de investimento são os Regimes Próprios de Previdência Social (RPPS). Instrumentos como o Pró-Gestão são uma referência positiva até para os fundos de pensão, que ainda não contam com algo similar.

Para Alessandra Hoehn, assessora financeira do NavegantesPrev e vencedora do Benchmark como Melhor Profissional de Investimentos de RPPS, o ano de 2025 tem sido “muito generoso” para os regimes próprios, com oportunidades tanto na renda fixa quanto em ações e fundos atrelados ao S&P 500. Segundo ela, “se existe a oportunidade de gerar um excedente de rentabilidade o gestor tem a obrigação de aproveitar”.

Já Marcos Litz, diretor administrativo e financeiro do Instituto de Curitiba (IPMC) e eleito Melhor Dirigente de RPPS, resume o desafio central. Segundo ele, dois fatores macroeconômicos dominam o cenário atual: a política monetária restritiva e o envelhecimento da população dos planos previdenciários. “De um lado, as taxas de juros elevadas trazem bons retornos nos títulos atrelados ao CDI e nas NTN-Bs, mas exigem cautela para manter a diversificação e superar a meta atuarial”, explica.

Troféu Benchmark – Os Melhores Profissionais do Mercado de Investimentos (em pdf)