Guilherme Abbud | Melhor Estrategista de renda fixa

Guilherme Abbud, do HSBCEdição 266

Uma leitura do cenário que foge um pouco da que é feita pela maior parte dos players do mercado ajudou o HSBC a ter uma boa rentabilidade em sua estratégia de renda fixa ao longo de 2014. No início do ano, recorda Guilherme Abbud, diretor de investimentos da asset, havia um receio exagerado entre os agentes em relação aos possíveis impactos da retirada dos estímulos por parte do Fed. A projeção acertada do cenário é um dos motivos apontados por Abbud para o destaque no prêmio Benchmark, na categoria de estrategista de renda fixa. O profissional iniciou a carreira na década de 90 como estagiário na Hedging-Griffo na equipe de Luis Stuhlberger, antes da constituição do mítico Fundo Verde.

“A normalização dos juros nos Estados Unidos está sendo algo muito gradual”, pontua o diretor, que retornou ao HSBC em janeiro deste ano, no qual já havia trabalhado de 2003 a 2006, quando saiu para fazer um MBA na França. Com o mercado nervoso e cheio de incertezas, os prêmios das NTN-Bs estavam próximos dos 6,5% no primeiro semestre, período em que o banco aproveitou para aumentar sua exposição nos títulos públicos. “O cenário estava difícil, mas as taxas estavam tão altas que fazia sentido ficar aplicado”, comenta Abbud. Conforme o medo com o ‘tapering’ foi se dissipando no decorrer do ano, os prêmios reduziram, e consequentemente também as posições do banco.
Já mais próximo do fim de 2014, os fundos da asset do HSBC retomaram as compras de títulos do governo, dessa vez não por conta de um excesso de nervosismo do mercado, mas sim em função da sua expectativa quanto ao nível da atividade doméstica no ano que vem. “Talvez o mercado se surpreenda um pouco com o tamanho da desaceleração no consumo, na renda, no emprego”, diz o gestor.
Por esse motivo, na leitura da equipe de renda fixa do HSBC, os juros atualmente voltam a rodar em patamares considerados elevados sob uma perspectiva de médio prazo. Os juros mais altos agora são necessários para retomar a credibilidade, e controlar a inflação, até porque no ano que vem vários preços represados serão ajustados, mas depois disso, nota Abbud, provavelmente a taxa de mercado estará muito acima da taxa neutra, de equilibrio. “Passado o ano de ajuste, é bem possível que a taxa de juros tenha de cair”.
A nomeação de Joaquim Levy para assumir o Ministério da Fazenda, e o anúncio de um plano de superávit fiscal, fala o diretor do HSBC, reforça essa leitura de atividade mais fraca em 2015, com a provável queda da taxa Selic como consequência. Com um controle maior do lado dos gastos do governo, o Banco Central (BC) não terá de levar a Selic para patamares tão altos para controlar a inflação. “Ajuda bastante quando a política monetária e fiscal atuam para o mesmo lado”, afirma Abbud.
Antes de retornar ao HSBC no início do ano, o executivo foi o responsável pela gestão de renda fixa e multimercados na Western Asset Management e na Votorantim Asset Management. Para o diretor, a tendência é que o câmbio prossiga cotado entre R$ 2,50 e R$ 2,60 por um longo período. “Tem gente com medo que o dólar vá para perto dos R$ 3, a gente não acredita nisso não”. Essa previsão tem como norte o fato de países desenvolvidos ainda estarem pagando prêmios em seus títulos de 10 anos de no máximo 2,5%, enquanto no Brasil os rendimentos se aproximam da casa dos 12%. “Por mais que tenhamos muitos desafios pela frente, é muita diferença de taxa de juros, acaba atraindo bastante capital. O Brasil não vai ter problema de financiamento na balança de pagamentos”.
Quanto aos possíveis reflexos do ‘tapering’ em 2015, o especialista também não espera que o dólar vá ter uma grande valorização adicional em relação ao real em função da normalização dos juros americanos. Abbud explica que, enquanto no mercado, efetivamente, os preços indicam um movimento gradual de elevação dos juros do Fed, nos relatórios, os analistas indicam que o atual nível de preços subestima o risco de um aumento das taxas mais rápido e mais cedo do que o esperado.