Edição 266
O baixo crescimento no nível da atividade doméstica afeta principalmente aquelas companhias que têm negócios com uma correlação maior com a economia real, que são justamente o foco de estrategistas de private equity, como Cristiano Gioia Lauretti, da Kinea, empresa que pertence ao Itaú. “As companhias já investidas estão crescendo muito bem, mas entre aquelas que fazemos prospecção para novos investimentos, temos observado uma certa dificuldade em crescer”, pontua o especialista que foi contemplado com o prêmio Benchmark na categoria de melhor estrategista de FIP.
O gestor tem buscado empresas que estão em regiões que têm crescido mais do que a média do país. Em 2014, a Kinea realizou apenas um investimento, nas lojas Avenida, uma espécie de C&A do Centro-Oeste, explica Lauretti. A sede da empresa está em Cuiabá, e a rede já conta com 124 unidades. “A maior parte da receita vem do Centro-Oeste e do Norte do país”, diz o gestor. “Temos olhado essas outras regiões com mais carinho”. Outras empresas também foram prospectadas nos últimos meses, mas a dificuldade que elas têm enfrentado com a queda no consumo das famílias, diz o executivo, fez com que a Kinea também tenha tido dificuldades para fechar bons negócios.
Além de buscar regiões em que o crescimento tem sido melhor do que a média nacional, outra saída da Kinea para driblar a dinâmica da economia atual foi ir atrás de setores mais defensivos, que tendem a sentir menos “a crise de consumo que estamos vivendo”. Saúde, educação e agronegócio compõem os segmentos em que a Kinea tem olhado com mais atenção em 2014.
Na Kinea desde 2009, Lauretti foi convidado por Márcio Verri, que fundou a casa em 2007, para montar a área de private equity – até então a gestora tinha em sua prateleira apenas hedge funds e investimentos imobiliários. Antes disso, ele ficou de 2000 a 2009 na AIG, também na área de private equity, quando começou a atuar nesse nicho, e onde fazia exatamente o mesmo trabalho que realiza hoje. Ao ir para a Kinea, o executivo levou três membros da equipe que trabalhavam com ele na AIG. Durante seu período na AIG, um dos projetos mais conhecidos em que Lauretti se envolveu foi com o da Gol Linhas Aéreas, na qual ajudou a abrir o capital em Bolsa no primeiro semestre de 2004.
Além das lojas Avenida, o FIP Kinea Private Equity 2, fundo constituído em 2012 com boa adesão de fundos de pensão, já fez outros dois investimentos, um deles de R$ 70 milhões no Grupo Delfin, rede de laboratórios de imagem na Bahia, e outro no Grupo ABC, da área de comunicação, no qual aportou R$ 170 milhões, ambos em 2013.
Além dos três investimentos acima, a Kinea antes disso já havia apostado, em 2011, no Grupo Multi, dono da rede de escolas de inglês Wizard, no qual fez um investimento de R$ 200 milhões. No final de 2013, o grupo foi vendido para o britânico Pearson, controlador do Financial Times, por R$ 2 bilhões. “A Kinea teve um retorno de duas vezes o capital que tinha investido, o que corresponde a um taxa de retorno de 25% ao ano”, explica o gestor da Kinea.
O FIP da asset tem PL de aproximadamente R$ 1 bilhão, com 50% deles já investidos, sendo que, até o início de 2015, é provável que esse percentual suba para a casa dos 65%. “Estamos esperançosos de fechar uma operação no início do ano que vem”. Para 2015, Lauretti espera fechar entre dois e três novos investimentos.
Formado em Engenharia de Produção pela POLI-USP, o estrategista iniciou a carreira como analista de crédito na Varig. Depois ficou por quatro anos no Banco ABN Amro, na área de ‘project finance’, e foi trainee do Banco Itaú.