Retorno abaixo da meta | Com a pior rentabilidade desde a crise f...

Jorge Simino, da CespAs 10 Maiores Ativos de Renda FixaAtivos de Renda VariávelInvestimentos EstruturadosAtivos ImobiliáriosEmpréstimos a ParticipantesEdição 261

A alta volatilidade da renda fixa, classe de ativos predominante na carteira das fundações, somada à forte desvalorização das ações no mercado de capitais, reduziu drasticamente a rentabilidade dos planos de previdência complementar no ano passado, distanciando o balanço financeiro das entidades dos ótimos resultados de 2012. Embora muitas delas tenham encerrado 2013 com rendimentos negativos, no consolidado os maiores fundos de pensão do país conseguiram compensar as perdas com algumas mudanças na estratégia de investimentos. Carregar papéis na curva, apostar em empresas de fora do Ibovespa, elevar investimentos em imóveis e outros estruturados foram algumas das alternativas encontradas pelos maiores fundos de pensão, analisados pelo ranking Top Atuarial – Fundos de Pensão.
Os esforços realizados para minimizar perdas se refletem no ranking das dez maiores fundações. Em média, o patrimônio dessas entidades registrou uma breve expansão de 0,75% entre o final de 2012 e o encerramento de 2013, passando de R$ 387,3 bilhões para R$ 390,2 bilhões no período. As fundações Itaú-Unibanco, Banesprev e Funcef se destacaram nesse quesito, registrando crescimento acima da média, de 7,3%, 5,6% e 5,1%, respectivamente.
Mas nem todas as maiores conseguiram segurar reduções nos patrimônios. Cinco, das Top 10, chegaram a apresentar perdas, como a Real Grandeza, a Fundação Cesp e a Petros, que registraram quedas de 6,7%, 4% e 3,1% em seus patrimônios líquidos. Ainda assim, somente a Real Grandeza caiu duas posições no ranking, passando para o 10ª lugar. A Forluz e a Banesprev subiram uma posição, ocupando o 8º e 9º lugares. As demais se mantiveram inalteradas.
O ranking Top Atuarial, liderado por Previ, Petros e Funcef, contou com a participação de cerca de cem instituições que responderam nossos questionários com informações de seus balanços. O ranking traz um consolidado dos dez maiores fundos de pensão em cada segmento de aplicação – renda fixa, renda variável, estruturados, imóvel e operações com participantes – e os mais focados em cada um deles. Também publicamos as dez maiores rentabilidades por segmento. Foram consideradas para esses rankings setoriais apenas as fundações que enviaram suas informações, uma vez que das outras não possuíamos informações sobre participações e rentabilidades.
A rentabilidade geral do sistema atingiu 3,28% em 2013, percentual bem inferior ao apurado no ano anterior, de 15,37%. Os dados, da Associação Brasileiras das Entidades Fechadas de Previdência Complementar (Abrapp), apontam que os fundos de pensão ficaram muito aquém da meta atuarial do período, de 11,3% (INPC+5,75%). A rentabilidade média da renda fixa foi de 2% – contra 18,64% em 2012 – e, da renda variável, de 2,5% – contra 7,88% do ano anterior. Os melhores rendimentos partiram das carteiras de imóveis (18,31%), empréstimos para participantes (13,4%) e estruturados (9,77%).
“O ano de 2013 foi muito complicado para todos os fundos. Sofremos influências negativas tanto do mercado internacional quanto do nacional, desde o anúncio do ‘tapering’ norte-americano até a mudança na política de juros no segmento doméstico. O Ibovespa caiu mais de 15% no período e os títulos públicos federais enfrentaram forte volatilidade, com prêmios que passaram de menos de 4% para mais de 7% em um ano”, explica Maurício Wanderley, diretor de investimentos da Valia.
As turbulências vividas no ano passado, contudo, deixaram uma lição importante para o mercado, conforme destaca o diretor. “A renda fixa não é pouco volátil, como sempre achamos. Diversificar riscos, portanto, torna-se uma estratégia fundamental de longo prazo para mitigar perdas”, complementa.
A rentabilidade dos planos da Valia foi de 3,86% em 2013 – bem abaixo da meta atuarial de 10,84%. Os destaques positivos foram o desempenho da carteira de imóveis (18,9%%) e de estruturados (6,12%). Já a renda variável acumulou perdas de 6,8% no ano.
“Reduzimos, no último trimestre, posições em renda variável. Nossa política de investimentos foi ajustada ao longo do ano. Foi preciso uma gestão mais ativa para enfrentar a volatilidade sem fugir do longo prazo”, destaca Wanderley. Entre janeiro e dezembro do ano passado, a Valia aumentou exposição em renda fixa de 58,9% para 62,5%, cortou aplicações em renda variável de 25,24% para 18,75% e elevou aportes em fundos estruturados, cujos percentuais de alocação passaram de 3,65% para 4,18%.
Para este ano, a principal aposta de diversificação será a carteira de ativos no exterior. A fundação tem enviado carta-convite às gestoras para dar início ao processo de seleção da asset responsável pela carteira (ver matéria nesta edição).
Para minimizar perdas, a Fundação Cesp optou pelo conservadorismo, reduzindo participação em bolsa e vendendo posições de curto prazo em renda fixa para ter mais liquidez em caixa. “Na contramão das demais instituições, trocamos a marcação na curva para a metodologia de mercado em nossa carteira de renda fixa. Isso nos deu mais flexibilidade para mexer nas alocações dos papéis ao longo do ano”, afirma o diretor de investimentos e patrimônio da Cesp, Jorge Simino. Para ele, a marcação a mercado é a alternativa que melhor reflete os riscos das carteiras, embora, em 2013, a precificação na curva tenha ajudado muitas fundações a fugir da volatilidade.
No ano passado, a rentabilidade média dos planos da Fundação Cesp foi de 1,82%, diante de uma meta atuarial de 11,3%. As maiores alterações feitas ao longo do ano foram em renda variável, cuja alocação passou de 21% para 19% do patrimônio, e em imóveis, de 2,8% para 3,2%.
“Na renda variável, vendemos ativos da carteira atrelada ao IBX e ampliamos a de dividendos. Já na fixa, como as taxas de 2012 tinham fechado muito, vendemos uma parte em 2013 para realizar lucro. Também apostamos em crédito privado para diversificar”, diz Simino.
Entre as três maiores fundações do país, a Previ, Petros e Funcef, foram as rentabilidades em ativos estruturados as que mais se destacaram no período, com ganhos acumulados em 21,3%, 17,4% e 20,22%, respectivamente.
Na Funcef, foram realizados cinco investimentos estruturados ao longo do ano passado, em um total de R$ 700 milhões investidos, dos quais quatro com gestores terceirizados, e um via análise proprietária. Entre os FIPs dos gestores terceirizados, dois aplicam no segmento de tecnologia da informação e telecomunicação e os outros dois são focados em infraestrutura e logística. “Os setores escolhidos estão em linha com nossa estratégia de alocação em empresas provedoras de ganhos de produtividade para a economia”, diz Maurício Marcellini, diretor de investimentos da Funcef. Já o investimento proprietário foi na Odebrecht Utilities, companhia do segmento de tratamento de resíduos para grandes indústrias.
A Funcef possui atualmente mais de 150 empresas investidas direta ou indiretamente na categoria estruturado. “Esses investimentos encontram-se próximos de sua maturidade dentro do ciclo de private equity, sendo que muitos já superam a curva J, seja via desinvestimentos, seja via reavaliação de ativos de acordo com eventos de liquidez relevantes dentro do fundo”, explica Marcellini.
Segundo José Ribeiro Pena Neto, presidente da Abrapp, um importante diferencial dos fundos de pensão de grande porte é que parte das aplicações em renda variável não está “marcada a mercado”. “Algumas entidades têm participações diretas expressivas em companhias, ou seja, são acionistas. Esses ativos são marcados no balanço por seu valor econômico, e não o valor de mercado”, diz. Isso, na opinião do executivo, contribuiu para que o resultado global das maiores entidades não fosse tão baixo.
“A maioria das fundações ficou mais preocupada em apagar incêndio do que diversificar. Mas tudo o que vivemos no ano passado trouxe um aprendizado valioso”, diz. A rentabilidade das carteiras foi a menor desde a crise de 2008, quando os rendimentos médios das fundações foram negativos em 1,6%. Este ano, quem soube garimpar conseguiu atingir resultados melhores. “Na renda fixa, prevaleceu a estratégia de marcar na curva para minimizar exposição à volatilidade. Já na renda variável, as melhores escolhas ficaram de fora dos índices tradicionais da bolsa. Os estruturados foram fundamentais para reduzir prejuízos, pois esta classe de ativos surpreendeu, registrando a melhor rentabilidade do ano”, analisa.