Carteiras sobreviventes | Mesmo em ano complicado, diversos fundo...

Arlete de Araujo Nese, da BanesprevTiago Novaes Villas-Bôas, da Fundação EcosLuiz Paulo Brasizza, da VWPPAs 10 Mais RentáveisAtivos de Renda FixaAtivos de Renda VariávelInvestimentos EstruturadosAtivos ImobiliáriosEmpréstimos a ParticipantesEdição 261

 

Em um ano difícil para os fundos de pensão como foi 2013, os melhores resultados ficaram com as carteiras de renda fixa com ativos marcados na curva. Estratégias diferenciadas para as carteiras de renda variável e estruturados também contribuíram para melhorar os retornos, ou pelo menos, para reduzir as perdas.
Entre os fundos de pensão que se beneficiaram com a marcação dos ativos na curva está o Banesprev, fundo de pensão do antigo Banespa, hoje patrocinado pelo Santander. Com patrimônio na casa dos R$ 11,7 bilhões, o fundo tem 90% dos investimentos concentrados em títulos públicos. “A estratégia foi a manutenção dos títulos na curva. No final de 2012, início de 2013, houve aquela correria, com a redução da taxa de juros, ficávamos observando o valor dos ativos marcados a mercado, mas no nosso caso não fazia sentido mudar”, afirma Arlete de Araujo Nese, responsável pela gestão financeira e de investimentos da Banesprev. “A tentação foi grande, mas tomamos a decisão de não correr risco de mercado”, diz.
Se tivesse optado por marcar a mercado apenas uma de suas carteiras quando a Selic estava em queda, a gerente fala que o ganho seria em torno de 40%, com um ganho de cerca de R$ 3 bilhões. Hoje a Banesprev tem seis planos de benefícios, sendo quatro de benefício definido (BD) e dois de contribuição variável (CV), sendo que esses últimos representam apenas 5% do fundo. Outro ponto que contribuiu para que a Banesprev mantivesse seus títulos na curva foi o fato dos títulos em carteira da entidade serem antigos com prêmios altos. “Temos R$ 5 bilhões em NTN-Cs para vencer em 2031 a 12% ao ano”, exemplifica Arlete.
A Fundação Ecos, do extinto Banco Econômico, é outro caso que conseguiu se destacar graças à manutenção de uma carteira com alto estoque de títulos públicos marcados na curva. Um diferencial do fundo de pensão é o destaque também com a carteira de crédito privado. Com patrimônio de R$ 790 milhões, cerca de 60% corresponde a títulos públicos e 20% a crédito privado. “Fizemos um alongamento da duration das carteiras há muito tempo e mantivemos a marcação na curva”, diz Tiago Novaes Villas-Bôas, diretor financeiro da Fundação Ecos.
A estratégia permite uma situação confortável para a seleção de novos ativos na carteira. “Com o alongamento das carteiras, não ficamos reféns para comprar qualquer ativo. Aproveitamos as melhores janelas de oportunidades tanto com as NTN-Bs quanto com debêntures e demais ativos privados”, diz Villas-Bôas. Ele ressalta a estratégia de aquisição de DPGEs em 2012 como um acerto. “É nos momentos de estresse do mercado que costumam aparecer as melhores oportunidades”, ilustra o gestor.
Outro motivo ainda para o bom desempenho da renda fixa da Ecos foi a presença de grande parte dos ativos indexados ao IGPM. Apesar da meta atuarial estar vinculada ao INPC, a equipe da Ecos veio priorizando a alocação em ativos com benchmark em IGPM, por entender que o índice tinha melhores perspectivas de retorno.
A Previrb, fundo de pensão do IRB Brasil, é outro fundo de pensão que ficou bem ranqueado na carteira global, devido basicamente à adoção do método da marcação na curva. “Basicamente, elevamos posições em NTN-Bs, em um movimento de alongamento de carteira. Junto com os papéis privados presentes em nosso portfólio, com taxas de remuneração favoráveis, essa tática se mostrou acertada visto que os indexados à inflação tiveram um desempenho melhor ao longo de 2013”, diz João Bosco Quadros Barros, diretor financeiro do Previrb. A fundação do IRB ainda foi beneficiada pela reavaliação de sua carteira de imóveis, que teve rentabilidade de 61,63% em 2013.Com patrimônio total de R$ 1,64 bilhão, o fundo de pensão tem 86,2% dos recursos alocados em renda fixa e 5,5% em imóveis.
Aplicação do ALM – O fundo de pensão da Volkswagen (VWPP) também se destacou com a adoção da marcação na curva dos ativos. “O bom desempenho é resultado da aplicação do estudo de ALM que realizamos desde 2006”, diz Luiz Paulo Brasizza, diretor de investimentos da VWPP. O estudo indicou a importância da mudança da marcação a mercado para o método da marcação na curva para o plano BD. “Decidimos retirar a volatilidade da carteira e blindar nosso plano BD”, diz o diretor.
Já para o plano de contribuição definida, o destaque em termos de retorno ficou com um fundo de crédito privado e títulos públicos, com gestão da GAP Prudential. É um fundo criado no início de 2013 e que foi crescendo até atingir o patrimônio de R$ 200 milhões atuais. É formado por ativos como CCIs e CRIs, junto a uma parcela de NTN-Bs.
Na renda variável, o fundo da Volkswagen promoveu um processo de diversificação. Antes, o fundo contava com um único fundo indexado ao IBr-X. Então, decidiu migrar cerca de 30% desses recursos, que somam R$ 170 milhões, para fundos abertos de renda variável de small caps e valor.
Renda variável – No Isbre, fundação dos funcionários do Banco Regional de Desenvolvimento do Extremo Sul (BRDE), a estratégia para ter um bom desempenho na renda variável foi a de se descorrelacionar dos índices mais tradicionais do mercado, como o Ibovespa, que amargou perdas de 15,5% no ano passado. “Buscamos fundos de valor, referenciados em indicadores mid e small cap, e também estratégias com um tracking error elevado”, afirma Carlos Salani, gerente financeiro do Isbre.
Hoje a casa conta com três gestores terceirizados, um a menos do que no ano passado. “Não faz muito sentido ter muitos gestores, porque o nível de diversificação aumenta, a convicção diminui e você acaba se aproximando mais do mercado”, fala Salani.
Apesar da busca pelo descorrelacionamento, o gerente ressalta que, durante o segundo semestre do ano passado, e mesmo no início de 2014, o Isbre optou por diminuir a posição nas mid e small caps, por entender que a situação macroeconômica não estava tão favorável para esse nicho do mercado. Em seu lugar entraram fundos de ações livres, e também fundos que privilegiam a liquidez, ainda que a procura por produtos com tracking error elevado frente aos benchmarks não ficou de lado.
Em 2013, com a elevação da taxa básica de juros no país, fala Salani, o Isbre entendeu que seria um bom momento para elevar a participação em ações, e aumentou a alocação em equities em cerca de um ponto percentual, para 7%, dentro de um patrimônio de R$ 700 milhões. “Quando os juros sobem, os analistas antecipam que vai machucar a empresa e colocam no preço e nas projeções de retorno, de receita. Não vou entrar quando os juros estiverem em 3% porque todo mundo já vai estar lá”, diz o gestor.
Já na Funterra, fundo de pensão dos funcionários da Terracap, a Agência de Desenvolvimento do Distrito Federal, a opção foi por aplicar a renda variável em fundo de fundos (FOF, na sigla em inglês), hoje sob a administração do Itaú. “Atribuímos o desempenho ao veículo selecionado, o Itaú FOF RPI 30 Ações Ibovespa Ativo. No período de abril a dezembro de 2013 esse fundo apresentou uma rentabilidade de aproximadamente 6% acima do Ibovespa”, fala Gilvan Cândido da Silva, diretor superintendente da Funterra.
Além disso, o momento de entrada na bolsa, quando o Ibovespa estava na casa dos 52 mil pontos, em abril do ano passado, também foi um ponto citado por Silva. No mês seguinte o índice bateu os 56 mil pontos, patamar próximo ao que se encontra atualmente. “A fundação julgou ser adequada a aplicação em renda variável naquele instante, considerando-se a conjuntura econômica e, sobretudo, o horizonte de longo prazo do investimento”, diz.

Estruturados – Além do destaque na renda fixa, o Banesprev também conseguiu boa rentabilidade com os estruturados. A carteira já conta com um histórico de investimentos em fundos de investimento em participações (FIPs), nos quais aplica desde 2004, e que hoje somam 16 em carteira. “Como o Banespa era um banco de patrocínio do tipo público, até ser privatizado no ano 2000 através da incorporação do Santander, mantivemos relacionamentos com grandes fundações também com patrocínio do tipo público, encontramos oportunidades ao longo do tempo e fomos formando nossa carteira”, afirma Arlete de Araújo Nese.
Alguns FIPs nos quais a entidade fez aportes já estão em fase de desinvestimento, mas existem outros, a maior parte, que ainda estão em fase de integralização do investimento, ressalta a gestora, e, até por isso, parte da rentabilidade apresentada em 2013 pelos estruturados da Banesprev é fictícia, uma vez que ainda não foi concretizada.
Ainda assim, houveram cases interessantes ao longo do ano passado, recorda a especialista, como o de empresas investidas via FIPs que vieram ao mercado secundário, mas ainda permanecem dentro do fundo, como uma delas que teve uma valorização de 15% no período.
A área de energia ocupa parte preponderante dentro do portfólio de FIPs da Banesprev. “O retorno em cima dessas estruturas acaba sendo um pouco menor em relação a empresas de tecnologia, mas acreditamos que a infraestrutura apresentaria um retorno mais estável”, diz Arlete. Além da energia, FIPs que atuam nos setores de florestas e de educação também compõem a carteira.
Os investimentos alternativos representam apenas 2% do patrimônio do fundo de pensão, que hoje soma aproximadamente R$ 11,7 bilhões, mas esse percentual subiria para 4% caso os investimentos integralizados também fossem considerados.