Edição 249
Ao analisar a rentabilidade dos fundos de pensão que ficaram nas primeiras posições do ranking Top Atuarial, a maioria tem um fato em comum. É o excelente desempenho da carteira de renda fixa, alcançada graças à performance dos estoques de títulos públicos adquiridos com altos prêmios, bem acima das metas atuariais. Como diversos fundos de pensão passaram a adotar o sistema de marcação a mercado, as carteiras de estoques antigos de NTN-Bs e outros títulos federais registraram forte valorização devido ao fechamento dos prêmios dos leilões do Tesouro a partir do final de 2011 até o encerramento do terceiro trimestre de 2012.
Além do desempenho positivo na renda fixa, os fundos de pensão também registraram forte valorização das carteiras de imóveis. A alta dos preços dos imóveis corporativos, além da subida da renda de shopping centers também beneficiou o desempenho das carteiras imobiliárias das entidades. Nos demais segmentos, a rentabilidade dependeu da estratégia adotada em cada fundação. Apesar do desempenho modesto do Ibovespa em 2012, diversos fundos de pensão superaram o índice de bolsa com as carteiras com mandatos de valor, small caps e outras estratégias mais ativas.
A entidade que liderou o ranking Top Atuarial, o Funbep, alcançou a primeira posição de rentabilidade geral devido à valorização da carteira de NTN-Bs. “Antecipamos o movimento de corte nos juros e compramos uma grande quantidade de títulos públicos a fim de travar as taxas dos planos”, diz Gabriel Amado de Moura, responsável pela área de investimentos do fundo. O Funbep é o fundo de pensão do antigo Banco do Estado do Paraná, que foi vendido para o Itaú. A fundação mantém atualmente uma carteira total de investimentos de R$ 4,11 bilhões, dos quais 93,21% estão concentrados em renda fixa.
Com uma gestão integrada de ativos e passivos, Moura resume que o desempenho da carteira em 2012 se deu por conta dos estoques de títulos. Em escala menor, o desempenho da estratégia de renda variável também foi positiva e ultrapassou benchmarks como Ibovespa e IBr-X. A carteira de renda variavel não chegou a bater as metas atuariais, porém, não afetou o desempenho global das carteiras, porque representa apenas 2,80% do total de ativos. A rentabilidade nominal do plano em 2012 foi de 35,40%.
A segunda posição de destaque para a rentabilidade global ficou com a Fundação Elos. O diretor financeiro e administrativo, Geazi Correa, conta que 2012 foi marcado principalmente pela concentração da carteira do fundo de pensão em renda fixa, com destaque para a performance das NTN-Bs. Também neste caso, o fechamento das taxas rendeu ganhos significativos à carteira da entidade, que havia adquirido um alto nível de títulos federais nos anos anteriores. Hoje com 80% do patrimônio em títulos públicos, o dirigente explica que no último ano também houve um processo de migração de uma grande parcela de pessoas entre planos de benefícios, o que também acabou influenciando no crescimento da rentabilidade. “Para garantir a segregação, tivemos que tirar alguns papéis da marcação na curva e levá-los para a marcação a mercado”, conta.
A mudança do sistema de marcação na curva para a precificação a mercado, provocou uma forte valorização na carteira da Elos. O fundo de pensão fehou 2012 com investimentos em R$ 2,42 bilhões. Os planos de benefícios da fundação mantêm taxas de 5% e 5,5% mais o INPC. Correa diz ainda que na renda variável os retornos também foram expressivos. Com 15% de concentração no segmento, houve aumento em cerca de R$ 70 milhões para a carteira de fundos de ações. A renda variável é considerada como uma alternativa para garantir a diversificação do portfólio. “Já incorporamos a ideia de que todo o dinheiro novo que entra no fundo será repassado à renda variável e projetamos a participação em mais dois fundos deste tipo no ano passado, o que acabou acontecendo no início deste ano. Mesmo com um mercado instável, tentaremos manter essa diretriz”, diz o diretor da Elos.
A terceira maior rentabilidade global ficou com a Fundação Forluminas (Forluz). Com uma carteira total de investimentos de R$ 11,80 bilhões, o fundo de pensão figura entre as dez maiores entidades. O destaque entre os segmentos de aplicações também ficou por conta da renda fixa. A carteira de renda fixa da Forluz representa 76,83% dos ativos da fundação e também apresenta forte exposição ao títulos públicos federais do tipo NTN-Bs.
Destaques na renda fixa – A Funcesp ficou com a primeira colocação no segmento de renda fixa. Com cerca de 73% de seu portfólio em renda fixa, o fundo de pensão aproveitou o movimento de afrouxamento monetário promovido até o ano passado pelo Banco Central (BC), e liderou a rentabilidade nesse segmento. “Um papel de 17 anos, por exemplo, com o fechamento de 1% da taxa, valorizou 17%”, diz Jorge Simino, diretor de investimentos da fundação.
O rendimento da fundação em renda fixa chegou a 15% em 2012, e saltou para a faixa dos 25% se considerarmos as operações de marcação a mercado. Justamente a marcação a mercado, do título NTN-C 21, papel atrelado ao IGP-M que não é emitido há cerca de três anos, é apontado por Simino como uma das causas para justificar a liderança de sua fundação na renda fixa, que proporcionou, com folga, o cumprimento da meta atuarial de IGP-DI (acumulou alta de 8,10% em 2012) mais 5,9%.
Enquanto assets e fundos de investimento em geral sofrem com a incerteza dos resgates de seus participantes em momentos de incerteza do mercado, os fundos de pensão contam com um fluxo de caixa mais controlado, o que lhes proporciona uma “capacidade muito maior de sustentar sua posição”, pondera o diretor da Funcesp.
Na sequência do ranking da renda fixa, aparecem a Fundação Celesc (Celos) e Nucleos, seguidas por Elos e Sistel. A Fundação Celesc, com investimentos da ordem de R$ 2,47 bilhões, tem 65,28% dos ativos concentrados na renda fixa. Os mais focados em renda fixa, que são Prevcummins e OABPrev-MG apresentam 100% dos investimentos totais concentrados no segmento. E todos os dez mais focados em ativos de renda fixa, possuem concentração acima de 92% da carteira total.
Demais segmentos – O ranking Top Atuarial traz também os destaques nos demais segmentos das carteiras de investimentos. Na renda variável, as primeiras posições ficaram com os fundos de pensão Telos, Derminas e Prevcoke. Na sequência aparecem a Acesita Previdência Privada e Fundação Itausa Industrial. Mesmo com a rentabilidade modesta do Ibovespa em 2012, as carteiras de renda variável de todas essas fundações registrou valorização de mais de 20% no ano passado.
Entre os mais focados na renda variável, aparece a Previ na primeira posição. O fundo de pensão dos funcionários do Banco do Brasil apresenta 59,55% dos ativos totais concentrados na renda variável. Desta carteira, cerca de um terço representa a participação no controle acionário da Vale – avaliada atualmente em cerca de R$ 30 bilhões. Na segunda posição entre os mais focados, aparece o Paraná Fundo Multipatrocinado, com 47,88% de concentração na renda variável, seguido pelo Portus, com 39,47%. Na sequência aparecem outros dois dos maiores fundos de pensão do país, a Petros, com 37,16%, e a Funcef, com 35,62%.
O segmento de imóveis também apresentou forte rentabilidade. Os destaques ficaram com a Capaf, Fundação IBM e Prevdata. Em seguida aparecem CBS (fundo dos empregados da CSN) e Elos. Em alguns casos, a rentabilidade ao redor de 100%, é explicada pelos processos de reavaliação das carteiras imobiliárias. Como o intervalo entre uma reavaliação e outra pode levar até três anos, com a valorização do mercado imobiliário, a carteira pode registrar forte alta quando a reprecificação é concluída.
No segmento de investimentos estruturados, as maiores rentabilidades ficaram com Prevhab, Cibrius e Fundação Itaú-Unibanco. Para finalizar, no segmento de empréstimos a participantes, os destaques ficaram com Fundiágua, Funasa e Serpros.