Edição 350
O primeiro semestre deste ano veio de um cenário de maior incerteza e de alta volatilidade que marcou os mercados no pós-pandemia e, nesse ambiente, os investidores fizeram sua seleção de gestores olhando para três requisitos básicos – processos, performance dos produtos e profissionais, aponta Luiz Sorge, head para América Latina da BNP Paribas Asset Management. Segundo ele, a participação de 40,9% do segmento de fundos de pensão no AuM total da casa é resultado da observância a esses requisitos. “São investidores que levam em conta processos de investimento bem definidos, assim como controles dentro do padrão global inclusive em risco e compliance”, diz.
No segundo aspecto, o de performance, a asset conseguiu calibrar as doses de risco durante a pandemia, o que também teria contribuído para garantir retornos na renda fixa/crédito privado dentro do perfil high grade. “Somos sempre conservadores, sem deixar de olhar para oportunidades, o que ajudou a nos destacar também em renda variável e fundos de fundos” diz. No exterior, os produtos foram bem alinhados e trouxeram resultados. A prestação de serviços além da gestão, como a elaboração de relatórios, e a equipe de profissionais contribuíram para alavancar esse crescimento, que tem trazido mais mandatos institucionais desde 2017/2018. A posição no Brasil reflete o foco global da casa, lembra Sorge.
Além da gestão, ele explica que um trunfo essencial para atrair esse público está na compreensão da fundação como um todo. “Procuramos entender o fundo de pensão e saber quais são os passivos que os ativos investidos estão sustentando, o que nos leva a preservar capital ao mesmo tempo em que buscamos oportunidades no mercado, um foco que é percebido pelas EFPC”, acredita. A expectativa é de fechar este ano com cinco novos mandatos de fundações, entre fundos exclusivos e alocação em outros fundos, o que deve agregar mais R$ 1 bilhão ao segmento.
Outro destaque tem sido a maior demanda das fundações por fundos de fundos (Fofs), já que elas se beneficiam do processo global de investimentos, com 50 gestores externos, o que permite diversificar a alocação em estratégias e em gestores. Dos atuais 120 clientes institucionais da casa, sete são EFPC que alocam em fundos de fundos voltados para estratégias locais e internacionais. As perspectivas sinalizam aumento do apetite por risco em 2023, avalia Sorge. “Vimos este ano, com o ciclo de juro muito alto, a redução do risco nas carteiras e maior interesse por renda fixa, mas a queda do juro no próximo ano poderá trazer a tomada de mais risco, embora ainda seja preciso aguardar pela definição das políticas de investimento das fundações”, diz.
O volume de investimento no exterior foi reduzido este ano pelos fundos de pensão mas a visão desse público é de longo prazo, busca uma alocação global que seja estratégica e não tática, e no momento a gestora enfatiza os fundos temáticos globais. “Temos focado muito em fundos que investem em ativos ligados à transição da matriz energética, por exemplo, e aos critérios ESG, tanto no mercado local quanto no internacional”, conta. A asset está prestes a ter seu terceiro fundo 100% em concordância com os princípios de sustentabilidade, embora todos os seus fundos passem por esses filtros. No caso dos produtos 100% ESG, figura um fundo de crédito que foi o primeiro fundo de investimento no País a receber o sufixo IS (Investimento Sustentável) da Anbima, o segundo é outro fundo de crédito e o terceiro será um fundo de ações.
A Caixa Asset Management aproveitou o ambiente de taxas de juros elevadas para expandir sua oferta de estratégias junto aos fundos de pensão e outros institucionais. A asset cresceu em ativos de fundações, além de continuar a avançar no segmento de previdência aberta. “O Brasil antecipou o aperto monetário que agora ocorre em outros países e, nesse ambiente, o desafio dos gestores foi reposicionar seus produtos para serem mais resilientes, inclusive com maior oferta de renda fixa. Foi fundamental a oferta de fundos em IPCA, usados principalmente pelos institucionais, e tivemos também captação expressiva nos fundos de vértices de títulos públicos para esses investidores atingirem suas metas”, conta Gabriel Dutra Cardozo Vieira de Goes, diretor-presidente.
Os investimentos em ativos de crédito também contribuíram positivamente para a performance da renda fixa este ano, uma tendência que deve perdurar em 2023, acredita. Ele lembra que desde 2021 a indústria vive um momento difícil para os ativos de risco nos mercados doméstico e global, o que levou a asset a fazer um movimento de rotação de suas carteiras para sair do mercado de bolsa nos EUA, além de ter sofrido em seus fundos BDR.
Ao mesmo tempo, o crescimento da captação da asset esteve muito ligado ao seu DNA e ao expertise em renda fixa, o que ajudou em tempos de taxas elevadas. Fundos de pensão e entidades abertas de previdência são públicos mais sensíveis a esse tipo de migração, enquanto os RPPS foram em busca desses títulos para bater suas metas utilizando suas próprias carteiras de renda fixa. A asset, que aparece na segunda posição em volume de gestão para RPPS, apresentou queda de 4,85% nesse segmento em seis meses. “Os recursos da previdência privada vieram junto com o business de previdência da Caixa Seguridade e o volume cresceu graças a uma bela segmentação que fizemos junto aos clientes, olhando mais para o longo prazo e saindo dos fundos apenas de CDI”, explica.
O objetivo foi buscar mais recursos das entidades fechadas de previdência complementar, manter o crescimento forte em previdência privada como um todo, além de manter posição junto aos RPPS. A expansão junto às fundações este ano pode ser atribuída ainda às estratégias de fundos multimercados, que têm tido performance positiva este ano, com destaque para o FIC estratégia livre e o fundo de juros e moedas. Além do FIC de ações livres quantitativo, que conseguiu entregar retornos acima do Ibovespa.
Multimercados, quantitativo e crédito privado são apostas a serem mantidas para o próximo ano. “Grande parte do ajuste dos juros já foi feito pelo Fed, que deve terminar seu ciclo de alta no início de 2023. Agora vivemos uma batalha de expectativas em relação ao nível da taxa e já houve uma reprecificação de dívidas no mundo todo, movimentos que temos conseguido capturar bem nos nossos fundos multimercados”, diz. Na renda fixa, a casa por enquanto está vendida em inflação implícita e, no crédito, a percepção é de que a indústria de fundos continua sub-alocada, o que traz um cenário ainda construtivo para crédito corporativo e alguns fundos estruturados.
Os fundos de investimento no exterior tiveram um ano atípico, diante da queda nas bolsas lá fora e do câmbio entre o dólar e o real, que ficou relativamente confortável e sem uma variação que compensasse a desvalorização da renda variável global. Embora esses movimentos tenham assustado alguns investidores, que resgataram, a casa tem visto maior saída de recursos por parte das pessoas físicas e não dos institucionais. Foram lançados novos produtos, voltados à renda fixa global, tendo em vista a reprecificação de taxas que já foi feita até agora e pensando em aproveitar os bons preços de ativos, assim como novas estratégias quantitativas. Mas a asset considera que tem um grade de fundos com track record consolidado e que são suficientes para suprir a demanda. O processo de requalificação de portfolio já vinha ocorrendo há algum tempo, com a busca de bons fundos e bons gestores de renda variável para o investidor institucional poder se posicionar melhor lá fora. Na renda fixa, a busca é por fundos um pouco mais sofisticados, com uma dose maior de risco e retorno.
Por Segmentos (em pdf)