Aposta na inflexão dos juros | Com a interrupção da alta dos juro...

Edição 350

Como resultado de um primeiro semestre caracterizado pelo efeito da alta do juro no mercado local, aliado ao menor apetite ao risco e a um cenário macroeconômico e geopolítico cada vez mais complexo no exterior, a indústria de gestão de recursos revela, até junho, uma forte concentração de volumes alocados em veículos de renda fixa/crédito privado, além do aumento do total sob gestão em fundos previdenciários e FIDCs (Fundos de Investimento em Direitos Creditórios). Há uma forte demanda também por fundos de fundos, em especial no caso dos investimentos dos fundos de pensão.
No cenário difícil para a renda variável, em que os fundos de ações estão entre os que mais perderam recursos no semestre, as casas com maior capacidade de diversificação de grade e de produtos, assim como de passivos, sofreram menos. Os fundos multimercados, embora tenham apresentado este ano performances superiores às de 2021, ainda não vêem isso refletido no seu ritmo de captação. As perspectivas para 2023 apontam um cenário de incertezas crescentes no plano global e a discussão sobre o timing do início do ciclo de queda do juro no Brasil.
Na BB Asset Management, os dois principais pontos de captação foram os fundos de renda fixa ativa e os fundos de crédito, classes que ganharam inclusive novos produtos, informa Marcelo Pacheco, diretor de gestão de ativos. “Este ano tem sido caracterizado pela reversão na trajetória de baixa dos juros que havia ocorrido ao longo de três a quatro anos e que foi o principal motivador da demanda por alocação em ações, multimercados e exterior, atingindo seu ápice quando a Selic chegou a 2% ao ano”, diz.
Este ano, ainda que de forma parcial e temporária, o comportamento dos investidores foi na direção contrária, reagindo à elevação de juros aqui e no mundo com o maior fluxo para a renda fixa. A indústria de fundos, que tinha visto uma grande diversificação de carteiras nos últimos anos, sofreu um revés. “Mas isso é provisório porque o elemento estrutural não se modificou, ou seja, a diversificação veio para ficar. À medida que as carteiras precisam de ativos com retorno esperado maior, será necessário incluir os multimercados e ações”, afirma.
Levando em conta que o ciclo de aperto monetário no Brasil está mais maduro, os gestores, inclusive a BB Asset, retomam o interesse pela bolsa doméstica, mais atrativa do que as do exterior. “O BC sinalizou o fim do processo de ajuste do juro e vamos ver performances melhores na renda variável e nos multimercados. Os investidores dão sinais de perceber isso e neste segundo semestre a bolsa já bateu a variação do CDI, embora haja riscos vindo de fora que não podem ser ignorados, a começar pelo movimento brusco de alta do juro nos EUA”, observa. A casa ampliou um pouco o nível de risco de suas carteiras de renda variável e aposta que, salvo alguma notícia muito fora das projeções no campo geopolítico, a pior para a bolsa local já passou.
Os fundos de exterior, que tiveram demanda reduzida por conta do cenário melhor no mercado local, devem começar a refletir melhores oportunidades para renda variável e renda fixa globais a partir da virada do ano. “Isso porque boa parte da reprecificação de ativos no mundo já ocorreu, embora ainda falte uma parte do ajuste. Em renda fixa, estamos tentando manter a exposição mais curta possível e, no mercado de equities, ficar também o mais conservador possível porque o cenário continuará desafiador”, afirma. A asset tem aprimorado também sua assessoria de private bank no exterior.
Apesar de acreditar na continuidade da demanda por renda fixa e crédito, os fundos multi estratégia não saíram no radar e a gestora está criando uma área de high alfa para gerir produtos com maior retorno esperado. Além disso, prepara o lançamento, ainda este ano, de uma área com foco específico em fundos quantitativos. “Estamos atentos a essas duas áreas, com aumento das equipes. Nos quantitativos, já temos estratégias mas a nova área irá reuni-las”, informa.

Com uma atuação em escopo amplo e competidores diferentes em cada classe, a Itaú Asset Management segue três linhas básicas: estratégias passivas/indexadas; o asset core, que inclui renda fixa e outras estratégias tradicionais e também mandatos exclusivos; e os mandatos de retorno absoluto que são geridos no modelo multimesas – fundos multimercados e fundos de renda fixa com maior volatilidade (unconstrained), renda variável e crédito estruturado.
A área de multimesas, que captou R$ 17,3 bilhões entre os meses de janeiro e junho, com R$ 92,1 bilhões em AuM em 30 de junho, superou o R$ 100 bilhões sob gestão no mês seguinte, julho. “Há 14 mesas hoje nesse business, cada uma atuando de modo independente. No primeiro semestre deste ano, tivemos um crescimento importante em multimesas, com destaque para três caixinhas de alocação: renda fixa ativa, com maior volatilidade; multimercados e crédito estruturado”, informa Stefano Catinella, diretor comercial. No período de janeiro a junho, a captação do multimesas só em crédito estruturado foi de R$ 1 bilhão, totalizando AuM de R$ 4,6 bilhões nessa classe em junho.
Já no crédito tradicional/DI com crédito, que pertence à área de asset core, a captação foi de R$ 8 bilhões no período, totalizando AuM de R$ 139.8 bilhões até junho. O crédito privado, diz Catinella, cresceu tanto nas estratégias tradicionais até o high yield e capturou bem a migração dos investidores. O crescimento da captação foi mais forte no crédito tradicional porque no estruturado, embora tenha avançado bastante, os números ainda são menores.
Na classe de renda variável, entretanto, a casa não teve crescimento pois foi um período complicado para esse segmento da indústria, com a forte migração para a renda fixa, lembra Catinella. As maiores reduções ocorreram exatamente em renda variável e também no business de asset allocation, voltado para o público de varejo. A asset conseguiu navegar melhor nos fundos multimercados, que também sofreu resgates no semestre. “Mesmo gerando um alfa bom, os multimercados acabaram sofrendo resgates porque o investidor olhou para o CDI do ano passado e fez comparações que passaram a ideia de um resultado ruim. Este ano foi um dos melhores períodos no histórico da indústria para os multimercados, com retornos acima de 10% nominais. Aqui conseguimos capturar captação para esses fundos e a família de multimercados Optimus teve captação interessante, chegou a R$ 40 bilhões antes de fechar.
Outra vertente de crescimento é a de fundos de fundos, os Fofs cada vez mais demandados pelos fundos de pensão. “Hoje temos R$ 230 bilhões sob gestão em fundos de fundos, a maior parte alocada no mercado local, pela performance fraca da indústria de equities e bonds lá fora, que sofreram muito, mas temos recebido demandas também por Fofs globais em mandatos específicos”, diz.

Atenta a uma estratégia clara de diversificação não só nos ativos mas também em relação aos seus passivos, a SPX Capital pretende seguir ampliando sua grade de verticais e de produtos. “Quanto mais verticais sólidas tivermos, mais perene será a gestora”, observa Bruno Marangoni, sócio e portfolio manager. Ele observa que no Brasil há ainda uma ideia equivocada de que os gestores independentes deveriam ser todos monoprodutos mas o problema é que, quando o ciclo do mercado muda, os que têm apenas um tipo de produto podem ser dizimados. “É o que estamos assistindo este ano na bolsa”, pondera.
A busca é por investidores cujos passivos sejam mais de longo prazo e, portanto, mais perenes, como acontece em outros países. Institucionais estrangeiros como fundos de pensão, endowments e fundos soberanos e, no âmbito local, os fundos de pensão estão nesse foco. A casa montou um time exclusivo para isso e aposta nos efeitos da terceirização da gestão das fundações. “Em recursos de fundos de pensão e previdência aberta, a captação foi relevante este ano”, afirma. Boa parte da variação positiva no total sob gestão veio da rentabilidade do fundo flagship multimercado, o Nimitz, que rendeu 30% no ano até outubro.
“O carro-chefe está nos multimercados, mas já somos uma gestora relevante também fora dessa classe. Os fundos de crédito, ações, real estate e private equity já somam R$ 11 bilhões”, diz. Este ano, o principal fator de crescimento além dos multimercados veio do crédito. Entre os produtos já um fundo híbrido de local com off-shore e um de previdência.
A asset finalizou este ano a montagem de seu escritório em Portugal, para ter uma gestora europeia voltada a gestão imobiliária e multimercados macro. Além disso, está em processo de montagem do escritório em Singapura, que deverá estar em pé no primeiro trimestre de 2023. O objetivo é aumentar expertise e presença na Ásia. O cenário global ainda está muito difícil para a tomada de risco, avalia Marangoni, e a casa segue com uma visão mais pessimista em suas posições em bolsas e mercados emergentes, preferindo ficar comprada em dólar.

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