Edição 380

Se os primeiros meses do segundo semestre de 2025 tem sido claramente mais positivo para a indústria de investimentos do que foram os primeiros seis meses do ano, a expectativa para 2026 é de ver em ação diversas alavancas que levem o investidor institucional, em especial os fundos de pensão, a irem além da renda fixa tradicional, avalia Aquiles Mosca, CEO da BNP Paribas Asset Management Brasil.
O primeiro semestre deste ano ainda foi tipicamente um período de forte concentração na renda fixa para as fundações, em especial após a Resolução CNPC 61, do final de dezembro de 2024, que autorizou a marcação de títulos públicos na curva para os planos de benefício de Contribuição Definida e de Contribuição Variável. “Essa decisão teve reflexo negativo para a indústria de investimentos como um todo”, lembra Mosca, porque os recursos das entidades fechadas de previdência complementar saíram dos fundos e foram redirecionados para a compra desses papéis e a indústria registrou quase R$ 40 bilhões de resgates líquidos feitos pelas EFPC e por pessoas físicas, no segundo caso por conta das incertezas sobre a tributação.
A partir do segundo semestre, porém, com as fundações já tendo adquirido os títulos de que precisavam para suas carteiras, e com a tributação mais clara para a pessoa física, a captação dos fundos voltou a ser positiva. “Para os fundos de pensão, um destaque tem sido o crédito privado a partir de uma boa seleção de gestores, o que impulsionou a nossa captação na asset”, diz Mosca.
Além disso, como ficou claro que a taxa Selic chegou ao patamar máximo e deve começar a cair no primeiro trimestre de 2026, a renda fixa de gestão ativa está de volta. “Isso deve acontecer no ano que vem ou até no final deste ano caso a inflação volte a baixar, o que está sendo sinalizado graças ao impacto menor das importações”, afirma.
A gestora retomou a captação positiva em fundos de fundos (FoF) multimercados, o que reflete o processo de troca de gestores feito pelos investidores institucionais. “Ainda não há dinheiro novo mas sim troca de gestores em FoFs de multimercados, movimento que ainda não começou nos fundos de ações”, diz.
Outro fator positivo no semestre foi o aumento da procura dos fundos de pensão por investimentos no exterior. “Em outubro já temos sete processos de seleção em andamento, consequência da saída da gestora Schroders do Brasil, o que levou o investidor a procurar alternativas”, afirma Mosca. A asset também acaba de lançar um fundo de renda fixa ativa brasileira para fundos de pensão do Chile.
“Há maior interesse do investidor estrangeiro, a Ásia voltou e investidores do Japão e Coréia do Sul têm mostrado apetite por fundos de ações no Brasil. Já temos também um mandato de R$ 2,5 bilhões entre o final deste ano e início de 2026 para um institucional estrangeiro que procura ter posições de renda fixa no Brasil”, afirma.
A casa também decidiu acelerar a inclusão de toda a sua gama de fundos em plataformas brasileiras que operam lá fora, visando o investidor local. “O investidor pessoa física brasileiro nos procura e há uma tendência desse público investir mais lá fora, que deve ser acentuada em 2026”, acredita Mosca.
“Há diversas alavancas em movimento para o próximo ano, e muito espaço para reverter a atual concentração em renda fixa, com o potencial retorno de volta às demais classes, sobretudo para reinvestir em exterior, multimercados e bolsa local”, aponta.
Para os fundos de pensão, além da redução do juro há um impulso importante para 2026 que poderá ser dado ainda em 2025: o novo arcabouço regulatório, a ser anunciado pela Previc em relação aos investimentos ESG (responsabilidade ambiental,social e de governança). “Há toda uma expectativa de que as regras sejam anunciadas durante o Congresso da Abrapp, agora em outubro, o que deverá gerar maior estímulo a esses investimentos”, diz Mosca.
O maior fundo ESG da asset, com patrimônio líquido de R$ 2,5 bilhões, investe em crédito privado e tem a designação IS (Investimento Sustentável) da Anbima. “Ao todo já conseguimos materializar R$ 3 bilhões em ESG e há também fundos exclusivos ESG”, conta Mosca. Em preparação, há um fundo de infraestrutura IS.
O ano do crédito – Com R$ 1 trilhão em ativos sob gestão, dos quais R$ 480 bilhões vieram da mesa de gestão de crédito privado até agosto deste ano, a Bradesco Asset Management vê essa classe como um dos pontos de maior transformação para o mercado de investimentos brasileiro, avalia Ricardo Eleutério, COO da gestora.
“A construção desse AuM veio do investimento em diversas áreas, mas o crédito privado foi o grande protagonista do nosso crescimento, até porque o atual volume representa mais do que o dobro dos R$ 200 bilhões geridos nessa classe em 2022”, detalha.
No mercado como um todo, essa foi talvez a maior mudança, acredita Eleutério. Ele lembra que quando a taxa Selic caiu para 2% todos buscavam alternativas para investir, mas quando a taxa subiu e passou para 15%, o Brasil voltou a ser o país da renda fixa. “A principal transformação nesse ambiente veio do crédito privado, que hoje têm alta liquidez graças ao mercado secundário e hoje temos a gestão ativa de crédito como um tema”, diz.
O ano de 2025 tem sido marcado pela elevada seletividade nesse mercado, o que faz muita diferença para a geração de alpha. Na asset, que criou uma mesa específica de trading para negociar no secundário, o volume de negócios passou dos R$ 50 bilhões entre compras e vendas.
A seletividade também contribuiu para que a gestora visse a crise dos COE (Certificados de Operações Estruturadas) da Ambipar e da Braskem com tranquilidade, diz Eleutério. “Tínhamos zero exposição dos fundos a esses papéis. Desde o primeiro trimestre de 2023, quando surgiram os problemas no mercado por conta dos casos da Americanas, Light e outros, investimos mais em pessoas e em processos e somos reconhecidos como uma casa de excelência nesse mercado”, afirma.
Para 2026, a tendência é de que o fluxo para essa classe continue positivo, mesmo com os prêmios mais apertados. “Não baixamos a régua e estamos cada vez mais seletivos”, diz.
Soluções para ciclos diversos – Diante da conjuntura de juro real ainda elevado e o mercado cauteloso em relação ao riscos, a renda fixa continua a ser uma das maiores células de gestão na XP Asset, com R$ 40 bilhões frente ao AuM total de R$ 215 bilhões, informa Manuella Passini, head comercial e de RI da XP Asset. “Este tem sido um ano marcante mesmo em cenário desafiador e a casa procura ter estratégias que vão desde os ativos mais líquidos até os alternativos para poder capturar oportunidades em diferentes ciclos do mercado”, observa.
Nos diversos cenários, prevalece a necessidade de inovar sob medida, principalmente para os segmentos de fundos de pensão, RPPS e seguradoras. “O propósito é transformar as complexidades do mercado em oportunidades de desempenho, consequência direta da experiência do time”, afirma.
A casa, diz Passini, fortaleceu sua área de Investment Solutions de um ano e meio para cá para desenvolver os processos taylor made de investimentos e registrou crescimento da gestão para institucionais, segmento em que a diversificação é essencial. “Em 2025, o maior desafio tem sido a realocação de riscos e a busca por mais eficiência, o que abriu espaço para a originação proprietária. O ecossistema da XP amplia a capacidade de originação e distribuição”, explica. Ter uma oferta diversa de estratégias independente do cenário é importante para todos os segmentos, como por exemplo os RPPS, diz Passini, que têm aumentado sua demanda por fundos de investimento em participações (FIP).
O investimento ESG é uma das vertentes mais relevantes do mercado no momento e a asset tem um fundo classificado como IS de crédito high grade que já soma R$ 3 bilhões. “A célula de gestão de infraestrutura também dá ênfase ao investimento ESG, assim como na área imobiliária. Há maior demanda por parte dos institucionais e também dos fundos exclusivos, que têm um olhar mais forte para os sustentáveis, além de uma chamada grande do BNDES para o tema do clima”, observa.
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