As gestoras de recursos pautaram a sua atuação em 2019 por apostas em escala crescente em ativos de maior risco, para tentar compensar a baixa rentabilidade alcançada pelos títulos públicos com a queda da Selic. A tendência é refletida nesta nova edição do Top Asset, que apresenta e analisa os indicadores de 119 empresas do segmento. Alguns dos destaques, de acordo com o levantamento, foram o crescimento da alocação em renda variável, nos mercados local e externo, e em direitos creditórios, com evoluções de 38,92%, 21,33% e 67,55% em 12 meses, respectivamente. Já os títulos públicos, campeões absolutos da preferência dos investidores no passado recente, registraram crescimento de apenas 4,13% no mesmo período.
“O ano de 2019 foi atípico e muito positivo, com fortes valorizações de praticamente todas as classes de ativos, até mesmo daqueles mais utilizados para operações de hedge, casos de dólar e ouro”, comenta Marcelo Nantes, CIO de renda variável da Bradesco Asset Management (Bram). “A agenda econômica do novo governo brasileiro estimulou o mercado, mas o trâmite da reforma da previdência no Congresso, no plano interno, e a intensa guerra comercial travada entre Estados Unidos e China, no cenário internacional, geraram incertezas e boas doses de volatilidade.”
A renda variável foi, sem dúvida, a principal beneficiada do recuo da Selic. O Ibovespa, o principal índice da B3, fechou o ano passado com alta de 31,58%, enquanto as emissões primárias e secundárias de ações somaram R$ 90,1 bilhões no mesmo período. “Foram indicadores expressivos, mas relacionados, sobretudo, à queda dos juros. Porque a economia continuou a patinar em 2019, com um crescimento ao redor de apenas 1% e taxas de desemprego ainda elevadas”, assinala Paulo Gala, diretor-geral da Fator Administração de Recursos.
A demanda por fundos exclusivos por parte de investidores institucionais registrou alta de 5,95% nos doze meses encerrados em dezembro passado. A BV Asset, nova nomenclatura da Votorantim Asset, participou de aproximadamente 80 concorrências do gênero promovidas ao longo do último ano por entidades fechadas de previdência complementar (EFPCs) e seguradoras. “Conquistamos três novos mandatos nessas disputas, em sua maioria voltadas a fundos de fundos”, diz o head comercial Rafael Fornari.
No caso dos fundos imobiliários (FIIs), a demanda ficou praticamente estável, com alta de apenas 0,85%, mas isso principalmente em decorrência dos valores a que as cotas desses fundos chegaram, assustando alguns investidores que se retraíram. Não é o caso dos institucionais, que embora sem grandes apelos para entrar nesse tipo de fundo, uma vez que já são isentos do pagamento de Imposto de Renda, acabaram entrando. “Os fundos imobiliários entraram no radar dos institucionais há relativamente pouco tempo, com a procura se tornando mais intensa a partir do segundo semestre de 2019”, pontua Nantes. “É um interesse até certo ponto surpreendente, pois eles não têm direito aos benefícios tributários oferecidos por esses fundos.”
Fundos de direitos creditórios (FIDCs) e Fundos de Participações (FIDCs) apresentaram os maiores crescimento, embora representem um peso relativamente pequeno da indústria, respectivamente 3,51% e 3,91% o bolo total. “Os movimentos observados ao longo do último ano, com uma intensa busca dos investidores em geral por opções à renda fixa tradicional, demonstraram, uma vez mais a escassez de ativos no mercado local”, comenta Luiz Armando Sedrani, CIO da BV Asset. “Com isso, os alternativos disparam”.
Não é à toa que diversas gestoras estão providenciando mais ativos estrangeiros para as carteiras de seus fundos e reforçando suas grades com produtos 100% voltados aos mercados externos. É o caso da BB DTVM, a maior asset do país, com ativos superiores a R$ 1 trilhão sob seus cuidados. No primeiro semestre de 2019, a controlada do Banco do Brasil lançou quatro fundos do gênero, dois de ações e dois de crédito privado, em versões com e sem mecanismos de hedge, todos desenvolvidos sob medida para investidores institucionais.“No ano passado, realizamos uma verdadeira maratona de apresentações dos nossos fundos de investimentos no exterior às EFPC e RPPSs, incluindo dos mais antigos aos mais recentes”, conta o diretor comercial e de produtos da asset, Aroldo Medeiros. “O esforço resultou, entre outras conquistas, nos primeiros aportes realizados por RPPSs em nossos fundos externos.”
O apetite por mercados internacionais, observa o executivo, é maior entre os fundos de pensão do que entre RPPS. Em algumas entidades, a fatia dessas aplicações já se aproxima do teto estabelecido pela Resolução 4.661, de 10% dos recursos garantidores. “São os casos de algumas fundações privadas de menor porte patrocinadas por empresas estrangeiras, com bagagens e culturas internacionais bem mais desenvolvidas”, diz Medeiros. “Elas seguem, assim, os exemplos das entidades de suas matrizes, para as quais é inimaginável aplicar recursos em um único país ou em uma única moeda.”
Líder na gestão de recursos de entidades fechadas de previdência complementar (EFPCs) e segunda colocada na gestão de recursos de RPPSs, a BB DTVM vem dedicando especial atenção a esses públicos. Criou, em 2019, duas equipes, com cinco profissionais cada, voltadas ao atendimento exclusivo de cada um desses dois segmentos. Além disso, reforçou o cardápio para os institucionais com as apresentações de sete novos fundos – cinco em 2019, dois em março último – e o enquadramento à Resolução 4.661 de outros 11 produtos, cinco de ações e seis multimercados, no último ano.
“A ampliação do leque de opções veio na hora certa, pois se antecipou ao crescimento da demanda por risco pelos institucionais, que ganhou corpo no segundo semestre de 2019”, assinala o executivo. “Essa demanda, claro, foi interrompida no início deste ano pela eclosão da pandemia da Covid-19. Algumas entidades mais aplicadas em renda fixa estão realizando compras pontuais de ações, em volumes pouco expressivos, e várias delas estão aproveitando oportunidades criadas pelas aberturas das taxas de remuneração dos títulos públicos e privados.”
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