Em 2019, dentre os fundos de investimento da categoria de estruturados, nenhum cresceu tanto quanto os de Direitos Creditórios (FIDCs). Os negócios com antecipações de recebíveis registraram uma expansão de 72,20% no ano passado, com os ativos do nicho totalizando R$ 161,9 bilhões sob gestão.
O bom resultado dos FIDCs no ano passado se deve à combinação dos juros baixos e perspectivas econômicas favoráveis, o que fomentou a demanda das empresas por linhas de financiamento. E se antes essa busca se concentrava basicamente nos bancos, nos últimos anos um novo bolso passou a fazer parte do leque de opções dos tomadores. Gestoras de recursos como a Captalys trouxeram um modelo de desintermediação financeira ainda pouco difundido no mercado local conhecido como ‘direct lending’. Nesse caso, ao invés de adquirir no mercado títulos de emissões corporativas estruturadas por grandes instituições, a própria asset é quem faz diretamente o empréstimo de capital ao empresário. Ao excluir o banco como intermediário do processo, a Captalys consegue oferecer aos investidores taxas de retornos mais atraentes do que seria possível com uma carteira de títulos de crédito tradicional, explica Margot Greenman, presidente da gestora. E do outro lado da operação, a asset surge muitas vezes como a única alternativa para pequenas e médias empresas desassistidas pelo sistema bancário. “Trabalhamos intensamente para ampliar a oferta de crédito no país”, afirma a executiva. Os esforços dispensados por Margot e sua equipe têm surtido efeito – em 2019, o patrimônio da Captalys atingiu R$ 10,6 bilhões, o que corresponde a um crescimento de quase 3.200% em 12 meses.
“Nosso foco é voltado para as pequenas e médias empresas em diversos setores da economia como imobiliário, varejo, saúde e agronegócio”, afirma a presidente da Captalys. Segundo ela, a expressiva evolução na base de ativos da gestora não se deve somente ao ambiente propício para a concretização de novos negócios, mas também por uma mudança na forma de atuação da própria asset. “Aumentamos nossas estratégias comerciais por meio dos canais digitais e via parcerias, o que nos permitiu ocupar mais espaço dentro do segmento onde já atuávamos”, diz Margot.
Pelo foco direcionado para companhias de menor escala, o risco das operações da Captalys acaba sendo superior em comparação com o de ativos de empresas que se financiam com mais facilidade . “Para mitigar o risco, buscamos montar um produto bastante diversificado”, afirma Margot. “Ao invés de ter dez ou vinte posições em empresas grandes, temos milhares delas em empresas de menor porte”, complementa a profissional. No portfólio da gestora há empresas de mais de 60 setores diferentes da economia, e cada um deles deve sentir os impactos da pandemia de formas distintas, diz a executiva. “Temos créditos de empresas da indústria de saúde, e mesmo de embalagens plásticas, que têm reportado aumento no faturamento nas últimas semanas”.
Já para empresas mais afetadas pela crise, a gestora tem feito testes de estresse para entender qual o impacto para a rentabilidade dos fundos caso os pagamentos devidos sejam atrasados nos próximos 30, 60 ou 90 dias. “O que temos notado é que o cenário não é tão devastador, o que deve implicar em uma pequena queda no retorno mas nem perto de perder dinheiro”, afirma Margot, acrescentando que a exposição da Captalys ao setor de varejo é de apenas 3%. A gestora concedeu um período de carência de pagamento para as empresas mais afetadas em suas atividades pelo confinamento social.
Outra gestora que teve um crescimento significativo nos FIDCs em 2019 foi a BB DTVM, com uma expansão de 158,2% na categoria, para R$ 65,8 bilhões. O resultado positivo foi conquistado mesmo sem uma postura pró-ativa da gestora no segmento. “Só estruturamos fundos de direitos creditórios quando chega uma demanda da nossa carteira de grandes empresas, que geralmente buscam estruturas um pouco mais complexas de gestão de fluxo de caixa”, afirma Aroldo Medeiros, diretor comercial da BB DTVM. “Temos poucos FIDCs com volumes altos”.
Dentre os veículos de investimento em que a asset do BB adota uma postura comercial mais arrojada, os fundos exclusivos estiveram entre os mais demandados pelos investidores. No ano passado, os produtos que têm como característica a customização de acordo com o perfil do cliente tiveram um aumento de 8,1% na BB DTVM, alcançando a marca de R$ 582,8 bilhões.
“A semelhança entre os fundos exclusivos e os FIDCs é que ambos são produtos ‘taylor made’, solicitados por clientes com demandas específicas”, diz Medeiros. De acordo com o executivo, a área de gestão de ativos conta com equipes destacadas que elaboram estratégias de renda fixa, renda variável e multimercados voltadas apenas para os fundos exclusivos.
Segundo Medeiros, tem se tornado cada vez mais comum a participação da BB DTVM em processos abertos por investidores institucionais para a seleção de gestores de fundos exclusivos. Quando se trata da estruturação de veículos que compram cotas de outros fundos, o mais comum é que o portfólio seja composto por produtos da própria BB DTVM, diz Medeiros. No entanto, há também fundos exclusivos montados pela asset que compram cotas de outras gestoras no mercado, afirma o especialista.
“Entendemos o que o cliente quer, como qual o perfil de risco e o horizonte temporal, para a customização de um produto de acordo com as características de cada investidor”, afirma o diretor comercial. “Cada fundação tem uma meta atuarial e um passivo próprios, e com os fundos exclusivos elas conseguem montar estratégias muito bem definidas”, complementa o executivo.
Medeiros diz ainda que devido à queda dos juros, além das estratégias mais tradicionais de renda fixa e variável abarcadas pelos fundos exclusivos, houve também um aumento na procura dos institucionais por veículos dessa natureza só que com investimentos no exterior. Por conta dessa demanda crescente dos clientes, a base de fundos offshore da BB DTVM cresceu 10,6% no ano passado, para R$ 7,7 bilhões. “Em 2019, pela primeira vez fizemos uma captação para alocar no exterior os recursos de um cliente RPPS, e acreditamos que essa será uma tendência”, diz. “Temos feito um trabalho grande de educação financeira com os institucionais em relação à diversificação da carteira com ativos globais”.