Edição 162
Empresas de asset fecham primeira metade do ano com R$ 762,8 bilhões sob gestão. Taxa de juros elevada atrai investimentos em papéis de dívida e cambiais perdem
OBrasil chegou ao final de junho em plena convulsão política. Ainda assim, o Produto Interno Bruto (PIB) expandiu 3,4% nos primeiros seis meses do ano, sendo que o volume de recursos administrado pelas assets registrou alta ainda maior. O ganho real foi de 4,8% – considerando-se o índice de inflação oficial do governo – e o nominal chegou a 7,9% em relação a dezembro, levando a um total de R$ 762,8 bilhões. Como a primeira metade do ano, entretanto, foi marcada por seguidas decisões ortodoxas de juros, a indústria intensificou as aplicações em papéis de dívida – principalmente a pública.
Se no final do ano passado, o investimento em papéis federais era de 68,1% do total de recursos, em junho ele subia para 69,6%. Na comparação dos períodos, este investimento passou de R$ 481,5 bilhões para R$ 531,1 bilhões – com um crescimento de 10,3%. Já a aplicação em papéis privados, que respondia por 14,5% do total de recursos do sistema em dezembro, passou para 15,5% em junho. O volume investido nestes títulos chegou a R$ 118,2 bilhões, ante os R$ 102,7 bilhões do final de 2004, o que significou alta de 15,1%.
Quem mais sofreu no período foi a aplicação em cambiais – moedas estrangeiras e títulos indexados a moedas estrangeiras. Pudera. O dólar, por exemplo, saiu de R$ 2,65 em dezembro para R$ 2,35 em junho. O volume aplicado no setor, portanto, caiu de R$ 12,1 bilhões, em dezembro, para R$ 7,0 bilhões ao final da primeira metade de 2005. A queda foi de 42,2%. Da mesma forma, o investimento em títulos externos (bônus e eurobônus) foi reduzido de R$ 1,5 bilhão para R$ 1,2 bilhão na comparação dos períodos, indicando uma baixa de 20,4%.
O investimento em ações também perdeu no período: 8,5%. Passou de R$ 79,0 bilhões, em dezembro, para R$ 72,3 bilhões em junho. O principal índice da Bolsa de Valores de São Paulo (Bovespa) não ajudou: o Ibovespa acumulou perda de 4,37% nos primeiros seis meses e oscilou bastante. Em menos de dois meses tanto chegou a cair 4,15%, quanto a subir 4,55%. Até o investidor estrangeiro não quis assumir posição firme no mercado acionário. Se em fevereiro de 2005 o saldo deles era positivo em R$ 3,7 bilhões, no mês seguinte passava a um saldo negativo de R$ 1,5 bilhão. E no vermelho ficou até o mês de maio. Só em junho, as compras de ações dos estrangeiros superaram as vendas e em apenas R$ 354,2 millhões.
O investimento em fundos de terceiros, que são recursos aplicados em fundos de investimento de outras assets, também não ganhou muito espaço na primeira metade do ano. Recebeu R$ 15,8 bilhões, sendo que em dezembro respondia por R$ 16,3 bilhões. Já a categoria “outras aplicações” subiu de R$ 13,8 bilhões para R$ 17,1 bilhões, incluindo investimento em imóveis. A fotografia tirada no último dia de junho revela exatamente os efeitos de um dólar baixo e de um juro alto, que iniciou o ano a 17,75% e terminou junho dois pontos porcentuais mais alto.
Produto – Neste 16º ranking Top Asset, a segmentação por tipo de produto traz como destaque o crescimento de 22,3% dos fundos abertos, que fechou a metade do ano com R$ 380,3 bilhões, ante os R$ 311,1 bilhões de dezembro. Os bancos intensificaram a venda deste produto, impulsionados pela expansão da economia, pela redução da inadimplência e pela recuperação, ainda que pequena, da renda média da população ocupada no ano. A renda subiu nos primeiros três meses do ano, apresentou pequeno recuo em abril e maio e voltou a subir em junho, segundo a Pesquisa Mensal de Emprego (PME) do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
Outro destaque, surpreendentemente, foi a expansão do Anexo IV, criado em 1993 para permitir e registrar o investimento de estrangeiros em Bolsa de Valores. O volume deste produto passou de R$ 1,8 bilhão no final do ano passado para R$ R$ 2,1 bilhões em junho, revelando uma alta de 14,2%. Por mais que os estrangeiros não tenham mostrado tendência firme na Bovespa, as compras e vendas deles estão em volumes relevantes este ano. No ano passado, ficavam na casa dos R$ 6 bilhões por mês e, neste ano, já subiram para a casa dos R$ 10 bilhões. Distorções não faltaram para estes investidores operarem no mercado.
Os fundos imobiliários também tiveram desempenho positivo no período. Sua aplicação subiu de R$ 1,7 bilhão, em dezembro, para R$ 2,0 bilhões em junho. Alta de 17,7%. Também ficaram no azul as carteiras administradas, com R$ 49,3 bilhões no último levantamento, ante os R$ 46,8 bilhões do final do ano passado. O crescimento foi de 5,21%. Os clubes de investimentos – criados para facilitar o investimento das pessoas físicas na Bovespa – também cresceram, 3,14%. E por mais um período foram impulsionados pela contínua campanha de popularização do mercado acionário. O volume neste produto passou de R$ 1,6 bilhão para R$ 1,7 bilhão na comparação dos períodos.
Por outro lado, os fundos off shore – registrados em paraísos fiscais com baixa regulação e nenhum imposto – perderam mercado. O volume aplicado no produto foi de R$ 19,5 bilhões na primeira metade do ano, ante os R$ 25,8 bilhões do fim do ano passado, o que representou uma queda de 24,3%. Apesar deste solavanco – muito influenciado pelas tensões políticas – seu volume ainda é maior desde 2000, segundo dados da Associação Nacional dos Bancos de Investimento (Anbid).
Outro produto que perdeu espaço foram os fundos exclusivos. Estes perderam a atratividade com a entrada em vigor da conta-investimento, que isentou a Contribuição Provisória sobre Movimentação Financeira (CPMF) das aplicações feitas neste ambiente e que em outubro de 2006 isentará também o estoque. Os fundos exclusivos encerram dezembro com R$ 267,0 bilhões e chegaram a junho deste ano com R$ 249,5 bilhões. A queda foi de 6,6%.
Outra baixa, esta sim um tanto surpreendente, foi nos fundos de private equity e venture capital, que investem em empresas nascentes. Apesar do recente incentivo do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) a estes fundos e do interesse dos fundos de pensão no produto, estes fundos encerraram a metade do ano com R$ 5,0 bilhões, o que significou uma redução de 3,9% em relação aos R$ 5,2 bilhões de dezembro de 2004.
Clientes – O crescimento dos regimes próprios no ranking por clientes destaca-se em disparado. A previdência dos servidores de estados e municípios entregou R$ 2 bilhões a mais para as assets em seis meses e encerrou junho com R$ 6,9 bilhões – um alta de 41,2%. Tanto que o Itaú acaba de entrar na disputa pela gestão do passivo destas entidades (veja matéria à página 24). As empresas médias também cresceram no levantamento, passando de R$ 12,7 bilhões em dezembro para R$ 19,2 bilhões em junho (alta de 50,6%). Já os recursos captados junto a grandes empresas (clientes corporate) subiram 17,3%, para R$ 76,9 bilhões. Os clientes de alta renda (private) registraram expansão de 13,4% na comparação dos períodos, para R$ 66,4 bilhões.
Já o crescimento da previdência fechada andou lado a lado com o da aberta. A primeira subiu 7,6% na comparação dos períodos, para R$ 159,9 bilhões, ao passo que a segunda cresceu 6,7% para R$ 65,2 bilhões. Afinal, desde o começo deste ano, ambas estão equiparadas no tocante a matéria tributária. Nestas categorias, o destaque de maior gestor ficou com o Itaú em fundos de pensão, com R$ 22,6 bilhões em suas mãos, e com a asset do Bradesco em previdência aberta, com R$ 32,9 bilhões. Vale ressalvar que, na categoria fundos de pensão, o primeiro lugar “oficial” é do Banco do Brasil por conta dos recursos imbatíveis da Previ.
Ainda na segmentação por clientes, as seguradoras também elevaram os recursos, em 6,8%, do final do ano passado para a primeira metade deste, chegando a R$ 24,1 bilhões. Varejo, igualmente, cresceu 10%, com R$ 221,4 bilhões; recursos de outros bancos cresceram 2%, com R$ 20,1 bilhões. Perderam, entretanto, os investidores externos (-22,8% para R$ 23,3 bilhões); os recursos próprios (-84,3%, para R$ 1,2 bilhão); e capitalização (-1,16%, para R$ 10,1 bilhões).
Para entender o ranking
As informações apresentadas neste 16º Ranking Top Asset representam a posição de cada gestor no dia 30 de junho de 2005, prestadas diretamente por eles à nossa área de pesquisa. O ranking engloba unicamente os recursos discri-
cionários administrados pela empresa, ou seja, aqueles sobre os quais ela possui mandato do cliente para movimentar.
A seguir, uma explicação sobre cada item do ranking:
– Maiores e mais focados
Maiores por segmento: são aqueles que detêm o maior volume de recursos na área referida.
Mais focados por segmento: são os que têm na área referida as maiores concentrações em relação ao total de recursos administrados.
– Recursos Administrados
Total: Soma dos recursos discricionários administrados pela instituição, próprio e de terceiros.
– Por produtos
Fundos Abertos: abertos ao público, sob a forma de condomínios.
Fundos Exclusivos: Restrito a um único investidor ou poucos.
Carteiras Administradas: carteiras de investimentos de pessoas físicas, jurídicas ou instituição entregues à administração do gestor.
Fundos Imobiliários: voltados para investimentos no setor imobiliário.
Fundos Off-Shore: com registro externo, captam recursos no mercado externo para investimentos no Brasil.
Fundos de Private Equity e de Venture Capital: não abertos ao público, investem em empresas de capital fechado e têm prazo de carência para resgate das cotas.
Anexo IV: recursos vindos dos investidores externos diretamente para as bolsas, sem passar por fundos.
Outros ativos: que não se enquadram nos conceitos acima.
– Por cliente
Previdência Fechada: fundos de pensão, de patrocinadores privados, mistos ou estatais ou multipatrocinados, controlados pela SPC.
Previdência Aberta: empresas ou setores que comercializam planos de previdência abertos, controlados pela Susep.
Regimes Próprios de Estados e Municípios: institutos de previdência de estados e municípios, controlados pela SPS.
Seguradoras: empresas ou setores que vendem apólices de seguros.
Capitalização: empresas ou setores que vendem planos de capitalização.
Corporate: recursos captados junto a grandes empresas.
Empresas Médias: recursos captados junto a médias empresas.
Fundos e Recursos da União, Estados e Municípios: recursos dos governos federal, estaduais ou municipais, BNDES, FGTS e outros fundos sociais.
Private: recursos captados junto a clientes da área private.
Varejo: recursos captados através da rede de varejo.
Outros Bancos e Assets: recursos de outras assets, que investem nos FIFs da instituição.
Investidores Externos: recursos de investidores estrangeiros, na forma de fundos ou anexo IV.
Recursos Próprios: recursos dos sócios ou da tesouraria da instituição.
Outros Clientes: que não se enquadram nas classificações acima.
– Por alocação
Títulos Públicos: dos governos federal, estaduais e municipais.
Títulos Privados: pertencentes a empresas privadas.
Ações: ações negociadas em bolsas ou balcão.
Cambiais: moedas e títulos indexados a moedas estrangeiras.
Eurobonds e Bradies: títulos e papéis externos
Fundos de Terceiros: recursos aplicados em FIFs de outras assets.
Outros: que não se enquadram em nenhuma das alocações acima.