Edição 279
Segmentação por Veículo de Investimento (em pdf)
Os fundos de investimento em participações (Fips) eram, até o início do ano passado, os veículos que demonstravam maior destaque no ranking Top Asset da revista Investidor Institucional em termos de crescimento. Já no fechamento do primeiro semestre de 2015, os fundos registraram declínio de 1,30%. Nesta edição, os Fips demonstraram queda ainda mais acentuada, de 16,96%, no segundo semestre, e de 19,31% no acumulado de todo o ano passado.
O resultado também impactou algumas assets que se destacaram no ranking, como é o caso da Caixa Econômica Federal, que mais uma vez foi a primeira colocada em termos de volume de recursos em Fips, mas que registrou queda de 9,35% no patrimônio nos seis meses encerrados em dezembro e de 9,32% no acumulado do ano passado. De acordo com a gerente nacional de desenvolvimento de fundos estruturados da Caixa, Rebeca Correa Balian, 2015 foi um ano atípico em que a Caixa se concentrou em montar carteiras, intensificando a seleção de ativos e alocando recursos de fundos que estão em período de investimento.
Para a executiva, o ano passado resultou em um impacto negativo para o desenvolvimento de novos projetos e para aqueles que já estavam em andamento. “Isso deve afetar este e o próximo ano também. A queda no preço do petróleo impactou novos projetos no setor de óleo e gás, por exemplo. Todo o setor tem sido afetado. Novos fundos e mesmo fundos que já estão inseridos nesse setor sentiram esse impacto”, salienta Rebeca.
Na avaliação da executiva, gestores tiveram que desempenhar suas funções plenamente, com muita diligência. “Em virtude do cenário, nos aprofundamos nas companhias investidas observando as boas práticas de governança e transparência. Procuramos otimizar o desempenho das investidas. Em outros Fips, estamos preparando o processo de desinvestimento, e é um momento de aprofundar o estudo da estratégia e verificar o melhor momento de saída, que deve ocorrer nos próximos exercícios. Considerando o cenário de incertezas de mercado, identificamos uma situação de desconto significativo no valor de alguns ativos. Isso é levado em conta na hora de estudar a estratégia e o momento de saída”, explica Rebeca.
Salto – Por outro lado, algumas assets conseguiram se destacar em crescimento mesmo em meio a um ano conturbado. A gestora de ativos do Brasil Plural, por exemplo, teve um grande salto em crescimento no ano passado, com alta de 131,01% nos últimos seis meses do ano e de 121,16% no acumulado de 2015. A asset subiu da oitava posição no último ranking para a terceira nesta edição. Segundo o CEO do Brasil Plural, Rodolfo Riechert, esse grande crescimento é devido principalmente a uma reavaliação de ativos realizada pela asset, além de novas captações realizadas.
“Fizemos a reavaliação de um ativo que teve uma performance muito boa e crescimento importante de patrimônio. É um ativo voltado a exportação que tinha dívida e conseguimos zerar essa dívida”, explica Riechert. Além disso, o executivo destaca que a gestora está fazendo captação junto a um fundo que investirá em empresas com dificuldades financeiras. “Temos R$ 150 milhões captados nesse fundo com investidores estrangeiros, incluindo o Banco Mundial e várias famílias. Depois vamos lançar um fundo maior, buscando investidores internacionais e queremos chamar também os fundos de pensão para investir nesse produto”, salienta.
O banco também faz a gestão de um fundo que visa investir em empresas menores com o objetivo de abrir o capital no Bovespa Mais. O fundo tem parceria com o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) e está em fase de captação. Além disso, o Brasil Plural foi selecionado pela Desenvolve SP – Agência de Desenvolvimento Paulista para criar uma família de fundos e arrecadar recursos em municípios. “Estamos em captação e queremos arrecadar R$ 3 bilhões com essa família de fundos. Serão fundos de longo prazo que investem em infraestrutura, saneamento e iluminação pública”, destaca o executivo.
Chamada de capital – Outra asset que conseguiu manter o crescimento foi a do BTG Pactual, que surpreendeu com um crescimento de 18,36% nos últimos seis meses, subindo do terceiro lugar no ranking para a segunda colocação. No fechamento do primeiro semestre, a gestora do banco tinha registrado queda no segmento de Fips. Segundo o sócio e responsável pela área de distribuição de asset management do BTG Pactual, Marcelo Flora, o que impulsionou o crescimento da área de Fips foram as chamadas de capital dos fundos para aporte de recursos por parte dos investidores.
“O período de captação é um pouco descasado do efetivo ingresso de recursos nos fundos. Na medida em que encontramos oportunidades, chamamos os aportes. O fato de termos registrado um incremento no patrimônio dos fundos se deve a captações já feitas para fundos os quais chamamos o recurso”, explica Flora, salientando que no ano passado, a asset não fez novas captações. Os setores que estão mais propensos para a realização de investimentos no momento são os de ativos florestais e de infraestrutura.
Um dos responsáveis pela gestão de fundos de private equity do BTG Pactual, Rodrigo Pavan, destaca que os ativos em fundos florestais sofrem muito menos com a volatilidade econômica, por isso há maior facilidade para encontrar bons investimentos mesmo em tempos de crise. “É parecido com o Fip de infraestrutura em que alguns investimentos são estáveis, como energia. Já na área de private equity, temos ativos mais dinâmicos, empresas que estão mais correlacionadas com o desempenho da economia que outras classes de ativos, e essas sim sofrem mais com a economia”, salienta Pavan.
FIIs – No segmento de fundos de investimento em imóveis (FIIs), por outro lado, o BTG Pactual registrou desvalorização no fechamento do ano. Apesar de ter ficado em primeiro lugar no ranking, a asset do banco teve queda de 7,03% nos seis meses encerrados em dezembro e de 6,37% no compilado de 2015. O diretor executivo de real estate do banco, Adriano Mantesso, explica que fundos imobiliários fazem uma avaliação por ano de seus ativos e, muitas vezes, a queda do patrimônio não se deve ao desempenho do fundo, mas sim à avaliação dos imóveis. “Temos fundos negociados na bolsa, com a saída feita no mercado secundário. O desempenho do mercado afeta essa saída”, destaca.
Mantesso diz ainda que a asset teve um fundo desinvestido no ano passado, o que influenciou na queda de patrimônio do segmento. Mas o executivo é otimista em relação ao BC Fund, fundo que investe em escritórios e possui aproximadamente R$ 900 milhões. “Estamos segurando esse recurso, pois na nossa opinião foi uma estratégia assertiva. Captamos em 2013, e na sequência o mercado começou a mudar de direção, os juros subiram, fizemos aquisições estratégicas e retivemos parte do caixa. Ainda teremos alguns ajustes na precificação dos ativos imobiliários, mas em breve será uma boa oportunidade para se fazer aquisições de ativos a preços ajustados”, diz o executivo.
A questão de ajuste de preços foi um obstáculo também para a Rio Bravo Investimentos no ano passado. Na segunda colocação no ranking na categoria de FIIs, a gestora teve um leve crescimento de 4,14% nos seis últimos meses de 2015, mas aponta para uma dificuldade em fazer negócio, pois o proprietário de um imóvel geralmente quer cobrar mais do que o comprador quer pagar. “Essa diferença agora deve diminuir e ficará mais fácil negociar”, opina o sócio da área de investimentos imobiliários da Rio Bravo, Augusto Martins.
O executivo destaca que 2015 foi um ano no qual o ambiente macroeconômico dificultou a captação. “O nosso crescimento não foi tão grande, mas tivemos alguns fundos novos. Fizemos a captação de um fundo de crédito que temos em parceria com o Banco do Brasil, que mais que compensou a perda de valor do patrimônio. Tivemos uma parte da reavaliação do patrimônio que diz respeito ao valor do imóvel em si. Vimos esse crescimento de 4,14% como positivo, pois em um ano desafiador, conseguimos criar novos fundos e ter um crescimento, ainda que pequeno”, salienta Martins.
Fidcs – O segmento de fundo de investimento em direitos creditórios (Fidcs), por sua vez, apresentou em mais uma edição uma propensão a recuperação, ainda que com crescimento pequeno de 1,56% no último semestre de 2015 e de 2,05% em todo o ano. Ainda assim, o segmento se recupera de uma fase de constante queda nos últimos anos. Segundo o sócio-diretor da Empírica Investimento, Leonardo Calixto, o Fidc é um veículo que vem sendo utilizado como uma alternativa de funding para as empresas. “Temos conseguido viabilizar com mais facilidade novas operações de crédito para empresas que se deparam com dificuldades”, explica. Desde 2014 que o executivo nota esse movimento, já que houve uma restrição dos bancos em relação a crédito.
No ano passado, a Empírica realizou quatro operações, captando R$ 240 milhões. Já em 2016, a gestora possui cinco novas operações em fase de estruturação e outras seis em negociação.