Edição 279
Segmentação por Ativos (em pdf)
O patamar no qual se encontra a Selic, e as incertezas do cenário político e econômico geraram em 2015 uma forte demanda pelos títulos públicos, que estavam com prêmios acima das metas atuariais dos fundos de pensão e institutos de previdência. Com isso o segmento apresentou um crescimento de 10,9% nos doze meses encerrados em dezembro passado, o maior incremento do mercado pelos dados do Top Asset, atrás apenas do mercado de derivativos, mas que ainda tem uma base muito menor – R$ 25 bilhões, contra R$ 1,9 trilhão. O segundo maior crescimento foi dos títulos privados, de 8,7%, para R$ 588,9 bilhões; embora o risco de crédito também tenha aumentado no período, foi uma das poucas opções encontradas pelos institucionais para manter a diversificação da carteira sem elevar excessivamente o risco do portfólio. O mercado de renda variável, por outro lado, novamente após um desempenho fraco da bolsa brasileira, voltou a cair nas carteiras dos investidores no ano passado, com uma queda de 25,37%, para R$ 186,1 bilhões.
Na BB DTVM, o volume de títulos públicos aumentou 16,01% em doze meses, atingindo R$ 519,02 bilhões. “Vimos a ascensão da taxa básica de juros e a predominância de estratégias de renda fixa pós-fixadas”, comenta Carlos André, diretor executivo de gestão de fundos da gestora do Banco do Brasil. A asset do BB buscou maior alocação em títulos públicos para implementar as estratégias de seus fundos e carteiras.
“Nos últimos anos, e também em 2015, temos apresentado uma boa performance em produtos de crédito”, comenta Marcelo Fatio, superintendente de distribuição da Itaú Asset Management. “Dada as condições de mercado, é uma tendência que deve continuar em 2016”, acrescenta o executivo. Apesar da demanda relativamente resiliente, Fatio admite que o nível de preocupação com a classe de ativo aumentou, “como uma reação normal aos eventos que tivemos no ano passado”. Por conta disso, dentro das carteiras da asset a equipe de gestão passou a adotar uma postura mais conservadora, com um reposicionamento na seleção dos emissores, agora focada basicamente em grandes instituições financeiras, e também no prazo dos ativos. “Os clientes tem sentido nossa postura mais conservadora, e nos premiado com volumes, porque a visão vai de encontro com o cenário que eles também estão enxergando”.
Na BNP Paribas Asset, a demanda por fundos de crédito privado também foi guiada pelo maior conservadorismo adotado pela casa. “Nos destacamos pela performance dos fundos, e pelo processo de investimento que gera essa performance, que tem como premissa um conservadorismo maior na escolha dos créditos”, pondera Eduardo Loverro, head de investidores institucionais na gestora da BNP Paribas no Brasil.
Renda variável – Além do segmento de renda fixa, no caso da renda variável, o superintendente da gestora do Itaú nota que a demanda por veículos com ações, que pelo desempenho do mercado tem sido baixa nos últimos anos, não dá sinais de que terá alguma mudança enquanto as incertezas do cenário prosseguirem elevadas. Os títulos privados tiveram um incremento de 17,4% na base da gestora do Itaú em 2015, enquanto o mercado de ações brasileiras registrou uma queda de 17,7% na casa.
O apelo que alguns investidores mantém no mercado de renda variável, pondera Fatio, é dividido entre fundos de gestão mais ativa, descorrelacionados dos benchmarks da bolsa, ou, no sentido totalmente oposto, pelos ETFs de gestão passiva, que tem como vantagem o menor custo atrelado às taxas. “O mercado apresentou essa tendência de ir para os dois extremos, totalmente passivo de um lado e agressivo do outro”, afirma o executivo. Fernando Beyruti, co-head da Itaú Asset, avalia que a demanda por fundos passivos, além da questão da taxa, também tem sido alimentada pela expectativa dos agentes de uma recuperação do segmento no médio prazo. “A primeira grande onda de recuperação em geral ocorre nos papéis mais líquidos, que estão no benchmark. Papéis como os small caps, que não tem uma concentração em blue chips, por exemplo, geralmente vem em uma segunda onda”.
Na BB DTVM, as ações do mercado doméstico tiveram uma queda ainda maior no volume de ativos, com recuo de 23,21% em 12 meses. “Na renda variável houve uma repetição de anos anteriores com a performance abaixo do esperado”, diz Carlos André. A asset do BB também registrou recuo nos ativos privados, com a diminuição em 6,65% em 12 meses.
Multimercados – Fatio, da Itaú Asset, destaca que, além dos títulos privados, uma outra demanda observada pela gestora ao longo do ano passado de investidores em busca de diversificação de uma parte do portfólio foi através dos fundos multimercados. “Temos feito um esforço de colocação de produtos estruturados com algum sucesso”, pontua o executivo. Um dos veículos do segmento que teve boa aceitação junto aos investidores em 2015, comenta o superintendente, foi o fundo hedge plus, que permite ao cliente uma exposição ao mercado global, com o foco em mercados emergentes na América Latina. “Nossa expecativa é que continue ao longo de 2016 o fluxo de recursos para a classe de estruturados”. As ações no exterior na gestora do Itaú tiveram um salto de 303% nos doze meses encerrados em dezembro de 2015, para R$ 4 bilhões.
Na JP Morgan Asset, casa tradicional na distribuição de fundos globais, a aposta em veículos que permitam ao investidor uma exposição a ativos no exterior também segue firme. “Temos observado um interesse crescente de algumas entidades que querem continuar com um retorno baseado em CDI”, comenta André Cobianchi, responsável pelo relacionamento com institucionais na gestora do JP Morgan. “Com a taxa básica nos patamares atuais, eles tem buscado opções ‘hedgeadas’ mesmo entre os fundos que investem no exterior, que acaba se caracterizando mais como um multimercado do que um fundo global propriamente”. Além do hedge com o CDI, outra demanda que Cobianchi tem sentido entre os institucionais é a busca por veículos de boa liquidez que tenham baixa, ou nenhuma corelação com o mercado local.
A asset do Santander é outra que enxerga de maneira otimista o segmento de fundos no exterior. Apesar da perda momentânea de apelo por conta da renda fixa doméstica, a gestora entende que a estratégia segue como uma alternativa atraente para os institucionais mais à frente. A casa lançou em 2013 seu fundo de global equities, mas até então vinha trabalhando o veículo com um foco maior nos públicos private e varejo de alta renda, e agora que o PL do veículo atingiu R$ 100 milhões vai passar a oferecer de maneira mais agressiva às fundações. “Encubamos o produto no private e varejo e com o patrimônio e um histórico mais longo de performance estamos levando para os fundos de pensão”, afima Aquiles Mosca, superintendente executivo comercial da Santander Asset. “Não adianta levar fundos como esse abaixo de R$ 100 milhões, porque com a regulação atual o espaço para o institucional fica muito pequeno por conta do limite de concentração”.
O executivo acredita que em 2016 as conversas entre Abrapp e Previc tendem a evoluir para que o limite de 25% por fundo no exterior seja derrubada, que somada à mudança na legislação dos fundos com a CVM 555, que aumentou a exposição permitida dos multimercados ao exterior, pode impulsionar o segmento em um momento no qual a renda fixa tem monopolizado o interesse dos institucionais.
Entre as fundações que seguem um pouco mais ativas no mercado de ações, Eduardo Loverro, da BNP Paribas Asset, tem notado um movimento crescente de trocas de estratégia, com um interesse maior por fundos descorrelacionados dos principais benchmarks do mercado, como retorno absoluto e long bias. “Ganhamos um mandato importante de renda variável descorrelacionado do Ibovespa originado por conta da migração do cliente de uma das instituições envolvidas nos eventos do segundo semestre de 2015”. Na avaliação do superintendente da Santander Asset, Aquiles Mosca, a carteira de ações no exterior dos institucionais ao longo do tempo deve substitutir em parte o espaço no portfólio dos fundos de pensão destinado para a renda variável doméstica. “Mas no geral o grande volume deve seguir na renda fixa tradicional, em fundos DI ou atrelados à inflação”.