Edição 268
Repetindo desafios semelhantes aos enfrentados no ano anterior, como forte volatilidade na renda fixa e o fraco desempenho da bolsa, a indústria de fundos de investimento conseguiu registrar em 2014 uma significativa melhora em relação a 2013. Segundo dados desta edição do Top Asset, o volume de ativos sob gestão registrou expansão de 9,03% no ano passado, atingindo R$ 2,85 trilhões (ver Raio-X). O desempenho é bastante superior à expansão de apenas 2,47% de 2013.
Algumas incógnitas do passado, contudo, continuaram afligindo os gestores – como a desaceleração dos emergentes, a constante ameaça de elevação dos juros americanos e a dificuldade da Zona do Euro em sair da crise. Novos temores vem sendo somados a esse “velho” cenário, resultantes da crescente insegurança em torno da agenda doméstica.
Diante de tantas adversidades, os gestores de recursos procuraram continuar crescendo com uma receita simples, a diversificação das fontes de captação.
“As instituições financeiras focaram a captação no varejo e na previdência aberta, segmentos de maior concentração na pessoa física”, afirma Carlos Takahashi, presidente da instituição que ocupa a primeira posição do ranking Top Asset, a BB DTVM. Dentro do varejo, a BB DTVM foi a que mais cresceu (32,03%), consolidando-se no primeiro lugar da categoria, com R$ 108 bilhões de ativos sob gestão. Um ano atrás, o segmento havia sido um dos destaques de queda na carteira da asset (-14%). “A pessoa física é a que mais reage a movimentos de curto prazo nos mercado”, pondera.
Já entre os institucionais, foram os regimes próprios que se destacaram. De forma geral, contudo, a predileção foi por alocações com baixa exposição ao risco, em ativos de renda fixa. “É mais uma questão de falta de boas opções do outro lado. A renda variável continua com desempenho fraco, exceto por alguns setores específicos, como o financeiro. A própria decepção com a bolsa doméstica tem levado muitos institucionais a diversificar com ativos no exterior, principalmente em ações norte-americanas”, explica.
A preferência por renda fixa, contudo, é uma tendência que deve permanecer forte também em 2015, puxada pelo movimento de alta dos juros básicos e do aumento do prêmio exigido pelos investidores nos leilões de títulos públicos do Tesouro. A expectativa de que os juros e a inflação se mantenham elevados é alimentada por evidências de que a nova equipe econômica levará mais tempo do que o esperado. “Os juros acabam concorrendo com todo o processo de diversificação de carteira das entidades”, destaca Takahashi.
Para atender à crescente demanda dos investidores por ativos de baixo risco, a BB DTVM vem reforçando a equipe de áreas ligadas à análise de crédito. “Trouxemos a equipe de análise de risco do banco para a gestora. Completamos, assim, nosso time de risco de mercado, de liquidez, de crédito e, agora, de risco operacional. Também investimos na área de due dilligence, para ampliarmos o desenvolvimento de parcerias no lançamento de produtos”, afirma. Um exemplo de parceria que a asset pretende seguir é o lançamento, em conjunto com a Votorantim Asset Management, de um fundo de recebíveis de infraestrutura. O Fidc foi o primeiro do segmento listado em bolsa e teve captação de R$ 300 milhões, volume que contribuiu para que a BB DTVM voltasse aos Top 10 de Fidcs do ranking – depois de ter ficado um ano de fora. “O Fidc de infraestrutura foi um dos poucos que ficaram em pé em 2014. O mercado ainda precisa encontrar meios de sanar problemas com a dinâmica da originação de ativos, ajustar a modelagem do produto”, pondera Takahashi.
Os TOP 5 se mantiveram intocáveis neste ranking. Depois da BB DTVM, que fechou com R$ 615,29 bilhões em ativos sob gestão, as posições seguintes são ocupadas por Itaú-Unibanco, Bradesco Asset Management (Bram), Caixa Econômica Federal e Santander Brasil.
A principal mudança do ranking ficaria por conta do Credit Suisse Hedging-Griffo, que perderia posições no Top Asset desta edição por conta de reestruturação societária. Luís Stuhlberger deixou o banco para abrir a própria gestora, a Verde Asset Management. A mudança foi realizada no segundo semestre de 2014, porém, foi formalizada em 1 de janeiro de 2015, por isso, os dados do CSHG ainda refletem a posição anterior. No próximo ranking, porém, a asset deve perder várias posições, pois perdeu mais da metade do volume de ativos sob gestão, que foram para a Verde.
Maiores crescimentos – Com um aumento de cerca de R$ 2 bilhões na captação com institucionais e uma alta de R$ 1,5 bilhão em previdência aberta, a Santander Asset Management se destacou como a instituição que mais cresceu entre as Top 5 do ranking. Foi para o segmento de renda fixa, contudo, que os novos recursos mais se direcionaram. Outra gestora que teve um crescimento destacado, e assim como no caso do Santander, na renda fixa, foi a Bram, impulsionada pela alta de 30,37% junto aos fundos de pensão. “Hoje o processo é de redução da volatilidade, com diminuição da duration”, diz Reinaldo Le Grazie, diretor superintendente da Bram.”Não sabemos como o cenário internacional vai nos impactar, então o investidor se retrai”, diz o executivo da Bram.
Segundo Aquiles Mosca, superintendente executivo comercial da asset do Santander, as maiores demandas partiram de fundos DI, crédito privado e ativos que remuneram inflação. “Com Selic a 11,75% e inflação de 6,41%, o DI já batia, sozinho, a meta das fundações. Já o crédito privado andou bem até o terceiro trimestre do ano, pouco antes do estouro da crise da Petrobras”, analisa. Isso porque a notícia elevou o risco dos ativos de crédito corporativo no mercado, desestimulando o apetite dos institucionais pelo ativo.
A Santander Asset está participando de sete processos seletivos de fundos de pensão para mandatos e renda fixa, principalmente de fundos DI e de crédito privado. “Isso demonstra que os institucionais ainda estão evitando correr muito risco”, complementa. Outro sinal de aumento da aversão a risco foi o fraco desempenho da renda variável no ano passado. “A participação dos fundos de pensão em carteiras de ações atingiu o menor patamar dos últimos dez anos. Ainda assim, conseguimos manter patrimônio alocado no segmento e não perdemos nenhum mandato”, destaca o executivo.
Ao passo que a bolsa brasileira perde atratividade entre os investidores, a busca por fundos atrelados ao mercado externo tem crescido significativamente. No ano passado, a asset captou R$ 80 milhões com um fundo multimercado de capital protegido que tem como benchmark o S&P 500. De olho no aumento da demanda por produtos semelhantes, a instituição pretende lançar um fundo de derivativos locais, ligado ao Euro Stoxx 50.
Independentes – Marc Forster, superintendente de relacionamento com clientes da Western Asset Management, também acredita que o fraco desempenho do mercado doméstico está instigando os investidores a olharem para fora. “Os institucionais têm autorização para investir no exterior há muito tempo, mas só faz sentido apostar em ativos globais quando os locais não têm perspectiva de melhora”, avalia.
O maior empecilho para este tipo de diversificação, contudo, é a rigidez da regulamentação. Esse quadro tende a melhorar com a Instrução CVM 555, que busca, entre outras medidas, facilitar a alocação de recursos lá fora. A partir de julho, quando a regra entra em vigor, a Western pretende lançar três novos feeders, um de ações e dois de renda fixa com estratégias globais para crédito privado, moeda e dívida soberana.
Foi com mandatos de renda fixa local, entretanto, que a Western mais se destacou no ranking Top Asset. Nesta edição, a instituição se consolidou como a maior gestora independente, responsável pela gestão de R$ 35,53 bilhões em recursos de terceiros, um crescimento de 7,61% no ano, em comparação a 2013. Entre as assets multinacionais, assumiu a terceira posição, atrás apenas de Santander e HSBC.
Por tipo de cliente, o portfólio das seguradoras foi o que mais evoluiu de um ano para o outro. Com crescimento de 240%, a carteira passou a R$ 1,88 bilhão no período. “O resultado vem de um evento bastante específico. Ganhamos um novo mandato de renda fixa, de uma seguradora multinacional que já trabalhava conosco. Com esse contrato, a nossa parceria com ela triplicou no Brasil”, explica.
Enquanto a Western apresentou forte crescimento no ramo de seguradoras, para os fundos de pensão o ano de 2014 representou uma estagnação. Os ativos sob gestão nesse segmento registrou breve queda de 1%, atingindo R$ 16,15 bilhões. “Não houve grande mudança de alocação, pois as fundações já haviam se movimentado no final de 2013, ano em que o mercado todo sofreu bastante com a perda de rentabilidade na renda fixa e na variável”, diz. A maior penetração nesse nicho vem de fundos de pensão de empresas privadas multinacionais”, diz Forster.