Volta ao conservadorismo | Institucionais retornam para opções ma...

Fundos de PensãoFlávio Eduardo Arakaki, da CaixaMarcelo Flora, do BTG PactualEdição 257

 

Com a forte volatilidade que tomou conta do mercado brasileiro em 2013, opções mais conservadoras de investimento tiveram peso importante para que os recursos dos fundos de pensão geridos pelas assets reportassem crescimento de 8,6% nos 12 meses encerrados em dezembro passado (ver Raio-X). O resultado representou uma alta de 4,1% em seis meses, atingindo R$ 369,8 bilhões. No caso dos RPPS, que são investidores que na média tomam menos risco, o aumento chegou a 8,8% em 12 meses e a 7,6% em seis meses, chegando a R$ 79,9 bilhões.
Nos seis meses que se desenrolaram entre julho e dezembro do ano passado o ranking com as assets com maior volume de recursos aplicados pelos fundos de pensão não teve alterações entre os cinco primeiros colocados, com a BB DTVM mantendo a liderança de forma tranquila, com um total de R$ 105,5 bilhões, contra R$ 47,8 bilhões do Itaú, o segundo colocado nessa categoria. “Nosso crescimento está muito relacionado com a abertura da taxa de juros. Criamos alguns fundos exclusivos de renda fixa para as fundações que viram oportunidades principalmente em títulos públicos atrelados a índices de preços”, afirma Carlos Takahashi, presidente da BB DTVM.
Com os cupons pagos pelas NTN-Bs com vencimentos por volta de 2022 ainda em patamares atrativos, a asset do Banco do Brasil captou neste início de ano, junto aos RPPS, cerca de R$ 2,5 bilhões em fundos. “Se as oportunidades continuarem aparecendo vamos soltar mais alguns produtos nesse mesmo modelo”, fala Takahashi. “Encontramos alguns caminhos mais claros para atrair novos recursos”, emenda o executivo.
Além da renda fixa, fundos de renda variável relacionados com o Índice de Sustentabilidade Empresarial (ISE) também estiveram no radar das fundações no ano passado. “Como grande parte das fundações já aderiu ao PRI (Princípios para o Investimento Responsável), elas estão fazendo um direcionamento de seus investimentos em aderência ao programa, e uma das formas encontradas foi de buscar um fundo que siga o ISE”.
Já para os primeiros meses de 2014, o tema mais presente entre os fundos de pensão foi o investimento no exterior. Os quatro fundos da BB DTVM que seleciona outros fundos no exterior já receberam aportes, e juntos têm cerca de R$ 250 milhões de patrimônio. O presidente da BB DTVM trabalha com a expectativa de que o volume dobre até o fim do ano.
Fundos de crédito privado de High Yield, como o BB Previdenciário Crédito Privado, lançado ano passado, e que tem captação de R$ 157 milhões, também devem voltar a ser explorados pela asset, tanto entre as fundações quanto entre os RPPS. “Como o ano passado foi bastante complexo, procuramos basicamente preencher alguns ‘gaps’ que verificamos no portfólio dos RPPS, e esse produto de crédito privado foi para cobrir as necessidades conjunturais”, diz o executivo.
Multimercados em alta – Se na BB DTVM os institucionais foram em busca de produtos mais seguros, no Itaú o movimento observado com esse público foi justamente o contrário. “Observamos uma migração de produtos mais conservadores para produtos de maior valor agregado em diferentes classes de ativos. Vemos cada vez maior demanda por multimercados, que são produtos com gestão ativa, que visam bater o CDI”, diz Marcelo de Lima Fatio, superintendente de distribuição da asset internacional do Itaú. “Tem ocorrido um fluxo de recursos para esse tipo de produto, e estamos nos estruturando para ter uma oferta mais completa de fundos multimercados para as fundações”, diz o executivo do banco privado.
Esse movimento rumo aos multimercados, segundo Fatio, começou em 2012, quando a Selic atingiu seu menor patamar histórico e, a despeito da recente elevação da taxa de juros, a procura por estruturados segue aquecida entre os clientes do Itaú. O banco tem cerca de R$ 8 bilhões alocados em estratégias de fundos multimercados, dos quais 15% são de institucionais. “Temos alguns produtos muito demandados, alguns inclusive fechados, que contam com clientes que esperam sua reabertura. Privilegiamos manter a boa performance do produto mesmo abrindo mão de receita”.
Em sintonia com o momento vivido pelos fundos de pensão brasileiros, a asset do Itaú também tem focado sua atenção na prateleira que realiza alocações no mercado internacional. “Estamos trabalhando em algumas coisas que devemos lançar ao longo dos próximos meses, assim como já lançamos no final do ano passado um fundo que tem como benchmark o S&P 500 dos Estados Unidos”, pondera o superintendente. Esse fundo tem patrimônio hoje ao redor dos R$ 100 milhões. “Essa exposição internacional na medida correta faz sentido, pois o investidor tem condições de agregar retorno para sua carteira ao mesmo tempo que reduz o risco do portfólio. Esse movimento vai se intensificar nos próximos anos, a alta da Selic talvez posterge um pouco, mas acho que é inevitável”.
Portfólio completo – Na Caixa Econômica Federal, o crescimento no atendimento aos fundos de pensão foi bastante expressivo, alcançando 89,3% nos 12 meses encerrados em dezembro, e é resultado, segundo Flávio Eduardo Arakaki, diretor executivo de ativos de terceiros do banco, de um trabalho iniciado em 2008. “Estruturamos dentro da asset uma área voltada especificamente para fundações e RPPS, com a priorização junto a alguns clientes mais próximos, especificamente com grandes fundos com quem já tínhamos relacionamento. Tivemos bons resultados entre os RPPS desde os primeiros anos, e esse crescimento junto às fundações em 2013 acabou consolidando essa iniciativa”, diz Arakaki. “A Caixa não teve um único produto que concentrou a captação do ano, a estratégia foi ter um portfólio completo”, acrescenta o diretor.
Após o forte incremento na base de clientes fundos de pensão, é natural esperar que em 2014 o movimento de crescimento continue, mas não no mesmo ritmo, prevê o executivo. Entre os produtos que tendem a puxar a fila, Arakaki lembra dos estruturados, “fundos que geralmente atravessam mais de dois ciclos econômicos”. No entanto, assim como na BB DTVM, a Caixa também aproveitou a abertura da taxa de juros para fazer captações relevantes – cerca de R$ 1,2 bilhão no primeiro bimestre do ano – em fundos voltados para as NTN-Bs.
No quesito investimento no exterior, a asset da Caixa tem seu fundo de BDRs lançado no ano passado, com aproximadamente R$ 8,5 milhões em recursos provenientes de RPPS, e além disso a casa se prepara para lançar um produto nos moldes do feeder da BB DTVM, no qual irá escolher algumas gestoras parceiras que terão cotas de seus fundos internacionais compradas pelo feeder da Caixa. “Não gostaria de destacar um diferencial em relação ao outro produto, até porque o nosso está em fase de formatação, mas a ideia é que ele seja o mais acessível possível para toda a comunidade das fundações”, comenta o diretor. A previsão é que o feeder internacional da Caixa esteja na praça ainda neste primeiro semestre.
RPPS ganham espaço – No BTG Pactual, o crescimento mais expressivo na base de clientes institucionais ocorreu junto aos RPPS, que aumentaram em 27,8% seus recursos alocados na instituição financeira. O banco chegou a buscar uma aproximação com os institutos de previdência em 2004, que não foi bem sucedida. Na época estava arraigado entre os Tribunais de Contas interpretação da legislação que não permitia aos regimes próprios alocarem recursos em instituições privadas, por entenderem serem bancos oficiais apenas os públicos. “Os Estados pouco a pouco foram entendendo melhor a legislação, e hoje são algumas exceções que ainda mantêm esse entendimento sobre os RPPS”, diz Marcelo Flora, sócio-diretor do BTG Pactual.
Para aumentar os institutos em seu portfólio, o BTG Pactual tem de enfrentar a forte capilaridade e proximidade que os bancos públicos tem com esse investidor. A saída encontrada pela asset foi justamente a de promover parcerias com alguns desses “concorrentes”. O Banestes, do Espírito Santo, e o Banco do Nordeste fazem a distribuição junto aos RPPS de suas regiões do fundo de dividendos do BTG Pactual. “A estratégia de dividendos por definição é mais defensiva do que outras estratégias de equities”, pondera Flora. Em 2013 a captação do fundo de dividendos da casa totalizou R$ 233 milhões. “No mercado de RPPS, em que se tem os grandes bancos públicos, os institutos são muito bem servidos em fundos de renda fixa, então para se diferenciar procuramos mostrar estratégias complementares”. O BTG Pactual mantém conversas com outras duas instituições públicas para formatar parcerias nos mesmos moldes. As regiões onde o banco procura fechar parcerias são aquelas em que a interpretação da legislação em relação aos bancos oficiais ainda se mostra equivocada.
Já entre os fundos de pensão, o BTG Pactual tem buscado levar produtos de maior sofisticação, caso do fundo de ativos florestais que a asset se prepara para lançar, e que tem encontrado demanda por parte das fundações. Flora ressalta que, em 2010, o primeiro FIP captado pelo banco teve adesão de R$ 200 milhões das entidades, montante que subiu para R$ 600 milhões no fundo de infraestrutura encerrado no primeiro semestre de 2013. Para o fundo florestal, que tem como objetivo de captação US$ 750 milhões, o executivo acredita que um terço seja proveniente de investidores brasileiros, sendo que, dessa parcela, boa parte seja de institucionais.
No HSBC, por outro lado… – No HSBC a evolução do volume de recursos proveniente dos regimes próprios não foi positiva. A asset do HSBC registrou queda de 28,4% nos recursos dos institutos de previdência. Alcindo Canto, diretor comercial da HSBC Asset Management, explica que a baixa decorreu de uma mudança na estratégia da casa. Antes a asset atuava diretamente com esse tipo de cliente, mas agora ele será atendido pela área de governos do HSBC, que é o responsável por fazer o trabalho junto aos Estados e Municípios.
“Quando íamos visitar esses clientes, a gente falava apenas da parte de investimento. Hoje a área de governo fala de investimento, mas também de outros serviços do banco, como folha de pagamento, e isso tira um pouco de efetividade na venda”, pontua Canto. O diretor afirma ainda que a nova estratégia decidiu por concentrar o foco apenas nos maiores institutos. “Com isso, perdemos espaço entre os menores, que acabaram migrando para outras assets que estavam fornecendo produtos mais específicos”. Para 2014, após a queda do ano anterior, a expectativa do banco é por um crescimento entre os RPPS, ainda que nada muito expressivo.
Já entre os fundos de pensão, o HSBC cresceu 5% em 12 meses, e inclusive subiu uma posição na Top Asset em relação ao levantamento anterior. Além de crescer na renda fixa, outra opção, em linha com seus pares, foi a de abrir espaço para os investimentos no exterior. O HSBC trouxe ao país quatro estratégias, três de renda variável e uma de renda fixa – os fundos mesclam a compra de ações nos principais mercados desenvolvidos, em mercados no qual o país em questão ainda não está nem uma nota abaixo do rating grau de investimento, e no mercado de High Yield americano, na parte de renda fixa. “O fundo local compra uma mistura desses quatro fundos lá fora”, diz Canto. “Em termos de captação ainda não conseguimos volumes muito expressivos no segundo semestre, mas trabalhamos a base de clientes para que ao longo de 2014 consigamos mais recursos para essas estratégias”.
O patrimônio do fundo, lançado em abril de 2013, soma R$ 280 milhões, e já conta com quatro fundações, embora a maior participação seja de investidores private. “Temos a expectativa de converter cerca de dez clientes que já têm aprovação em sua política de investimentos os limites para investimentos no exterior. Toda vez que o câmbio dá uma estressada a demanda aumenta”, fala Canto.
Independentes – Nos últimos 12 meses encerrados em dezembro, o maior crescimento na base de clientes fundos de pensão aconteceu na JGP Gestão de Recursos, que reportou um crescimento de 135,2%. A aposta em fundos multimercados também teve importante contribuição para esse movimento, diz Guilherme Lima Bragança, sócio da JGP. Em outubro do ano passado a casa abriu um feeder fund de seu principal multimercado, o JGP Max, que tem foco exclusivo nos institucionais, e até agora captou cerca de R$ 65 milhões. O fundo original estava fechado desde maio de 2012, e tem PL de R$ 2 bilhões. “Temos enxergado bastante oportunidade nos mercados de moeda principalmente, e mesmo em Bolsa. Como é um multimercado, não necessariamente precisa estar comprado”, fala Bragança.
Como a casa não trabalha com fundos de renda fixa, e dado o atual nível das NTN-Bs, o executivo admite que pode ser um pouco mais difícil em 2014 repetir o mesmo desempenho de 2013 com os fundos de pensão. “A despeito da abertura da Selic, a gente acha que a barreira já foi transposta, as fundações hoje conhecem muito mais os fundos de renda variável e os multimercados, e perceberam que tem muita coisa boa principalmente entre as gestoras independentes. Pode ser que no curto prazo a alocação nesses fundos diminua por conta das NTN-Bs, mas não é muito o que temos visto aqui não. Não sei se a gente consegue replicar o que fez ano passado, mas ainda assim acho que vamos ter uma boa performance na captação do segmento institucional”.
A XP Gestão de Recursos também teve um crescimento expressivo junto aos fundos de pensão – 158,7%, em seis meses. “Temos a capacidade de oferecer estratégias para um público que muitas vezes está batendo na porta de nossos concorrentes e encontra as estratégias já fechadas para captação, porque são assets que já cresceram muito”, afirma Patrick O’ Grady, diretor de gestão da XP Gestão de Recursos.
Na onda do mercado, a casa prepara o lançamento de um fundo global de crédito privado, que deve entregar ao investidor um retorno entre 5% e 6% mais a variação cambial, além do fundo de BDRs lançado no final do ano passado, que conta com R$ 7 milhões de patrimônio, ainda sem a presença de fundações. “A liquidez dos BDRs é dada pela Bolsa de NY. Vários desses BDRs individualmente negociam mais do que a Bolsa brasilera inteira. Ao longo do tempo os grandes institucionais vão dar bastante valor para essa estratégia, pelo conforto de ter uma participação elevada, e sem problemas de liquidez”.
Outra asset com forte crescimento entre os fundos de pensão foi a Brasil Plural, com ascensão de 180% em recursos provenientes desse tipo de cliente. “Ganhamos alguns mandatos importantes nessa virada do ano de reestruturação de carteiras. Fomos reconhecidos pela equipe que temos para fazer melhoria nas carteiras de renda fixa dos fundos de pensão. Não só a parte líquida de produtos tradicionais, mas também carteiras mais estratégicas, ilíquidas. ” afirma Bruno Carvalho, sócio do Brasil Plural.