Edição 257
É muito raro que o estoque de títulos públicos da indústria de assets registre decrescimento. Nos últimos rankings Top Asset não houve nenhum deles que essa classe de ativos andou para trás, mas foi justamente o que ocorreu no recente levantamento referente aos dados fechados até dezembro de 2013. Os títulos públicos tiveram crescimento negativo de 1,58% (ver Raio X), muito em função da desvalorização dos fundos indexados à inflação provocada pelo novo ciclo de abertura da Selic, iniciado a partir de abril e intensificado no segundo semestre do ano passado. O volume de recursos das ações listadas na bolsa brasileira teve um ligeiro crescimento no segundo semestre, de 2,78%, o que não foi suficiente para recuperar o fraco desempenho do ano passado, que fechou também com recuo de 4,87% em 12 meses. Os ativos que ainda apresentaram crescimento positivo foram os títulos privados, que avançaram 7,34% no ano passado e, mais claramente, as classes relacionadas aos investimentos estruturados (imóveis e empresas fechadas) e ações e papeis no exterior.
Na categoria de títulos privados, a Itaú Asset Management continua na liderança, com um volume de R$ 108,81 bilhões, seguida pela BB DTVM e pela Bram, na segunda e terceira posições respectivamente. Apesar da primeira posição, a asset do Itaú registrou ligeiro decrescimento no segundo semestre, mas no resultado de 12 meses, manteve o saldo positivo. “É uma classe de ativo importante para nós, acredito que os investidores confiam em nossa capacidade de análise de crédito”, diz Marcelo de Lima Fatio, superintendente de distribuição da asset do Itaú. Ele explica que a maior parte da carteira de títulos privados é formada por ativos de crédito bancário. “O crédito corporativo ainda é pouco desenvolvido no Brasil, pois não existe um mercado secundário. Você compra um ativo e tem que carregar até o vencimento”, diz o executivo.
A demanda por produtos de crédito corporativo é alta, mas o mercado não oferece um volume de ativos suficientes para suprir essa procura. “A dificuldade é a inexistência de ativos suficientes pra suprir a demanda dos investidores, esse é sempre um desafio que a gente tem aqui, que temos que gerenciar”, diz Fatio. O outro gargalo é a ausência de um mercado secundário que permita a mudança de posições antes do vencimento dos papeis. O superintendente aponta ainda que os clientes institucionais, principalmente os fundos de pensão, mantêm o interesse por produtos de crédito privado. “De fato existe um prêmio em relação ao título público. Tem que avaliar se o prêmio é adequado ou não, mas o risco de crédito tem sido uma fonte de geração de alpha que os institucionais estão buscando”, diz Fatio.
Na terceira posição em títulos privados, a Bram (Bradesco Asset Management) cresceu em 5,85% seu volume de recursos nesta categoria. “Temos aproveitado as oportunidades que surgem no mercado de capitais. Para isso, reforçamos nossa área de análise de crédito e já a partir de 2012 e também no ano passado procuramos ser mais ativos neste mercado”, diz Joaquim Levy, diretor presidente da Bram. O executivo diz que os maiores movimentos de incorporação de ativos de crédito privado ocorreram no ano de 2012 e continuam refletindo nos resultados do ranking. Um dos exemplos de produto com crédito corporativo é um fundo de debêntures de infraestrutura da Bram, um dos poucos desta categoria existentes no mercado.
Em relação aos título públicos, a Bram tem desenvolvido um trabalho customizado para os fundos de pensão. “Procuramos ajudar na definição de estratégias diferenciadas para cada tipo de passivo”, diz Levy. Ele diz que é importante segregar as características de cada plano para definir as necessidades de liquidez e rentabilidade das carteiras. Com o novo ciclo de abertura dos juros das NTN-Bs, a Bram registrou um aumento da procura por fundos exclusivos com esses ativos marcados na curva. Os prêmios pagos pelas NTN-Bs voltaram a superar as metas atuariais dos planos de benefício definido. Os prêmios dos recentes leilões das NTN-Bs superaram os 7% ao ano mais inflação, enquanto as metas máximas permitidas pela legislação é de 5,5% ao ano mais o índice inflacionário em 2014.
Entre os maiores gestores de recursos, a Santander Asset Management vem apresentando os maiores crescimentos na classe de títulos privados (ver tabela). “Fomos paulatinamente aumentando a alocação em títulos privados nos últimos anos, é uma estratégia recorrente que adotamos de acordo com as oportunidades do mercado”, diz Eduardo Castro, superintendente executivo de investimentos da Santander Asset Management. Ele explica que o estoque de títulos é formado principalmente por ativos de grandes bancos, com destaque para as Letras Financeiras. Já os ativos de bancos médios são analisados caso a caso.
No segmento de crédito corporativo, a asset do Santander tem adotado uma atuação mais seletiva nos últimos meses. “Agora estamos mais seletivos em termos de preço no mercado de crédito. O mercado está muito volátil, é necessário avaliar o spread, estamos vendo se o risco do ativo reflete no spread”, diz Castro. O executivo se refere à alta volatilidade do mercado de renda fixa, sobretudo, dos títulos públicos.
A mudança do mercado de juros provocou uma reviravolta a partir do segundo trimestre do ano passado. “Houve forte impacto nas carteiras de fundos indexados à inflação. Devido à pressão inflacionária, o governo voltou a elevar os juros básicos, e os fundos da família IMA tiveram um desempenho muito ruim”, conta Castro. Ele lembra que os fundos da família IMA tinham sido o destaque positivo em 2012, mas se tiveram os grandes vilões em 2013.
Renda variável – O desempenho da bolsa doméstica afetou a evolução dos recursos em ações de empresas listadas no mercado brasileiro. O fraco desempenho do Ibovespa e dos principais índices da bolsa fizeram com que os ativos de renda variável doméstica sofressem crescimento negativo em 2013. “Foi uma tônica parecida com a do ano anterior m 2012. O fraco desempenho dos índices tradicionais incentivaram a migração dos investidores para fundos com gestão de valor”, diz o superintendente da Santander Asset. Ele ressalta o aumento da procura por estratégias descoladas dos índices principais, sobretudo, descolado do Ibovespa, que apresentou problemas maiores por causa das ações do grupo X.
Outras estratégias na renda variável, foram o aumento da demanda por fundos com ativos no exterior, e também pelos fundos de fundos. Essa tendência afetou também o segmento de fundos multimercados, que em alguns casos, realizam alocações em ações e ativos dos mercados internacionais. As principais assets estão ampliando a atuação nos mercados externos, como é o caso da BB DTVM, Bram, Itaú, HSBC e Santander. Na maioria dos casos, o veículo oferecido para acessar os mercados internacionais é o fundo de fundos (fund of funds). No caso da asset do Santander, os fundos no exterior contam com a gestão em parceria com uma área da institucional sediada em Londres.
Se na renda variável, a evolução do volume de recursos não foi positiva, no sentido contrário caminhou os ativos ligados ao segmento de fundos estruturados. Os imóveis, empresas fechadas e direitos creditórios continuaram com evolução positiva, apesar do desempenho modesto do crescimento do PIB brasileiro em 2013.