Edição 257
Com a alta volatilidade da renda fixa e o fraco desempenho do mercado acionário, os chamados “investimentos alternativos”, ou fundos estruturados, mantiveram o crescimento na carteira dos investidores no ano passado. De acordo com os dados desta edição do Top Asset, este foi o segmento que mais cresceu em 2013, impulsionado pelos resultados dos fundos imobiliários (FII), de participações (FIPs) e de direitos creditórios (Fidcs). Esses segmentos registraram expansão de 34%, 25% e 24% (ver Raio-X), respectivamente, em um ano marcado por desafios.
Apesar de dar sinais de desaceleração, os fundos imobiliários continuaram crescendo em volume de recursos. Já os Fidcs passaram por uma série de mudanças normativas, com o objetivo de tornar o mercado mais seguro para o investidor. A partir do segundo semestre, quando as prestadoras de serviço já estavam adaptadas às mudanças, novas séries foram emitidas e os fundos de direitos creditórios ganharam força. Os fundos de participações também se destacaram em 2013 como alternativa aos tradicionais produtos de investimentos do mercado. Para garantir uma boa performance dos FIPs, as gestoras apostaram em reavaliação de portfólio, diversificação de empresas e sofisticação de produtos.
Participações – Marcelo Flora, chefe da distribuição do BTG Pactual, destaca que o bom desempenho da asset na categoria de fundos de investimento em participações (Fips) se dá pelo foco da instituição em produtos mais sofisticados. “Fizemos grande esforço não apenas na busca por profissionais qualificados, mas no desenvolvimento de produtos de longo prazo”. Um dos agentes contribuidores do crescimento do BTG Pactual no período, segundo Flora, foi a conclusão da captação de US$ 1,6 bilhão para o Fip de infraestrutura. Flora destaca que quase todo o capital comprometido para o fundo Principal Investments I, concluído em 2011, está investido. Tanto que agora o banco está preparando a distribuição do Principal Investments II.
A Vinci Partners também destaca que seus principais Fips estão praticamente com todo o capital comprometido. Mas o crescimento em 2013 se deve, principalmente, à reavaliação das empresas de private equity investidas. “A Unidas, por exemplo, teve um crescimento enorme e relevante de faturamento. As empresas são reavaliadas e os fundos chamam mais capital”, explica o sócio da Vinci, Marcelo Rabbat. Outra grande contribuição para o crescimento da gestora em 2013 foi a captação para um Fip de base imobiliária.
Já a Pátria Investimentos, que mais uma vez também conquistou posição de destaque no ranking de Fips, ressalta a importância do aumento de investimentos de cotistas atuais. “É extremamente positivo, pois quando um investidor atual reinveste na mesma categoria ou em novo fundo, ele está satisfeito. Esse novo investimento do mesmo investidor é bem-vindo”, salienta Nemer Rahal, sócio da gestora. “Obviamente, atrair novos investidores também faz todo sentido. Buscamos ampliar nossa base e conseguimos atrair novos investidores, além de trazer novos investimentos de atuais investidores e, adicionalmente, de diversas categorias, seja de investidores institucionais, locais ou internacionais”.
Imóveis – O pessimismo dos investidores, refletido na desvalorização das cotas no mercado secundário no ano passado, foi na contramão do crescimento dos fundos imobiliários (FII) no período. Enquanto o IFIX, índice do setor na BM&FBovespa, amargou queda de 13% em 2013, os ativos sob gestão do segmento cresceram 34% no período, atingindo R$ 50,3 bilhões.
Segundo Reinaldo Lacerda, superintendente de fundos imobiliários da Votorantim Asset Management, o setor não passa por uma crise, e sim, por um momento de ajuste. “Aqueles retornos altos de 2012 não eram sustentáveis no longo prazo, pois um imóvel não se valoriza 20% ou 30% em um ano.
O normal é que o preço cresça de 1% a 3% ao ano ao longo da ‘vida’ do imóvel”, destaca José Diniz, diretor de fundos imobiliários da Rio Bravo. Segundo Diniz, a prova de que o setor se mantém atraente é o desempenho da carteira dos fundos sob gestão. No ano passado, 70% do crescimento dos FIIs da empresa vieram de quatro novas captações, estimadas em R$ 775 milhões. A Rio Bravo possui 23 produtos em segmentos que vão de lajes corporativas e shoppings a balcões industriais. Dos mais de R$ 8 bilhões de patrimônio geridos, entre 10% e 15% pertencem aos institucionais.
“Fundo imobiliário apresenta hoje uma grande oportunidade para o investidor. É uma forma de diversificar o risco, pois ele não fica concentrado em um único ativo, a taxa de vacância é baixa e as cotas estão sendo transacionadas a um preço que mal cobre o custo de reposição do imóvel”, diz.
“Como a expectativa é de que a curva longa de juros desacelere um pouco, e que a política monetária sinalize que cumpriu o seu papel e entrará em novo ciclo de afrouxamento, o setor se tornará mais promissor no segundo semestre”, destaca Diniz.
No momento em que o ciclo é de ajustes, e não de alta, saber garimpar é imprescindível. Para Lacerda, da Votorantim, há segmentos de destaque dentro do mercado imobiliário. A gestora apostou no ano passado, por exemplo, em lajes corporativas e em securitização, principalmente de Certificados de Recebíveis Imobiliários (CRIs). Entretanto, para 2014, o foco deve ser o segmento residencial e de shoppings.
Securitização – Outro segmento que passa por uma fase de ajustes é o de fundos de direitos creditórios, os Fidcs. No caso do setor, a reestruturação ocorre por questões regulatórias gerado por conta de uma série de problemas envolvendo recebíveis de bancos médios nos últimos anos. “Antes da instrução 531, era possível que a originação, cobrança e administração fossem realizadas por uma mesma instituição. A alteração na norma torna o mercado mais seguro e, por conta disso, ele tende a crescer mais nos próximos anos”, explica Ricardo Binelli, gestor multimercado e economista-chefe da Petra Asset Management.
O mercado só voltar a reaquecer no segundo semestre de 2013 quando os prestadores de serviços estavam totalmente adaptados às novas regras. Uma das estratégias adotadas pela Petra, para que o segmento ganhasse mais destaque nas operações da asset foi a pulverização. Um produto que recebeu mais atenção da gestora foi o fundo de cotas de Fidcs, que permite diversificação de ativos, lastros e benchmarks. Segundo Binelli, o produto é uma alternativa interessante para institucionais, pois tem mais liquidez que um Fidc tradicional e traz rentabilidade compatível às metas atuariais. Ao todo, a asset possui 40 fundos no segmento de recebíveis.
Gestores do setor esperam mais emissões de séries para este ano, represadas nos últimos dois anos por conta da mudança normativa, o que pode impulsionar as captações em 2014. “Os bancos devem manter uma política de concessão de crédito restritiva, o que pode gerar uma migração de funding do setor bancário para o de Fidcs”, avalia Bruno Amadei da Integral Investimentos.
De acordo com o gestor, nos projetos que já estavam em andamento em 2013, os destaques ficaram com os segmentos de crédito de grandes empresas, de fornecedores e de veículos, responsáveis pela maior parte dos retornos dos fundos. Para 2014, a projeção é lançar seis Fidcs, com foco em consignados e créditos de consumo.