Segurança em tempos de crise | Recessão e incertezas levam invest...

Edição 273

 

As perspectivas para a economia este ano já não eram boas desde o começo. Com o passar dos meses, contudo, o cenário foi se deteriorando para além do projetado pelo mercado e um ambiente de mais volatilidade e incertezas vem preocupando os investidores. Mesmo diante de tantas adversidades, a indústria de fundos vem crescendo de maneira significativa nos mais diversos segmentos. Nos últimos doze meses, que compreendem o período de julho de 2014 a junho de 2015, o mercado registrou expansão de 9,83%, atingindo R$ 3,08 bilhões de recursos sob gestão, conforme dados desta edição do Top Asset. Somente no primeiro semestre a expansão foi de 4,81%. Os resultados do setor foram impulsionados, contudo, por segmentos mais tradicionais, como títulos públicos e privados.
Segundo Carlos Takahashi, presidente da instituição que mais uma vez ocupa o primeiro lugar no ranking Top Asset, a BB DTVM, essas escolhas “mais conservadoras” do investidor são justificadas pelo cenário de recessão que o país vivencia. A inflação acumulada até julho atingiu o maior patamar dos últimos doze anos, com perspectivas de encerrar 2015 bem acima de 9%. Para conter elevações desenfreadas dos preços da economia, a taxa básica Selic, já voltou aos patamares de nove anos atrás e deve se manter nos 14,25% por mais tempo que o previsto pelo mercado, conforme sinalizado pelo Banco Central na última ata do Copom.
A asset do Itaú manteve a segunda posição geral do Top Asset, com crescimento expressivo de 14,50% em 12 meses. Já a Bram (Bradesco Asset Management) promete brigar pela vice-liderança nos próximos rankings a partir da aquisição do HSBC (ver matéria). Se somados os ativos sob gestão das duas assets, do Bradesco e do HSBC, hoje já superaria a casa dos R$ 511,6 bilhões, aproximando-se da asset do Itaú, com R$ 550,2 bilhões.
Na sequência aparecem Caixa Econômica e Santander, nas quarta e quinta posições, respectivamente. Apostando também em estratégias mais conservadoras, a asset do Santander (ver matéria de ativos) conseguiu expressivo crescimento, de 16,89% em 12 meses (a maior entre as cinco primeiras assets do ranking geral). O salto é verificado com o aumento da exposição a títulos privados, em 23,4% em 12 meses, e títulos públicos, que cresceu 18% também em 12 meses.
Outro destaque do atual ranking é a entrada da Verde Asset Management pela primeira vez com ativos segregados após a cisão da CSHG. Asset comandada por Luis Stuhlberger, a Verde entra como a segunda maior gestora independente do ranking e décima segunda na classificação geral. Em uma categoria específica, de ativos no exterior, a Verde aparece na liderança (ver matéria ativos). A maior gestora independente continua sendo a Western – que é a décima maior no ranking geral.

Cenário desafiador – O cenário econômico desafiador somado à crise política instaurada entre o Executivo e o Legislativo, tem elevado o prêmio exigido pelo investidor na aquisição de títulos da dívida pública, o que beneficia ativos de renda fixa. “Com o atual patamar dos juros, é possível manter ativos de baixo risco e bom rendimento com fundos DI. O momento também é propício para carregar fundos IMA, visto que ainda tem NTN-B pagando prêmios acima de 6% mais inflação”, afirma Takahashi. “Tais produtos atendem bem a necessidade dos institucionais, principalmente porque a inflação alta puxa a meta atuarial para cima”, complementa.
Para Takahashi, a tendência é que 2015 seja, de fato, o ano da renda fixa, tanto de títulos pré-fixados quanto de papéis atrelados a índices de preços. Ainda assim, há espaço para veículos mais sofisticados.
Um exemplo são os fundos no exterior. “Continuaremos tratando dos fundos off-shore como uma alternativa importante de diversificação para os investidores. A asset já ultrapassou a casa de R$ 1 bilhão de ativos no segmento com uma família de quatro fundos globais.
A BB DTVM tem realizado parcerias com assets globais para oferecer os fundos no exterior. O sistema de parcerias também será mantido para o lançamento de fundos em outro segmento, o de estruturados. Isso porque o Fidc lançado no final do ano passado, em parceria com a Votorantim Asset Management, teve boa resposta dos investidores, na opinião de Takahashi. O veículo, de debêntures incentivadas de infraestrutura, captou mais de R$ 300 milhões no lançamento. Mas, para a oferta de outro Fidc dessa natureza, Takahashi pondera que faltam emissões boas no mercado.
Com a VAM, a asset também administra uma família de FIPs de energia renovável, o FIP Energia Sustentável I, II e III. Uma nova dose “a quatro mãos” deverá ser aplicada para outra estratégia de investimentos no segundo semestre.“O modelo de parceria com a VAM se revelou a melhor opção para um produto desta complexidade, tanto do ponto de redução de riscos como do aumento da capacidade de distribuição. Pretendemos repetir a parceira para um novo fundo que está em fase de estruturação. Será um híbrido de Fidc e Fip”, afirmou Takahashi, sem detalhar a estratégia e a meta de lançamento.
A BB DTVM, que é responsável pela gestão de R$ 671,8 bilhões em recursos de terceiros, uma alta de 12,2% em doze meses e de 9,2% no primeiro semestre, tem apostado na estratégia de diversificação de captação para se manter no topo do ranking. Segundo Takahashi, tanto os clientes pessoa física quanto institucionais têm sido o foco de captação da gestora. Um exemplo é o destaque obtido no ramo de fundos exclusivos, que foi impulsionado, segundo o presidente, por fundos de pensão e por previdência aberta. Para ambos os casos, os mandatos que lideraram a estratégia foram os de renda fixa.

Conservadorismo – A preferência dos investidores por renda fixa levou a Caixa Econômica a lançar doze fundos lastreados às NTN-Bs no primeiro semestre, captando R$ 5,3 bilhões no período. Os veículos impulsionaram o segmento de renda fixa da instituição, que apresentou um dos maiores crescimentos na categoria de títulos públicos do Top Asset desta edição. “Este tem sido um ano de ajustes, ao mesmo tempo que estamos vivenciando uma deterioração maior na economia. A inflação bem acima da meta é ruim para o país como um todo, mas beneficia investimentos na renda fixa”, afirma Sérgio Bini, gerente nacional de investidores corporativos da Caixa.
Por outro lado, a Selic a 14,25%, que aproxima os institucionais da meta atuarial, também tem impulsionado os investidores a optar pela liquidez e segurança dos fundos DI. “Excluindo-se a inflação, sobra 5,25%, o que já ajuda a bater meta, dependendo da duração dos planos”, complementa Bini. Por isso, a renda fixa também predominou nos fundos exclusivos da Caixa. Ao contrário do que ocorreu com a asset do Banco do Brasil, a Caixa registrou uma leve queda no segmento nos últimos doze meses, pressionada, principalmente, pelos clientes corporativos.
A Caixa manteve o quarto lugar no ranking Top Asset da edição passada. Ao todo, a instituição é responsável pela gestão de R$ 386,7 bilhões, um aumento de 8,6% em doze meses e de 5,6% no primeiro semestre do ano. As Top 10 do ranking, inclusive, mantiveram suas posições praticamente inalteradas, exceto pelo J.Safra e a Votorantim Asset Management, que subiram para 8ª a 9ª colocação, respectivamente, seguidas pela Western na 10ª colocação. Quem deixou o grupo das dez maiores foi o Credit Suisse HG. No final do ano passado, a gestora foi segregada em duas, ficando com fundos de renda fixa e imobiliários. Nascida da cisão, a Verde Asset, liderada por Luis Stuhlberger, ficou com as demais estratégias da casa, aparecendo pela primeira vez no Top Asset nesta edição, na décima segunda posição.