Edição 290
Segmentação por Investidores (em pdf)
Os investidores institucionais, tanto os fundos de pensão como também os institutos de previdência, iniciaram o ano passado com uma postura cautelosa na área de investimentos. A postura foi adotada para enfrentar um cenário no qual a incerteza política e econômica reinavam, e quando a taxa de juros estava em patamar suficientemente elevado para que as aplicações mais conservadoras da renda fixa fizessem frente às metas atuariais. Já no segundo semestre, com o início do processo de redução da Selic, e com mudanças nas perspectivas econômicas, passaram a buscar ativos de maior risco, como ações e multimercados.
No ano passado, as aplicações dos fundos de pensão registraram incremento de 15,77%, e atingiram R$ 475,94 bilhões, enquanto entre os RPPS o aumento foi de 16,01%, alcançando R$ 119,58 bilhões. A previdência aberta, calcada na parceria entre assets, responsáveis pela gestão dos fundos, e seguradoras, que se encarregam de distribuir o produto à base de clientes, o incremento dos ativos foi um dos maiores registrados pelo mercado no ano passado, de 25,01%, para R$ 662,05 bilhões.
As primeiras posições permaneceram inalteradas em relação aos rankings anteriores, com a liderança da BB DTVM (ver matéria) e a Itaú Asset na segunda posição. A gestora do Itaú teve forte crescimento em 12 meses, de 50,86%, alcançando R$ 84,31 bilhões. Logo atrás, aparecem a asset do Santander na terceira posição em fundos de pensão seguidos pela gestora da Caixa e a Bram, na quinta posição.
Na Santander Asset, Aquiles Mosca, superintendente executivo comercial, explica que o crescimento no ano passado junto aos fundos de pensão, de 23,96%, ficou acima da média do mercado. A gestora obteve 19 novos mandatos de fundações, o que levou o número total de entidades atendidas pela Santander Asset para 120. Somados os aportes dos novo clientes com os recursos injetados pelas fundações que já eram atendidas pela gestora, no ano passado foram R$ 3 bilhões em ativos adicionais de fundos de pensão. A asset do Santander ficou na terceira posição na gestão de recursos de fundos de pensão, atrás da BB DTVM e da Itaú Asset.
“Do ponto de vista dos mandatos, os recursos ainda foram muito direcionados para a renda fixa, principalmente atrelada à inflação”, recorda o especialista, que lembra que essa é uma estratégia tradicionalmente mais demandada por esse perfil de investidor. “Essa foi uma categoria na qual os recursos dos fundos de pensão evoluíram com bastante força, e a performance atraente também contribuiu para isso”, diz Mosca.
O superintendente nota, contudo, a partir do segundo semestre um aumento da procura das fundações por ativos de maior risco. Nesse movimento, os multimercados exerceram papel de destaque.
A Bram teve um crescimento de 24,34% entre os fundos de pensão no ano passado, manteve a quinta posição do rankig anterior, mas se aproximou bastante da quarta colocada, a Caixa. Vinicius Albernaz, CEO da gestora, afirma que em 2016 ainda prevaleceu entre as fundações atendidas pela casa uma demanda mais voltada para ativos de renda fixa, principalmente as NTN-Bs. Com o processo de normalização da economia a partir do segundo semestre, e a perspectiva de queda da taxa de juros, as estratégias mais ativas de renda fixa e também os fundos multimercados tiveram um bom desempenho e passaram a despertar a atenção dos investidores, recorda o especialista. “Voltamos a observar o risco de reinvestimento vindo à tona para os institucionais”, diz Albernaz.
Na BNP Paribas Asset, o CEO Luiz Sorge credita o crescimento de 21,97% entre as fundações registrado em 2016 a um trabalho de evolução das estruturas internas da gestora. “As fundações passaram a olhar não apenas aspectos quantitativos, de performance, mas também qualitativos, sobre a estrutura da gestora, de como são feitos os controles, o processo de investimento e o compliance”. O trabalho da gestora do BNP Paribas para aprimorar sua própria governança realizado nos últimos anos foi reconhecido pelo público institucional, que tem se tornado cada vez mais exigente nesse aspecto, o que se traduziu em novos aportes de recursos por parte das entidades fechadas, explica Sorge. A asset do BNP Paribas ficou na sexta posição na gestão de ativos das fundações.
Entre as estratégias que os fundos de pensão mais demandaram da BNP Paribas Asset no ano passado, o CEO destaca os fundos de renda fixa com uma parcela de exposição ao crédito, segmento no qual a gestora já tem tradição de atuação reconhecida pelo mercado. “O fato de termos sido bem conservadores na tomada de risco no crédito nos trouxe como prêmio uma alocação maior dos investidores institucionais”, avalia o especialista.
Na Western Asset, o diretor executivo Marc Forster explica que o crescimento de 21,48% junto aos fundos de pensão em 2016 decorreu principalmente de cinco novos mandatos exclusivos obtidos para a renda fixa. A asset ficou na sétima posição na gestão de ativos de fundos de pensão, logo atrás do BNP Paribas. A estratégia de sucesso no segmento, que se baseou em uma leitura de mercado fora do consenso e que gerou ganhos com o fechamento da curva de juros, contribuiu para a atração de institucionais no período, explica Forster.
RPPS – Entre os clientes regimes próprios de previdência (RPPS) a liderança foi mantida pela asset da Caixa, com R$ 51,83 bilhões em ativos sob gestão. A asset cresceu 20,14% em 12 meses. “Apesar do momento difícil para estados e municípios, devido à crise fiscal, conseguimos crescer com os regimes próprios dos servidores, oferecendo soluções adaptadas para cada situação”, explica Daniel Sandoval, gerente nacional de recursos de terceiros da asset da Caixa. O executivo explica que em 2016 ainda predominaram os fundos de títulos públicos que captaram boas oportunidades de retorno. “Os RPPS privilegiaram aplicações em fundos pós-fixados, inflação e pré-fixados”.
A composição das carteiras variou para cada RPPS de acordo com as necessidades. Por exemplo, para os institutos com maior necessidade de caixa, foram privilegiadas aplicações em fundos mais líquidos com posições pós-fixadas. Muitos deles tiveram maior quantidade de obrigações de caixa devido aos atrasos de contribuições dos entes públicos.
O gerente nacional da Caixa ressalta ainda a proximidade com os dirigentes de regimes próprios como diferencial da instituição. “A proximidade e as soluções customizadas fazem parte da estratégia de nossa atuação com os institutos”, ressalta Sandoval. Ele explica que 2016 foi um período marcado ainda pela aversão ao risco, fato que começou a mudar apenas no final do ano. Por isso, não foi um período de lançamento de novos fundos e produtos com estratégias mais arriscadas para o público com esse perfil.
Na segunda posição entre os RPPS aparece a BB DTVM com R$ 45,62 bilhões – crescimento de 16,35% em 12 meses. “É uma posição destacada junto aos institutos devido ao trabalho conjunto com a equipe do Banco do Brasil e a unidade que atende especificamente a este público”, comenta Carlos André, diretor de gestão da BB DTVM. Ele comenta que os RPPS ainda mantiveram posições mais conservadoras no ano passado, com maior concentração em fundos indexados ao CDI e inflação.
Outro destaque neste segmento foi da Santander Asset, que obteve dez novos mandatos em 2016, o que levou a gestora a encerrar o ano com uma carteira de 210 RPPS. A asset fechou com R$ 2,38 bilhões em ativos de regimes próprios. De acordo com o superintendente comercial da gestora, Aquiles Mosca, a tendência observada entre as fundações também foi a que prevaleceu entre os institutos, mas com uma concentração maior no segmento de renda fixa no caso dos RPPS. “Entre os RPPS não houve o componente dos multimercados que tivemos com as fundações”, lembra Mosca.
A Western Asset também teve um crescimento significativo entre os RPPS no ano passado, de quase 50%, embora a base de clientes com esse perfil ainda seja relativamente pequena, de R$ 275 milhões. “Esse é um segmento que damos muito importância em termos de potencial de crescimento”, pontua o diretor executivo da gestora. Dado o potencial de crescimento do segmento em si, e a pouca penetração da Western entre os institutos até o momento, a casa aumentou o foco em cima desse público nos últimos três anos. A asset deslocou um profissional da área comercial para ficar exclusivamente voltado para o atendimento dos RPPS.
Com o sucesso na abordagem do público RPPS, desde março a Western passou a ter três executivos da área comercial com responsabilidade de cobertura do segmento.
Na BNP Paribas Asset, o crescimento nos doze meses encerrados em dezembro entre os institutos foi de 44,90%, embora a base seja relativamente pequena para o tamanho da asset, de R$ 137,66 milhões, para uma casa com ativos sob gestão da ordem de R$ 43,01 bilhões. Sorge explica que a asset voltou a dar mais atenção para esse perfil de investidor no último ano, após ter ficado por um período afastado desse nicho. “Os RPPS tem se estruturado melhor, eles vem se profissionalizando, buscando também uma melhora da governança, e para nós é interessante esse tipo de segmento”.
Previdência aberta – A Bram teve crescimento de 27,42% na previdência aberta e manteve a liderança no segmento. O CEO Vinicius Albernaz destaca que se trata de um nicho de mercado que tem apresentado um dinamismo maior do que outras classes de investidores, como a própria previdência complementar fechada. “Por fazer parte de um conglomerado financeiro como o Bradesco, com a capacidade de oferta de produtos em sua rede, acabamos tendo naturalmente uma participação significativa desse mercado”, diz o CEO.
A Santander Asset também teve um crescimento relevante na previdência aberta, com uma evolução de 24,58% em 2016, que correspondeu a um montante financeiro de aproximadamente R$ 3 bilhões, e que rendeu à gestora um market share no segmento de quase 6%. “Esse é um mercado foco para nós, e a performance tem sido um diferencial”. Mosca fala que, como o universo coberto pelos fundos de pensão é de apenas 2% da população, os outros 98% começam a se mobilizar de maneira mais acentuada sobre a formação de uma poupança para o longo prazo em um ambiente no qual o assunto tem ganho cada vez mais destaque com a proposta de reforma do sistema previdenciário em andamento em Brasília.
A BNP Paribas Asset também teve um forte crescimento na previdência aberta, de 969,85%, para R$ 899,08 milhões. A base ainda relativamente pequena explica parte da distorção na evolução percentual. Sorge lembra ainda que nesse segmento a atuação comercial é feita por meio de seguradoras, geralmente não ligadas a bancos, com o foco da asset nas estratégias adotadas pelos fundos distribuídos.