Prevalência do conservadorismo | Ambiente com incertezas econômic...

Edição 284

 

Mariores e mais focados (em pdf)

Raio X do Mercado (em pdf)

Em um cenário de elevadas incertezas econômicas e políticas que dominaram o país nos últimos meses, as gestoras de recursos conseguiram crescer os seus ativos sob gestão principalmente por conta da demanda crescente dos investidores por estratégias mais conservadoras em ativos de renda fixa no período dos doze meses encerrados em junho de 2016 – os títulos públicos registraram um aumento de 15,18% no consolidado da indústria de investimentos, enquanto os papéis privados tiveram uma queda de 5%.
A BB DTVM manteve a liderança no ranking geral do Top Asset, com R$ 722,08 bilhões em ativos sob gestão, após o crescimento de 7,49% nos doze meses até junho, sustentado pelo avanço de 13,92% dos títulos públicos, parcialmente compensado pelo recuo de 11,65% dos papéis privados. Na segunda colocação aparece o Itaú Unibanco, com um crescimento geral da carteira de 8,95%, que levou os ativos totais sob gestão a R$ 599,50 bilhões, também impulsionados pelo incremento de 16,54% dos títulos públicos, e apesar do decréscimo de 13,08% entre os privados.
A terceira colocação ficou com a Bradesco Asset Management (Bram), com um aumento dos ativos de 13,47%, para R$ 482,96 bilhões – a gestora do Bradesco não contabilizou no ranking Top Asset os ativos do HSBC, que no último levantamento apareceu na sétima colocação no ranking geral com R$ 81 bilhões. A Caixa se manteve na quarta colocação com R$ 416,18 bilhões e crescimento de 7,63%, assim como o Santander na quinta posição com avanço de 31,64%, para R$ 205,88 bilhões. O HSBC, que ainda aparece no ranking de maneira segregada, mesmo com a queda de 8% de seus ativos, para R$ 79 bilhões, subiu uma posição e ficou em sexto, beneficiado pela queda de 44,5% do BTG Pactual, que caiu uma posição e ficou em sétimo, com R$ 77,36 bilhões.
Ainda entre os dez primeiros, o J Safra manteve a oitava colocação do ranking anterior, com R$ 70,18 bilhões, e evolução de 25,32% nos ativos; a Votorantim Asset, por sua vez, também manteve o mesmo nono lugar do último levantamento, com crescimento de 17,92%, para R$ 45,67 bilhões; e a BNP Paribas Asset, em décima, passou a figurar entre as dez maiores gestoras de recursos do país, com R$ 42,33 bilhões, após obter um crescimento de 25,34% de seus ativos nos doze meses até junho. A Verde Asset, que no ranking anterior estava na décima colocação, perdeu uma posição e ficou na décima primeira, após ficar próxima da estabilidade, com queda de 0,60% em seus ativos sob gestão nos doze meses encerrados em junho, para R$ 33,1 bilhões.
“O primeiro semestre foi bastante desafiador porque tivemos uma série de eventos que tornaram o mercado bastante volátil. Nesse contexto nosso desempenho foi positivo, tanto em termos de captação de novos recursos como de performance nas principais categorias de fundos”, afirma Carlos André, diretor executivo de gestão de fundos da BB DTVM. Embora ainda tenha notado uma predominância dos novos recursos rumo às estratégias mais conservadoras, o executivo nota que também houve demanda para classes de ativos de maior risco, como renda variável e títulos públicos de longa duração e indexados à inflação. “São ativos que tiveram um desempenho muito positivo nos últimos meses, e que continua nesse começo de segundo semestre”, comenta o profissional da gestora do Banco do Brasil.
Estratégias com títulos públicos de longo prazo, ressalta Carlos André, ganharam fôlego importante no período analisado pelo Top Asset devido às mudanças na legislação da previdência aberta, em que as empresas do setor precisam até o fim do ano alongar a ‘duration’ de suas carteiras para um prazo médio de até cinco anos para atender aos requisitos impostos pelo regulador do sistema.

Retração – O crescimento observado na demanda por títulos públicos, destaca o diretor da BB DTVM, além da questão do alto rendimento pago no período pela classe de ativo, se relaciona também com a própria retração verificada no mercado de títulos privados. “O mercado local de títulos corporativos não tem oferecido novas oportunidades de alocação de recursos”, observa Carlos André, que ressalta que as empresas ainda tem enfrentado dificuldades em suas atividades, o que se reflete na escassez de debêntures corporativas; e mesmo os bancos de primeira linha, pondera o especialista, a demanda por financiamento também está abaixo da média. “Com isso, há um direcionamento natural maior para os títulos públicos e para as operações compromissadas”.
Além da falta de novas opções no mercado de títulos privados, também contribuiu para a queda registrada pelo segmento a própria depreciação no valor das cotas diante das dificuldades enfrentadas por muitas empresas nos últimos meses. “Passamos por um período complexo, com muitas renegociações de dívidas e quebras de acordos, mas do nosso ponto de vista acreditamos que o pior já passou. Temos observado uma recuperação nos últimos três meses”.
No mercado brasileiro de ações, que teve uma queda 14,73% nos doze meses encerrados em junho pelos dados do Top Asset, e que no caso da BB DTVM a retração atingiu 18% no período, o diretor credita o resultado à crença da asset em seguir apostando nos fundamentos das empresas, e não acompanhar o fluxo do mercado mais apoiado em mudanças de expectativas e especulações do que em melhorias concretas do ambiente macroeconômico. “Temos procurado não nos contaminar muito pelos ruídos e pela volatilidade do mercado, e centramos nossa decisão de alocação na renda variável olhando para os fundamentos. Em alguns momentos os fundamentos não prevaleceram e nossa rentabilidade tende a ficar prejudicada, mas entendemos que para o médio e longo prazo essa é a estratégia vencedora”, pontua Carlos André.

Reavaliações – Na divisão por tipo de veículo de investimento, a queda de 13,32% entre os fundos de private equity do mercado como um todo nos doze meses encerrados em junho não foi sentida pela BB DTVM, que no período registrou um crescimento de 276% na classe de ativo. O desempenho positivo da gestora do BB no segmento, avalia o profissional, se deve à reavaliação pelos quais passaram alguns ativos nos fundos em que a asset é a administradora do veículo. “Por serem ativos não listados e sem liquidez, eles precisam passar por esse processo periodico de reavaliação para efeito de contabilização na carteira dos fundos”, explica o diretor da gestora do Banco do Brasil.
Entre os ativos recentemente reavaliados nas carteiras dos fundos administrados pela BB DTVM, há uma predominância de grandes projetos envolvidos com o segmento de infraestrutura, ainda que existam também outros setores contemplados entre os FIPs da asset, como na área de alimentos.
Já na categoria dos fundos imobiliários, a gestora do BB ficou em linha com a média da indústria, com um crescimento de 7% nos doze meses até junho, ante um aumento de 6% no consolidado do mercado. No período de seis meses, no entanto, a asset registrou uma queda de 27,8% no segmento. “O segmento imobiliário ainda tem sofrido com a crise, principalmente a parte comercial, de aluguel de lajes e salas corporativas. É um segmento que ainda não mostrou recuperação”, avalia Carlos André.
O executivo da BB DTVM destaca que, diferentemente de outras classes de ativos, o mercado imobiliário não costuma antecipar uma recuperação da economia no preço dos seus ativos. “Provavelmente é um mercado que ainda vai passar por um período de ajuste mais prolongado”.