Edição 379

Nos fundos de crédito privado, assim como nos fundos de ações, ficou ainda mais evidente este ano a relevância da seletividade na escolha dos ativos, avalia Ana Rodela, CIO (Chief Investment Officer) da Bradesco Asset Management. “Novamente, a seleção cuidadosa foi muito relevante no crédito privado este ano porque havia a percepção de que as empresas mais sensíveis iriam sofrer. Embora não tenha ocorrido nenhum evento de crédito, várias empresas sofreram um ajuste importante de preços em suas debêntures, algumas com perdas de valor da ordem de 20% a 30% e nós não tínhamos esses ativos em nossas carteiras graças à seleção cuidadosa”, observa.
Nos fundos de ações, as decisões seguem a mesma lógica e a busca é por papéis de empresas de qualidade, com margens altas e fluxo de caixa mais resiliente. “Setores como o de concessão de energia elétrica, rodovias e saneamento têm sido os de melhor qualidade. Mesmo nos casos das empresas mais seguras, o retorno foi atrativo e a TIR (Taxa Interna de Retorno) chegou a 10% ”, explica a CIO. Além disso, a baixa exposição ao setor de commodities contribuiu para os resultados positivos.
“O cenário para as commodities continua fraco atualmente, assim como o retorno segue bom nas empresas de fluxo mais resiliente, então esses ainda são dois aspectos que consideramos importantes na seleção”, diz. Se o banco central americano acelerar o corte do juro, o mercado no Brasil poderá mudar seu humor e ficar mais otimista em relação ao risco da renda variável. “Nesse caso, as empresas menos conservadoras poderão ganhar espaço nas nossas carteiras mas, por enquanto, vamos ficar com as mais conservadoras”, observa Rodela.
Nos fundos de renda fixa soberana, o destaque tem sido mais para os títulos públicos pré-fixados do que por NTN-B, até porque esses papéis têm sofrido um pouco na precificação devido a razões técnicas. “Operamos mais taticamente nessa classe e menos por convicção, porque o mercado está muito volátil do lado geopolítico”, afirma.
Para a classe de multimercados, os resultados vieram principalmente do book de juros e de operações long and short no mercado de ações dos Estados Unidos. Daqui para a frente, avalia a gestora, o ambiente continuará a ser de alta volatilidade e de incertezas.
“Há um cenário que parece bem desenhado para o corte de juros mas há também uma série de questões geopolíticas que não dão sinal de arrefecer, só de escalar. É difícil avaliar o quanto poderão escalar porque dependem de uma série de personagens e de eventos específicos e decisões para as quais não há parâmetros históricos” afirma Rodela.
O impacto do tarifaço pelo governo dos EUA acaba pesando menos sobre a economia de modo geral, mas é preciso levar em conta outros aspectos, como as questões geopolíticas e o cenário eleitoral no Brasil. “Por enquanto a eleição aqui parece caminhar para ser um evento binário, mas ainda há uma distância grande até lá e a percepção é de que será uma disputa apertada”, diz Rodela.
A diretriz para a gestão dos fundos nos próximos meses é manter o posicionamento técnico contra os excessos do mercado e operar seguros/hedge, além de uma atitude bastante cautelosa na renda fixa soberana porque não há muita convicção nas posições. O corte da Selic deve começar a acontecer a partir de janeiro, segundo a projeção mais recente feita pela instituição, e a estimativa é de que a taxa atinja 12% no final de 2026.
Quanto ao crédito privado, os dados também impõem cautela porque indicam uma piora ainda maior na inadimplência do que aquela que já foi identificada nas estatísticas do Banco Central. “Houve uma piora sensível nesses números, mas há espaço para piorar mais e acompanhamos de perto os originadores”, afirma. Nesse ambiente é preciso ter a disciplina necessária para reduzir posições de muito cuidado nas novas operações.
“A maior parte das empresas vai passar bem por esse momento, mesmo porque o mercado de capitais deu a elas a possibilidade de alongarem suas dívidas, mas aquelas que estavam na fronteira entre uma posição mais tranquila ou não poderão sofrer um pouco mais”, observa Rodela.
Na carteira de crédito privado, os FIDC têm crescido mas também exigem atenção porque o risco high yield das empresas sofreu uma deterioração e as cotas subordinadas são as que absorvem uma parte importante das perdas. “O retorno do high yield é interessante, mas houve uma queda nos spreads de até 250 a 300 pontos base. Só entramos nesse mercado por meio de cotas sênior, a não ser no caso de produtos muito específicos e em volumes bem menores, nos quais podemos eventualmente entrar em cotas subordinadas”, explica.
O comportamento do investidor local, diz a gestora, continua a ser muito monotemático. Os recursos continuam vindo mais para o crédito privado, inclusive pelo receio da tributação que ocorrerá a partir de 2026. “Nos fundos de ações, porém, podemos dizer que houve apenas uma redução dos resgates. Fluxo de entrada na renda variável, por enquanto é só de estrangeiros”,diz.
Nos multimercados e na renda fixa ativa também não há um fluxo de entrada, embora já seja perceptível uma redução nos resgates. “Nos próximos 12 meses, vejo espaço para que a captação de recursos nesses fundos aumente em função do menor retorno dos fundos de crédito, mas não há indicação de que esse movimento será muito forte ou rápido, até pela proximidade das eleições”, afirma Rodela.

Surfando a queda do dólar – O fator chave para os mercados este ano foi a desvalorização do dólar frente ao real, que saiu de R$ 6,30 em dezembro de 2024 para R$ 5,40 refletindo uma perda de valor da moeda americana de modo generalizado que impulsionou os mercados como um todo, avalia Gilberto Kfouri, CIO da BNP Paribas Asset Management no Brasil. “O carry trade do juro ajudou o real e a perspectiva de antecipação do ciclo de queda da Selic tem sido muito benéfica para a bolsa. Na base desse movimento, porém, está a desvalorização do dólar frente às outras moedas”, diz.
Fatores como a guerra tarifária dos EUA e as ameaças de ingerência do governo Trump no Federal Reserve fazem com que mercado vá perdendo parte de sua confiança na economia americana. “A saída de recursos de lá, ainda que seja em percentuais pequenos em relação ao PIB dos EUA, representa muito para outros mercados, como o brasileiro”, acredita Kfouri.
Nos fundos de crédito, que são o principal foco da casa, houve um fechamento expressivo de spreads tanto no mercado local como lá fora. “Mas esse é um mercado maduro, com maior liquidez em que é possível obter resultados acima do benchmark porque a nossa gestão ativa aumenta a capacidade da gestão navegar nesse cenário”, diz.
As carteiras alocam exclusivamente em ativos high grade, um universo em que as empresas estão performando bem, sem problemas de inadimplência que representem impedimento para investir, informa o gestor. O forte da alocação está em ativos de empresas de energia, concessões rodoviária e logística. “As nossas carteiras têm muitos papéis do setor bancário – há um fundo que só investe nesse setor. Nos fundos que combinam o crédito bancário ao corporativo, os percentuais dependem do perfil de cada um deles em função de suas respectivas carências”, explica.
Na renda fixa soberana, a asset mudou a composição de suas carteiras ao longo do primeiro semestre. “Havia mais ativos indexados à inflação e hoje temos uma posição maior em pré-fixados. Olhando para a frente, talvez seja preciso rebalancear novamente esse equilíbrio”, afirma.
Este ano, segue a tendência de enfraquecimento do dólar, com o real “surfando” esse movimento. “Em 2026, a eleição dará maior destaque ao debate sobre as questões fiscais e, do lado do câmbio, o carry trade tende a ser menor devido à redução dos juro. Este ano, porém, o real continua com uma performance surpreendente”, observa.
No cenário global, ele observa que o mercado precisa considerar os ruídos emitidos pelo governo Trump, que dá sinais de querer interferir inclusive na atuação do banco central americano. No Brasil, a eleição e o equilíbrio fiscal, frente à possibilidade de mais gastos do governo, são os fatores mais relevantes para a gestão, avalia Kfouri.

Tensões geopolíticas – A leitura do cenário está mais complexa este ano, com as tensões acumuladas no ambiente geopolítico e macroeconômico global, incluindo as tarifas dos EUA, o trade-off com a China, as tensões com a Rússia e outros, lembra Tiago Lima, diretor de distribuição da BTG Pactual Asset Management. “Nesse ambiente, o gestor precisa ter estrutura de proteção para ser curto prazista no mercado global. No lado doméstico, aumenta o cuidado para fazer operações com duration mais controlada e cautela na alocação de risco porque o Brasil ainda têm um prêmio elevado de juro”, lembra.
Os fundos Excelentes na classe de renda fixa têm liquidez e são de curto prazo, atrelados ao CDI, e o risco de crédito é baixo ou soberano. No fundo de gestores globais, sete a dez empresas concentraram 40% dos resultados e o setor de tecnologia segue na vanguarda.
Os nove primeiros meses de 2025, avalia Lima, reforçaram mais um ano de destaque para os fundos de crédito, tanto no high grade quanto no high yield. “Nos FIDCs houve uma estagnação na captação em agosto, que foi um mês de zero a zero para o fluxo de recursos”, diz. O crédito estruturado tem sido atrapalhado pela nova regra de tributação, embora ainda sejam veículos muito utilizados. “De modo geral, seguimos otimistas este ano com os veículos e com oportunidades específicas no mercado de crédito, inclusive em fundos abertos porque a instituição tem um sistema de originação, conhecimento e infraestrutura de crédito para acessar esteiras importantes nessa classe”, afirma Lima.
Na asset, a captação para crédito privado atingiu mais R$ 40 bilhões em 2024 e está um pouco menor este ano mas tem sido proporcional à captação da indústria. “Temos conseguido manter o nosso market share”, diz.
A casa tem buscado ampliar as oportunidades em crédito também via ETFs ( Exchange-Traded Funds ou fundos de índices), veículos que têm sido destaque em captação ao longo do ano e atraem investidores de todos os públicos. “Começamos o ano com um total de R$ 800 milhões a R$ 1 bilhão em ETFs e em agosto esse volume está batendo R$ 4,5 bilhões, com presença expressiva de fundos de pensão e RPPS”, informa Lima. Ao todo, a asset já lançou mais de 20 ETFs, com temas diversificados.
Se o assunto principal no mercado doméstico tem sido o crédito privado, a gestora aposta também na diversificação geográfica, por meio de produtos e parcerias internacionais para adequar sua grade de veículos ao cenário de juro mais baixo aqui e lá fora. “No mercado local, o “açúcar” oferecido pelos títulos soberanos ainda é o que mais atrai e concentra recursos dos investidores, mas já estamos nos preparando para quando forem concretizados os cortes de juros nos EUA e no Brasil”, diz.
A aposta é de que esse caminho passará pelo aumento da diversificação global. Na lista de parcerias internacionais da BTG Pactual Asset, atualmente composta por 13 gestoras, Lima destaca a KraneShares, focada em dar acesso à China através de estratégias inovadoras de ETFs com temas específicos daquele país, além de clima e ativos alternativos. Um deles é o ETF KWEB, que replica as principais ações do mercado chinês via CSI Overseas China Internet Index, composto por companhias baseadas naquele país e cujos negócios primários são focados na internet ou em tecnologia relacionada à internet.
“As oportunidades em China têm sido uma surpresa positiva no que diz respeito ao potencial de diversificação e vemos uma tendência de migração geográfica para aquele mercado, com recursos saindo dos EUA. Já há gestores locais comprando esse ETF”, diz Lima. Outra classe ainda embrionária e relevante para diversificar é a dos fundos com gestão ativa de renda variável no exterior.
Ranking – Data base 31/06/2025 (arquivo em pdf)
Fundos analidados em 12 / 24 / 26 meses (arquivo em pdf)
Performance geral dos gestores (arquivo em pdf)
Melhores gestores em Renda Fixa (arquivo em pdf)
Melhores gestores em Multimercados (arquivo em pdf)
Melhores gestores em Ações (arquivo em pdf)
Gestoras participantes (arquivo em pdf)