Estratégia sob escrutínio do mercado | Apesar de poderem atuar em...

Edição 370

Lovisotto,Fernando(VinciPartners) 22abr sumarioA política de juros do Banco Central segue sendo o ponto de referência dos multimercados, que consistentemente têm perdido investidores para outras classes de investimentos. Apesar disso, algumas estratégias conseguem se aproveitar das mudanças nos juros. “O mercado sofreu com a mudança de perspectiva do juro, primeiro apostou que não haveria mais cortes na Selic, depois apostou que o BC elevaria um pouco a taxa e agora já fala em altas maiores. Nesse ambiente, os multimercados que tinham baixa exposição a risco foram favorecidos”, observa Fernando Lovisotto, sócio e CIO da Vinci Partners.
Dois dos multimercados da asset têm baixa volatilidade, em torno de 4%, patamar que é considerado baixo para essa indústria, sendo que um deles é long and short e aposta em setores e empresas que se beneficiam ao manter uma posição sempre short no Ibovespa. “Esse fundo pegou teses boas, como a da Embraer, um setor que vai bem e tem o efeito do dólar. O setor de construção de baixa renda, em especial o Minha Casa, Minha Vida, também foi uma boa tese, assim como o petróleo”, diz Lovisotto. Os gestores buscam identificar movimentos e fazer posições mais compradas do que o índice. “Foi uma visão acertada e o fato de os fundos terem baixo risco também foi importante para amenizar o efeito da mudança na perspectiva do juro”, afirma.
O desempenho dos ativos de crédito também ajudou o mandato do fundo que aloca em crédito com risco controlado e boas garantias. No multimercado internacional, o ganho veio do S&P e da variação do dólar contra o real. “O retorno ajustado ao risco foi muito bem mas fazemos algumas proteções em derivativos de S&P. Na alocação doméstica, a carteira tem pouca duration e não tem juro longo. “O risco local está praticamente zerado”, conta.
A asset tem seis fundos multimercados, com patrimônio entre R$ 3 bilhões a R$ 4 bilhões. “O nosso fluxo de recursos sob gestão na classe ainda está no patamar de resgate líquido, mas é pouco. Sofremos, mas não tanto quanto a média da indústria”, diz Lovisotto.

Mendez,Thiago(BahiaAsset) 24setFlexibilidade – A avaliação dos fundos multimercados como veículo de investimento deve levar em conta sua flexibilidade para alocar em diferentes classes de ativos, observa Thiago Mendez, responsável por fundos multimercados e de renda fixa da Bahia Asset. “São produtos com mandatos amplos, que podem ter mais ou menos risco em determinados mercados e gerar rentabilidade independente das tendências”, afirma.
Ele avalia que “o período de 2023 a 2024, na média, tem sido desafiador para os multimercados, que haviam registrado um ano muito bom em 2022. Entre o céu e o inferno, a maioria desses fundos mais longevos tem rentabilidades expressivas acumuladas.”
O fundo Mutá, que surgiu em maio de 2017, tem retorno acumulado de 136% contra 74% do CDI no período, por exemplo. Outro multimercado macro da asset, o Maraú, mostra em seu longo histórico, de 13 anos, a capacidade de gerar alpha sem ter necessariamente correlação com um ou outro ativo. “Seu retorno acumulado desde o lançamento, em dezembro de 2012, até 23 de setembro de 2024, era de 260% frente a uma variação de 180% do CDI”, informa Mendez.
A oferta de fundos multimercados aumentou muito e rapidamente nos últimos anos, o que dificultou a escolha dos investidores, acredita o gestor. “Há casas com viés mais forte de bolsa, outras que exploram mais o crédito e assim por diante. Aqui buscamos não ter qualquer viés. As estratégias podem estar compradas ou vendidas em bolsa e até mesmo não ter bolsa em suas carteiras. Também podemos estar 80% posicionados em Brasil e 20% em exterior, como ter 90% no mercado externo”, explica.
A gestão dos multimercados da asset considera os mercados de juro Brasil, moedas, bolsas e internacional (juro não Brasil, dívida e crédito soberano). “O norte é dado pela área de pesquisa macro”, conta.
Nos fundos, a tese principal entre 2023 e 2024 identificou um processo global que caminharia para a desinflação e desaceleração econômica gradual, em ambiente benigno. “Mas esse processo não é linear, então focamos muito em pesquisa e construção de cenários econômicos”, observa Mendez.
Entre as teses temáticas exploradas pela casa está a do ouro, que se beneficia da queda coordenada dos juros e da queda do dólar, mas também dos fatores geopolíticos. “Alguns países, especialmente os asiáticos e os do Oriente Médio, buscam a diversificação das reservas em seus bancos centrais, principalmente aqueles não aliados aos EUA e os que estão envolvidos na guerra na Europa”, explica. Por conta disso, a asset começou a comprar ouro há um ano e meio.
A classe dos multimercados passa por um período de consolidação, um caminho sem volta, acredita Mendez. “Teremos um número menor de casas oferecendo esses produtos porque o mercado cresceu muito, mas há potencial porque hoje há uma fatia maior de multimercados na poupança do investidor final, como na previdência, por exemplo”, acredita Mendez.
No Brasil, ele observa que em algum momento o juro voltará a cair e a perspectiva é de que, em dez anos, o brasileiro esteja mais alocado em multimercados. “Houve uma corrida por esses fundos e alguns movimentos foram feitos de maneira insustentável. A tendência é de que as casas com estruturas mais fortes continuem no mercado e todos aprendam que é preciso estar preparado para as flutuações de mercado”, diz Mendez.
Feijo,Bernardo(Kapitalo) 24set 02Bolsa brasileira é destaque – A performance dos multimercados da Kapitalo Investimentos na janela de 12 meses encerrados em junho veio principalmente da bolsa brasileira. “Nós costumamos gerar retorno fazendo seleção de ativos e não temos uma visão direcional da bolsa”, explica Bernardo Feijó, sócio e especialista de portfólio, responsável pelas áreas e Risco e de Relações com Investidores.
As duas estratégias fundamentais da casa estão nos fundos Kappa e Zeta. Eles seguem a mesma estratégia mas os níveis de risco são diferentes. No fundo Zeta, os destaques em posições compradas, em setembro, estavam em commodities, transportes/logística, serviços financeiros e saúde. Nas posições vendidas, consumo, construção, educação e empresas estatais.
“A estratégia de commodities ganhou com operações de valor relativo entre empresas de metais, energia e agrícolas. Temos uma equipe de analistas de commodities, assim como um time de analistas de bolsa e a equipe de pesquisa macro”, diz Feijó. Em linhas gerais, parte da estratégia de bolsa se mantém, mas variou o tamanho relativo de cada setor. “A bolsa brasileira continua como destaque de performance no ano”, afirma.
No fundo Kappa, um multigestor que é o mais antigo da casa e tem nível de risco menor do que o do Zeta, explica Feijó. “O risco nesse caso olha a volatilidade de cada fundo e a medida de dispersão de resultados, buscando entregar esses níveis”, diz. A volatilidade no Kappa é de 10%, enquanto no Zeta ela chega a 12%. “Esperamos conseguir esse nível de volatilidade mas também entendemos que ela é proporcional ao retorno que se busca”, lembra Feijó.
O ano de 2024 tem sido mais difícil para a indústria de multimercados, mas os dois fundos tem apresentado retornos acima do benchmark, embora estejam abaixo do nível médio de dispersão de retorno.
A classe de multimercados não cumpriu seus objetivos e retornos históricos nos últimos 18 meses, lembra Bernardo Feijó, e a performance da indústria ficou abaixo da rentabilidade histórica que havia levado os gestores a ficarem muito grandes. Ele acredita que o momento atual dessa classe é muito positivo porque acaba atraindo novos players. “Desde 2017/2018 muitos novos gestores foram atraídos pela possibilidade de crescimento rápido que acabou não se concretizando, devido à pandemia. E muitos deles não conseguiram atingir o tamanho esperado”, avalia.
A expectativa agora é de que o mercado caminhe para uma consolidação de recursos nas maiores casas. O tamanho desse mercado será menor em quantidade de gestores e os que ficarem serão aqueles que tiverem conseguido mostrar resultados positivos, mais antigos e bem estruturados. “ Mas estou otimista com a capacidade dos gestores de multimercados gerarem alpha”, enfatiza Feijó.

Lee,Vivan(Ibiuna) 24julCenário complexo – Na Ibiuna Investimentos, o crédito privado trouxe resultados relevantes nas janelas de 12, 24 e 36 meses para o Ibiuna Credit Fic Fim CP. “O fundo investe em crédito, mas procura alocar nessa classe tanto no mercado local quanto no offshore, no limite até 20% do patrimônio”, explica Vivian Lee, sócia e CIO da área de crédito da asset. A parte externa inclui uma estratégia Latam, em crédito corporativo. No mercado local, há ativos líquidos e estruturados, com até 20% em empresas de capital fechado. A exposição é ampliada sempre que surgem preços mais atrativos em determinados ativos.
“Em 2023, com o evento de crédito da Americanas, vimos uma boa oportunidade nos ativos líquidos e a composição da carteira mudou para ter mais operações de bancos e utilities. O mix de ativos brinca entre as diversas caixas e os emissores são globais e também locais, incluindo a Aegea, CSN e Eletrobras, entre outros”, conta.
No multimercado long and short, um hedge fund que só opera ações, a gestão procura capturar uma performance relativa para não correr risco de mercado, explica André Lion, sócio e CIO de ações da Ibiuna. O mandato é exclusivamente para alocação em empresas brasileiras mas o fundo procura alternativas para fazer hedge. Se houver posição comprada em Petrobras, por exemplo, o fundo pode operar o mercado futuro de petróleo Brent ou ETFs de empresas petrolíferas nos EUA, para não correr risco de mercado.
“Acompanhamos o mercado de petróleo em função do hedge, mas não queremos operar petróleo, fazemos a gestão com essa visão que combina as ações da Petrobras e o futuro de Brent”, detalha. O minério de ferro e os ETFs de mineradoras também são operados como instrumentos de hedge para as ações de mineradoras.
“Em 2024, o cenário macro é complexo, especialmente na parte fiscal, e o juro em alta no curto prazo. A estratégia do fundo, por não ter correlação com o mercado,tende a ir bem independente do cenário”, diz Lion. Ele observa que o processo de relaxamento monetário nos EUA, contudo, muda a dinâmica de todos os mercados globais e o Brasil pode ter um impacto positivo por conta de ventos mais favoráveis da economia americana, mas o cenário é cauteloso em relação às variáveis domésticas.
“Nas empresas locais, os resultados do segundo trimestre estão bastante sólidos e esperamos resultados bons também no terceiro trimestre, mas o ciclo de alta da Selic vai aumentar as despesas financeiras e o custo de capital das empresas”, avalia.

Melhores gestores em Multimercados (arquivo em pdf)