Carteiras ajustadas à volatilidade | Gestores tiveram que convive...

Edição 354

O ano de 2022 foi uma continuação do movimento iniciado no 2º semestre de 2021, marcado pela forte correção dos ativos de risco, para a Oceana Investimentos. De acordo com Daniel Tavares, sócio responsável pela área de RI da gestora, uma análise simplista do movimento de preços do Ibovespa neste período não traz a correta compreensão da magnitude da oscilação que foi observada em alguns setores. “Os ativos dos setores de varejo, consumo, shoppings, tecnologia, saúde, educação e transportes sofreram correções impressionantes e que não foram refletidas de forma mais explícita no índice pelo simples fato de que o Ibovespa, atualmente, possui 35% de empresas exportadoras de commodities em sua composição, e estas performaram bem nos últimos 18 meses”, diz.
Segundo ele, para compreender o que ocorreu naquele período o ideal seria dividir o movimento de correção de preços em duas partes: a primeira seria uma correção dos exageros ocorridos no período de grande euforia iniciado em março de 2020, e a segunda seria reflexo da piora das perspectivas fiscais e macroeconômicas. “Estes dois movimentos combinados levaram o mercado a um ambiente de preços atrativos para as ações, porém com um pano de fundo macroeconômico bastante desafiador”, afirma.
Na gestora, que este ano completa 15 anos de existência, ele lembra que o tempo e a experiência adquirida pelo time fizeram a casa navegar por diversos momentos de crise em que os ativos estavam aparentemente baratos mas em ambientes macro desafiadores. Essa experiência, aliada à filosofia de investimento com foco na preservação de capital, foi importante para transitar bem no ano de 2022. “Os fundos institucionais Oceana Selection e Oceana Valor obtiveram um bom resultado no ano com destaque para os setores de utilities, com as posições em Equatorial e Eletrobrás, o setor financeiro, com as posições em Itaú B3, além do setor de consumo com a posição em Hypera”, avalia.
O processo de análise é baseado no cenário de estresse que cada uma das companhias do portfólio poderia atravessar. “Procuramos descobrir se em períodos turbulentos essas empresas possuem vantagens competitivas claras e balanços sólidos para reforçar o seu posicionamento competitivo de longo prazo ou se estão tão alavancadas que se veem obrigadas a retrair suas operações com perdas relevantes de market share”, diz.
Este ano, o entendimento da casa é que a maioria das empresas de seu portfólio está ampliando vantagens competitivas frente aos seus concorrentes e tende a consolidar mercado ao longo dos próximos anos, um efeito que pode se provar poderoso para o retorno dos acionistas. “Em momentos como o atual, de grande incerteza, o mercado tende a generalizar os efeitos negativos, dando peso excessivo ao cenário macro e às notícias político-econômicas, subestimando ao mesmo tempo os efeitos positivos que podem ser gerados nas crises pelas empresas que têm claras vantagens competitivas”, afirma.

Especializada em fundos de ações voltados ao segmento de small caps, a Trígono Capital conseguiu capturar valor em 2022 explorando oportunidades para as quais o mercado não estava olhando, em empresas que estavam mal avaliadas, diz Werner Roger, sócio fundador e CIO. A gestora inclui no conceito de small caps empresas abaixo de US$ 2 bilhões em valor de mercado. O fundo carteira livre Verbier, por exemplo, ficou mais voltada para small e micro caps devido à conjuntura de mercado. Já o fundo Flagship aplica em small caps e o fundo Delphos All Caps é voltado para empresas com histórico de pagar bons dividendos e potencial de seguir nessa trilha no futuro. “O portfólio Delphos tem empresas mais maduras e sem perspectiva acelerada de crescimento, enquanto o fundo Flagship é mais voltado para crescimento. As três estratégias, portanto, englobam small caps, Ibovespa e dividendos”, explica.
Todos os fundos da casa bateram os benchmarks de referência, o SMLL, em 2022. “Foi um ano difícil, mas olhamos empresas que o mercado não enxerga e avaliamos o seu fluxo de caixa descontado ou o EBITDA e também analisamos os projetos usando uma ferramenta de gestão de empresas. Fazemos isso ao longo de todo o ano, avaliando o custo do capital ao longo do tempo e em alguns casos encontramos valores muito diferentes do mercado”, detalha.
Os portfólios também levam em consideração as práticas de sustentabilidade das companhias (critérios ESG) e a governança pelo poder que a gestora tem de indicar conselheiros. Hoje há 15 conselheiros em conselhos fiscal e de administração indicados pela gestora, número que este ano deve aumentar para 23 a 25 conselheiros por conta do crescimento do total sob gestão. “Somos ativistas, mas nenhum de nós tem assento nos conselhos, são sempre profissionais com experiência e perfis complementares.”, afirma.
A gestão é ativa e não usa qualquer derivativo, não faz alavancagem ou aluguel de ações nem market timing. ”Ficamos quase o tempo todo comprados e reduzimos o risco pela estratégia diferenciada de gestão e diversificação. Os fundos tiveram captação ligeiramente negativa, em torno de R$ 50 milhões a R$ 100 milhões mas os dividendos ajudaram e compramos mais ações do que vendemos em 2022”, conta Roger. O total sob gestão passou de R$ 2,2 bilhões em 2021 para R$ 2,4 bilhões em 2022 devido ao ingresso líquido que veio dos dividendos e da valorização dos fundos.

O ano de 2022 foi um dos melhores para o fundo de ações Best Ideas, da Schroders Brasil, com retorno de 13,30%. Segundo o diretor de renda variável da gestora para Brasil e América Latina, Pablo Riveroll, o fundo se posicionou principalmente em papéis de bancos, empresas do setor de commodities e estatais brasileiras, mas evitando concentração. Dos 17 papéis que compõem a carteira do fundo, as maiores posições representam 6% a 7%.
”O ano foi complicado, começou com uma expectativa positiva em commodities, que eram um bom hedge contra a inflação global, e no cenário doméstico havia um ambiente positivo para os bancos devido ao aumento da Selic”, diz. Já as ações das estatais perderam espaço no mercado mas na verdade estavam interessantes porque os balanços das empresas haviam melhorado muito nos últimos seis anos e o seu valuation estava em mínimos históricos.
“No final de 2022 trocamos as posições do fundo porque a inflação chegou ao limite de queda, já que houve artificialidade na redução dos preços dos combustíveis e tarifas elétricas. Agora em 2023 a inflação vai aumentar”, diz. Também mudou a expectativa de baixa da Selic, esperada pelo mercado para a metade deste ano, mas substituída pela percepção de que o juro pode seguir alto em 2023 pela pressão da inflação e incertezas fiscais. Com esse cenário, a carteira ficou mais negativa em relação às empresas do consumo doméstico, saiu de papéis de shopping malls e de construção civil, assim como de consumo doméstico discricionário e ficou ainda mais positiva em bancos e empresas exportadoras – principalmente de commodities, explica Riveroll.

 

Melhores gestores em Ações (arquivo em pdf)