Os fundos de ações superaram com folga as demais classes de fundos de investimento, tanto no quesito evolução do patrimônio líquido quanto rentabilidade. Segundo a Anbima, os fundos de ações atingiram em dezembro do ano passado a marca de R$ 304,19 bilhões, um crescimento de 23,51% em 12 meses, impulsionados pelo bom desempenho do Ibovespa que fechou o ano com alta de 15,03%.
No ranking de Investidor Institucional, a gestora com a melhor performance em fundos de ações foi a Bram (Bradesco Asset Management), com 15 fundos Excelentes, representando 48,38% do cardápio da instituição nessa classe de fundos. Segundo o CIO de renda variável da Bram, Marcelo Nantes, a asset conseguiu interpretar e agir corretamente nos diferentes cenários que se apresentaram no último ano. “Navegamos bem em meio às várias mudanças de tendências. Acertamos, sobretudo, na escolha de papéis que apresentaram boas performances em fases distintas de 2018”, diz ele, contratado pela Bram há dez meses.
A asset, que detém papéis de cerca de 140 companhias abertas, colheu bons resultados até o fim do primeiro quadrimestre com ações de exportadoras de commodities. Tais opções cederam espaço após a greve dos caminhoneiros, em maio, a apostas pontuais em empresas muito bem avaliadas e conhecidas pela casa, como algumas redes de varejo e seguradoras. “Entre junho e setembro, tratamos de reduzir o risco de todos os fundos, buscando composições de carteiras mais atreladas às do Ibovespa”, conta Nantes. “A partir do fim do terceiro trimestre, especialmente após a definição da corrida eleitoral, começamos a abrir espaço no portfólio para estatais e empresas diretamente ligadas ao consumo doméstico.”
Dois destaques no lote de fundos premiados da Bram, segundo avaliação da equipe da instituição, são o Dividendos e o Selection. A dupla, com patrimônios de R$ 2,36 bilhões e R$ 616,57 milhões respectivamente, fechou 2018 com ganhos 6,14 e 11,05 pontos percentuais acima da variação do Ibovespa. “O desempenho do Dividendos foi muito superior à média dos fundos do gênero, já que a sua carteira tem uma composição mais formal, centrada em empresas com forte geração de caixa, em boa parte líderes de seus segmentos de atuação”, assinala o gestor Luis Guedes.
Ações | |
Classificação | Fundos |
Excelentes (verdes) | 64 |
Adequados (amarelos) | 57 |
Insuficientes (vermelhos) | 55 |
Total analisado | 176 |
Análise fundamentalistas – Itaú Asset Management e BB DTVM completam o pódio das gestoras mais destacadas no ranking de fundos de ações, com sete e quatro fundos Excelentes, respectivamente. Na primeira, uma das performances mais consistentes foi a do Institucional Phoenix, que atingiu retorno de 26,02% em 2018, 10,99 pontos acima da valorização do índice da B3. Com análise fundamentalista e gestão ativa, o fundo carrega, em média, papéis de 25 empresas não necessariamente listadas no Ibovespa. “A carteira não segue os padrões do índice da bolsa. No último ano, por exemplo, o Phoenix apresentou alocações 50% inferiores às do Ibovespa em bancos e três vezes superiores em energia elétrica e saneamento, que continuam entre as nossas principais opções”, diz o especialista de portfólio Eduardo Toledo.
Em dosagens distintas, papéis dos setores energético e financeiro também marcaram presença no cardápio da BB DTVM. As tacadas mais certeiras incluíram, entre outras empresas, Banco do Brasil, Itaúsa, B3, IRB e Petrobras. Os resultados foram particularmente expressivos nos fundos Ações BB e Ações Petrobras, que apresentaram valorizações no ano de 46,63% e 50,11%, respectivamente.
“O ano de 2018 foi bom mas, ao mesmo tempo, extremamente desafiador para os gestores de renda variável”, comenta o diretor executivo da da BB DTVM, Marcelo Pacheco. “Devido à greve dos caminhoneiros, reduzimos nossas exposições ao risco, pois ficou muito difícil detectar as tendências do mercado, especialmente no período de maio a junho. Só mudamos de atitude no terceiro trimestre.”
Postura conservadora – O movimento de paralisação dos motoristas de carga, que respondem por aproximadamente 75% do transporte de mercadorias no Brasil, provocou um recuo de 15,50% no Ibovespa entre abril e junho, causando sérias dores de cabeça à maioria das assets. A FAR, asset do Banco Fator, foi uma das exceções à regra, tendo assumido no início do ano passado posições mais conservadoras em relação às perspectivas macroeconômicas do mercado, que apontavam um elevado crescimento para o PIB.
Em vez de papéis das grandes empresas que compõem o Ibovespa, a gestora preferiu apostar em empresas médias, que garantiram ao fundo Sinergia um retorno de 19,78% em 12 meses. Segundo o gestor da Far, Daniel Utsch, a composição de carteira descolou do Ibovespa e direcionou recursos para papéis da Randon, Hering, CVC, Azul, Gol, além de empresas do mercado imobiliário voltadas ao público de alta e média renda, caso de Cyrela. “As commodities, beneficiadas pela desvalorização do real frente ao dólar, foram outros destaques. Demos preferência, no segmento, a aço e a papel e celulose”, comenta Utsch.
O gestor do Sinergia, fundo com patrimônio líquido de R$ 168,43 milhões, avalia que este ano o desempenho de empresas de pequeno e médio porte serão importantes na composição das carteiras dos fundos de ações, devendo impulsionar a rentabilidade dessa classe de fundos de forma mais nítida do que as blue chips que formam o Ibovespa.
Os melhores na ações | ||||
Gestor | Verdes | Amarelos | Vermelho | Total |
BRAM – Bradesco | 15 | 10 | 6 | 31 |
Itaú Unibanco | 7 | 2 | 0 | 9 |
BB DTVM | 4 | 9 | 8 | 21 |
Caixa | 2 | 5 | 8 | 15 |
Santander | 2 | 2 | 1 | 5 |
Banrisul | 2 | 2 | 0 | 4 |
XP | 2 | 1 | 0 | 3 |
ARX | 2 | 0 | 0 | 2 |
AZ Quest | 2 | 0 | 0 | 2 |
Constância | 2 | 0 | 0 | 2 |
GAP Equities | 2 | 0 | 0 | 2 |
Occan | 2 | 0 | 0 | 2 |
Vinci | 1 | 3 | 1 | 5 |
Bahia | 1 | 1 | 0 | 2 |
BNP Paribas | 1 | 0 | 4 | 5 |
GF Gestão | 1 | 0 | 2 | 3 |
BTG Pactual | 1 | 0 | 1 | 2 |
J. Malucelli | 1 | 0 | 1 | 2 |
Sul América | 1 | 0 | 1 | 2 |
Apex | 1 | 0 | 0 | 1 |
Banestes | 1 | 0 | 0 | 1 |
Equitas | 1 | 0 | 0 | 1 |
FAR – Fator | 1 | 0 | 0 | 1 |
Finacap | 1 | 0 | 0 | 1 |
Grou | 1 | 0 | 0 | 1 |
Icatu Vanguarda | 1 | 0 | 0 | 1 |
J.P.Morgan | 1 | 0 | 0 | 1 |
L3 | 1 | 0 | 0 | 1 |
Meta | 1 | 0 | 0 | 1 |
Moat | 1 | 0 | 0 | 1 |
Multinvest | 1 | 0 | 0 | 1 |
Navi Capital | 1 | 0 | 0 | 1 |
Oceana | 0 | 3 | 0 | 3 |
Western | 0 | 2 | 4 | 6 |
SPX | 0 | 2 | 0 | 2 |
Safra | 0 | 1 | 2 | 3 |
BlackRock | 0 | 1 | 0 | 1 |
Constellation | 0 | 1 | 0 | 1 |
Daycoval | 0 | 1 | 0 | 1 |
Franklin Templeton | 0 | 1 | 0 | 1 |
Ibiuna | 0 | 1 | 0 | 1 |
Indie | 0 | 1 | 0 | 1 |
Pacífico | 0 | 1 | 0 | 1 |
Queluz | 0 | 1 | 0 | 1 |
Saga | 0 | 1 | 0 | 1 |
Schroder | 0 | 1 | 0 | 1 |
Sicredi | 0 | 1 | 0 | 1 |
STK | 0 | 1 | 0 | 1 |
Stúdio | 0 | 1 | 0 | 1 |
Verde | 0 | 1 | 0 | 1 |
Athena | 0 | 0 | 1 | 1 |
BNB | 0 | 0 | 1 | 1 |
Bogari | 0 | 0 | 1 | 1 |
BP Gestão | 0 | 0 | 1 | 1 |
Fama | 0 | 0 | 1 | 1 |
Guepardo | 0 | 0 | 1 | 1 |
HIX | 0 | 0 | 1 | 1 |
Jardim Botânico | 0 | 0 | 1 | 1 |
Neo | 0 | 0 | 1 | 1 |
Nest | 0 | 0 | 1 | 1 |
Núcleo | 0 | 0 | 1 | 1 |
Perfin | 0 | 0 | 1 | 1 |
Próprio Capital | 0 | 0 | 1 | 1 |
Solis | 0 | 0 | 1 | 1 |
Taquari | 0 | 0 | 1 | 1 |
Velt | 0 | 0 | 1 | 1 |
Eleições – Outra asset que assumiu uma postura mais conservadora no ano passado em relação às perspectivas macroeconômicas foi a Icatu Vanguarda. “Muitos gestores foram lenientes pois, além de a economia não ter decolado como se esperava, já se aproximava a disputa eleitoral, cujo desfecho era absolutamente imprevisível”, observa Bruno Horovitz, sócio e diretor de relações com investidores da Icatu Vanguarda.
Segundo ele, o ceticismo da instituição em relação ao cenário doméstico se traduziu em fortes posições em papéis de instituições financeiras, IRB inclusive, e negócios ligados diretamente ao consumo, casos de shopping centers e Ambev. A estratégia surtiu efeito: os dois fundos de renda variável da Icatu Vanguarda, o Dividendos e o Ações IBX, proporcionaram a seus cotistas rentabilidades de 21,64% e 21,07%, respectivamente, em 2018. “A carteira do Dividendos é composta, em média, por 16 ações que não levam em conta apenas os pagamentos efetuados pelas companhias a seus acionistas. Evitamos concentrações setoriais superiores a 30% e levamos em conta, ainda, perspectivas de médio prazo e, claro, os preços dos papéis”, diz Horovitz.
Varejo – A Sul América Investimentos reforçou as suas apostas no segmento do varejo, com posições em Magazine Luiza, Via Varejo e Lojas Renner, e de algumas estatais, devido ao momentâneo enxugamento da liquidez na economia internacional ao longo de 2018. Outros de seus trunfos usuais são locadoras de veículos, como Localiza, Movida e Unidas. “As receitas do segmento vêm sendo alavancadas pelo Uber e seus concorrentes. Além disso, as locadoras contam a seu favor com a retomada dos financiamentos de automóveis”, explica o vice-presidente Marcelo Mello.
Os indicadores do Equities FIA, único fundo de ações da Sul América que tem como benchmark o Ibovespa, demonstram o acerto dessas leituras. Com patrimônio de R$ 312 milhões em janeiro, o produto alcançou rentabilidades acumuladas de 21,19% em 2018 e de 69,96% nos últimos 24 meses, superando o índice da B3 em 6,61 e 19,36 pontos percentuais. Focados em ações com potencial de descolamento do Ibovespa, seus gestores já começam a avaliar outras opções. “A construção civil, por exemplo, já dá sinais de recuperação. São boas, da mesma forma, as perspectivas de empresas de infraestrutura, como CCR e Ecorodovias, que poderão se beneficiar com as agendas de privatizações e concessões do governo federal”, observa Mello.
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