O ano de 2018 foi de forte volatilidade para o mercado de renda fixa, com desvalorização cambial, greve dos caminhoneiros e incertezas sobre as eleições chacoalhando a curva de juros e os preços dos ativos. Nesse ambiente os gestores, ao mesmo tempo que precisaram manter a cautela para proteger a carteira e não incorrer em perdas excessivas, tiveram também de redobrar a atenção para fazer a leitura mais adequada possível do cenário à frente com as informações disponíveis à época, para então se posicionar da melhor forma para tirar proveito das oportunidades que surgiram.
A Western Asset foi a gestora com mais fundos verdes na renda fixa, com 13 de 17 sob análise do ranking. O especialista em investimentos da casa, Marcelo Guterman, credita o resultado à crise atravessada pelo país no primeiro semestre, com desvalorização do câmbio e greve dos caminhoneiros, e também à convicção entre os gestores da asset de que a trajetória para a curva de juros era descendente apesar desse cenário.
No início do ano passado, recorda Guterman, as sinalizações do Federal Reserve de que haveria continuidade no ciclo de aperto monetário gerou uma forte valorização do dólar frente a praticamente todas as outras moedas do mundo, incluindo naturalmente o real.
A desvalorização da divisa local, por sua vez, ao gerar forte volatilidade nos preços dos combustíveis e desencadear a greve dos caminhoneiros, levou o mercado a apostar que o Banco Central (BC) subiria a Selic para conter uma possível pressão inflacionária decorrente do evento que paralisou o país e gerou crises de abastecimento. “O mercado chegou a precificar uma alta de três pontos percentuais na taxa de juros em meados do ano passado”, lembra Guterman.
No meio do olho do furacão a Western entendeu que, diante da lenta retomada no nível da atividade doméstica, o aumento nos preços em decorrência da depreciação cambial e da greve dos caminhoneiros não teria magnitude suficiente para forçar a autoridade monetária a elevar a Selic. O especialista afirma que essa visão da asset, e o seu consequente posicionamento no mercado em ativos pré-fixados na parte curta da curva de juros, foi a principal responsável pelo ganhos obtidos pela gestora em 2018 na renda fixa local. “Quando a volatilidade ficou muito elevada, a redução na duration da carteira foi uma estratégia que também se mostrou acertada, mas nunca saímos completamente do mercado”, recorda o profissional.
Conforme se aproximava o final do ano, os investidores passaram a descartar a hipótese de subida da Selic pelo BC, o que ocasionou na redução dos prêmios na parte mais curta da curva de juros. Nesse momento a Western alterou seu posicionamento para a parte intermediária da curva. “Seguimos com essa posição no portfólio até agora, já que entendemos que ainda há espaço para uma queda adicional das taxas”, fala Guterman.
O cenário base com o qual a asset trabalha não contempla uma redução adicional da Selic. O especialista em investimentos da Western ressalta, no entanto, que essa é uma possibilidade que não pode ser totalmente descartada, a depender da evolução do ambiente macro e político. “Se continuarmos tendo revisões para baixo do PIB pode ser que o BC tenha de pensar em reduzir a Selic, mas acho que essa é uma história que, se for ocorrer, deve ficar para o segundo semestre”.
Renda fixa | |
Classificação | Fundos |
Excelentes (verdes) | 106 |
Adequados (amarelos) | 102 |
Insuficientes (vermelhos) | 97 |
Total analisado | 305 |
Secundário – Na Votorantim Asset, que teve três fundos de renda fixa verdes, o responsável pela área comercial, Rafael Fornari, nota que diante da elevada demanda dos investidores por ativos de crédito durante o ano passado, a atuação da gestora na compra de ativos no mercado secundário se mostrou uma estratégia acertada.
“No secundário, onde a demanda dos investidores ainda é menor do que no primário, conseguimos obter spreads um pouco melhores do que a média praticada no mercado”, afirma o executivo. Ele diz ainda que em 2018 a gestora voltou a olhar para ativos de crédito corporativo, após ter mantido em 2017 uma postura mais conservadora em que deu preferência para as letras financeiras emitidas pelos bancos. “O fechamento das NTN-Bs, já na reta final de 2018, foi outra contribuição importante para nosso portfólio”, pontua Fornari.
Para 2019, o executivo entende que a atuação da asset seguirá bem parecida com o que foi no ano anterior, com uma busca ativa por ativos de crédito no mercado secundário. Partir para ativos de maior risco, como os ‘high yield’, e com prazos de vencimento mais alongados, também são uma possibilidade no horizonte apontada por Fornari aos investidores dispostos a aumentar o nível de risco em suas carteiras em troca de retornos mais polpudos.
Alongamento – Na BNP Paribas Asset, o head de renda fixa, Gilberto Kfouri, passou a considerar emissões de ativos de crédito com prazos mais longos em comparação com o que já tinha em carteira até então, diante da nova realidade que se impôs no mercado local, mais favorável às empresas interessadas em captar recursos por conta do expressivo aumento na demanda dos investidores. “Antes os prazos giravam entre dois a três anos, e no ano passado começamos a observar operações com seis e até sete anos”, conta Kfouri.
Ele ressalta, contudo, que devido ao perfil conservador adotado pela asset os emissores em seu radar não se alteraram, com o foco mantendo-se concentrado em nomes de qualidade de primeira linha. “Deixamos de entrar em algumas operações em que as taxas saíram muito baixas, e tivemos de calibrar bem a carteira para evitar uma concentração excessiva”.
Kfouri avalia que, embora siga incerto quanto à velocidade na implementação das reformas, o cenário de 2019 tem um pouco mais de visibilidade se comparado com o risco binário das eleições de 2018, por isso os prêmios observados no mercado de crédito, já espremidos nos últimos meses, devem seguir ainda mais pressionados no entendimento do especialista. “Quando os prêmios estão maiores é um pouco mais fácil montar as posições de crédito nos fundos, e agora, após a queda que ocorreu, esse é um ponto em que precisamos ter mais atenção”.
RPPS – No Banestes, que teve cinco de oito fundos de renda fixa analisados considerados verdes, pelo fato do banco ter uma parcela relevante, de cerca de 25%, de RPPS em sua base de clientes, a gestão precisa seguir uma postura bastante conservadora, ainda mais em anos como foi 2018, de extrema volatilidade, ressalta o diretor de administração e gestão de recursos de terceiros, Jorge Domingues. “Reduzimos a duration e fizemos também algumas operações de hedge via derivativos para proteger o portfólio no ano passado”, pondera o especialista.
Os melhores na renda fixa | ||||
Gestor | Verdes | Amarelos | Vermelho | Total |
Western | 13 | 4 | 0 | 17 |
BRAM – Bradesco | 11 | 15 | 23 | 49 |
BB DTVM | 11 | 11 | 20 | 42 |
Itaú Unibanco | 11 | 10 | 3 | 24 |
Santander | 7 | 8 | 6 | 21 |
Caixa | 6 | 13 | 17 | 36 |
Icatu Vanguarda | 6 | 1 | 2 | 9 |
Banrisul | 5 | 5 | 2 | 12 |
BNP Paribas | 5 | 2 | 0 | 7 |
Banestes | 5 | 1 | 2 | 8 |
BTG Pactual | 4 | 3 | 3 | 10 |
Votorantim | 3 | 4 | 4 | 11 |
Sul América | 3 | 3 | 0 | 6 |
Safra | 2 | 2 | 0 | 4 |
CA Indosuez | 2 | 0 | 0 | 2 |
Sicredi | 1 | 3 | 1 | 5 |
BRB | 1 | 2 | 0 | 3 |
AZ Quest | 1 | 1 | 1 | 3 |
Daycoval | 1 | 0 | 1 | 2 |
AF Invest | 1 | 0 | 0 | 1 |
GF Gestão | 1 | 0 | 0 | 1 |
J. Malucelli | 1 | 0 | 0 | 1 |
JGP | 1 | 0 | 0 | 1 |
Multinvest | 1 | 0 | 0 | 1 |
Opportunity | 1 | 0 | 0 | 1 |
Roma | 1 | 0 | 0 | 1 |
Sparta | 1 | 0 | 0 | 1 |
BNB | 0 | 3 | 4 | 7 |
Capitania | 0 | 2 | 0 | 2 |
Mongeral Aegon | 0 | 2 | 0 | 2 |
Infinity | 0 | 1 | 1 | 2 |
XP | 0 | 1 | 1 | 2 |
Brasil Plural | 0 | 1 | 0 | 1 |
Invexa | 0 | 1 | 0 | 1 |
Phenon | 0 | 1 | 0 | 1 |
Porto Seguro | 0 | 1 | 0 | 1 |
Rio Bravo | 0 | 1 | 0 | 1 |
Única | 0 | 0 | 3 | 3 |
Elleven | 0 | 0 | 2 | 2 |
Novero | 0 | 0 | 1 | 1 |
Diante do ambiente esperado para 2019, prossegue Domingues, em que as discussões em torno da aprovação da reforma da previdência vão ditar os rumos do mercado no curto prazo, a mesma prudência adotada como estratégia no passado recente seguirá guiando a gestão do Banestes. “Se as discussões começarem a apontar para uma reforma muito desidratada as taxas da curva de juros vão abrir, mas, por outro lado, devem fechar se o encaminhamento for bem recebido pelo mercado, então será preciso monitorar quase diariamente o Congresso”, diz o dirigente do Banestes.
Ele destaca que muitos RPPS com os quais o banco trabalha ainda mantém metas atuariais elevadas, de 5% ou 6% além da inflação, em face ao patamar de juros praticado atualmente no mercado, o que torna ainda mais desafiador o trabalho de buscar retornos suficientes com níveis controlados de risco. “Temos notado alguns RPPS avaliando reduzir suas metas, mas entendemos que esse é um movimento que precisa ser feito de maneira muito gradual para evitar um grande impacto no passivo”, diz Domingues.
Renda fixa (em pdf)