Foram 12 meses que pareceram dez anos”, resume o diretor de Renda Variável da Bradesco Asset Management (Bram), Marcelo Nantes, para definir o período repleto de mudanças de cenários – tanto local quanto global – entre julho de 2018 e junho de 2019, com impactos diversos sobre os mercados de investimentos. A Bram foi a gestora que teve o maior número de fundos de investimentos classificados com a nota máxima (Excelente) no ranking que analisa a performance da indústria de fundos voltados para os investidores institucionais (fundos de pensão e entidades do RPPS) nesse turbulento intervalo de tempo.
Na BNP Paribas Asset Management, mais de 50% dos fundos sob análise atingiram a nota máxima no ranking. “Foi um período movimentado e volátil tanto aqui quanto globalmente, com revisões de crescimento nos EUA, China e zona do Euro, sem falar na guinada internacional para juros mais baixos e na disputa comercial entre EUA e China”, enfatiza o responsável pela área de Fundos de Fundos da BNP Paribas, Frederico Muniz. No ambiente doméstico, os preços dos ativos foram influenciados pelo quadro global mas foi ainda mais relevante o efeito do processo eleitoral sobre os preços e as mensagens transmitidas pelo novo governo ao mercado, uma questão idiossincrática que incluiu a reforma da Previdência, lembra Muniz.
No Brasil de 2018, mal terminava uma greve geral dos caminhoneiros e já começava o período pré-eleitoral, com muitas incertezas para os portfólios de renda variável, pouco controle de risco e alta volatilidade. “Em seguida, de outubro até o final de janeiro de 2019 o mercado entrou num ambiente de quase euforia, um raid cujos efeitos positivos de retorno conseguimos capturar bem, mas logo depois o ambiente internacional começou a preocupar mais devido aos conflitos entre EUA e China, apesar da trégua decretada pelo presidente Trump em novembro”, lembra Nantes. Entre fevereiro e março de 2019 o mercado estressou por conta da falta de impulso na atividade econômica doméstica e voltou o apetite pelo risco mais calculado.
Vivemos um período de volatilidade razoável, marcado por três grandes eventos, explica o economista chefe da Bram, Marcelo Toledo: “Um pouco antes das eleições havia dúvidas; depois o resultado eleitoral em si valorizou os preços dos ativos e, em seguida, já no primeiro trimestre de 2019, cresceu a expectativa com a reforma da Previdência, trazendo novamente bastante volatilidade”. Além disso, o quadro global foi conturbado pela sombra da guerra comercial EUA x China, que voltou a ganhar intensidade recentemente. “No terceiro trimestre de 2018 os EUA ainda sinalizavam uma economia forte e possibilidade de alta dos juros, mas isso foi revertido no final do ano e já no segundo trimestre de 2019 o Federal Reserve (Fed) passou a sinalizar cortes nos juros, então o fator internacional também elevou a volatilidade dos mercados”, ressalta Toledo.
Sob o ponto de vista macro doméstico, o crescimento econômico abaixo das expectativas veio na sequência de um ano que já havia sido conturbado pela greve e pelas turbulências globais, então o efeito negativo da paralisação dos caminhoneiros acabou não sendo dissipado pelo otimismo pós-eleitoral. Para os fundos de investimentos, o principal foco local de atenção era a previdência e também a velocidade de uma esperada retomada econômica. “A nossa visão era de que seria preciso esperar um pouco mais para verificar se haveria retomada ou não, ou mesmo se a incerteza sobre a questão fiscal seria mantida”, sublinha o economista da Bram.
“No segundo trimestre deste ano, ficou claro para nós que a economia fraca faria o Bacen cortar mais os juros e a estratégia na renda fixa teria que capturar esse cenário, principalmente levando em conta a queda do juro neutro e as curvas de médio e longo prazos”, diz Toledo. Quando finalmente ficou configurada a não retomada da atividade econômica, os fundos de renda fixa da Bram passaram a ganhar mesmo com a queda dos juros. Ao longo dos 12 meses, foi a renda fixa ativa a principal estratégia com boa performance. “A melhor decisão foi usar as NTN-Bs de prazo médio como fonte importante de alocação porque isso oferecia a menor sensibilidade ao estresse do cenário e ao mesmo tempo capturava os eventos positivos”, detalha Toledo.
Na renda variável, um stock picking mais seletivo foi fundamental, diz Marcelo Nantes. “Migramos para papéis que iriam se beneficiar da queda dos juros e, à medida que o ano foi avançando, em junho já começamos a perceber que a reforma seria robusta; a partir daí, o movimento na renda variável foi em busca de papéis de empresas de consumo”, diz. Os fundos da Bram combinaram uma dose de aversão ao risco, quando ele estava muito elevado, a um stock picking adequado. “Em seguida, passamos a tomar o que era risco bom”.
A bolsa subiu muito este ano carregando junto muitos papéis sem fundamentos, mas não chegou a atrapalhar o desempenho das carteiras. Nantes lembra que o ano de 2019 começou com o setor de utilities em destaque, por conta dos juros mais baixos e do projeto de privatizações, o que permitiu navegar bem na renda variável. As estratégias de fundos de ações da Bram que mais se beneficiaram no período foram as que se concentraram em small caps, excluindo commodities e ficando mais próximas da economia real, observa Nantes. Enquanto isso, os multimercados ganharam ao capturar o fechamento dos juros e, ao mesmo tempo, perceber os benefícios da bolsa.
Correção forte de preços – Se o segundo semestre de 2018 foi mais de defesa, a primeira metade de 2019 trouxe maior consistência aos ganhos na renda fixa e na renda variável, analisa Frederico Muniz. “A correção dos preços foi positiva e isso explica os resultados dos fundos da BNP Paribas. Este ano, logo no primeiro mês havia muita empolgação com as perspectivas de uma pauta mais liberal de governo e o contexto global era bom”. Depois disso passamos três meses voláteis numa retórica global preocupante de disputa comercial e, no Brasil, em meio às discussões sobre a reforma da previdência. “Até meados de maio o ano foi bastante volátil mas a partir daí a reforma deslanchou e os Bancos Centrais dos países desenvolvidos vieram com um discurso de afrouxamento monetário, o que foi muito positivo”, observa Muniz.
Desempenho dos fundos | Classes dos fundos | ||||
Classificação | Quantos | Tipo | Quantos | ||
Excelentes (verdes) | 263 | Renda Fixa | 384 | ||
Adequados (amarelos) | 267 | Multimercados | 174 | ||
Insuficientes (vermelhos) | 230 | Ações | 202 | ||
Total de fundos analisados | 760 | Total de fundos analisados | 760 |
Para os fundos multimercados/multigestores da BNP Paribas, o momento foi de selecionar os melhores gestores para determinados perfis de risco, o que por si só já entregou melhores retornos. Também houve um reforço da parcela de renda variável em um dos fundos, incrementando o retorno. No fundo de investimentos no exterior, gerido pela equipe do grupo localizada em Paris, 100% dos recursos foram posicionados em estratégias globais e com risco distribuído entre renda fixa e renda variável, com forte diversificação e hedge cambial. “Esse fundo foi beneficiado pelas altas dos diferentes índices externos, com um perfil de risco alto e 7% de volatilidade”, diz o gestor. Os dois fundos são enquadrados nas regras da Resolução CMN 4.661 e as duas estratégias resultaram em bons retornos.
Juro neutro – A reprecificação forte dos ativos, influenciada favoravelmente pela reforma da previdência, também foi afetada negativamente pela atividade econômica muito fraca, que frustrou as expectativas de crescimento em 2018 e também em 2019, pondera o responsável pela gestão de Renda Fixa da BNP Paribas, Gilberto Kfouri. Essa fragilidade, somada ao juro zero lá fora, abriu espaço para a redução dos juros locais. “Tudo isso força a curva de juros para baixo e o juro neutro no Brasil, que era de 5% a 5,5% reais, hoje caiu para 3% a 3,5%, mas vamos ficar um bom tempo com juro abaixo desse patamar neutro”. A estimativa é de que, na retomada do ciclo de alta da Selic, o “novo normal” do juro neutro será de 7% a 7,5% nominais e 3% reais. Na renda fixa da BNP Paribas, ele conta que de modo geral o duration das carteiras acima dos benchmarks de alguns fundos foi o que garantiu bons ganhos.
Em outros fundos, foi a parcela robusta de crédito que teve um fechamento significativo dos spreads e garantiu o desempenho positivo graças também ao carregamento, enquanto a parcela de NTN-B tem duration de 9 anos e benchmark em IMA-B. “O juro vai ficar abaixo do nível neutro por, pelo menos, dois anos, então a renda fixa com duration maior deve continuar a ser atraente e quando as taxas voltarem a subir elas serão historicamente baixas para o Brasil, o que levará os investidores a buscarem mais risco, ativos no exterior e crédito para agregar retornos acima do CDI”, diz Kfouri.
Forças locais e globais – O desempenho das empresas e o crescimento da economia ainda não estão caminhando juntos, observa o economista chefe da Bram, Marcelo Toledo. “Há um descolamento entre o comportamento do PIB e o resultado das companhias, mas o Brasil tem ingredientes adicionais para impulsionar a atividade econômica, graças à redução dos juros em ambiente de inflação que está abaixo da meta de forma relevante”. Esses fatores, aponta o economista, poderão se somar às medidas de ajuste fiscal e, embora a retomada não seja rápida, é possível que o ciclo de crescimento seja consistente, acima de 2% ao ano.
A força contrária a esse quadro está no potencial de turbulências da situação global. “É natural que o investidor passe a contemplar mais a relação risco/retorno e, embora as Entidades Fechadas de Previdência Complementar sejam heterogêneas, há um desejo por novas estratégias que vai levar a mudar gradualmente os portfolios”, acredita Toledo.
Sobre os fundos (em pdf)
Performance dos gestores | ||||
Gestor | Verdes | Amarelos | Vermelho | Total |
BRAM – Bradesco AM | 36 | 32 | 32 | 100 |
Caixa | 22 | 15 | 39 | 76 |
BB DTVM | 21 | 37 | 26 | 84 |
Itaú | 21 | 20 | 5 | 46 |
Western | 15 | 9 | 4 | 28 |
Icatu Vanguarda | 10 | 5 | 2 | 17 |
Vinci | 9 | 1 | 1 | 11 |
Santander | 6 | 15 | 6 | 27 |
Safra | 6 | 8 | 4 | 18 |
BTG Pactual | 6 | 6 | 4 | 16 |
Banestes | 6 | 1 | 2 | 9 |
Oceana | 6 | 0 | 0 | 6 |
Banrisul | 5 | 7 | 7 | 19 |
Votorantim | 5 | 7 | 3 | 15 |
Sul América | 5 | 5 | 3 | 13 |
BNP Paribas | 5 | 3 | 1 | 9 |
Mongeral Aegon | 3 | 5 | 2 | 10 |
XP Gestão | 3 | 5 | 2 | 10 |
Daycoval | 3 | 1 | 2 | 6 |
Sharp | 3 | 1 | 0 | 4 |
Sicredi | 2 | 4 | 1 | 7 |
BRB DTVM | 2 | 2 | 3 | 7 |
Kinea | 2 | 2 | 1 | 5 |
Bahia | 2 | 2 | 0 | 4 |
Occam | 2 | 2 | 0 | 4 |
Novus | 2 | 1 | 0 | 3 |
Verde | 2 | 1 | 0 | 3 |
JGP | 2 | 0 | 4 | 6 |
J. Malucelli | 2 | 0 | 1 | 3 |
Multinvest | 2 | 0 | 1 | 3 |
BC Gestão | 2 | 0 | 0 | 2 |
CA Indosuez | 2 | 0 | 0 | 2 |
Guepardo | 2 | 0 | 0 | 2 |
Leblon Equities | 2 | 0 | 0 | 2 |
Pimco | 2 | 0 | 0 | 2 |
Plural | 1 | 4 | 0 | 5 |
Claritas | 1 | 3 | 0 | 4 |
Absolute | 1 | 2 | 1 | 4 |
Capitania | 1 | 2 | 1 | 4 |
Adam | 1 | 1 | 2 | 4 |
AF Invest | 1 | 1 | 0 | 2 |
Constância | 1 | 1 | 0 | 2 |
Kadima | 1 | 1 | 0 | 2 |
Navi Capital | 1 | 1 | 0 | 2 |
Pacifico | 1 | 1 | 0 | 2 |
Perfin | 1 | 1 | 0 | 2 |
Rio Bravo | 1 | 1 | 0 | 2 |
Austro | 1 | 0 | 2 | 3 |
Franklin Templeton | 1 | 0 | 1 | 2 |
Quantitas | 1 | 0 | 1 | 2 |
Solis | 1 | 0 | 1 | 2 |
Somma | 1 | 0 | 1 | 2 |
Atmos | 1 | 0 | 0 | 1 |
Aurora | 1 | 0 | 0 | 1 |
Bancoob | 1 | 0 | 0 | 1 |
Bogari | 1 | 0 | 0 | 1 |
BRZ | 1 | 0 | 0 | 1 |
Canvas | 1 | 0 | 0 | 1 |
Captalys Gestão | 1 | 0 | 0 | 1 |
Equitas | 1 | 0 | 0 | 1 |
Exploritas | 1 | 0 | 0 | 1 |
Far – Fator Adm Rec | 1 | 0 | 0 | 1 |
L3 Gestora | 1 | 0 | 0 | 1 |
Macroinvest | 1 | 0 | 0 | 1 |
Moat | 1 | 0 | 0 | 1 |
Opportunity | 1 | 0 | 0 | 1 |
Patria | 1 | 0 | 0 | 1 |
Set Investimentos | 1 | 0 | 0 | 1 |
STK Capital | 1 | 0 | 0 | 1 |
Studio | 1 | 0 | 0 | 1 |
TG Core | 1 | 0 | 0 | 1 |
XMS Invexa | 1 | 0 | 0 | 1 |
AZ Quest | 0 | 5 | 4 | 9 |
BNB | 0 | 4 | 4 | 8 |
Elleven | 0 | 4 | 3 | 7 |
Garde | 0 | 3 | 0 | 3 |
Kapitalo | 0 | 3 | 0 | 3 |
BRPP | 0 | 2 | 3 | 5 |
Ibiuna | 0 | 2 | 3 | 5 |
Única | 0 | 1 | 9 | 10 |
ARX | 0 | 1 | 4 | 5 |
Apex | 0 | 1 | 2 | 3 |
Infinity | 0 | 1 | 2 | 3 |
Mauá | 0 | 1 | 2 | 3 |
J. P. Morgan | 0 | 1 | 1 | 2 |
Queluz | 0 | 1 | 1 | 2 |
Saga | 0 | 1 | 1 | 2 |
Schroder | 0 | 1 | 1 | 2 |
Athena | 0 | 1 | 0 | 1 |
BlackRock | 0 | 1 | 0 | 1 |
Brasil Plural | 0 | 1 | 0 | 1 |
Butiá | 0 | 1 | 0 | 1 |
Concórdia | 0 | 1 | 0 | 1 |
Constellation | 0 | 1 | 0 | 1 |
DLM Invista | 0 | 1 | 0 | 1 |
Fama | 0 | 1 | 0 | 1 |
GAP | 0 | 1 | 0 | 1 |
Grou | 0 | 1 | 0 | 1 |
Guide | 0 | 1 | 0 | 1 |
HIX | 0 | 1 | 0 | 1 |
Indie | 0 | 1 | 0 | 1 |
M Square | 0 | 1 | 0 | 1 |
Mirae | 0 | 1 | 0 | 1 |
Nest | 0 | 1 | 0 | 1 |
Phenom | 0 | 1 | 0 | 1 |
Sparta | 0 | 1 | 0 | 1 |
Velt | 0 | 1 | 0 | 1 |
SPX Equities | 0 | 0 | 4 | 4 |
Foco | 0 | 0 | 3 | 3 |
Novero | 0 | 0 | 3 | 3 |
Neo | 0 | 0 | 2 | 2 |
RJI Gestão | 0 | 0 | 2 | 2 |
Aberdeen | 0 | 0 | 1 | 1 |
Finacap | 0 | 0 | 1 | 1 |
Gávea | 0 | 0 | 1 | 1 |
Meta | 0 | 0 | 1 | 1 |
Núcleo | 0 | 0 | 1 | 1 |
Paineiras | 0 | 0 | 1 | 1 |
Porto Seguro | 0 | 0 | 1 | 1 |
Próprio Capital | 0 | 0 | 1 | 1 |
Truxt Investimentos | 0 | 0 | 1 | 1 |
UBS Consenso | 0 | 0 | 1 | 1 |