Diversificação fez a diferença | Num cenário cheio de supresas, g...

Edição 344

A volta da inflação e do juro alto, os movimentos do banco central americano, o recrudescimento da Covid e suas novas ondas, além das discussões sobre o arcabouço fiscal no Brasil marcaram o ano de 2021, que havia começado com uma “visão construtiva” e acabou por ser ainda mais difícil e atípico do que 2020 observa o analisa Guto Leite, gestor de renda variável da Western Asset no Brasil. “O ano começou com uma projeção de inflação de 4% aqui no Brasil e falava-se de normalização parcial pós pandemia, mas essa perspectiva virou totalmente”, diz.
O fundo IBRX ativo, que tinha uma carteira mais doméstica, com apostas na recuperação pós-pandemia, precisou incorporar novos cenários ao longo do ano. “O comportamento das commodities atrapalhou a vida dos gestores e a crise na China derrubou os preços do minério de ferro enquanto os preços do petróleo também sofreram. Hoje, porém, essa visão voltou a ser mais construtiva para os ativos ligados às commodities”, afirma.
O fundo começou a adicionar calls mais defensivos em abril e maio, com a chegada da variante Delta e a preocupação com seu impacto sobre as empresas, trazendo mais pressão inflacionária. “O grande swing, a virada maior, veio entre os meses de setembro e novembro, quando o perfil ficou muito defensivo de fato”, conta. No final do ano voltaram a ser comprados os papéis do setor de commodities enquanto eram reduzidos os papéis de varejo e todos os calls cíclicos locais que são mais sensíveis ao impacto do juro alto, da inflação e do nível de emprego.
“Adicionamos ainda outros ativos defensivos, como os de farmácias e supermercados, buscando empresas com pricing power, ou seja, aquelas capazes de repassar preços sem perder competitividade no mercado. Era um ajuste necessário diante das mudanças de cenário”, detalha. O fundo IBRX entrou em 2022 com o mesmo perfil do final do ano passado, olhando para o benchmark e carregando posições acima do benchmark no lado doméstico cíclico, como a Lojas Renner, Multiplan e Petz, além de WEG, Raia e outros bastante defensivos.
Todos os fatores que complicaram o cenário no mercado local também explicaram o sucesso dos fundos de ações internacionais, analisa Maurício Lima, superintendente da Western no Brasil. Ele pondera que 2021 foi o exemplo clássico do benefício da diversificação internacional porque materializou todos os riscos potenciais. “Os nossos dois outros fundos de ações que aparecem como excelentes no ranking, o de BDR e o de equities globais, foram beneficiados pela exposição cambial mas essa foi a menor parte do seu retorno pois a diversificação em 2021 foi além da proteção cambial”, diz.
O desempenho foi influenciado pelo retorno atrativo da bolsa nos EUA, perto de 30% no ano em função do ambiente de retomada da economia americana. Essa combinação do seguro cambial e da performance caracterizou o resultado dos dois fundos. No BDR, a carteira tem empresas americanas de grande porte, o que é uma fonte de diversificação geográfica relevante porque essas empresas atuam em diversas partes do mundo.

Com a surpresa adicional trazida pela guerra na Ucrânia e da escalada de sanções contra a Rússia, o mercado ainda procura entender quais serão os desdobramentos de médio prazo. “Na carteira de BDR fizemos uma troca gradual de papéis seguindo a visão de longo prazo, o fundo permanece um pouco mais concentrado em ações de crescimento, tem 14% no setor de saúde e segue com exposição de 40% em ações do setor de tecnologia pós-pandemia”. No caso da tecnologia, a ordem é não ficar limitado às mais tradicionais, mas buscar empresas como a NVIDIA, por exemplo, que é uma das maiores posições. A companhia produz chips gráficos para uso em hardware e que são utilizados na indústria automobilística, na de videogames ou na mineração de criptomoedas, entre outras.

Com mais de 50 estratégias e 20 gestores na grade internacional, que somava R$ 11,5 bilhões sob gestão em dezembro e recuou para R$ 8 bilhões em fevereiro deste ano, a XP Asset atribui à escolha de alguns dos principais gestores globais, com senioridade nas equipes e boa relação risco/retorno, a base para o desempenho positivo de seus fundos de ações mesmo diante de prognósticos ruins. É o caso de 2022, explica Danilo Gabriel, sócio-gestor de fundos indexados. “O cenário de curto prazo pode trazer performance negativa por conta dos desafios geopolíticos e do novo patamar do juro nos EUA, mas esperamos trazer mais feeders internacionais este ano, a partir de um processo de escolha que leva em conta a qualidade e a experiência dos times de gestão”, diz.
Nas estratégias da Neuberger Berman e do Morgan Stanley, o que mais chamou a atenção foi a parte qualitativa dos fundos, vinculada a aspectos mais subjetivos do trabalho das equipes de gestão, diz Davi Fontenele, analista de fundos da XP. “No Morgan Stanley, o gestor capitaneia a estratégia há mais de dez anos e está nesse mercado há 25 anos. Além disso, o guarda-chuva da gestora, que é top 10 do mundo, e suas várias equipes especializadas são fatores importantes”, aponta. É uma estratégia única mas aplicada a dois fundos, um deles com proteção cambial e o outro, dolarizado. A filosofia em que se baseia busca empresas de marcas consolidadas, que tenham fluxo de caixa previsível e margens elevadas para assegurar o pricing power.
A alocação é apenas em empresas blue chips dos EUA, UE e UK, mantendo horizonte de longuíssimo prazo. A análise é fundamentalista (bottom-up) e o cenário é visto como um aspecto secundário, uma diretriz já bem enraizada no Morgan Stanley. “Em 2021 o benchmark foi conturbado devido às condições do mercado e acabou afetando os resultados mas nós não olhamos tanto para isso porque o horizonte é mais longo e o giro das ações é menor. A carteira tem papéis como os da Microsoft, Philip Morris e Reckitt Benckiser”, afirma. No ano passado, foram as ações de Procter and Gamble, Microsoft e Danaher as que mais contribuíram para o desempenho.
O fundo da Neuberger Berman reúne um grupo de ações com foco geográfico exclusivamente nos EUA, é dolarizado e tem maior flexibilidade porque aplica não apenas em blue chips mas a princípio pode investir em qualquer nível de capitalização de mercado. “Uma equipe robusta e o gestor sênior, com mais de 20 anos na casa, foram diferenciais importantes. O fundo mira empresas de maior qualidade mas pode investir em grupos de companhias “oportunísticas”, ou seja, aquelas cujas ações ofereçam boas oportunidades por terem sofrido fortes quedas de preços”, explica. E há também uma linha de investimento no segmento de “oportunidades especiais” que surgem como resultado de fusões, incorporações e outras reestruturações.
As posições que mais contribuíram foram as da Berkshire Hathaway, Apple,Microsoft e outras do setor de TI e de serviços financeiros. “O dólar foi uma contribuição relevante mas, assim como na estratégia do Morgan Stanley, o resultado depende muito do processo consolidado de gestão fundamentalista”, reforça Fontenele.

Com R$ 1,78 bilhão em patrimônio líquido em cinco fundos de ações abertos, a Guepardo Investimentos conseguiu destaque em 2021 em sua estratégia Institucional, composta por dois fundos-espelho. São dois FIC-FIA que compram cotas do mesmo fundo master e cuja única diferença está no administrador: um deles é administrado pelo BTG Pactual e o outro pelo Daycoval, conforme a preferência dos clientes, conta Octávio Magalhães,diretor de investimentos. Entre os papéis que contribuíram para gerar alfa em 2021 estiveram os da Petrobras, Klabin, Gerdau, Vulcabrás, Fibra e Mahle Metal Leve, das quais algumas saíram e outras permanecem na carteira. Gerdau, cujas ações subiram muito por conta da alta dos preços do aço e do minério de ferro, foi uma das que saíram.
Vulcabrás não só foi mantida como hoje é a principal posição da carteira, explica o gestor. A empresa tem o parque fabril de tênis mais moderno da América Latina e cresceu nos últimos anos ao agregar sua marca proprietária, a Olympikus, à Mizuno e à Under Armour. “A companhia melhorou qualitativa e quantitativamente, inclusive com a compra da Mizuno em plena pandemia, mas os preços de suas ações estavam cada vez mais discrepantes na bolsa, caindo apesar do crescimento e da melhoria do lucro líquido, de ter mais EBITDA e ter investido R$ 350 milhões nas fábricas”, observa.

A posição forte nos papéis de seu carro-chefe, a Braskem, que registraram alta de 170% em 2021, e uma carteira bem recheada de ações de companhias dos setores de petróleo, gás e petroquímica, asseguraram o desempenho positivo do fundo de ações de infraestrutura da corretora do Banrisul. As ações da Braskem, com peso 4,71% acima do benchmark, deram a principal contribuição. O fundo fechou o ano com retorno positivo de 0,64% contra um IBrX negativo em 11,17% e conseguiu gerar alfa superior a 13%, lembra Roberto Balestrin,diretor de gestão de recursos de terceiros. “Com isso, entrou em 2022 com muita gordura para queimar, o que é bom porque já está devolvendo um pouco de resultado e está muito próximo ao seu benchmark”, diz.
Outras ações que ajudaram na performance foram as da Unipar, que terminou o ano com valorização de 137% , e da Gerdau, que teve o seu melhor resultado histórico em 2021. As duas companhias tinham pesos de respectivamente 4,22% e de 2% acima do benchmark da carteira. “Foi importante termos empresas em que acreditamos bastante e agora, em 2022, as posições relevantes do fundo em petróleo e minério ajudam a segurar bem a carteira”, acredita.
No fundo de ações de dividendos, a Unipar deu a principal contribuição para o desempenho positivo, com geração de alfa de 0,70%. “As demais ações ficaram em linha com o benchmark mas o fato de termos uma posição bem expressiva em Unipar e as ações terem subido muito foi um diferencial para o fundo”, conta.

Melhores gestores em Ações (arquivo em pdf)